• Nenhum resultado encontrado

3. Enquadramento da Prática Profissional

3.2. A escola como instituição

Para situar a escola, enquanto instituição, é importante identificar a suas características individuais, as suas características comuns (a outras escolas), e, numa leitura mais abrangente, em que é que a sua escola se distingue, pela positiva ou pela negativa, das demais.

Para Carvalho (2006), a escola surge como o principal meio de socialização e promoção do desenvolvimento individual, evidenciando os valores que orientam a sociedade e que esta quer transmitir. Para o mesmo autor, cada

16

escola possui a sua cultura escolar, isto é, um conjunto de aspetos transversais, que caracterizam a escola como instituição. A cultura escolar é definida como um padrão de pressupostos básicos, inventados, descobertos ou desenvolvidos por um dado grupo e que funcionaram bem o suficiente para que seja considerado válido (Schein, 1990). Pode então concluir-se que a cultura distingue cada organização das restantes e agrega os membros da instituição em torno de uma identidade partilhada, dando assim a cada instituição uma autenticidade única (Bilhim cit. por Carvalho, 2006).

Todas as escolas, enquanto espaços com culturas intrínsecas, assumem- se como um espaço de formação de valores, os quais são influenciados pela sociedade (comunidade) onde ela está inserida. Por isso, constitui fator crítico de sucesso, a capacidade que cada escola tem para se adaptar e reinventar, não só com o objetivo de interpretar as diversas componentes, que constituem a marca distintiva da cultura da sociedade onde “coabita” (cultura macro), mas igualmente de devolver formas culturais que acrescentem valores e cultura à comunidade. A necessidade desta capacidade sugere, que uma abordagem política e sociológica da escola não pode ignorar a sua dimensão cultural, quer numa perspetiva global quer numa dimensão mais específica, em função das próprias formas culturais que ela produz e transmite (Barroso, 1995).

Devemos, pois, assumir a função da escola, como complemento à função da família, caracterizando-se como um instrumento ou meio de educação dos alunos, tendo o cuidado de não se substituir à família, mas assumindo-se como agente capacitado de preparar os seus alunos, através da sua função educativa, tanto no âmbito profissional, mas igualmente pessoal e social. E o professor é parte integrante e preponderante desta função. Este tem que ter a capacidade de assimilar e integrar-se no contexto e na cultura da escola, não apenas na contabilização dos espaços físicos e condições materiais, que podem revelar-se facilitadores ou limitadores, mas indo mais além, para entender os valores da matriz ideológica e identitária da escola. Tanto ou mais importante do que as questões materiais, o professor, para desempenhar corretamente a função de educador, tem que ser capaz de transmitir de um modo adequado os valores da matriz edeológica e identitária da escola.

É também neste cruzamento de influências (escola e sociedade) que o professor tem que apelar à sua capacidade crítica para, no respeito pelos valores

17

e cultura da escola, ser capaz de questionar estratégias, quer para a melhoria na atuação da escola, enquanto instituição, com influência direta no processo de aprendizagem dos alunos, quer para a influência na comunidade onde a escola se insere.

Com a identificação dos aspetos críticos, e a assimilação dos valores e cultura da escola, é mais fácil ao professor planear o processo de ensino- aprendizagem, obviando situações imprevistas ou que condicionem o sucesso do mesmo. Ou então, mesmo em situações imprevistas, ser capaz de reagir e rapidamente encontrar soluções alternativas.

Diversos autores identificam a função da Escola enquanto instituição: Santos Guerra (2002) quer uma escola a “educar para a democracia”; Canário (2005) diz que a escola é uma “fábrica de cidadãos”, Torres (2008) prefere chamá-la de “entreposto cultural” e Batista (2009) vê a escola como o espaço onde se celebra o “privilégio de ser ensinado”.

Com efeito, Santos Guerra (2002) defende que a escola é uma instituição hierárquica que pretende educar na e para a democracia. Carateriza a escola como uma instituição heterónima, que pretende desenvolver a sua própria autonomia e a dos indivíduos e que, enquanto instituição, deve educar para a vida e, por sua vez, para o mundo dos valores. Considera assim, que a escola é uma instituição com uma conceção epistemológica de carácter hierárquico que tenciona desenvolver a criatividade.

Para Canário (2005), a escola, como instituição, funciona como uma fábrica de cidadãos para a integração social, e que parte de um conjunto de valores intrínsecos.

Torres (2008) menciona que a escola de hoje está carregada de diversidades culturais e que enquanto agência desta mediação, a escola assemelha-se metaforicamente a um entreposto cultural, a um posto dinâmico entre culturas.

Por último, Batista (2009) refere-se à escola como um lugar de emancipação intelectual e de procura da verdade, sendo o professor um agente que marca a diferença, enquanto adulto especificamente preparado para a função educativa, uma vez que na escola se celebra o privilégio de ser ensinado. Como refere Santos Guerra (2002, p.187), “os mitos sobre os quais se articula a escola referem-se à bondade dos padrões culturais; há uniformização

18

das regras; ao agrupamento estável; à rotina da atividade; à transmissão cultural; às eficácias da obediência; e ao valor da autoridade”.

A escola é também entendida como um espaço sociocultural. De facto, a escola integra um espaço social bem identificado (a comunidade), influenciado e condicionado por duas dimensões: a dimensão “institucional” e a dimensão do “quotidiano”. A dimensão institucional é enquadrada (e regulada) por um conjunto de normas e regras que procuram ser justas, igualando e delimitando a ação dos agentes da comunidade educativa; a dimensão do quotidiano, é espelhada através de uma complexa teia de relações sociais entre os agentes intervenientes.

É um processo de apropriação constante dos espaços, das normas, das práticas e dos saberes que dá forma à vida escolar, como produto de uma ação recíproca entre o sujeito e a instituição, sendo esse processo heterogéneo (Ezpeleta e Rockwell cit. por Dayrell, 1996).

É a heterogeneidade e multiplicidade de atores, internos e externos, que enriquecem a escola. Uns têm “o privilégio de ser ensinados”, outros são os agentes facilitadores da transmissão de saberes e valores e outros definem “regras e normas”. Tudo isto acontece num processo de escrutínio permanente, cuja medição dos diversos indicadores de desempenho, e a identificação das ações de melhoria, garantem que podemos percorrer o processo de melhoria contínua.