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A escolha do repertório

No documento MARISLEUSA DE SOUZA EGG (páginas 126-129)

6 O PROFESSOR KLAUS EM AÇÃO

6.1 O CANTO NA EDUCAÇÃO MUSICAL

6.1.2 A escolha do repertório

O RCNEI – Arte indica uma análise sistemática para a escolha de materiais e repertórios musicais. O documento sugere que a música seja considerada como produto cultural do ser humano, e que, por meio dela, se possa conhecer ou adentrar o mundo.

Nem sempre é fácil a escolha de um repertório para desenvolver o canto coletivo na educação infantil. Ilari (2013) relata que existe um mito de que as crianças pequenas não são capazes de processar música mais complexas e aponta pesquisas recentes na área da psicologia do desenvolvimento que apresentam as várias habilidades cognitivas das crianças em diversas áreas do conhecimento. No campo da música, a autora traz como exemplo que bebês de oito meses já são capazes de guardar, na memória de longo prazo, trechos de música erudita, o que indica a existência de um potencial cognitivo no início da vida.

O repertório pode ser considerado a viga mestra das aulas de musicalização na educação infantil. A maioria dos conteúdos e atividades desenvolvidas giram em torno das canções. A canção é um gênero musical rico que une música e poesia, ressalta Brito (2010). Algumas particularidades, segundo a autora, devem ser consideradas durante a escolha do repertório, favorecendo a adequação da melodia, do ritmo, da letra, da tonalidade, da extensão vocal e tessitura durante o aprendizado das canções. Indica também que um repertório bem selecionado deve privilegiar cada faixa etária, o que possibilitará benefícios ao desenvolvimento da voz infantil. Ao cantar, as crianças imitam o que ouvem, desenvolvendo sua expressão musical.

Romanelli (2013) reforça que “o hábito de ouvir música é essencial para a construção do repertório musical das

crianças: quanto mais amplo for seu repertório, maior será sua capacidade de criar e improvisar musicalmente, além de estabelecer relações mais ricas entre músicas diferentes” (2013, p. 14). O autor enfatiza que na época atual é muito comum ouvir músicas em ambientes variados, como por exemplo: em clínicas, supermercados, lojas de sapatos, etc. Com isso, a atividade de audição se torna banalizada. Como educador, Romanelli (2013) sugere organizar atividades de audição musical apoiando-se nas seguintes ideias: “preparar a audição; ouvir muita música diferente; estabelecer relações entre diferentes músicas; ouvir música ativamente e primar pela qualidade da audição” (2013, p. 14).

Nas aulas observadas o repertório foi abrangente. Entre os gêneros trabalhados pelo professor Klaus esteve a Música Popular Brasileira (MPB). Conforme Ilari (2013, p. 128), a MPB foi um movimento musical das décadas de 1960 e 1970, e nos dias de hoje o termo é usado muitas vezes no sentido de música popular urbana com letras e arranjos sofisticados. O professor ensinou trechos de duas canções da MPB: O vento (Dorival Caymmi) e Água (Caetano Veloso).

Outro gênero musical utilizado pelo professor foi o da Canção Infantil Urbana. Este gênero surgiu junto com o movimento da música Independente Paulista, que começou no final da década de 1970, o qual mais tarde se transformou numa importante tendência artística nacional. Em sua dissertação, Souza (2007) aprofunda essa temática, apresentando músicos e compositores mais influenciados por esse movimento que se destacam na canção infantil urbana brasileira, como por exemplo: Paulo Tatit, Sandra Peres e Hélio Ziskind. Nesse gênero infantil, o professor Klaus ensinou a canção O poc poc da pipoca pipocando, do Grupo Kitty Driemeyer.

Canções folclóricas como: Indo eu a caminho de Viseu (Folclore Português), Mandei fazer uma casa de farinha

(Ciranda/domínio público) e o Cirandeiro (domínio público) também foram cantadas pelas crianças da turma do Pré II A do CEI Anjo da Guarda. As canções folclóricas são criações de autoria desconhecida, aprendidas por meio da transmissão oral e perdurando através dos tempos. Possuem letras e melodias simples (com pequena extensão e privilegiando graus conjuntos), na maioria das vezes com repetições. Pode-se observar nesse grupo de canções uma maior quantidade do gênero típico português chamado “Ciranda”. Segundo Campana (2011), a Ciranda brasileira “conserva muitas características das antigas Cirandas portuguesas, hoje ela é praticada com modificações em nosso país” (p. 28). Com suas variações e modificações tão significativas elas se tornaram verdadeiramente brasileiras, afirma a autora. Uma curiosidade ou coincidência foi percebida: a presença da canção portuguesa no repertório do professor Klaus aponta para a grande influência da cultura portuguesa observada em solo catarinense.

Em sua maioria, as canções foram acompanhadas ao violão pelo professor e, de vez em quando, executadas à

capella. Ao falar sobre a escolha do repertório utilizado em

suas aulas, o professor afirmou:

Eu tento sempre colocar músicas não só infantis, mas músicas do contexto popular, às vezes não a música na íntegra, mas trechos da música… eu modifico, não faço no andamento original, às vezes apresento a música original só como forma de apreciação, a gente não executa a música junto com a original. Acabo fazendo uma releitura da obra, um novo arranjo. (Klaus, entrevista, 13 de abril de 2015).

Brito (2010, p. 93) afirma ser primordial apresentar para as crianças canções tradicionais infantis, música regional,

Música Popular Brasileira e de outras culturas, como fez o professor. Além de apresentar as canções já gravadas ou cantar para elas, as crianças também devem ser incentivadas a improvisar e criar suas próprias canções. No planejamento, as aulas foram divididas em: canções de entrada, canções com objetivos musicais, atividades musicais e no final da aula o relaxamento. As atividades cantadas foram utilizadas com frequência, conforme Klaus mesmo confirmou, dizendo que utiliza o canto em 80% a 90% das aulas. Durante a entrevista, quando indagado sobre seus objetivos em relação ao uso do canto, ele respondeu: “Acredito que quando se dirige diretamente à criança de forma verbal, e neste caso, cantada, você chega mais rápido”. Dessa forma, considera-se que o ato de cantar e as canções podem despertar a curiosidade, o interesse e o desejo das crianças em participar das atividades. As canções estavam presentes em diferentes momentos da aula e, consequentemente, tinham objetivos distintos. O professor utilizou canções para iniciar a aula, para ensinar conteúdos musicais e para finalizar a aula.

No documento MARISLEUSA DE SOUZA EGG (páginas 126-129)