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CAPÍTULO 4: ABORDAGEM METODOLÓGICA UTILIZADA

4.2 A escola lócus do estudo

O

ptamos por escolher uma escola pertencente à rede privada de ensino – uma escola cooperativa - por apresentar, naquele momento, aspectos positivos que pudessem favorecer a implementação da intervenção, como por exemplo: apresentar um projeto político - pedagógico, atendendo aos princípios da educação inclusiva; ter um número reduzido de alunos e funcionários, o que facilitaria o trabalho na comunidade escolar; ser uma das escolas pioneiras na cidade do Natal/RN a incluir alunos com deficiência em classes regulares; possibilitar estágios de observação e trabalhos investigativos por parte dos graduandos do curso de Pedagogia e pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN.

Além disso, a escolha dessa escola foi importante porque nos permitiu, enquanto pesquisador, uma maior segurança quanto à viabilidade da implementação do programa de intervenção, num tempo determinado. Este aspecto é fundamental, por tratar-se de uma investigação em nível de doutorado, em função do tempo pré-estabelecido para se cumprir as etapas exigidas pelo Programa de Pós-graduação.

Outro fator que contribuiu para essa escolha foi o fato da direção da escola cooperativa já nos ter solicitado, durante a investigação realizada no decorrer do nosso Mestrado, nesta instituição, um trabalho mais efetivo junto aos professores, o que nos garantia, de certa forma, um compromisso maior por parte desta instituição para que essa formação fosse prioridade, dentre as atividades propostas pela mesma, visando à qualificação do seu corpo docente.

Desde o primeiro momento em que entramos nessa escola, observamos o desejo que toda a equipe escolar demonstrava em fazer da mesma um espaço realmente inclusivo, começando por contemplar em seu projeto pedagógico uma filosofia de atendimento voltada para alunos com necessidades educacionais especiais. A idéia da continuidade dos estudos iniciados por Melo (2002), através de uma intervenção junto à equipe pedagógica e, mais particularmente, junto aos professores, motivou o grupo no sentido da construção de uma discussão pautada na própria prática pedagógica, fato esse que, na opinião dos professores, era fundamental para reflexão e redimensionamento dessa prática.

Localizada no conjunto Pirangi, no bairro de Neópolis, na zona sul do município de Natal, capital do Estado do Rio Grande do Norte, a escola campo de investigação (Figura 18) foi criada em 1992 por um grupo de pais, com base num modelo cooperativista, com o objetivo de oferecer Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio aos seus filhos. Baseada nos princípios da cooperação e do respeito ao outro, a equipe da escola se propõe, de acordo com seu projeto político pedagógico, a desenvolver uma consciência democrática e um espírito coletivo no contexto escolar como um todo, no qual se respeitem os valores e a dignidade humana.

Figura 18: A escola campo de investigação.

Desde nossa primeira visita à escola, quando da realização do estudo anterior (MELO, 2002), percebemos que esta se constitui num lugar agradável e que as pessoas que fazem parte da comunidade escolar - desde os funcionários da limpeza até a direção - são acolhedoras e gentis, dispondo-se a contribuir para melhoria da qualidade do ensino na escola.

Caminhando pelo bairro onde se situa a escola, constatamos que é formado por uma população de classe média e média-baixa. É servido por várias linhas de transporte, que passam ao lado do estabelecimento educativo, situado próximo a uma das avenidas mais conhecidas da cidade, a Avenida Ayrton Senna. O referido bairro apresenta uma estrutura bastante organizada e podemos nele encontrar farmácias, padarias, supermercados, bancos, shopping, igrejas, algumas creches, posto de saúde, central telefônica, bares e restaurantes, além da presença de outros quinze estabelecimentos de ensino, sendo sete pertencentes à rede de ensino governamental e oito à rede particular. Dentre esses, encontramos uma escola especial, a Clínica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, fundada em 1955, e que foi a pioneira na educação de pessoas com deficiência no Estado do Rio Grande do Norte.

