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6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3 AS DOCENTES E O CICLO DE VIDA PROFISSIONAL

6.3.2 A estabilização na docência e a consolidação de um repertório pedagógico

Esse ciclo foi vivenciado no final da década de 70 e início da década de 1980 pela professora Acácia. Oiti vivenciou esse ciclo no início da década de 1990, já Uvaia vivenciou ao final da mesma. E, Eugenia estava nesse ciclo ao ser entrevistada. Enquanto Eugenia estava com 47/48 anos de idade cronológica, as demais professoras passaram pelo ciclo em torno dos 32/36 anos. Esse momento da carreira está marcado para as entrevistadas como um período de intensas atividades, já que tiveram que conciliar os estudos com a profissão.

Acácia trabalhava em duas instituições (uma de Educação Superior, outra de ensino técnico) e Oiti atuava na área de gestão de uma universidade e lecionava em três cursos de graduação, ambas cursaram o Mestrado nesse período. Nesse sentido, Acácia recorda da sua entrada, como estudante, no Mestrado em um tempo que o curso não era tão valorizado:

Na época ninguém tinha Mestrado. Doutorado nem pensar. Isso não era muito valorizado. Era um momento de transição política, então era muito valorizado trabalho ‘pé no barro’, trabalho que a gente fazia na vila. Então isso era muito mais um discurso ideológico da educação de trabalhar essa dimensão do que valorizar Mestrado e Doutorado. Mas eu sempre tinha vontade de estudar mais e, então, em 1977 eu vim fazer o Mestrado, de 1977 a 1979. Foi muito interessante, era uma formação muito inspirada na literatura norte-americana, porque nem todos os meus professores eram doutores, mas os que eram, os que tinham feito formação, tinham todos feito formação nos EUA, então eles traziam a literatura que tinham aprendido lá nesse espaço. Durante esse tempo continuei trabalhando nas duas instituições (ACÁCIA, informação verbal).

Enquanto Oiti relembra a primeira metade da década de 1990:

Fiquei muito tempo, muito tempo atuando numa área de gestão de pessoas, assumi funções gerenciais nessa área e aí como professora em três cursos na área das Ciências Humanas. Tempo de gestão foi indo mais ou menos por aí. Nesse tempo foi que eu fiz o Mestrado. E aí mantive minhas manias

trabalhando em áreas relacionadas à gestão e planejamento durante o Mestrado (OITI, informação verbal).

Nesse ciclo, Uvaia realizou disciplinas do Doutorado, em condição de aluna especial e, também, cursou a segunda graduação, ao mesmo tempo em que lecionava e buscava pela estabilização na sua carreira. Ela explica: “Aí depois quando eu vim para fazer o Doutorado em 1998, eu fiz todo um processo de seleção, enfim, e comecei como aluna especial” (UVAIA, informação verbal).

Eugenia realizou o Pós-Doutorado, concomitantemente à carreira docente na Educação Superior e na Pós-Graduação, bem como, nesse período retorna para o serviço público do qual estava afastada por licença interesse. Para ela, a volta ao Estado/Serviço Público, foi bastante traumática. Ela fala, entristecida, do retorno ao Estado e das dificuldades desse retorno em vias de aposentar, bem como da demanda e desgaste físico nesse trabalho; mas, também, conta, aliviada, sobre as pessoas que encontrou em seu caminho e que auxiliaram na viabilização de concluir o período faltante [pouco mais de um ano] fora da sala de aula, com flexibilidade nos horários, possibilitando conciliar com a carga horária na Educação Superior. Ela explica:

E, esse ano 2015, particularmente, então eu retorno. Fiz meu Pós-Doutorado esse ano. E, em setembro, retorno para a escola, depois de dois anos licença interesse, porque eu preciso de mais um ano e três meses para me aposentar. Estou contando os dias, não posso me aposentar porque não tenho idade, embora eu tenha vinte e seis anos e meio de sala de aula no serviço público, mais três anos e meio fora de sala de aula, então são trinta anos de serviço público, não posso me aposentar, não tem brecha na lei que permita, nem aposentadoria proporcional, pois eu não tenho 50 anos de idade, então eu tenho que cumprir para não perder todos esses anos de serviço público. Esse meu retorno, desde setembro, tem sido bem sem tempo nem de respirar, está sendo bem complicado. São 60 horas. São 20h na Pós-Graduação, com todas as exigências que ela tem, embora eu não precise publicar mais nada até inicio de 2017, eu estou com toda minha cota cumprida, tive a sorte de ter vários artigos aceitos e estavam bons também, modestamente, tenho alunos muito bons que trabalharam muito bem, aí dá resultados bons também. No entanto, a volta ao Estado foi um tanto traumática. [...]. E na universidade é toda a exigência que um PPG tem e tu trabalha 80 horas, nas 40 horas e mais as salas de aula e mais alunos orientandos, então, é muito trabalho. Bom, isso assim é o percurso acadêmico. Tem decepções dentro de todo o contexto. Tem decepções dentro da escola, tem decepções dentro da universidade, pois as pessoas são diferentes, pensam diferente, algumas são corretas, outras nem tanto; algumas são justas, outras nem tanto; então nem sempre é um mar de rosas, mas eu acredito ainda na educação, acredito ainda nos alunos, acho que vou morrer acreditando e eu acho que as pessoas podem ser melhores mesmo, às vezes, recebendo muitas rasteiras. Mas acredito ainda nas pessoas e acredito na educação, acredito muito na pesquisa e é o que, atualmente, eu pretendo fazer mais uns 10 ou 15 anos –

trabalhar com pesquisa–, não sei se na Pós-Graduação, mas com pesquisa em educação é o meu foco. Também não sei se vou continuar nessa instituição, porque a gente não sabe o dia de amanhã, mas eu sei que eu quero continuar trabalhando com pesquisa na área da Educação e contribuir um pouco mais para com a área (EUGENIA, informação verbal).

Portanto, ao mesmo tempo que a professora Eugenia (re)começa a atuar no Serviço Púbico e se prepara para encerrar definitivamente as atividades nesse nível de ensino, ela tem buscado e encontrado a estabilização no nível superior, buscando qualificar-se para o cargo e atendendo as demandas dessa função. Apesar de todas as professoras entrevistadas estarem envolvidas com atividades de estudo paralelas à profissão, o nível cursado nesse ciclo diferenciou-se. Acredito que essa diferenciação tenha acontecido pela questão do período em que cada uma vivenciou essa fase da profissão, já que, cada vez mais, existe a necessidade de escolaridade e valorização da mesma. Se outrora, ter Mestrado e Doutorado não era tão valorizado, atualmente, ele é requisito básico para assumir funções docentes na Educação Superior.