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3. Enquadramento da Prática Profissional

3.1. O Estágio Profissional na sua dimensão concetual, legal, institucional

O EP está inserido no plano de estudos do 2º Ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (EEFEBS) e surge como a unidade curricular com maior preponderância, com tradução prática na carga horária.

É, por isso, a disciplina na qual, e para a qual, o aluno dedica a maior parte do trabalho durante o segundo ano de Mestrado. Em termos legais, este rege-se pela legislação constante do Decreto-lei nº 74/2006, de 24 de março, e do Decreto-lei 43/2007, de 22 de fevereiro, que tem como objeto o processo de habilitação profissional para a docência e para o grau de Mestre.

Segundo as normas orientadoras do EP, este contempla três áreas distintas de desempenho: Área 1, que correspondente à “Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem”; Área 2 centrada na “Participação na Escola e Relações com a Comunidade” e Área 3, referente ao “Desenvolvimento Profissional” do professor estagiário.

Na sua dimensão funcional, o EP desenvolve-se através de uma Prática de Ensino Supervisionada, assegurada pelo trabalho de um PO da FADEUP e um PC da escola. Em conjunto, acompanham e auxiliam as atividades do Estudante Estagiário, no sentido de orientá-lo e ajudá-lo a percorrer o caminho da melhoria contínua, com o objetivo de melhorar as suas competências nas várias dimensões da função de professor de EF, bem como na realização do RE. O EE, por sua vez, está inserido num NE composto por vários EEs.

No caso do meu NE, cada EE possuía uma Turma Residente, cedida pelo PC e uma turma temporária do segundo ciclo. Tal como já referido anteriormente, a minha turma residente foi um 9º ano de escolaridade do ensino regular e uma turma temporária, um 6º ano de escolaridade da Escola Básica Integrada Roberto Ivens (EBIRI).

Tal como consta nas normas orientadoras, o EP “visa a integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada, em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam, nos futuros

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docentes, um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e exigências da profissão” (NOE p. 3). É igualmente essencial, que o EP funcione como um programa que tem como objetivo ajudar os professores principiantes a desenvolver a sua identidade profissional, a elaborar um reportório de ações apropriado e a estruturar o seu autodesenvolvimento profissional (Fernandes cit. por Braga, 2001). Este programa informa e aconselha o professor, para que este seja capaz de alcançar os objetivos de desenvolvimento relacionados com a autonomia e inovação, funcionando como base da sua formação pessoal e do conhecimento da cultura da escola. (Fernandes cit. por Braga, 2001).

O EP é, desta forma, um momento, por excelência, onde as capacidades e competências acumuladas, na formação inicial, são colocadas em prática e confrontadas com os problemas do contexto real da profissão.

Neste confronto com a realidade, são testadas e escrutinadas as capacidades de reação/adaptação, inovação e superação do EE, face ao contexto das dificuldades e obstáculos que nele inevitavelmente surgem. Por sua vez, este escrutínio permite a identificação de ações de melhoria, com vista a alcançar o objetivo da melhoria contínua. É neste momento que, naturalmente, acontece o “choque com a realidade”. Por isso, é fundamental que, no EP, seja garantido o acompanhamento ao EE, neste caso, com a supervisão de um profissional habilitado e experimentado.

É consensual, a necessidade do acompanhamento do EE, devido às diferenças que existem entre os professores principiantes e os professores experientes, sendo que a principal diferença incide ao nível do conhecimento prático (Braga, 2001). Este conhecimento prático é tão importante, uma vez que, para se ser um bom professor, não basta dominar um certo conhecimento, é preciso compreendê-lo em todas as suas dimensões (Shulman cit. por Nóvoa, 2009).

Tendo presente que o trabalho do docente nunca pode ser traduzido numa mera transposição, professor deve ir em busca de um conhecimento pertinente, que não seja uma mera aplicação prática de qualquer teoria, mas sim o resultado de um esforço de reelaboração, que ele intitula de transformação deliberativa (Nóvoa, 2009). Assim, deve ocorrer uma transformação de saberes através da deliberação de dilemas pessoais, sociais e culturais (Nóvoa, 2009).

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Na prática, o professor deve construir a sua atuação, no pressuposto de que não há “causas perdidas”. Existem, sim, obstáculos que podem ser transponíveis, com maior ou menor dificuldade. Estes, em vez de nos fazerem desistir, devem, pelo contrário, funcionar como o estímulo adicional para, fazendo apelo às competências já adquiridas, sermos capazes de identificar (adaptar) estratégias que, mesmo por etapas (gradualmente), nos permitam atingir, senão todo, pelo menos parte substancial do objetivo planeado.

Em síntese, o EE baseia-se nas competências e ideologias adquiridas na teoria. Contudo, na realização prática tem que aprender a reajustá-las ao contexto, treinando a capacidade de reagir, não só fazendo uso das técnicas, competências e instrumentos que acumulou ao longo da sua formação, até à data, mas utilizando igualmente as reflexões e propostas de melhoria construídas a partir de escrutínios anteriores.

Naturalmente, o EE deve também utilizar as suas características individuais, como por exemplo a empatia, a assertividade, a capacidade de comunicação, de mediação e de liderança. Estas poderão ser úteis para reagir e reajustar o planeado, tendo sempre presente que a sua atuação não pode ser, em nenhuma circunstância, a simples replicação do conhecimento. Este tipo de comportamento pode mesmo, em situações adversas, ser prejudicial.

É, por isso, fundamental a capacidade que o professor tem para se adaptar ao contexto (real), dedicando o tempo necessário para perceber o funcionamento da escola, enquanto instituição, e, posteriormente, entender o contexto em que a escola está inserida.