Segundo a coordenadora pedagógica, as atividades desenvolvidas são norteadas pelos princípios da cooperação (liberdade, idéias democráticas e solidariedade humana), apoiando- se em abordagens construtivistas e sócio-construtivistas.

Apesar de terem iniciado suas atividades escolares em 1992, com 166 alunos matriculados em classes da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, somente em 1996 a escola passou a prestar atendimento pedagógico aos alunos com necessidades educacionais especiais quando, pela primeira vez, recebeu uma aluna com deficiência mental, com diagnóstico de Síndrome de Down, filha de um dos pais cooperativistas. Esse fato serviu de abertura para posterior inserção de outros alunos com necessidades educacionais especiais na escola, entre os quais alunos com deficiências física e auditiva.

Observando a escola, percebemos que se constitui em um espaço agradável, funcionando em um prédio em formato de L e que suas paredes são pintadas de tonalidades claras e estão bem conservadas, sem qualquer tipo de pichação. Ao contrário, encontramos fixados em murais os diferentes projetos desenvolvidos pelos alunos, contemplando temáticas diversas. Sua limpeza nos chama atenção, em todos os ambientes da escola.

Em sua área externa existe uma quadra poliesportiva e um playground, com um pequeno jardim e uma grande mangueira cercada por um banco de cimento, onde alunos e professores se encontram para brincar e conversar, respectivamente, durante o intervalo das aulas. Apesar de não apresentar uma estrutura física grandiosa, bem como adaptações arquitetônicas para favorecer a acessibilidade de alunos usuários de cadeira de rodas, possui duas pequenas rampas, construídas fora dos parâmetros estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT 9050, que dão acesso à área de recreação e quadra poliesportiva, ambientes simples e acolhedores.

Durante o ano de 2004, quando se efetuou a intervenção, estudavam na escola cerca de 120 alunos, sendo 35 matriculados na Educação Infantil (no período da tarde) e 85 no Ensino Fundamental (no período da manhã), abrangendo uma faixa etária de 2 anos e meio a 18 anos. Desses alunos, 16 apresentam necessidades educacionais especiais, dos quais 7 tinham deficiência auditiva, 2 deficiência física (do tipo paralisia cerebral), 3 deficiência mental (sendo 1 com Síndrome de Down), 2 dislexia, 1 síndrome neurológica e 1 hiperatividade.

Do ponto de vista administrativo, segundo seu Regimento Interno, a escola é constituída por um Diretor Executivo e um Conselho Pedagógico composto por nove membros, eleitos durante Assembléia Geral, com mandatos de dois anos. Compõem o referido Conselho: o diretor executivo da escola, dois pais de alunos, dois alunos, dois professores e dois membros da equipe-técnico-pedagógica (supervisor pedagógico e orientador educacional).

Quanto à equipe administrativo-pedagógica, esta se constituía, no ano de 2004, por 4 funcionários técnico-administrativos (diretora, dois coordenadores pedagógicos, sendo um para cada nível de ensino, e uma secretária), 19 professores (7 no Ensino Infantil e 12 no Ensino Fundamental) e 4 funcionários de apoio, todos eles Auxiliares de Serviços Gerais. A escola, em função das dificuldades econômicas por que vinha passando, segundo nos informou a direção, não dispunha, naquele momento, de porteiro nem de vigia.

Possuía as seguintes dependências: 9 salas de aulas, uma sala destinada à diretoria e secretaria informatizada, uma para a coordenação pedagógica, uma sala de professores, uma sala de artes, uma sala para balé, uma biblioteca, três laboratórios (um de Ciências, um de

Informática e um de Inglês), um almoxarifado, uma cozinha, uma cantina, cinco banheiros, área de recreação e uma quadra poliesportiva.

No que diz respeito às salas de aulas, percebemos que as mesmas são grandes, com espaço suficiente para dois ambientes, porém, são pouco ventiladas e iluminadas. As paredes das salas são usadas como murais para exposição dos trabalhos dos alunos, durante o bimestre. Algumas salas possuem aparelhos de TV e videocassete, além de quadro-giz e armários. Percebemos, durante nossas visitas às salas de aulas, que existem poucos materiais pedagógicos disponíveis para trabalhar com os alunos, especificamente com os alunos com paralisia cerebral. Além disso, a maioria já necessitava ser substituído pelas condições em que se apresentavam, em função do seu uso constante e do tempo de aquisição.

