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A evolução dos processos educativos em Enfermagem, mudança de paradigma da saúde e a preceptoria na Atenção Básica.

EDUCACIONAIS 2.2.1 A Escola Tradicional

2.2.5 A Escola Emergente

As teorias educacionais aqui representadas estão e ou estiveram presentes na história do ensino da Enfermagem. Deve-se lembrar que refletir criticamente não basta, se as atitudes dos educadores e dos educandos em Enfermagem não forem conscientes em relação ao contexto social e pedagógico em que estamos inseridos. Neste contexto, de acordo com Sabóia (2003, apud Valente, 2009), estamos vivendo um momento de reavaliação, de construção de um novo modelo de assistência em saúde e, consequentemente, de refletir sobre a prática educativa que queremos. No entanto, segundo a autora, é preciso ter a clareza de que “as mudanças de paradigma não são imediatas; ao contrário, são lentas e processuais, e muitas vezes, são acompanhadas de instabilidade e contrariedades”.

No processo de aprendizagem, o ser humano, ser único e indivisível, deve e pode utilizar, além do raciocínio, suas emoções, percepções e intuições. O conhecimento compreendido como provisório e relativo contribuirá significativamente para mudanças na vida em sociedade. Assim, Behrens (2003) nos mostra que: [...] para alicerçar uma prática docente que atende a um paradigma emergente aparece a necessidade de inter-relacionar contribuições significativas relevantes de várias correntes pedagógicas inovadoras, e que, neste momento histórico, aponta-se para uma aliança entre a abordagem progressista, holística e do ensino com pesquisa.

Behrens (2003) faz algumas propostas que denomina de abordagens emergentes:

• A visão sistêmica ou holística busca a superação da fragmentação do conhecimento, o resgate do ser humano em sua totalidade, considerando-o com suas inteligências múltiplas, levando à formação de um profissional humano, ético e sensível.

• A abordagem progressista tem como pressuposto central a transformação social. Instiga o diálogo e a discussão coletiva como forças propulsoras de uma aprendizagem significativa e contempla os trabalhos coletivos, as parcerias e a participação crítica e reflexiva dos alunos e dos professores.

• O ensino com pesquisa pode provocar a superação da reprodução, para a produção do conhecimento com autonomia, espírito crítico e investigativo. Considera o aluno e o professor como pesquisadores e produtores dos seus próprios conhecimentos.

Para Cunha (2002), a conscientização para a tomada de decisões que levem a transformações nas atitudes dos educadores pode acontecer a partir de estímulos próprios ou de exigências legais e institucionais. Percebemos que, no ensino da Enfermagem, o estímulo tem partido inicialmente de exigências legais, o que possibilitou o início e o desenvolvimento das discussões a respeito da prática do trabalho e, consequentemente, da prática docente.

No processo de aprendizagem, considera-se as formas e as condições mais eficientes e eficazes por meio das quais os aprendizes percebem , processam, armazenam e relembram o que estão tentando aprender. Uma forma não é melhor ou pior que outra. A maioria dos aprendizes pode assimilar a informação de um mesmo conteúdo com igual sucesso, mas seu estilo individual é o que determina como chega a dominar o assunto. Quanto mais flexível for o educador, ao empregar metodologias de ensino e ferramentas relacionadas aos estilos de aprendizagem individuais, maior será a probabilidade de a aprendizagem ocorrer. (BASTABLE, 2010)

Com base nas assertivas a cima, percebe-se a evolução dos métodos pedagógicos algumas vezes de forma substitutiva outras de forma complementar. Sabe-se que não existe um único método correto, mesmo porque o que é correto em um contexto pode não o ser para outro. Portanto, não há pré-fabricações que possam dar conta das especificidades exigidas pelas atividades educativas. Estas devem ser sempre conduzidas de forma flexível, buscando um equilíbrio dos métodos pedagógicos já vivenciados, buscando o que de positivo cada um tem a oferecer ainda que seja pequena a sua contribuição. No entanto, há mudanças ao longo do tempo que são inegociáveis, por exemplo, a retirada do foco, no processo ensino-aprendizagem, do “ensinador”, passando a uma proposta mais problematizadora, mais real, estimulando a corresponsabilidade e construção de conhecimentos como forma mais factível de uma aprendizagem significativa.

Acredita-se que chegar a uma atividade educativa ideal (vale ressaltar que não me refiro à ausência de problemas) é utópico, pois trata-se de uma atividade interdependente, complexa, pouco mensurada e menos ainda valorizada. Não se valoriza tecnologias leves, pois são pouco concretas. As tecnologias educacionais, tidas como leves, na verdade são engenhosas e requerem bastante dedicação e estudo para quem enxerga o aprendizado com responsabilidade.

É relevante salientar que a prática da educação como fenômeno constitutivo do social é anterior à pedagogia. Isto significa compreender que o pensamento pedagógico, mais recente historicamente, surge com a reflexão sobre a prática da educação a partir da necessidade de organizá-la em função dos objetivos que se quer alcançar. (GADOTTI, 1995)

Um brilhante exemplo de método educativo bem sucedido foi à forma como Jesus Cristo ensinava. Ele conhecia seu público-alvo e percebeu que estabelecia uma comunicação efetiva com o mesmo através de parábolas. Fazendo comparações com situações do cotidiano, ele explicava passagens bíblicas com êxito.

Face às exigências apresentadas pela legislação da educação brasileira e, principalmente, pelo mundo do trabalho, que pede um profissional generalista, crítico e reflexivo para atuar de forma autônoma, a partir das mudanças de paradigmas impostas pelo advento do Século XXI, presentes em todos os âmbitos de atuação, existe a necessidade de atuação conjunta (academia - docente - aluno - preceptor - gestores) para atendimento das demandas atuais. Tais mudanças que serão tratadas no tópico abaixo têm apontado para a necessidade de metodologias mais ativas e uma das mais aplicadas na Atenção Básica em Saúde (ABS) é a pedagogia da problematização que tem norteado os cursos introdutórios do Saúde da Família que é a principal estratégia para a reorganização da ABS e anotada como base para todos os processos educativos (BRASIL,2006). Tal pedagogia, que na prática é aplicada de forma bem concreta, com base na realidade, é aplicada quando se faz processos educativos voltados à população, aos profissionais e graduandos.

Apoiados no Arco de Maguerez, Bordenave e Pereira (2005), já na década de 1980, foi proposto um esquema de problematização da realidade, desenvolvido em cinco etapas: observação da realidade (problemas elencados pelo grupo com priorização dos mesmos), pontos-chave (nós críticos, discussões sobre possíveis causas e efeitos), teorização (com base nas próprias experiências e de outras pessoas mencionadas pelo grupo, leituras propostas pelo grupo, ou propostas pelo mediador), hipóteses de solução (quando se cogita possibilidades de solução para os problemas elencados e a factibilidade das mesmas), aplicação à realidade (a partir de um plano de ação simples realizado com base nas hipóteses de solução, sem deixar de delimitar os responsáveis pelas ações e o prazo para realização e avaliação do plano).