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Composição do corpus inicial da sequência

4 PERCURSO METODOLÓGICO

4.3 Procedimentos e Composição do corpus

4.3.2 Composição do corpus inicial da sequência

O ponto central deste trabalho é a melhoria da produção escrita argumentativa. No processo de elaboração do corpus inicial, dois questionamentos foram feitos. O primeiro referente ao modo como normalmente o ensino da escrita argumentativa é desenvolvido em sala de aula. É comum haver propostas de temas polêmicos relativos à escrita argumentativa ligadas a determinado gênero, muitas vezes, acompanhadas de textos-base ou motivadores para auxiliar os discentes em sua escrita. Contudo, normalmente, os discentes recorrem em demasia aos textos-base, o que provoca uma produção escrita simulada, pois o caráter opinativo e argumentativo se dilui em meio às paráfrases. Apesar desta forma de envolver os alunos na escrita argumentativa ser valorosa, o efeito com relação à argumentação, muitas vezes, é insuficiente. Diante disto, o primeiro questionamento é: Que outra forma poderia ser utilizada para envolver, de fato, os discentes participantes na produção de um texto argumentativo? Este questionamento se torna importante para saber o potencial dos

discentes em desenvolver a argumentação na modalidade escrita, ou seja, se o objetivo é melhorar, faz-se necessário mapear os domínios argumentativos dos participantes, a fim de se produzir um trabalho alicerçado em problemas reais de argumentação enfrentados por eles.

Para responder a este questionamento, tem-se que voltar ao universo do gênero. Segundo Alves Filho (2011, p. 27), “todo gênero certamente é o resultado histórico de modos particulares de se relacionar uma forma textual (o modo como se diz ou escreve algo) e um

conteúdo (aquilo sobre o qual se fala ou escreve)”. Esta aliança entre a forma e o conteúdo do gênero deve ser objeto de estudo em sala de aula, pois, se o gênero é exposto como apenas uma estrutura composicional que deve ser seguida e são descartadas as características pragmáticas e discursivas inerentes ao gênero, ao fim, temos apenas um estudo sistematizado e explanatório dele, ou seja, apenas uma sombra estrutural de toda a complexidade genérica.

Isso significa que, para o discente produzir, de fato, um gênero com todas as características físicas, pragmáticas e discursivas, é necessário que ele seja integrado em um evento deflagrador15 que o motive à escrita de um texto figurado em um determinado gênero, que dê ao indivíduo um propósito comunicativo. “Assim, sendo o texto um evento singular e situado em algum contexto de produção, seja ele oral ou escrito, no ensino, é conveniente partir de uma situação e identificar alguma atividade a ser desenvolvida para que se inicie uma comunicação.” (MARCUSCHI, 2008, p. 212)

Portanto, escolheu-se integrar os discentes participantes em um evento deflagrador, esclarecendo qual seria seu papel e o seu propósito comunicativo. O intuito, como discutido, é propiciar a integração dos discentes em determinada situação de forma a provocar uma escrita argumentativa marcadamente autoral para descobrir quais possíveis problemas e propiciar uma intervenção que provoque um aperfeiçoamento. No quadro 2, segue o evento deflagrador sugerido e o propósito comunicativo exigido para a elaboração da produção inicial diagnóstica.

Quadro 2 – Proposta de escrita

Que tal pensarmos na produção escrita?

 Imagine que um(a) amigo(a) da escola, conhecido(a) por ser um pessoa carismática, amiga e trabalhadora, foi morto ao ser assaltado logo após sair da escola.

Propósito de escrita: discuta a questão da violência urbana e/ou conscientize

sobre a violência urbana que provocou a morte de seu(ua) amigo(a) tão querido(a). Escolha o gênero e construa seu texto.

Fonte: Autoria própria (2018)

15 Segundo Alves Filho (2011), evento deflagrador é um acontecimento, que pode ser factual ou discursivo, que

A escolha deste tema foi motivada pela presença diária de violência na sociedade brasileira. Desta forma, os estudantes teriam condições de expor opiniões sobre a temática visto que é um assunto que invade as vivências de todos os brasileiros.

Escolhida a forma como os estudantes seriam convidados a escrever, surgiu uma inquietação que levou a um segundo questionamento: Os estudantes teriam vivências suficientes para escolher um gênero pelo qual pudessem discutir a questão da violência urbana?

É óbvio que vivências de escrita os estudantes têm em seu dia a dia. Mas, para uma garantia de produções escritas argumentativas neste primeiro momento, decidiu-se analisar variados gêneros em sala de aula, com predominância argumentativa, antes de envolvê-los em um evento deflagrador aliado a um propósito comunicativo para a elaboração da produção diagnóstica, a fim de possibilitar maior diversidade aos estudantes no momento da escrita inicial, evitando que surgissem perguntas como: “Eu não sei”, “Como é que eu começo”, entre outros.

A principal característica das aulas pré-elaboradas à produção diagnóstica foi de reflexão discursiva e estrutural de variados gêneros marcados pela argumentação. Podia se observar, portanto, características estruturais do texto, que auxiliavam na identificação e produção do gênero, como também nas motivações sociointeracionais envolvidas na produção de determinado gênero. Desta forma, a reflexão sobre evento deflagrador, propósito comunicativo, enunciador, enunciatário, contexto de produção, e outros aspectos foram pontos analisados.

A reflexão sobre questões discursivas envolvidas na produção de textos reconhecidos como determinados gêneros iniciou-se por meio de questionamentos pessoais sobre o ato de escrita realizado por eles.

Quadro 3 – Primeiras questões para incitar a reflexão sobre a discursividade  O que mais o(a)s motiva a falar com os colegas?

O que mais o(a)s motiva a escrever? Escreve para quem normalmente? Em quais momentos você escreve? Fonte: Autoria própria (2018)

Após este momento, foram analisados diferentes gêneros a partir das questões seguintes:

Quadro 4 – Questões envolvendo o âmbito sociointeracional do gênero  Quem escreve? (quem é o agente social que enuncia?)  Para quem escreve?

 Qual o assunto tratado?

 Qual o objetivo do enunciador do texto?  O que impulsionou a escrita do texto?  Onde foi publicado?

Fonte: Autoria própria (2018)

A produção diagnóstica deste trabalho tornou-se diferencial devido aos discentes participantes terem tido a oportunidade de escolher o gênero que, para eles, melhor poderia tratar do assunto em questão. Desta forma, a produção inicial diagnóstica foi construída em diversos gêneros, como carta pessoal, carta aberta, artigo de opinião, entre outros.

Os dois questionamentos norteadores para a promoção da produção diagnóstica permitiram construir uma apresentação do projeto solidificada, esclarecedora para os discentes participantes e de descobertas importantes para a construção dos módulos a partir da primeira escrita desenvolvida por eles.

É importante salientar que a iniciação da sequência didática é um período de esclarecimento e descoberta. Esclarecimento por haver a necessidade de explicar minuciosamente as ações que serão realizadas aos participantes da pesquisa. Descoberta por haver a necessidade de detectar quais problemas precisam ser trabalhados, a fim de que haja a melhoria na escrita argumentativa dos discentes. Portanto, questionamentos, pesquisa, análise e interação são importantes aliados para o desenvolvimento do trabalho em questão. É o que se observa na construção dos módulos didáticos.