Em uma de nossas visitas à escola, durante o turno matutino, período em que funcionava o Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) e estudavam os alunos com paralisia cerebral que foram alvo das discussões durante a intervenção, chamou-nos a atenção a organização das carteiras em sala de aula, uma vez que estavam dispostas em filas, contrariamente ao que foi constatado em nosso estudo anterior (MELO, 2002), ocasião em que se encontravam dispostas em semicírculo, facilitando a interação do grupo.

A biblioteca, que era utilizada pelos alunos para diferentes tipos de atividades: leitura, pesquisa e trabalhos individuais ou em grupos, apesar de possuir um espaço amplo, arejado e iluminado, não contava com um acervo adequado, que atendesse às necessidades dos alunos. A disposição dos móveis dificultava a movimentação dos alunos usuários de cadeira de rodas, bem como a altura das estantes impedia aos mesmos o acesso aos livros que estavam situados acima de uma determinada altura. Evidenciamos, também, a ausência de um acervo sobre a educação de alunos com necessidades educacionais especiais, que pudesse subsidiar os professores no atendimento pedagógico desses educandos.

Quanto aos laboratórios, observamos que dois deles possuem ar-condicionado: o de Inglês e Informática. Nesse último, nove computadores são disponibilizados aos alunos, que desenvolvem suas atividades sob a coordenação do professor da disciplina responsável pelo laboratório, naquele momento. No laboratório de Ciências, destinado às aulas práticas das disciplinas de Ciências, Biologia, Física e Química, percebemos a presença de equipamentos e materiais diversos, tais como: um esqueleto; fetos, um cérebro e insetos em formol; pedras de minérios; tubos de ensaio, entre outros. A impressão inicial desse ambiente foi a de um espaço que não era utilizado, talvez porque o mesmo encontrava-se fechado e escuro, apresentando pouco luminosidade natural no local, sem atividades no dia de nossa observação. No entanto,

a coordenadora pedagógica nos falou que o laboratório era utilizado apenas em atividades específicas, ficando os alunos, na maior parte do tempo, em sala de aula.

Considerando que os alunos com paralisia cerebral, alvo de nossa pesquisa, estudavam na mesma sala de aula e que as observações iniciais, junto aos professores em suas atividades pedagógicas, nesse contexto específico, foram fundamentais para as discussões e reflexões durante o programa de intervenção, optamos por caracterizá-la, possibilitando o conhecimento da mesma.

4.2.1 - Caracterização da sala de aula freqüentada pelos alunos com paralisia cerebral

A sala de aula que foi observada (Figura 19) e que serviu de referência para as reflexões durante o processo de intervenção apresentava as seguintes características estruturais:

a) Sua extensão era de 4,80 x 11m, com iluminação natural e artificial, bem como ventilação e arejamento precários;

b) Possuía 11 carteiras escolares, com suas respectivas cadeiras, dispostas em filas; 1 mesa escolar adaptada; mesa e cadeira do professor; 01 quadro de giz; 01 caixa de material pedagógico no canto inferior esquerdo da sala, por trás das carteiras.

Figura 19: Sala de aula em que estudavam os alunos com paralisia cerebral

Estavam matriculados, nessa sala, 11 alunos, com idade variando entre 13 a 27 anos, sendo 8 do sexo masculino e 3 do sexo feminino. Dentre eles, 4 apresentam necessidades

educacionais especiais: 2 com deficiência física (do tipo paralisia cerebral), 1 com dislexia e 1 que, segundo a coordenadora pedagógica, apesar de não se ter um diagnóstico estabelecido, recebia acompanhamento psiquiátrico e que, ao seu ver, possuía necessidades educacionais especiais.

O horário das atividades na escola, no turno da manhã, era das 7h30m às 11h30m, de segunda a sexta-feira e foi nele que centramos a nossa atenção, durante a investigação.