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CAPÍTULO III UM OLHAR ACERCA DA TRAJETÓRIA DO CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS

3.2 UMA ANÁLISE DA PRIMEIRA MATRIZ CURRICULAR DE CIÊNCIAS 1988

Inicialmente o Curso de Licenciatura Curta em Ciências criado em Ji-Paraná, era uma extensão do Campus de Porto Velho, dessa forma, a primeira matriz curricular que foi inserida no ano de 1988 correspondia aos seis primeiros semestres no mesmo curso que funcionava na capital na modalidade de licenciatura plena com 8 semestres.

A matriz implantada foi elaborada com bases na Resolução n. 30 do CFE, publicada em 11 de julho de 1974, ficando assim constituída:

Tabela 5 - Matriz Curricular da primeira turma de Ciências - 1988

Semestre Disciplina CR C.H Pré-requisito

Matemática I 6 90

Química I 6 90

Biologia I 5 75

Instrumentação para o Ensino 4 60

Estrutura e Func p/ o Ensino

de 1º e 2º graus 4 60

Elementos de Matemática 6 90

Geometria Plana e Espacial 5 75

Química II 4 60 Química I

Biologia II 5 75 Biologia I

Psicologia da Educação 5 75

Física I 6 90

Química III 5 75 Química II

Biologia III 4 60 Biologia II

Didática I 4 60 Psc. da Educação

Biologia IV 3 45 Biologia III

Física II 6 90 Física I

Prática de Ensino I 6 90 Didática I

Álgebra I 4 60

Desenho Geométrico 4 60

Estudos dos Problemas

Brasileiros I 2 30

Comunicação e Expressão 4 60

Física III 4 60 Física II

Educação Física I 2 30

Biologia V 3 45 Biologia IV

Elementos de Geologia 2 30

Didática II 4 60 Didática I

Estudos dos Problemas

Brasileiros II 2 30 EPB I

Cálculo II 6 90 Cálculo I

Teoria dos Números 4 60

Estatística 4 60 Matemática Álgebra II 4 60 Álgebra I Metodologia do Trabalho Científico 2 30 Processamento de Dados 4 60 Educação Física II 2 30 Prática de Ensino II 4 60

Carga Horária Total 2.175

Fonte: Secretaria Acadêmica da UNIR em Ji-Paraná – SERCA/UNIR/JP

O referido documento que era a legislação em vigor na época, trata do “Curso de Licenciatura em Ciências e fixa o respectivo currículo mínimo” traz elementos para elaboração das licenciaturas de Ciências geral para o 1º grau e para as habitações em Matemática, Química ou Biologia para o 2º grau, enfatiza no seu artigo primeiro que estes cursos têm por objetivo formar professores para as áreas de estudo e disciplinas do 1º e 2º graus relacionadas com o setor científico.

A licenciatura tema de estudo da presente pesquisa, foi criada via Convênio Nº 001 de 24 de junho de 1988, com a Habilitação de Licenciatura curta em Ciências, amparada pela resolução em voga, com destaque para o artigo:

Art. 2º - O Curso de Ciências será estruturado como Licenciatura de 1º grau, de curta duração, ou como Licenciatura Plena, ou abrangendo ambas as modalidades de duração, de acordo com os planos das instituições que o ministrem.

Parágrafo único – A licenciatura de 1º grau proporcionará habilitação geral em Ciências e a licenciatura plena, além dessa habilitação geral, conduzirá a habilitações específicas em Matemática, Física, Química e Biologia, sem exclusão de outras que sejam acrescentadas pelo Conselho Federal de

Educação ou, mediante aprovação deste, pelas instituições de ensino superior (BRASIL, 1974, p. 7).

O egresso desse curso era habilitado para trabalhar com a disciplina de Matemática e Ciências no 1º grau e em casos excepcionais, lecionava a disciplina de Matemática no 2º grau:

A licenciatura polivalente tinha a duração de três anos e se destinava a habilitar professores com visão global das Ciências. Caso não houvesse professor com formação de quatro anos para trabalhar no 2º Ciclo (colegial), de acordo com a Portaria nº 46 de 26 de fevereiro de 1965, em seu artigo 4º, os concluintes da formação polivalente poderiam ocupar tal espaço, ministrando as disciplinas estudadas em seu currículo (RUEZZENE, 2012, p.71).

O professor Eudes nos informou que, no caso de Ji-Paraná, o MEC autorizou a implantação de uma licenciatura curta em ciências, com isso, a matriz curricular adotada em Ji-Paraná correspondia aos seis primeiros semestres do mesmo curso em Porto Velho que se tratava de uma Licenciatura em Ciências com Habilitação em Matemática (plena).

As nossas inferências no processo de análise nesta matriz curricular foram respaldadas através das falas dos sujeitos envolvidos e por meio da legislação em vigor, em especial a resolução 30/74-CFE tratada anteriormente.

