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2 CONSTITUINTE TEÓRICO I: O ENSINO DA ESCRITA

2.3 A escrita argumentativa

Por meio de diversas áreas, é possível dimensionar a complexidade envolvida na construção de um texto escrito, pois sua composição se avulta aspectos linguísticos, cognitivos e extralinguísticos. Dada complexidade permite buscar em variadas áreas fundamentos que possam explicar o funcionamento da escrita. Observa-se, portanto, o caráter amplo de exploração desta modalidade.

Embora o conhecimento do funcionamento da modalidade escrita torne possível modificar o ensino da escrita, é necessário conhecer também o funcionamento da escrita argumentativa, uma vez que o principal objeto de estudo neste trabalho está circunscrito ao âmbito da argumentação.

Por este viés, é fundamental compreender a complexidade envolvida no ensino da escrita argumentativa em sala de aula, o que somente se torna possível por meio de análise sobre o ensino dedicado a habilitar o estudante à construção de um texto argumentativo. Imersos nesta análise, problemas evidenciados na construção textual argumentativa tornam-se relevantes para compor uma imagem das dificuldades enfrentadas pelos estudantes, as quais os perseguem nos anos escolares seguintes.

“Se o uso da linguagem se dá na forma de textos e se os textos são construídos por sujeitos, seus quereres e saberes, então, argumentar é humano.” (KOCH; ELIAS, 2016, p. 23 grifo das autoras). Este fragmento pressupõe que o ato de argumentar é inerente ao ser humano, uma vez que, no jogo interacional, as convicções, as ideologias e as intenções do sujeito permitem formar discursos de teor argumentativo. Apesar de suplantar, nesta afirmação, as demais intenções discursivas, como informar um fato, relacionar ideias, entre outros, torna-se evidente que argumentar é parte substancial nas interações humanas, uma vez que a intenção argumentativa, latente ou declarada, pressupõe fazer o outro aderir a seu ponto de vista.

Nesta perspectiva, é por meio da interação que os sujeitos constroem discursos de teor argumentativo. Subentende-se, portanto, que o sujeito, por natureza, sabe argumentar, domina naturalmente a argumentação. No entanto, argumentar exige uma construção textual

específica, que, obviamente, se alia a um contexto que extrapola os limites linguísticos. Na interação face a face, em contextos reais de interação, é possível dizer que a desenvoltura em construir textos argumentativos seja maior para qualquer sujeito. No âmbito da escrita, em contrapartida, construir um texto argumentativo exige determinadas habilidades escritas que, muitas vezes, os estudantes não dominam.

A escrita é uma modalidade criada pelo homem como forma de prolongar atos sociais em sociedade, portanto, é algo que deve ser aprendido e exercitado. Desta forma, não é algo inerente ao homem, o que significa árduo exercício cognitivo e dinâmico. Nesse sentido, Cassany (1999, p. 32) pontua:

Como sabemos, lós textos son sistemas complejos de unidades lingüísticas de diferentes niveles (párrafos, oraciones, sintagmas, palavras) y de reglas o critérios de organización de las mismas (introducción-desarrollo-conclusión, tesis-argumento, causa-consecuencia, coordinación sujeto-verbo)... Para analizar y clasificar esta intrincada organización interna, utilizamos las conocidas denominaciones de coherencia, cohesión, corréccion y adecuación. Cabe destacar que la escritura uitiliza dichas unidades y reglas com cierta especificdad respecto a la oralidad, debido em parte las características pragmáticas del canal escrito.9

O estudante, portanto, necessita conhecer as especificidades da escrita argumentativa em prol de maior desenvoltura em transpor o ponto de vista defendido por ele no texto, o que possibilitaria, desta forma, modificar a visão do leitor.

É importante relembrar que o ensino da escrita precisa estar fundamentado em uma perspectiva sociointeracional, pois, caso contrário, a produção textual perde significado e torna-se abstrata, de difícil composição, já que se distancia de situações reais.

A falta de posicionamento de ensino integrado a aspectos sociointeracionais promove, frequentemente problemas na produção escrita, no caso da escrita argumentativa, quando não há propósito nem uma situação de produção em que seja necessário argumentar, o estudante pode construir um texto com diferentes desvios, como por exemplo, uma sequência explicativa ou mesmo narrativa no lugar da argumentativa.

No entanto, na realidade de sala de aula, é preciso afirmar que o fato de somente construir um processo de escrita baseado em um evento deflagrador, em propósitos comunicativos, e em um leitor social a quem irá se dirigir etc. não garante uma habilidade gerencial de escrita argumentativa pelos estudantes, apesar de a composição textual já

9 Como sabemos, os textos [escritos] são sistemas complexos de unidades linguísticas de diferentes níveis

(parágrafos, orações, sintagmas, palavras) e de regras ou critérios de organização (introdução-desenvolvimento- conclusão, tese-argumento, causa-consequência, coordenação sujeito-verbo)... Para analisar e classificar esta intricada organização interna, utilizamos as conhecidas denominações de coerência, coesão, correção e adequação. Cabe destacar que a escrita utiliza dessas unidades e regras com certa especificidade com relação à oralidade, devido em parte as características pragmáticas do canal escrito. (tradução própria).

apresentar características argumentativas. Faz-se, portanto, necessário auxiliar na composição textual dos discentes.

Em vista de tais problemas, faz-se necessário melhor direcionamento no ensino da escrita argumentativa, na qual se possam empreender melhorias significativas na construção do texto. Devido à relevância desta temática em âmbito social, faz-se fulcral compreender o universo da argumentação em prol de melhores resultados na construção de um texto marcadamente argumentativo.

Este capítulo foi construído com o propósito de expor concepções de ensino da escrita que podem ser adotadas neste trabalho a partir das necessidades que possam surgir durante a aplicação das ações em sala de aula. Além da discussão sobre o ensino da escrita, é preciso imergir no universo dos estudos empreendidos sobre argumentação, uma vez que este trabalho é fundamentado em uma busca do aprimoramento argumentativo, portanto, a necessidade de aprofundamento nos diversos campos que abordam e explicam o seu funcionamento. Neste sentido, o próximo capítulo volta-se integralmente para as teorias sobre argumentação.

3 CONSTITUINTE TEÓRICO II: APANHADOS TEÓRICOS SOBRE