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EDUCAÇÃO INFANTIL

4.4 A ESCOLHA DAS TURMAS: PREFERÊNCIA POR IDADE.

A expressão “preferência por idade” remete-se ao fato de algumas educadoras manifestarem predileção por trabalhar com crianças de uma determinada faixa etária. Na entrevista, considerou-se também esse item porque a idade da turma

com que a professora trabalha influencia e interfere em sua prática. Ou seja, o fato de a professora gostar ou não gostar de uma determinada faixa etária pode influenciar na qualidade de seu trabalho.

As professoras dividem-se quanto ao quesito preferência por determinada idade. Seis delas disseram preferir trabalhar com crianças maiores, isto é, com as turmas de cinco e seis anos, mas acrescentaram que gostam de todas as idades. Apontaram alguns aspectos relativos às diferentes faixas etárias, mostrando como cada idade, com suas características próprias, é sempre desafiante.

As professoras relataram que a escolha das turmas se dá segundo uma classificação baseada no tempo de serviço da professora nas escolas municipais. Aquelas que têm mais tempo na unidade escolar acumulam mais pontos e são as primeiras a escolher na casa. As professoras que têm mais tempo de serviço na educação municipal, escolhem junto às demais, para trabalharem num segundo período.

Muitas vezes, as professoras acabam sendo obrigadas a aceitar turmas ou turnos que não coincidem com a sua opção primeira. Talvez por isso elas não expressem suas possíveis preferências por determinadas turmas, pois a cada ano há possibilidade de haver trocas e remanejamentos.

A manifestação de não-preferência por trabalhar com crianças de determinada idade pode demonstrar, por outro lado, uma aceitação quanto às regras, um conformismo. De fato, percebeu-se que quando a professora pode optar, por ser uma das primeiras a escolher, ela indica qual a idade com que prefere trabalhar:

“Eu me identifico melhor com seis anos. Tenho seis anos aqui e na

outra EMEI. Prefiro seis, gosto de criança maior. Dava aula para seis anos, no tempo que eu fiz estágio. Na prefeitura eu comecei com seis anos. Dei aula para quatro anos, gostei bastante, dei para cinco. Mas, se fosse para escolher entre as três eu fico com as de seis. Para mim, é tão fácil dar aula para seis anos” (Profª. Sonia).

“Gosto muito de trabalhar com a faixa etária de 5 anos, porque acho que eles não são tão dependentes da gente como os de 4 e não tão independentes quanto os de 6. Para conversar, dar atividades, é uma idade que eles têm bom entendimento do que você passa para eles”

“Por enquanto eu não quero pegar 6 anos porque fica puxado, com as

aulas do Ensino Fundamental no Estado e aqui. Então, por enquanto, não quero pegar, eu acho que turma de 6 anos é uma responsabilidade. Mais do que 4 e 5. Então eu prefiro pegar uma classe mais leve” (Profª. Marisa).

As professoras justificaram-se de várias formas, como os fatos de estarem acostumadas, de entenderem mais de determinada faixa etária e de poderem conciliar com o trabalho na escola de Ensino Fundamental.

Existe, em geral, uma preferência velada pelas idades maiores, como pode ser percebido nestes depoimentos:

“Geralmente eu pego seis anos, de todos estes anos, só uma vez eu

peguei cinco anos” (Profª. Sheila).

“Não tenho preferência, eu acho 6 anos melhor” (Profª. Carmem).

“Eu gosto muito de seis anos porque é mais fácil você transmitir” (Profª. Flávia).

Tal preferência pode, de certa forma, confirmar uma associação que se observa nas escolas, a de que quanto maior a idade da criança com que se trabalha, mais essa profissional se sente professora e é valorizada: “Quando consideramos os profissionais da educação, confirma-se por toda a parte a regra que estabelece que quanto menor a criança a se educar menor o salário e o prestígio profissional de seu educador” (CAMPOS, 1999, p. 131).

No caso da EMEI, trabalhar com essa ou aquela turma não tem qualquer interferência nos vencimentos da professora, mas sim no prestígio que se pode alcançar quando, por exemplo, se é responsável pela formatura das crianças de seis anos e pelos respectivos ensaios. As professoras consideram inclusive que a turma de seis anos exige mais responsabilidade e compromisso do que as outras turmas. A professora Cleuza afirmou:

“Gosto mais do pré. São mais independentes, assimilam melhor, é mais fácil. Me entendo melhor com eles” (Profª. Cleuza).