3.2.3 – A seleção e o perfil do corpo docente

O Reitor, na presidência do primeiro CD da UNIR, imerso nas questões a serem resolvidas da universidade, delibera através da resolução 04/CD de 05 de novembro de 1982 acerca de alguns pontos a serem resolvidos em caráter de urgência, dentre eles a seleção de professores, lembra que estão sendo analisados vários currículos que chegavam de todo o país, recomenda no relatório anexo a resolução que após selecionado o primeiro grupo de docentes que exerceria o magistério superior, (em Porto Velho, haja vista que ainda não existiam os Campi do Interior) que se realize inicialmente um curso de atualização pedagógica e, alguns casos, de conteúdo das disciplinas.

No advento da criação do Campus em Ji-Paraná, de acordo com o Convênio 001/88 na sua cláusula terceira, previa que a prefeitura tinha o dever de colocar à

disposição da UNIR, sem ônus para a mesma, todo o pessoal docente e administrativo, necessário ao regular prosseguimento das atividades e implantação de futuros cursos, excetuando os coordenadores, pois estes eram nomeados pela universidade. Os concursos para professor efetivo, no interior, ainda não tinham sido autorizados, apenas a seleção de professores e de outros profissionais lotados em órgãos públicos do Estado. Coube também ao coordenador do Curso, na época o professor Eudes, proceder com a seleção dos professores. O evento ocorreu em duas etapas: Inicialmente procedia- se com análise de currículo, em seguida, de posse dos dados analisados anteriormente, era realizada uma entrevista, nessa entrevista era apresentada a proposta da instituição e via-se o interesse do candidato.

O professor selecionado seria cedido pelo Estado, ou Município para a universidade. Ele não passava para o quadro permanente, era apenas uma cessão temporária, onde a qualquer momento poderia, a seu pedido, voltar para sua instituição de origem, ou poderia ser devolvido caso a universidade decidisse.

Na busca incessante por vestígios que pudessem ser tratados como fonte histórica para a presente pesquisa, encontramos uma planilha com o histórico de distribuição de disciplinas para a primeira turma – vestibular 1988. Os dados constantes neste documento são de 1988 a 1990, dentre as informações que o compõem estão: Nome do professor, disciplina, habilitação e situação empregatícia. Utilizamos este documento, construímos uma síntese mostrada na tabela 6 para subsidiar a análise do perfil dos primeiros professores formadores.

Tabela 6 - Professores selecionados para atuarem na primeira turma de Ciências

Nome/ Formação Disciplinas

Antônio Silva de Souza Geometria Plana e Espacial

Física I e Física II

- Licenciatura em Matemática

Ari Guastala

Química I e Química II

- Licenciatura em Química

José Elói Lino Matemática

Elementos da Matemática Cálculo I

Álgebra I

Desenho Geométrico

Juarez Cardoso Garcia Teoria dos Números

Álgebra II

- Licenciatura em Matemática

Maria Inês Moreno

Est. e Func. do Ensino de 1º e 2º graus

- Licenciatura em Pedagogia

Maria Leopoldina Froes Yague Didática I e Didática II

Prática de Ensino I

- Licenciatura em Letras e Pedagogia

Milca Lopes de Oliveira Instrumentação de Ensino

Biologia I, II, III e IV

- Bacharelado e Licenciatura em Biologia

Paulo Roberto Oliveira Vargas

Estudos dos Problemas Brasileiros I

- Licenciatura em História

Regina Augusta P. Nascimento

Educação Física I e II20

- Licenciatura em Educação Física

Sandra Aparecida Garcia

Química III

- Licenciatura em Química

Vera Lúcia Thilmann

Psicologia da Educação

- Licenciatura em Pedagogia

Walter Rocha Meira

Estatística

- Engenheiro Agrônomo

Os professores cedidos tiverem seus credenciamentos homologados, no término do curso por meio da Resolução n. 49/CONSEPE/UNIR, em 29 de outubro de 1990 e, em 20 de fevereiro de 1991 pelo parecer nº 293 da Câmara de Ensino Superior (CESu) do MEC . Dentre os selecionados, poucos tinham experiência com o Ensino Superior, a exemplo da professora Maria Leopoldina Froes Yague, que nos falou sobre a seleção para docentes:

Eu era funcionária do Território, mas tinha um contrato de 20 horas com o Estado. Então foi com meu contrato de Estado, que me cederam para a UNIR. Antes, eu havia trabalhado aqui, com o Campus da Universidade Federal do Pará, eu fui a coordenadora do Campus da Universidade Federal do Pará. Depois que esses cursos acabaram já criou a Universidade Federal de Rondônia, mas só foi em Porto Velho, [...] Quando vieram para Ji- Paraná, eles me procuraram para trabalhar com esta perspectiva de cedência. Para isso houve essa seleção (YAGUE, entrevista concedida em 5 de março de 2013).

20 Por força da Lei nº 7.692 de 20/12/1988, os licenciandos que comprovassem vínculo empregatício de

O período de atuação desses professores na UNIR foi legitimado via convênio UNIR/SEDUC. A permanência deles nesta IES durou até meados da década de 1990, quanto à saída tiveram os seguintes fatores determinantes: a convocação do Governo do Estado para retornarem aos órgãos de origem e a realização de concursos públicos que, aos poucos, foram suprindo o quadro de pessoal no Campus.

