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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.2 A entrevista

Durante a entrevista, Emília (nome fictício) relatou um pouco sobre a falta de hábito de leitura que alguns alunos têm, observando também que esse trabalho de formação de leitores só acontece na escola e que os pais, não são participantes ativos durante esse processo, deixando assim, toda a responsabilidade dessa aprendizagem para a escola em que o aluno se encontra inserido.

A primeira pergunta “Como é feito o trabalho de leitura com as crianças e como se avalia esse processo?”, a professora revelou que o trabalho pedagógico se realiza

Através de leituras e interpretações oral e escrita, usando diferentes gêneros textuais. Avaliamos através de observações, ficha de leitura, avaliação individual e exercícios.

Revela-se na resposta da professora que há a utilização de diferentes gêneros textuais no incentivo à leitura. Isso de fato traz uma considerável interação entre leitor e leitura. Conforme mencionado nos capítulos anteriores, a ideia de Freire (1983) é que os livros devem levar não só a leitura em si, mas, à interpretação de vida para o indivíduo de si mesmo, como também do mundo. A exploração dos diversos gêneros textuais também está presente nas recomendações dos PCNs.

Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional (BRASIL, 1997, p. 18).

De acordo com esse documento, a leitura deve ser trabalhada

[...] com a diversidade de objetivos e modalidades que caracterizam a leitura, ou seja, os diferentes “para quês” — resolver um problema prático, informar-se, divertir-se, estudar, escrever ou revisar o próprio texto — e com as diferentes formas de leitura em função de diferentes objetivos e gêneros: ler buscando as informações relevantes, ou o significado implícito nas entrelinhas, ou dados para a solução de um problema (BRASIL, 1997, p. 41).

Portanto, conforme o depoimento da professora, o caminho recomendado pelos PCNs no ensinar a ler é praticado.

A segunda pergunta tratou sobre os materiais utilizados no processo de aquisição da leitura. Indagou-se se a professora teria recursos e livros à disposição das crianças. Sobre esse assunto, ela afirmou que utiliza

Livros deles, paradidáticos e textos de outros livros. Alguns paradidáticos.

O que revela a resposta da professora quanto os materiais utilizados, causa certo desconforto, pois dá a impressão de haver pouco material para a construção do processo de leitura. De acordo com sua resposta, os materiais se limitam aos livros utilizados diariamente em sala de aula. Segundo afirma Kriegl (2002), ninguém torna-se leitor apenas pela obediência, não nascemos gostando de ler, a referência dos adultos é importante quando são

vistos lendo ou escrevendo. Então nós adultos temos que dar suporte (materiais ou conhecimento) à essas crianças durante esse processo de leitura.

No terceiro questionamento, perguntou-se em que momentos eram promovidas as atividades de produção textual. A resposta da professora foi:

Durante as atividades de língua portuguesa, dentro do Projeto Nas Ondas da Leitura do 5º ano e outros projetos que a escola desenvolve.

A professora menciona um projeto que a escola possui no qual são desenvolvidas as atividades relacionadas à produção textual. Cosson (2006) afirma que é papel do professor trabalhar a partir do que o aluno já possui para o que ainda lhe é desconhecido, proporcionando assim o crescimento do leitor. Sendo assim, torna-se benéfico produzir essas atividades de produção textual em cima do que o aluno traz de suas experiências, para que ele sinta prazer em descobrir o “novo”.

Os PCNs ressaltam o quão importante é o trabalho pedagógico que se utiliza de projetos.

Os projetos são situações em que linguagem oral, linguagem escrita, leitura e produção de textos se inter-relacionam de forma contextualizada, pois quase sempre envolvem tarefas que articulam esses diferentes conteúdos. São situações linguisticamente significativas, em que faz sentido, por exemplo, ler para escrever, escrever para ler, ler para decorar, escrever para não esquecer, ler em voz alta em tom adequado (BRASIL, 1997, p. 46).

Quando perguntado sobre as atividades que têm sido utilizadas para ensinar o aluno a ler, a professora mencionou mais uma vez o referido projeto e as ações do PAIC (Programa Alfabetização na Idade Certa).

