• Nenhum resultado encontrado

3 Basf (Alemanha) 6.943 +15.5

4 Dow AgroScience (EUA) 5.546 +10.0

5 Monsanto (EUA) 4.521 +21.7

6 DuPont (EUA) 3.557 +12.1

Fonte: Agronews, 2014.

Atualmente praticamente a totalidade de variedades transgénicas disponíveis possuem unicamente a característica de resistência ao herbicida glifosato. Os herbicidas são responsáveis por um terço do mercado global de agrotóxicos, sendo que cerca de 80% das sementes geneticamente modificadas envolvem a resistência a estas substâncias. A proposta inicialmente difundida seria que estas alterações genéticas assegurassem a diminuição do uso de agrotóxicos, porém estudos recentes (Waltaz, 2010; Alarcón-Reverte, 2013; Fernandez et al., 2015) indicam que há uma diminuição na utilização de agrotóxicos apenas nos três primeiros anos de adoção desta tecnologia. A partir deste período a incidência de pragas também resistentes ao glifosato exige a utilização de quantidades maiores do produto e, em

46 muitos casos, torna-se necessário a utilização de insecticidas ou outros produtos potencialmente mais tóxicos. Segundo Benbrook, a propagação de ervas daninhas resistentes ao glifosato tem provocado um aumento substancial na quantidade de herbicidas aplicados, levando a um aumento de 239 milhões de kg (£ 527.000.000) no uso de herbicidas nos Estados Unidos entre os anos de 1996 e 2011 (Benbrook, 2012).

O Brasil é hoje o segundo maior país em áreas cultivadas com transgénicos em todo o mundo, totalizando 40,3 milhões de hectares em 2013. Este valor corresponde a 23% da área cultivada mundial, estimada em 175 milhões de hectares. E pelo quinto ano consecutivo apresentou taxas de crescimento de áreas plantadas com transgénicos em torno de 10% ao ano, índice mais elevado entre todos os restantes países do mundo (James, 2014).

Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a criação e aperfeiçoamento de novas variedades geneticamente modificadas são bastante elevados. Segundo relatório recente publicado pelo International Service for the Acquisition of Agri-Biotech Applications o custo referente à criação, desenvolvimento e autorização de uma nova variedade transgénica é de aproximadamente 135 milhões de dólares (James, 2014).

Segundo o relatório “Quem é o dono da natureza?” (Who Owns Nature? - ECT Group, 2008) as seis maiores empresas de agrotóxicos, que juntas controlam 75% do mercado global, são também gigantes da indústria de sementes:

a) Syngenta: é maior produtora mundial de agrotóxicos e também a terceira maior companhia de sementes do mundo.

b) Bayer: é a segunda maior produtora mundial de agrotóxicos e também a sétima maior empresa de sementes do mundo.

c) Monsanto: maior empresa de sementes do mundo e a quinta maior fabricante mundial de agrotóxicos.

d) DuPont: segunda maior companhia de sementes do mundo e também a sexta maior fabricante mundial de agrotóxicos.

O patenteamento de sementes vem suplantando os saberes tradicionais e os direitos fundamentais dos agricultores de guardar e replantar as sementes colhidas na safra anterior. Como resultado da privatização destas novas tecnologias, observa-se a alteração da posição dos agricultores de “donos das sementes” a meros “licenciados” dos produtos patenteados.

47 Segundo as Nações Unidas, a velocidade da concentração dos meios de produção agrícola, associadas à privatização e patenteamento dos recursos biológicos, levanta sérias preocupações relativas à justiça social e a segurança alimentar (United Nations Conference on Trade And Development [UNCTAD], 2006).

2.3 Legislação Brasileira sobre agrotóxicos

___________________________________________________________________________

O Brasil adota o sistema político Federativo, sendo a União constituída por 26 Estados autônomos e um Distrito Federal que abriga a capital do país. Todos os Estados estão subordinados à Constituição Federal e são subdivididos em Municípios. A Constituição Federal, promulgada em 1988, é a Lei máxima do país e balizadora de todas as demais normas do sistema legislativo brasileiro. Os três níveis de organização: União, Estados e Municípios, possuem competências político-administrativas definidas pela Constituição, sendo que no caso dos agrotóxicos este domínio de atuação abrange as áreas da saúde, proteção ao meio ambiente e o combate à poluição. E até por ser relativamente recente, a Constituição brasileira já inclui um capítulo específico intitulado “Meio Ambiente” onde estabelece alguns princípios aplicáveis à questão dos agrotóxicos. O artigo 225 da Constituição Federal expressa:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (Brasil, 1988).

