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A estratégia da União Europeia para o uso sustentável de pesticidas

MINISTÉRIO DA SAÚDE MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

3.3 A estratégia da União Europeia para o uso sustentável de pesticidas

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Em 2002, como parte integrante do Sexto Programa de Ação Ambiental denominado “Ambiente 2010: nosso futuro, nossa escolha”, a Comissão Europeia inicia de maneira efetiva a implementar uma estratégia temática especialmente destinada a reduzir os impactos causados pelos pesticidas à saúde humana e ao ambiente. Esta abordagem teve como objetivo promover uma utilização mais sustentável dos pesticidas de modo a reduzir os riscos associados ao uso indiscriminado e, ao mesmo tempo, garantir a necessária proteção às culturas (Jornal Oficial da UE, 2002).

Como pode ser observado na tabela 7 acima, toda a legislação europeia até a altura estava essencialmente orientada para o início ou para o fim do ciclo de vida dos pesticidas. Em outras palavras, somente estavam efetivamente regulados a introdução dos pesticidas no mercado (fonte) e a fixação de Limites Máximos de Resíduos (LMR) em produtos alimentares ou em ambientes aquáticos (final do ciclo). Neste contexto, esta nova estratégia identificou a

81 necessidade de complementação do quadro legislativo, até então em vigor, de modo a incidir na fase intermédia, ou seja, especificamente controlar o modo de utilização dos pesticidas.

O sexto programa de ação em matéria de ambiente abrangeu quatro domínios prioritários: a) alterações climáticas; b) natureza e biodiversidade; c) ambiente e saúde; e d) gestão sustentável dos recursos naturais e dos resíduos. A implementação deste plano de ação inovou ao assinalar a necessidade de ultrapassar a abordagem estritamente legislativa e enveredar por uma abordagem estratégica com instrumentos e medidas capazes de influenciar as decisões das empresas, consumidores, políticos e cidadãos. Sendo assim, estabeleceu-se um vasto diálogo com a participação das indústrias, das organizações não-governamentais e das autoridades públicas (European Commission, 2007).

Os objectivos estabelecidos pela temática estratégica, bem como as medidas necessárias para os alcançar estão discriminados na tabela 8 A proposta incorpora medidas com vistas a minimização dos riscos para a saúde e para o ambiente; controlo na utilização e distribuição; substituição das substâncias mais perigosas por alternativas mais seguras; incentivo à técnica de proteção integrada; e a criação de um sistema transparente de acompanhamento e comunicação dos progressos realizados.

Tabela 8. Estratégia temática para a utilização sustentável dos pesticidas na UE.

Objetivos Medidas para a implementação

Reduzir ao mínimo os perigos e os riscos relacionados aos pesticidas para a saúde e o

ambiente

Elaboração de planos nacionais de redução de riscos e da dependência aos produtos químicos para o controlo de pragas.

Redução de riscos específicos, especialmente em cursos d’água e bacias hidrográficas; e em zonas sensíveis do ponto de vista ambiental.

Ampliação do conhecimento sobre os riscos por meio de: a)vigilância da saúde dos utilizadores, especialmente dos grupos de risco, como os trabalhadores rurais e os consumidores sensíveis;

b)recolha de dados sobre os incidentes que possuam consequências para a saúde e o ambiente dos trabalhadores e dos utilizadores privados;

c)recolha e análise de dados económicos sobre a utilização dos pesticidas e suas alternativas.

82 Criação de novas atividades de investigação e desenvolvimento sobre métodos de aplicação e manutenção dos produtos menos perigosos.

Reforçar os controlos de utilização e distribuição dos

pesticidas

Notificação às autoridades sobre as quantidades produzidas, importadas e exportadas.

Reforço das atividades de recolha de dados relativos à utilização (quantidades aplicadas por cultura, produto, superfície, data de aplicação).

Reforço do sistema de inspeções e vigilância da utilização e distribuição.

Introdução de um sistema regular de recolha das embalagens e dos produtos não utilizados.

Introdução de um sistema de inspeção técnica regular dos equipamentos de aplicação (pulverizadores).

Criação de um sistema obrigatório de educação, sensibilização, formação e certificação para todos os utilizadores

Reduzir substâncias ativas nocivas pela substituição por

alternativas mais seguras (incluindo não químicas)

Aplicação rápida da Diretiva 91/414/CEE, nomeadamente de seu programa de revisão das substâncias ativas antigas.

Incentivar a adesão a uma agricultura que utilize quantidades limitadas ou nulas

de pesticidas, por meio de uma maior sensibilização dos utilizadores, da promoção da

aplicação de boas práticas e pela aplicação de instrumentos

financeiros

Promover e desenvolver soluções alternativas ao controlo das pragas com substâncias químicas;

Analisar a possibilidade de recorrer às tecnologias de modificação genética quando se considera que a sua aplicação não envolve nenhum perigo para a saúde e o ambiente;

Promover as boas práticas agrícolas que integram os princípios de proteção integrada;

Promover a atribuição de fundos pelos Estados-Membros e a aplicação pelos agricultores de medidas de desenvolvimento rural;

Impor sanções aos utilizadores por meio de redução ou supressão dos auxílios concedidos no âmbito dos programas de apoio.

Introduzir impostos especiais sobre os pesticidas a fim de sensibilizar os interessados para os efeitos nefastos de uma utilização demasiado intensiva e de reduzir a dependência da agricultura moderna em relação aos

83 produtos químicos.

Harmonizar as taxas do imposto aplicável aos pesticidas (variação de 3 a 25% nos diversos Estados Membros). Criar um sistema transparente

de notificação e acompanhamento dos progressos alcançados e definir

indicadores adequados

Apresentação periódica dos relatórios sobre os programas nacionais de redução dos riscos.

Desenvolvimento de indicadores apropriados para o acompanhamento e a definição de objectivos quantitativos.

Uma vez que o termo pesticida é uma designação genérica para todas as substâncias ou formulações utilizadas para eliminar os organismos vivos, no âmbito da estratégia para o uso sustentável foi estabelecida a seguinte distinção:

• Produtos fitofarmacêuticos – São as substâncias ativas e/ou as preparações de uma ou mais substâncias ativas utilizadas para proteger as plantas ou os produtos vegetais contra os organismos nocivos ou para prevenir a ação desses organismos indesejáveis. Os produtos fitofarmacêuticos são nomeadamente utilizados no sector agrícola.

• Biocidas - Substâncias ativas e preparações que contêm uma ou mais substâncias ativas utilizadas nos sectores não-agrícolas, como por exemplo os produtos aplicados na conservação da madeira, na desinfecção ou em determinados usos domésticos. Sendo assim, embora e estratégia tenha adoptado o termo “pesticidas” em seu título, a decisão do Parlamento Europeu e do Conselho relativo à adoção do Sexto Programa Ambiental de Ação indica claramente que as substâncias alvo das ações são os produtos fitofarmacêuticos.

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