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CAPÍTULO 4: ABORDAGEM METODOLÓGICA UTILIZADA

4.6 Instrumentos de medida e procedimentos

4.6.1 Fase Exploratória

4.6.1.1 Procedimentos para a construção e análise dos dados por meio de

A observação livre teve como objetivo principal possibilitar ao pesquisador uma maior familiarização com o cotidiano da escola estudada 50, sendo esta realizada entre os meses de outubro a dezembro de 2003, de forma semanal, no turno da manhã, tanto em classe, como em atividades extra-classe, totalizando 10 sessões de observação.

Ressaltamos que não estipulamos, pela manhã, nenhum horário, nem dia fixo na semana para observação, pois pretendíamos observar os professores que atuavam na 6ª série, classe onde estudavam os alunos com paralisia cerebral. Logo, nossas observações ocorreram em dias e horários alternados, de acordo com a disciplina observada.

Durante esse período, apenas observamos naturalmente como se desenvolviam as relações entre professores e alunos com paralisia cerebral, assim como as relações entre os

50 Isso se devia principalmente em função da presença de alguns professores novatos, assim como dos alunos com paralisia cerebral que o pesquisador não conhecia.

alunos com paralisia cerebral e alunos sem deficiência, e também desses com os dois segmentos citados, nos diferentes contextos da escola. Não obedecemos, porém, a categorias de observação previamente estabelecidas, fazendo apenas anotações de campo, quando se faziam necessárias.

No entanto, é importante situar que a observação livre não consiste em simplesmente olhar, mas, como afirma Triviños (1995, p. 153), observar é:

destacar de um conjunto algo especificamente, prestando, por exemplo, atenção em suas características. Observar um “fenômeno social” significa, em primeiro lugar, que determinado evento social, simples ou complexo, tenha sido abstratamente separado do seu contexto para que, em sua dimensão singular, seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações, etc. Individualizam-se ou agrupam-se os fenômenos dentro de uma realidade que é indivisível, essencialmente para descobrir seus aspectos aparenciais e mais profundos, até captar, se for possível, sua essência numa perspectiva específica e ampla, ao mesmo tempo, de contradições, dinamismos de relações etc.

De fato, observando e estando semanalmente em classe e nas atividades empreendidas extra-classe, com os professores, alunos com paralisia cerebral e alunos sem deficiência, sentimos que a familiaridade progressiva nos propiciava uma melhor percepção do cotidiano dos mesmos, permitindo a apreensão das relações no contexto real, por meio do contato direto com os sujeitos envolvidos. Isso favoreceu uma melhor compreensão e interpretação do processo de inclusão do aluno com paralisia cerebral na escola, aspecto este muito importante, pois sinalizava elementos que poderiam ser trabalhados no programa de intervenção.

No entanto, apesar da existência desses elementos, éramos conscientes de que, para alcançarmos a adesão do grupo e a motivação para a participação no programa, a proposta teria que extrapolar o olhar específico do pesquisador, de modo que esses dados obtidos por meio da observação livre funcionariam apenas como um meio a mais e, não, como um fim para se estabelecer o programa de intervenção. Isto porque, como afirma Ludke e André (1986, p.26), “na medida em que o observador acompanha in loco as experiências do sujeito, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações”.

Tais ações foram essenciais para detectarmos, na qualidade de observador, como a escola regular estava lidando com a questão da inclusão desses educandos em classes regulares, quanto aos aspectos pedagógicos e de relações interpessoais, na ocasião em que

estava em foco a presença do aluno com necessidade educacional especial, especificamente de um aluno com paralisia cerebral. Enfatizamos, no entanto, que essa apreensão in loco não se constituiu em tarefa fácil, pois tivemos, inicialmente, que reconquistar os sujeitos envolvidos, mostrando não apenas a importância dessa investigação, mas, principalmente, sua relevância no atual contexto da inclusão escolar.

Na nossa concepção, entendemos e concordamos com Barbier (2004) a respeito de que, para que se concretizem mudanças dentro de uma instituição, é preciso ver os sujeitos que fazem parte desta, como indivíduos responsáveis por essas mudanças e não como objetos da ação social. Portanto, era o grupo dos sujeitos participantes do estudo que, a partir de suas necessidades reais de formação para lidar com o atendimento pedagógico dos educandos com paralisia cerebral, indicariam as temáticas que julgavam importantes como elementos para aquisição de conhecimentos e para uma reflexão de sua prática pedagógica frente a esses educandos. Por outro lado, isso não inviabiliza a utilização dos nossos resultados, obtidos em estudo anteriormente realizado nessa instituição (MELO, 2002), como indicadores também importantes a serem levados em consideração durante o planejamento do programa de intervenção, que seria desenvolvido na fase posterior.

Outro aspecto a ser considerado é que algumas das reações que havíamos percebido no primeiro estudo foram novamente constatadas como, por exemplo, um certo nervosismo por parte de alguns professores novatos, quando de nossa presença em sala de aula (o que era natural, diante do fato de ainda não nos conhecerem), bem como uma certa inquietação dos alunos. Além disso, percebemos uma mudança na arrumação das carteiras, que, conforme situamos anteriormente, eram dispostas em forma de U, permitindo maior interação entre os alunos, e, agora, estavam enfileiradas. Outro fato que nos chamou a atenção era que os alunos com deficiência se sentavam no final da sala. Tais aspectos não foram constatados em nosso primeiro estudo, durante o período de observação inicial (MELO, 2002).

A utilização dos registros das observações realizadas foram resgatadas em diferentes momentos da análise, buscando situá-los nos contextos das discussões quando se fazia necessário, diante dos tópicos abordados.