As crianças de quatro anos são consideradas pelas professoras como crianças que necessitam de muitos cuidados e de atividades variadas:

“Acho que os de 5 e 6 anos não pedem uma atenção de um nenezinho

que os de 4 exigem. De você ficar com eles, ensinar muitas coisas de nenê mesmo. Aquele receio de que vai cair, machucar” (Profª. Taís).

“As atividades, duram 15 minutos cada uma, porque a idade não

permite” (Profª. Sueli).

O fato de as crianças menores terem pouca concentração faz o trabalho com elas tornar-se mais cansativo. MUKHINA (1995) fala a respeito do pouco tempo de atenção voluntária que as crianças menores conseguem manter. Para os trabalhos com elas, a Autora sugere atividade com elementos lúdicos.

Em um trabalho de observação na sala, a Profª. Carmem fez o seguinte comentário a respeito das diferenças de idade:

“Adoro a turma de seis anos, porque rende, dá para trabalhar; com a

turma de quatro anos você é babá; tanto trabalho e o papel num instante eles fazem e já acabou. Você tem de fazer muitas atividades, uma atrás da outra, eles cansam logo; 5 anos é mais ou menos, 6 anos já está quase lendo” (Diário de Campo 20/11).

Enquanto algumas professoras admitiram ter dificuldade em trabalhar com crianças de quatro anos, outras mostraram as vantagens:

“Profª. Marisa me disse que para crianças de 4 anos não tem o que

fazer. Quando tem Educação Física estraga a tarde, quando é às 14h15min ainda dá para fazer alguma coisa antes, mas quando é às 13h30min ...” (Diário de Campo, 29/10).

“A turma de 4 anos, ele são muito rápidos nas atividades, tenho que ficar trocando toda hora” (Profª. Cleuza).

“Os nenezinhos eu chamo assim porque tem uns que são assim

pequenos, nossa turma é menor. Eu acho uma delícia porque você os molda, tem isso de gostoso” (Profª. Sueli).

Os argumentos apresentados podem ter subjacente uma concepção de criança em que já se parte do pressuposto prévio e seguro, do que ela é ou não capaz de fazer, conforme concepções que ditam para o quê a criança tem ou não condições a partir de cada idade. São concepções de caráter desenvolvimentista, etapista como já apontamos e por vezes autoritária. Os depoimentos confirmam, ainda, a concepção da pré-escola escolarizante, que trabalha temas e assuntos do Ensino Fundamental.

As escolhas das professoras eram determinadas fundamentalmente segundo a idade e o período (manhã ou tarde). Outro elemento que era levado em conta é a distância entre a EMEI e a residência da professora:

“Se a professora mudar de escola, na contagem do tempo de casa, vai ser a última da escolha. Não importa a classe que vai pegar, se quatro, cinco ou seis, se está próximo da casa. Foi o que aconteceu comigo, eu não me importava, eu podia pegar quatro anos, eu não gosto de dar aula para quatro anos, eu gosto de cinco e seis, mas como era do lado da minha casa” (Profª. Paula).

A maioria das professoras mora perto da EMEI e dirige-se ao trabalho caminhando.

Não se pode deixar de comentar novamente a discussão que CAMPOS (1999), CERISARA (1999), OSTETO (1997), MACHADO (1999) e KISHIMOTO (1999) promovem quanto à formação do profissional de Educação Infantil ser direcionada segundo as faixas etárias atendidas.

Há quem afirme haver especificidades etárias, que podem ser percebidas, por exemplo, na criança de quatro anos. Ela apresenta características particulares que exigem uma atenção diferente, específica, o que pode se tornar difícil para as professoras. Nesse caso, a professora não é propriamente culpada, pois essa dificuldade existe, é inerente à idade e é reconhecida atualmente pelo senso comum. Assim, a Profª. Marisa foi honesta ao dizer que com crianças de quatro anos não tem o que fazer. Contudo, talvez faltem a ela a abertura e a flexibilidade necessárias para querer saber e informar-se mais acerca das crianças em geral e, em especial, das crianças de quatro anos.

Os dados sugerem portanto que a convivência do dia-a-dia na EMEI apresenta certas dificuldades. Além destas, outras dificuldades e necessidades foram

apontadas pelas professoras, embora elas não tenham reclamado ou feito críticas abertamente. Algumas críticas transpareceram nas entrevistas, nas conversas, nos espaços do parque e mesmo das salas. Esse aspecto será discutido no tópico a seguir.