• Nenhum resultado encontrado

Na nova conjuntura política, desenhada a partir de 1930 (a tomada do poder por Getúlio Vargas e o início da Era Vargas), a nova perspectiva, que buscava construir uma modernidade brasileira

original a partir de seu passado mais “autêntico” e aos ideais modernistas, acabou por orientar as políticas de Estado de proteção ao patrimônio, nos anos 1930.

Figura 5.14: Getúlio Vargas governou o Brasil por

suas vezes. Após tomar o poder, em 1930, governou até 1945. Em 1951, foi eleito democraticamente presidente e fi cou no poder até 1954, quando se suicidou.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/1/1d/Getulio.gif

Nesse período, foram valorizados os traços remanescentes do período colonial, tais como a rusticidade dos costumes e das cidades coloniais. Isso ocorreu com a participação de vários intelectuais, ligados ao Movimento Modernista na formulação das políticas de Estado na área do patrimônio cultural. Podemos destacar nomes importantes, que colaboraram com a institucionalização dessa ação dentro do Estado, como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, além de Rodrigo Melo Franco de Andrade, que foi o primeiro diretor do Sphan – permanecendo no cargo durante 30 anos (SCHWARTZMAN, 1984 e BOMENY, 1994).

Aula 5 – Patrimônio Cultural no Brasil: práticas e instituições

189

Obras que se tornaram clássicas, como Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, datam, respectivamente, de 1933 e 1936. Ambos também fi zeram parte do grupo de intelectuais que colaboravam com Rodrigo Melo Franco de Andrade no Sphan, tendo também publicado artigos na Revista do Sphan.

Quem foi Rodrigo Mello Franco de Andrade?

Figura 5.15: Foto de 1936, no Palace Hotel/RJ, onde

fi guram, da esquerda para a direita, Candido Portinari, Antônio Bento, Mário de Andrade e Rodrigo Melo Franco de Andrade.

F o n t e : h t t p : / / u p l o a d . w i k i m e d i a . o r g / w i k i p e d i a / commons/9/94/C%C3%A2ndido_Portinari%2C_Ant%C3%B4nio_ Bento%2C_M%C3%A1rio_de_Andrade_e_Rodrigo_Melo_ Franco_1936.jpg - CPDOC-FGV Projeto Portinari/ARFH87

Nascido em Belo Horizonte, em 1898, Rodrigo Mello Franco de Andrade fez seus estudos secundários em Paris – hospedado na casa de seu tio, o escritor Afon- so Arinos. Conviveu, desde cedo, com personalidades de realce das letras e da vida brasileira. Fez uma de suas primeiras viagens às cidades históricas mineiras, em 1916. Formou-se em Direito, foi redator da Revista do Brasil nos anos 20 e diretor de O Jornal, na Capital Federal. Foi um escritor-funcionário, chefe de gabinete

do ministro da Educação e Saúde Pública, Francisco Campos. Foi classifi cado por Sérgio Miceli (1979), dentre os escritores-funcionários, os quais mantiveram laços de amizade com os políticos estaduais de Minas Gerais que haviam liderado o Movimento de 30.

Os 15 anos do Governo Vargas foram marcados pelo nacionalismo, como política de Estado. Foram implantadas instituições e normas de controle social, especialmente, a partir do Estado Novo (CASTRO FARIA, 1995). A criação do Sphan foi parte integrante desse contexto.

A institucionalização das ações de proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, portanto, deve ser compreendida não isoladamente, como obra de ilustres intelectuais, mas em relação a outras instituições igualmente criadas para exercer o controle centralizado sobre o espaço e as pessoas. O patrimônio artístico e histórico é institucionalizado sob a ideologia do Estado tutor e protetor, que se pretendia nacional, compreendendo o território e seus habitantes. Durante o Estado Novo (1937-1945), o Governo Vargas aplicou grande soma de recursos públicos nas áreas de educação e de cultura, e fez também intenso uso da propaganda. Inúmeras medidas foram tomadas, visando ao controle da população brasileira e ao estabelecimento de padrões nacionais, dentro do pensamento de unidade. Uma delas foi a proibição do ensino em língua estrangeira.

Gustavo Capanema, ministro da Educação e Saúde de 1934 a 1945, homem forte do Governo Vargas, foi responsável por políticas culturais nacionalistas, com a fi nalidade de forjar uma cultura e uma história nacionais. O Sphan foi parte deste ousado projeto.

Além do Sphan, no campo da cultura, a gestão de Capanema foi marcada pelo Instituto Nacional do Livro, responsável pela criação de mais de uma centena de bibliotecas públicas no interior

Aula 5 – Patrimônio Cultural no Brasil: práticas e instituições

191

do país. Capanema criou ainda o Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), o Museu da Inconfi dência, em Ouro Preto (MG), o Museu das Missões, em São Miguel (RS) e o Museu do Ouro, em Sabará (MG). O poeta Carlos Drummond de Andrade foi seu chefe de gabinete e, quando deixou este cargo, tornou-se funcionário do Sphan (Gomes, 2000).

Gustavo Capanema e as medidas do MES durante o Estado Novo

Estava então à frente do MES, de 1934 a 1945, o mineiro Gustavo Capanema, que, especialmen- te a partir do Estado Novo, promoveu as Áreas de Educação e Saúde, incluindo a produção cultural, com a Rádio Nacional. Esta, incorporada ao minis- tério, tornando-se a rádio ofi cial do governo. Ela foi pioneira em programas de humor, em radionovelas e em radiojornalismo. Na educação, foi introduzido o canto orfeônico nas escolas, dirigido pelo maestro Heitor Villa-Lobos, e uma série de medidas, voltadas para a padronização do sistema escolar.

Figura 5.16: Gustavo Capanema (1900-1985), em seu

gabinete, em Belo Horizonte, no ano de 1932.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/42/ Gustavo_Capanema_1932.jpg - CPDOC/Gcfoto410/3

Atende ao Objetivo 2 As concepções de modernidade

1. Desde o início da República, até os anos 1930, vimos ocorrer no Brasil transformações signifi cativas na ideia de modernidade. Descreva as duas principais concepções de modernidade que se opunham nos anos 1920. Indique qual delas é incorporada às políticas nacionalistas do Governo Vargas.

______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________

Resposta Comentada

As duas principais ideiasde modernidadeque se opõem nos anos 1920 são:

1) segundo a primeira concepção, ser moderno era se igualar à alta cultura europeia. Para ser moderno, o país deveria imitar a Europa, seus valores estéticos e culturais, e, ao mesmo tempo, eliminar os elementos culturais ligados às tradições populares e à herança colonial ibérica,

Aula 5 – Patrimônio Cultural no Brasil: práticas e instituições

193

vistas como sinal de atraso. Nessa linha, foram feitas as reformas urbanas no Rio de Janeiro, que apagavam os vestígios do passado; da sociedade arcaica e tradicional brasileira. Nessa linha de interpretação, a expressão arquitetônica predominante foi o ecletismo;

2) a outra ideia de modernidade valorizava, justamente, a cultura popular, as tradições e, portanto, a expressão artística e arquitetônica do período colonial, especialmente das cidades mineiras, visto como primeiro momento de expressão genuína da nação brasileira.

Nessa interpretação, as expressões arquitetônicas predominantes foram a neocolonial e a arquitetura moderna.

Nos anos 1930, a segunda linha de interpretação torna-se predominante e, dentro dela, a arquitetura moderna torna-se representativa do poder de Estado.