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3 OS CICLOS E O DESENVOLVIMENTO NA PROFISSÃO DOCENTE

3.3 VIDA ADULTA: A TEORIA DE MOSQUERA

3.3.2 O adulto médio

Para o autor a fase adulto médio está subdividida em: a) idade adulto médio inicial, compreendida entre os 45 e os 55 anos, que é, geralmente, o momento da vida em que o indivíduo sofre da ‘crise da meia idade’ e, nela, pode vivenciar fracassos afetivos, sexuais, medos, ansiedade e angústias; b) idade adulto médio plena, situada entre os 55 e os 65 anos; e, c) idade adulta médio final que abrange o período em que as pessoas estão entre os 65 e os 70 anos de idade. De modo geral, essa fase é demarcada pela formação familiar –matrimônio, filhos, educação e compromisso do(s)/com o(s) filho(s)– e pelos novos papéis que o sujeito pode assumir –tornar-se pai/mãe, esposo/a.

Na afirmação e desempenho do adulto médio, o relacionamento intimo joga um papel preponderante. O ponto mais significativo da mudança se dá na fase inicial da adultez média. Parece se tratar de uma pessoa, nesse período, em consolidação, que colhe os frutos do próprio esforço e nas suas capacidades se apresenta confiante. Uma consciência crítica, para o

autor (1987), é estabelecida entre o que é realizável e aquilo que tem características inalcançáveis.

Nesse ínterim, “A década dos quarenta representa para o adulto a ocasião que pode olhar tanto para o passado como para o futuro. Existe uma avaliação crítica da vida e se colocam em julgamento os benefícios da experiência e significado pessoal”. (MOSQUERA, 1987, p. 97). Também, aparece definida, a partir dessa idade, a fortaleza de caráter, a firmeza de sentimentos, a fidelidade aos princípios e a lealdade para consigo próprio e com os demais. Conforme o autor, no período seguinte, que corresponde a plenitude do adulto médio, o adulto passa a ter consciência do que é e percebe as novas gerações como continuadoras do seu trabalho. Já no final dessa fase, passados –em média– os 65 anos de idade, o adulto se prepara para a aposentadoria e para a necessidade de encerrar a vida profissional maduramente, visando deixar com os mais jovens a responsabilidade e o desempenho social.

Apesar de não parecer fácil, é relevante o processo de construção do humano. Principalmente, se tratando de pessoas adultas de média idade, já que elas ocupam espaço de poder na cultura e, decisivamente, influenciam o comportamento das novas gerações. Como sinalizado anteriormente, a vida adulta compreende uma parte predominante e extensa na vida do ser humano e, dentro da vida adulta, a fase adulta média é a que compreende maior quantidade de anos, o que torna esse subtítulo, ligeiramente, mais extenso que os demais.

No início dessa fase é comum o indivíduo se preocupar mais com os outros do que consigo mesmo. Conforme Mosquera (1987), parece que, nesse período, inaugura uma nova fase que ocorre com a crise existencial, o sentimento de solidão e o questionamento radical em relação à própria vida. Em contrapartida, se imagina que, nessa fase, o adulto já tenha configurado todo –ou quase todo– mapa de vida e age de forma mais concatenada com as obrigações sociais e com os determinantes e os padrões de sua geração.

O início e o findar da adolescência são marcados por alterações corporais específicas, enquanto a passagem do período de adulto jovem a adulto de idade média implica, muito mais, em um certo estado de ânimo, embora questões corporais também sofram alterações se comparada uma fase à outra, conforme sinala o autor. Além desse estado de ânimo, os desempenhos responsáveis, as frustrações e claudicações, o sentimento de solidão e as dúvidas existenciais aparecem como características-chave dessa fase.

Além disso, parece que esse período da vida não exige tanto esforço, quanto na juventude, já que agora, em Tese, o adulto já possui uma profissão, um lar, uma família e, portanto, já alcançou muito do que desejava naquele tempo. Quando na idade adulto média

plena, provavelmente com esses objetivos já alcançados –de família, emprego e moradia–, as condições físicas já não costumam acompanhar mais os desejos intrínsecos de cada ser humano.

A ideia de tempo, para Mosquera (1987), configura como motivo preponderante para desenvolver, de forma intensa, a capacidade da pessoa se reconhecer como produtiva e útil. O limitado caráter temporal para realização de planos é percebido pelo adulto médio, que procura estabelecer algumas linhas de ação visando a garantia de desempenhos e significados pessoais.

Saúde e doença são sinônimos de geratividade e estagnação, dois termos, também, bastante presentes na adultez média. Sobre a primeira, os pais são a forma mais direta de geratividade. Existem, também, os pais substitutos, além do médico, psicoterapeuta e professores que são casos típicos de geratividade. Este último –os professores–, enfoque desta Tese.

Para o autor (MOSQUERA, 1987, p. 98), a geratividade –entendida como o interesse para estabelecer e guiar a geração seguinte– “[...] significa atividade de cuidado, produtividade e criação e implica em responsabilidade para com os outros é a chefia no seu sentido mais amplo e melhor”. Mais do que um simples produzir ou cuidar de algo, a geratividade, no seu sentido mais profundo, é a aceitação de responsabilidade pela existência do produzido, além da influência que exerce sobre as pessoas. Nesse sentido:

A atividade gerativa sofre alterações devido às condições pelas quais o adulto passa, e também as influências sociais e culturais vigentes.

