• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III UM OLHAR ACERCA DA TRAJETÓRIA DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

4.5 CAMINHANDO PELA FORMAÇÃO CONTINUADA EM MATEMÁTICA

4.5.1 Pós-graduação, Latu Sensu em Educação Matemática

Em 1999 o curso de Licenciatura em Matemática em Ji-Paraná, já havia formado 8 turmas de professores (Ciências e Matemática). Todavia esses licenciados, já vivenciando o exercício do magistério, entravam em contato com os docentes formadores do curso de Matemática e buscavam alternativas metodológicas de ensino para suas aulas nas escolas. Em entrevista realizada com Neize Barros, nossa ex-aluna,

questionamos de que forma o curso poderia ter contribuído mais com sua formação, a resposta foi incisiva:

Que a UNIR ensinasse mais os formandos a dá aula. Eu não aprendi a dar aula. Eu aprendi os conteúdos, os conteúdos sim, eu aprendi! A parte metodológica deixou a desejar. A lidar com os alunos? Eu não aprendi a lidar com as crianças, com os alunos. Eu fiz a habilitação para dar aulas de 5ª a 8ª séries e não aprendi a lidar com o aluno (BARROS, entrevista concedida em 25 de fevereiro de 2013).

Observações similares a de Barros, atualmente professora da Educação Básica, nos levaram a refletir sobre nosso papel de professores formadores nos cursos de licenciatura em Matemática. Parte do corpo docente entendia que a formação inicial deveria contemplar aspectos de Educação em conexão com a Matemática, que o curso ofereça aos futuros professores momentos de experienciação, no tocante ao ensino desta disciplina. Além do ponto de vista local, Fiorentini pontua outras concepções que estão presentes nas práticas docentes que ensinam Matemática, inclusive nos cursos de licenciatura:

Há, entretanto, diferentes modos de conceber e ver a questão da qualidade do ensino da Matemática. Alguns podem relacioná-la ao nível de rigor e formalização dos conteúdos matemáticos trabalhados na escola. Outros, ao emprego de técnicas de ensino e ao controle do processo de ensino/aprendizagem com o propósito de reduzir as reprovações. Há ainda aqueles que relacionam ao uso de uma matemática ligada ao cotidiano do aluno. Ou aqueles que colocam a educação Matemática a serviço da cidadania (FIORENTINI, 1995, p. 2).

Com a disponibilização de novas legislações voltadas a educação, a exemplo da LDB (1996) e os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática para o Ensino Fundamental (1998), havia por todo o Brasil boas expectativas inerentes à melhoria do ensino. O movimento da Educação Matemática estava se consolidando, o VI ENEM, que ocorreu em São Leopoldo-RS em 1998 também contribuía no sentido de repensar as licenciaturas desta área, ademais a relação dual ensino e aprendizagem, já era na época uma das temáticas mais presentes nas pesquisas em Educação Matemática. Era necessária a criação de fóruns para discutirem especificamente a Educação Matemática:

[...] ao entendimento de membros da SBEM que participavam dos encontros da ANPED, entre 1997 e 1998, da necessidade e possibilidade de se constituir um fórum específico para discussão das pesquisas em educação matemática, em reunião anual que se constituía e se constitui no fórum maior de discussão das pesquisas que são desenvolvidas nos programas de pós- graduação em educação brasileiros, uma vez que as pesquisas em educação matemática estavam sendo desenvolvidas em programas de pós-graduação vinculados à área de educação (MIGUEL et al., 2004, p.79).

O contexto global, não era diferente no local. O momento era oportuno, pois o curso de licenciatura estava passando por mudanças e poderia se apropriar de alterações curriculares que estavam circulado nacionalmente. Todavia, veio à tona a seguinte reflexão: Como promover as discussões da Educação Matemática localmente? Poderemos minimizar o distanciamento entre ensino e aprendizagem para os novos licenciandos, mas e os professores que já concluíram sua formação inicial?

Cabia então a formação continuada, promover o elo entre dominar o conteúdo e estabelecer ações pedagógicas que promovessem o aprendizado. Nessa perspectiva a professora Aparecida Augusta da Silva, teve aprovado em setembro de 1999, pelo DECEN, o Projeto de Especialização, latu sensu, em Educação Matemática. Na justificativa do projeto a autora argumentava:

Acompanhando o Ensino Médio durante alguns anos percebemos a necessidade de reciclarmos nossos professores, que apesar de ter o curso de graduação, sentem a necessidade de novos métodos de ensino. Métodos que ofereçam-lhes instrumentos que melhor se adaptem a realidade escolar do aluno, com esse intuito este projeto de especialização em Educação Matemática foi elaborado. Sabemos que o ideal seria um curso de mestrado, mas infelizmente ainda não estamos preparados para tal passo. Esta especialização visa o uso de material concreto para o ensino da Geometria e da Trigonometria e procura trazer uma visão bastante geométrica do Cálculo, também prioriza o ensino da História da Matemática (ESPECIALIZAÇÃO, 2000, p. 4).

O curso foi criado na modalidade institucional e atendendo o que preceitua a resolução CES n.º 3, de 5 de outubro de 1999 do Conselho Nacional de Educação, sua aprovação nos Conselhos Superiores da UNIR, se deu via Resolução n.º 009/CONSEA, de 17 de abril de 2000, teve início no mesmo ano. A carga horária de 400 horas foi dividida entre as disciplinas:

Tabela 15 - Especialização em Educação Matemática

Disciplinas CH

Metodologia da Pesquisa Científica 40

Álgebra e aplicações 40

Trigonometria e aplicações 40

Geometria e aplicações 40

Matemática e o Pensamento Lógico 40

Cálculo Diferencial e Integral com aplicações 40

Matemática em Laboratório 40

Docência em Matemática 60

História da Matemática 60

O público alvo era formado por professores graduados em Matemática, com licenciaturas curta ou plena e outros profissionais de áreas afins, de acordo com legislação em vigor no departamento. A maioria dos alunos atuava na Educação Básica trabalhando com disciplinas de Matemática, Física ou Química.

O curso serviu, de acordo com comentários dos alunos em ficha de avaliação da especialização, para reflexão da postura em sala de aula, fazendo que Matemática seja uma disciplina desafiadora.

Houve 3 entradas (2000, 2003, 2006) com 15 vagas por turma. Após 2006, o departamento lançou outros editais para abertura de novas turmas, todavia não foram preenchidas sequer as vagas que formariam uma turma, em virtude de que além da UNIR, outras IES de iniciativa privada, também passaram a oferecer cursos de especialização na área, com isso o curso foi encerrado.

A pós-graduação em voga era Latu Sensu, o corpo docente não possuía a titulação necessária para abertura de mestrado. A abertura da especialização em Educação Matemática local acompanhou uma movimentação que ocorria pelo país:

No que tange à área de educação, no Brasil, no final da década de 1980 e início de 1990, começava a se formar um círculo vicioso. [...] Por todo o país era crescente a organização de núcleos de pesquisas em educação matemática nos programas de pós-graduação em educação, além da consolidação dos programas de pós-graduação específicos em educação matemática como o da UNESP Rio Claro e PUC-SP (MIGUEL et al., 2004, p.74).

O pós-graduando para conclusão do curso e obtenção do título de Especialista em Educação Matemática tinha o dever redigir sua monografia em temáticas propostas pela coordenação, ou de sua iniciativa desde que aprovado pelo colegiado e respectivo professor orientador. Após o término das disciplinas tinha o prazo máximo de 6 seis meses para conclusão e defesa pública da monografia. Os trabalhos finais foram pré- cursores da I Semana de Matemática do Campus.