Os primeiros concursos para o Campus de Ji-Paraná, destinados ao preenchimento de vagas para carreira do Magistério Superior foram autorizados pelo primeiro Reitor eleito José Dettoni via portaria n. 6/CONSUN de 5 de setembro de 1989. Os pleitos a que se refere este parágrafo foram realizados em 1989 e 1990.

Figura 35 - Autorização do primeiro Concurso para Docentes em Ji-Paraná Fonte: DME

Foram aprovadas as docentes, Salma Ferraz de Azevedo de Oliveira e Milca Lopes de Oliveira, com o resultado publicado dia 01 de novembro de 1989 no DOU. No ano seguinte, Justo Nelson Escudeiro, Manoel da Conceição Silva, Beatriz Machado Gomes e Artur de Souza Moret, conforme DOU do dia 13 de março de 1990.

Notadamente ocorre algo que não entendemos. O curso que tinha como objetivo a formação de professores de Matemática, levou dois anos para ser atendido via concurso público, todavia nenhum dos dois certames realizados abriu edital para contratação de professor formador da área específica de Matemática. Acreditamos que localmente não se sentia tal necessidade em virtude da presença de professores conveniados, porém estes estavam atuando por tempo determinado.

Dentre os aprovados, os professores efetivos que trabalharam com a turma de Ciências, foram:

Tabela 7 – Docentes efetivos da UNIR que trabalharam com a primeira turma de Ciências

Nome/ Formação Disciplinas

Artur de Souza Moret Física III

Processamento de Dados - Bacharelado em Física

Beatriz Machado Gomes Cálculo II

Geologia - Licenciatura em Química

Milca Lopes de Oliveira Biologia V

Prática do Ensino II

- Bacharelado e Licenciatura em Biologia

Salma Ferraz de A. Oliveira Comunicação e Expressão

Metodologia do Trabalho Científico - Licenciatura em Letras

A professora Beatriz Machado Gomes descreveu, em sua entrevista, a situação do Campus quando aqui chegou:

[...] o Campus não tinha nenhum técnico, tinha somente os professores recém-contratados do quadro da universidade, e alguns profissionais, professores e técnicos cedidos ou pela Prefeitura ou principalmente pelo Estado, que trabalham aqui, então as condições eram realmente muito precárias (GOMES, entrevista concedida em 21 de março de 2013).

Em 1988, o corpo docente que tinha sob sua responsabilidade a formação de professores de Matemática e Ciências para o 1º grau, pela UNIR em Ji-Paraná, já inicia o curso com um perfil de profissionais, quase na totalidade, habilitado para o exercício do Magistério (licenciados), entretanto sem formação em nível de pós-graduação.

A presença de um engenheiro, conforme mostrado na tabela 6, representa pouco mais de 6% do total de docentes da primeira turma de Ciências. Reiteramos que a maioria dos profissionais docentes dessa turma era cedido para a UNIR, sem vínculo empregatício com a IES, perfazendo um total de 11 professores ou 73,3% conforme mostrados na tabela 6 em detrimento dos 4 professores efetivos mostrados na tabela 7, representando aproximadamente 26,7% do corpo docente. A professora Milca aparece nas duas tabelas, pois já havia trabalhado no curso via convênio UNIR/SEDUC mesmo antes de pertencer ao quadro de funcionários da universidade, todavia, para efeito de análise foi contada uma só vez.

No âmbito das disciplinas, as tabelas 6 e 7 nos mostram que a distribuição foi realizada atendendo, na maioria dos casos, a área de formação dos profissionais e o número de disciplinas era em média três por docente. No tocante as disciplinas E.P.B., Geologia, Estatística e Cálculo II, pressupomos que o critério de distribuição ocorrido foram as áreas afins e, no caso das duas últimas junta-se a isso o pequeno de número de licenciados em Matemática, apenas 3 professores que representam 20% do total do corpo docente. O grupo tinha formação polivalente. Uma visão mais holística do perfil docente é mostrada na figura 36:

Figura 36 - Perfil Docente Turma (1988 – 1992)

Advém dessas análises nossa inferência no sentido que o perfil do corpo docente era próximo do ideal, pois do total de 15 profissionais que trabalharam com a turma de 1988, 14 eram habilitados por cursos de licenciaturas (uma das professoras possuía em sua formação o bacharelado). Esse número representa que 93% dos professores formadores, dentre cedidos e efetivos, receberam em sua formação pedagógica profissional, as habilidades necessárias para o efetivo exercício da docência.

Não conseguimos informações documentais acerca de pós-graduação stictu sensu desses docentes, apenas relatos orais de que alguns deles possuíam em sua formação, pós-graduação em nível de especialização. As titulações de mestre ou doutor não eram exigidas pela então Pró-Reitoria Acadêmica (PRAC), através da professora Neide Iohoko Miyakava, conforme os Editais de números 01/PRAC/UNIR/88 e 01/PRAC/UNIR/89 destes que foram os primeiros concursos com vagas destinadas

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também para o interior. Os concursos eram compostos por prova de escrita, didática e de título.