Outro aspecto básico a ser assinalado consiste na consciência gerativa que se estrutura com o desenvolvimento e maturidade do adulto, fazendo com que as coisas adquiram sentido e verdadeiro valor. Não se trata de um problema didático, mas de um sentido maduro e objetivo que culmina com o crescimento da pessoa (MOSQUERA, 1987, p. 99).

Além da geratividade, outras satisfações são encontradas nesse período da vida. De acordo com Mosquera (1987), a criatividade aumenta com a idade e, consequentemente a produtividade acompanha. Ou seja, a partir dos 40/45 anos de idade, a pessoa tende a ser mais criativa e a produzir mais. Surge, nesse período, “[...] uma consciência crítica dos próprios problemas e a necessidade de encontrar, na filosofia da vida pessoal ou na religião, um significado profundo para o desempenho do plano vital e da transcendência, a serem deixadas como herança e contributo humano” (MOSQUERA, 1987, p. 101).

Nos adultos, os desempenhos responsáveis são evidenciados a partir do valor que a profissão confere a cada pessoa, a qual consolidou sua forma de trabalho como uma forma de

se posicionar em um mundo de solicitações e encargos. Segundo Mosquera (1987), a necessidade de vencer, durante esse momento da vida adulta, também aparece como uma importante característica a ser considerada.

Portanto, para o autor, essa é uma fase de ‘colher os frutos’ dos seus esforços. No entanto, nem todos conseguem obter tais frutos, além de em algumas pessoas acrescentar a desilusão e as frequentes lamentações envoltas de um amargo ressentimento de ver que o tempo passou. Nesse sentido, outra satisfação que resulta em claudicação, é perceber, a essa altura da vida, o fracasso na profissão e, ao invés de buscar alternativas dentro da sua área, tenta modificar para outro tipo de trabalho, no qual precisa demonstrar competência nessa nova área de atuação.

Como explicitado anteriormente, além da saúde/geratividade, a doença/estagnação também se faz presente nessa fase da vida. Aliás, para Mosquera (1987), o núcleo fundamental de toda a tragédia humana parece se constituir quando se inicia a idade adulta média –por volta dos quarenta/quarenta e cinco anos–, que dura até os sessenta e cinco/setenta anos, aproximadamente.

Portanto, a adultez média também tem seus momentos de crise, assim que se sente o declínio gradual nas forças e nas possibilidades de desempenho. Para o autor (1987), decresce a capacidade física e atividades que antes faziam parte do seu comportamento devem ser abandonadas. Portanto, as atividades mais intensas antes assumidas são substituídas por tarefas mais sedentárias e contemplativas nesse período.

A adultez média, para algumas pessoas, não traz nenhuma alegria e nem decepção, senão, um sentimento de confusão amarga por perceber seu descuido nas relações significativas. Nesse sentido, o autor explica que “[...] a vida continua e o adulto médio segue um caminho trilhado no qual talvez encontre amplas satisfações e recompensas ou amargas decepções e perdas de apreço por si mesmo” (MOSQUERA, 1987, p. 101).

Nessa fase, o autor (1987) defende que ficam em evidência a perspectiva e a visão de futuro e o adulto, com isso, é capaz de entrever as próprias crises existenciais e o tipo de comportamento que dele se espera. As frustrações mais comuns nessa fase, decorrem, muitas vezes, por falta de saúde e vigor. Essas frustrações têm efeitos diferentes em homens e mulheres.

Na mulher, as principais características são que os filhos não são mais dependentes dela como outrora foram e a questão da menopausa –que além dos sintomas, as mulheres muitas vezes sofrem com a visão da sociedade que vê essa condição como sinônimo de

‘velhice’. Já no homem, o potencial sexual diminui gradualmente. Ambos os aspectos “[...] constituem duras provas para o casal que, repentinamente, se vê às voltas com uma nova maneira de encarar-se a si mesmo e a sua própria problemática” (MOSQUERA, 1987, p. 106).

Ainda sobre as frustrações, a solidão é uma constante na vida de pessoas, especialmente –de forma mais aguda e crítica– nessa fase e que pode trazer consequências na velhice. A solidão, para o autor (1987, p. 118), “é uma condição intrínseca da existência humana e se revela nos primeiros terrores da desolação, medo e desespero; os seres humanos possuem uma chave para abrir a porta profunda que leva à sua interioridade, percebendo [...] claramente o mundo onde vivem”.

O autor complementa que, na adultez média, a solidão pode ser estudada através de dois aspectos: a solidão-ansiedade e a solidão-existencial. A primeira é fruto de um abismo fundamental entre o que a pessoa é e o que ela pretende ser. A segunda é a chamada verdadeira solidão da experiência sincera. Um clima emocional de solidão existencial é produzido pela imensidão da vida. “Poderíamos concluir dizendo que atmosfera constante e duradoura na qual se desenvolve a vida humana não é o amor senão a solidão. O amor é uma flor rara e preciosa, mas a solidão revive a cada dia e a cada noite!” (MOSQUERA, 1987, p. 120).

Por fim, vale ressaltar que na adultez média são grandes os problemas e as dúvidas existenciais, o que torna o viver um desafio constante para o indivíduo. Mosquera (1987) afirma que, nessa fase, grande parte dos dramas pessoais são decorrentes do íntimo contato estabelecido entre a pessoa (eu) com a sociedade e a cultura na qual ela está inserida.