E, para assegurar a aplicação eficaz deste direito, o mesmo Artigo segue afirmando que incumbe ao Poder Público controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e ao meio ambiente (Brasil, 1988, Art. 225).

Apenas um ano após a promulgação da atual Constituição brasileira foi publicada a Lei 7.802 de 1989, que substituiu o Decreto 24.114 de 1934, normalmente referida como “Lei dos Agrotóxicos”. A nova lei foi, portanto, aprovada no período chamado Nova República que marca a transição do período de ditadura militar para o restabelecimento do estado

48 democrático de direito. E fez parte de um pacote de medidas de forte teor ambiental intitulado “Programa Nossa Natureza”, que marcou uma reorientação estratégica da política ambiental brasileira. Este programa surgiu como resposta às pressões ambientalistas de governos estrangeiros e organizações não-governamentais que ganharam maior dimensão após o assassinato do ambientalista Chico Mendes, ocorrida no ano anterior, precisamente em 22 de dezembro de 1988 (Kohlhepp, 1992).

A Lei 7.802/89 foi regulamentada em 2002 por meio do Decreto 4.074, além de outros avanços, veio proibir expressamente o registo de agrotóxicos com as seguintes características: “a) para os quais o Brasil não disponha de métodos para desativação de seus componentes, de modo a impedir que os seus resíduos provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública;

b) para os quais não haja antídoto ou tratamento eficaz no Brasil;

c) considerados teratogênicos, que apresentem evidências suficientes nesse sentido, a partir de observações na espécie humana ou de estudos em animais de experimentação;

d) considerados carcinogéneos, que apresentem evidências suficientes nesse sentido, a partir de observações na espécie humana ou de estudos em animais de experimentação;

e) considerados mutagênicos, capazes de induzir mutações observadas em, no mínimo, dois testes, um deles para detectar mutações gênicas, realizado, inclusive, com uso de ativação metabólica, e o outro para detectar mutações cromossômicas; f) que provoquem distúrbios hormonais, danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica;

g) que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido demonstrar, segundo critérios técnicos e científicos atualizados; e

h) cujas características causem danos ao meio ambiente.” (Brasil, 1989; Brasil, 2002).

49 A nova legislação destaca-se também por estabelecer a proibição do registo de novos produtos, caso a ação tóxica deste não fosse igual ou menor do que a de outros produtos já existentes destinados a um mesmo fim, como também estabelece a possibilidade de impugnação ou cancelamento do registo por solicitação de entidades representativas da sociedade civil. Em outra palavras, o registo de um produto pode ser cancelado a partir de requisição de entidades de classe e representativas de atividades ligadas aos agrotóxicos, partidos políticos desde que representados no Congresso Nacional, e por entidades legalmente constituídas para a defesa dos interesses coletivos relacionados à proteção do consumidor, do meio ambiente e dos recursos naturais (Brasil, 1989: Art. 5°). Ainda segundo a lei, com vistas a melhorar a possibilidade de rastrear as infrações causadas pelo uso de agrotóxicos, todos os agentes diretamente envolvidos no manuseio destes produtos, desde os fabricantes até os aplicadores, devem regista-se nos órgãos competentes (Brasil, 1989: Art. 4°).

Ficou também instituído que a venda de agrotóxicos só pode ocorrer com a apresentação do receituário agronômico, emitido por um profissional legalmente habilitado (Brasil, 1989:Art. 13). Ainda sobre o receituário agronómico, segundo o Art. 65 do Decreto 4.074/2002, a receita deve ser específica para cada cultura ou problema e conter informações sobre o diagnóstico, doses de aplicação, quantidades totais a serem adquiridas, época de aplicação e intervalo de segurança. Em tese, para que um profissional possa emitir um receituário agronômico, ele deve antes visitar a propriedade rural ou examinar amostra do material infectado e só então prescrever o tratamento preventivo ou curativo em função de seu diagnóstico, orientando o usuário sobre como proceder ao utilizar um agrotóxico ou outra medida alternativa da Defesa Sanitária Vegetal. Como esta lei foram também estabelecidos as normas e padrões das embalagens e instruções dos rótulos dos produtos (Brasil, 1989:Art. 7°). Conforme estabelecido pelo Decreto 4.074 de 2002, a competência para o controle de todas as atividades relacionada aos agrotóxicos são atribuídas a três diferentes áreas: agricultura, saúde e meio ambiente: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) representando o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) representando o Ministério do Meio Ambiente. A tabela 4 apresenta um resumo das principais funções exercidas por estes ministérios no que toca ao controle de agrotóxicos no Brasil.

50 Tabela 4. Resumo das competências dos órgãos de controle dos agrotóxicos no Brasil.

MINISTÉRIO DA