Percebeu-se que os projetos lhe dão suporte durante o desenvolvimento das atividades, porém não são os projetos propriamente ditos que ensinam o aluno a ler, e sim, como esses projetos estão inseridos dentro do processo de leitura, como esses projetos acontecem e como os mesmos estão sendo utilizados. Foi por acreditar nisso, que se indagou a ela se durante o trabalho de leitura era desenvolvido algo particular voltado para a interpretação de texto e se ela percebia que os alunos demonstravam dificuldades em compreender o que estão lendo. Sobre isso, ela relatou que

Procuro passar as interpretações dos textos do livro deles que são bons, mas eles sentem dificuldades em entender algumas perguntas.

Nesta resposta a professora entrevistada relata as dificuldades que seus alunos encontram na interpretação de textos, fato presente em muitas crianças. Um dos fatores principais para que esse problema aconteça já apontado em estudos anteriores é a falta do hábito da leitura e em outros casos aos déficits de aprendizagem. Sternberg; Grigorenko (2003), defendem que as dificuldades de leitura e escrita são decorrentes de uma interação entre fatores biológicos, cognitivos e sociais, esta abordagem teórica busca explicar o processo normal de desenvolvimento e funcionamento da leitura. Segundo Lajolo (2000), o leitor com suas individualidades, entrelaça os seus significados pessoais em suas leituras, que vai se acumulando ao longo do texto. Com isso o aluno precisa interagir com o texto e construir suas próprias interpretações.

No percurso da investigação, indagou-se à professora por que é importante desenvolver a leitura e a interpretação textual no Ensino Fundamental. Ela assim se posicionou:

Para serem pessoas críticas e capazes de construírem uma sociedade melhor para se viver.

A professora compactua com a ideia contemporânea do letramento que dentre outros aspectos, defende ser fundamental desenvolver nos alunos o hábito de ler, bem como a interpretação de textos, propiciando assim, além de conhecimento, a descoberta do novo, sejam estes, novas palavras, novas ideias e pontos de vista distintos. Ler é uma atividade básica na formação cultural da pessoa. Para Lajolo (2000), cada leitor tem a própria história em suas leituras, e cada texto também tem suas leituras. Na mesma direção, Farias (2010, p.18) diz que “embora a leitura envolva processos individuais, sua apropriação e desenvolvimento dependem do contexto social, no qual seu uso se faz necessário”.

Ao ser indagada sobre a livre escolha dos alunos sobre o que leem, a professora afirmou que somente às vezes eles escolhem o querem ler. O vazio dessa resposta mostra que muito provavelmente não se incentiva esse aspecto dando a ideia de que a leitura nessa turma é colocada diante do aluno como algo obrigatório, não lhe dando a possibilidades de escolhas. Freire (1983) afirma que: a leitura na sociedade dá condição de voz ao cidadão, porém é

preciso haver preparação para esse indivíduo tornar-se sujeito do ato de ler. E como dar essa condição de voz ao aluno, quando não se tem liberdade na escolha do que ler?

Tentando captar a sensibilidade de observação da professora sobre a leitura de seus alunos, foi perguntado se ela percebia que os alunos entendem o que estão lendo ou simplesmente passam os olhos pelos livros sem interpretar o que leram.

Parte dos alunos realmente passam os olhos pelos livros sem interpretar o que leram.

Diante da resposta da professora, percebe-se que no seu trabalho de leitura existe falhas, porém são falhas totalmente reversíveis através de um bom planejamento pedagógico de intervenções. A professora demonstra que sabe que alguns de seus alunos possuem dificuldades na interpretação de textos. Conforme Zilberman (2003), o educador deve obter uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da criança. E é exatamente através desses estímulos que podemos interagir e propiciar novas maneiras de se interpretar textos.

Para saber quais as atividades que a professora desenvolve no intuito de minimizar essas dificuldades, indagou-se sobre as atividades de leitura extraclasse são propostas e em que freqüência.

Eles visitam a biblioteca da escola algumas vezes.

A falta de conteúdo nesta resposta expõe a ausência de atividades fora de sala de aula. A fala da professora demonstra que as atividades fora da sala de aula se limitam às raras visitas à biblioteca, reforçando a distância dos alunos com o hábito de ler.

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