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2 SOBRE O FÓRUM: A INSTITUIÇÃO E O ESPAÇO

3. Sobre a Teoria e o Método

3.2.1. A estrutura espacial

Como preconiza a Sintaxe Espacial (HILLIER; HANSON, 1984), a relação entre espaço e sociedade não se revela apenas nos aspectos visíveis e simbólicos da forma, mas encontra-se subjacente à estrutura espacial do edifício. Dentre as maneiras de descrever e analisar esta estrutura, esta teoria se firmou no campo da morfologia arquitetônica por abordar a relação entre a sociedade e o ambiente construído de maneira nova (HILLIER; HANSON, 1984). Como método, a Sintaxe Espacial pode ser descrita como sendo um conjunto de técnicas para

representação, qualificação e interpretação da configuração espacial em edifícios e assentamentos urbanos e um de seus princípios fundamentais é que “idéias culturais estão objetivamente presentes nos artefatos o tanto quanto estão presentes subjetivamente na mente”. (HILLIER; HANSON; GRAHAM, 1987, p.363). Assim, o problema fundamental é como recuperar os valores sociais da estrutura espacial das edificações, ou seja, como definir uma teoria descritiva do espaço.

Nesse sentido, o principal instrumento de análise é o plano arquitetônico das edificações e essa análise é feita através da configuração da estrutura espacial desses planos. Esta análise identifica informações e propriedades que descrevem como é formado o sistema espacial da edificação, ou seja, da análise do plano arquitetônico surge uma descrição analítica do espaço. Segundo Hillier, Hanson e Peponis (1984), a teoria descritiva do espaço foi construída seguindo três procedimentos: (a) a identificação e representação de elementos espaciais (pois, qualquer sistema espacial, seja de uma cidade, seja de um edifício, é constituído por elementos que podem ser identificados e analisados); (b) a categorização e análise das relações espaciais; e (c) a identificação de padrões51 genotípicos (de aspectos em comum). Estes três procedimentos formam a base metodológica para a análise da estrutura espacial dos fóruns pernambucanos.

3.2.1.1. As dimensões espaciais: identificação e representação

O reconhecimento dos elementos espaciais é feito através da identificação dos limites que diferenciam cada um dos espaços representados no plano da edificação, bem como através da identificação da forma como estes espaços são conectados entre si. “Uma edificação é um espaço mais ou menos controlado, e isso significa um contínuo limite, perfurado por uma ou mais entradas”52 (HILLIER; HANSON; PEPONIS, 1984, p.62). Os limites (barreiras físicas, paredes) e conexões (portas) separam e unem os espaços organizados de acordo com as necessidades programáticas de cada instituição.

51 Segundo Hanson (1998, p.23) a relação de sistemas de espaços são descritas através das suas propriedades configuracionais formando

padrões espaciais. 52

plano são ignoradas e o sistema é descrito através de duas dimensões espaciais: a convexa e a axial. Para se obter a dimensão convexa de qualquer plano arquitetônico basta decompô-lo em unidades de duas dimensões: os espaços convexos. Por definição, um espaço convexo atende à condição de que “nenhuma linha pode ser traçada entre quaisquer dois pontos do espaço que passe por fora dele”53 (HILLIER; HANSON, 1984, p. 98). São nos espaços convexos que as pessoas desenvolvem atividades e interagem entre si. Por esta razão, a dimensão convexa é considerada a dimensão local do sistema espacial. Para se obter a dimensão axial, formada por linhas de movimento que conectam os espaços convexos, o plano arquitetônico é decomposto em unidades de uma dimensão, as linhas axiais. Essas são as linhas acessíveis e visíveis que conectam os diversos espaços convexos que formam o sistema. São nas linhas axiais que as pessoas se movimentam por todo o sistema espacial e que articulam todos os espaços entre si. Por essa razão, a dimensão axial é considerada a dimensão global do sistema (HILLIER; HANSON, 1984).

A representação da dimensão convexa de um plano arquitetônico é feita através do mapa de convexidade. Esse, é obtido com a menor quantidade dos maiores espaços convexos desse sistema (Figura 3.2). A representação da dimensão axial é feita através do mapa de axialidade, que é obtido pela interseção do menor número de linhas retas que passam através de todos os espaços convexos. De acordo com a Sintaxe Espacial, essas são as duas dimensões capazes de representar qualquer sistema espacial.

Para representar os espaços das edificações que abrigam os fóruns de Pernambuco foi adotada a dimensão convexa como a principal dimensão espacial. Essa escolha se deu pelo fato da potencialidade de uso de um determinado espaço está relacionado à sensação de inclusão. O espaço que suporta essa sensação é caracterizado por convexidade, ou espaço convexo. Assim, o layout das edificações selecionadas foi descrito através de uma representação abstrata desses campos de uso, identificando os elementos espaciais através de espaços convexos. Para cada espaço convexo foi atribuído um rótulo indicando as atividades programadas para acontecer em cada um deles.

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Como já foi mencionado, o mapa convexo representa o menor número dos maiores espaços convexos de um sistema espacial. Porém, alguns esclarecimentos sobre a confecção desses mapas são necessários. Neste trabalho, a menor dimensão adotada para um espaço convexo foi de 0,80 m, pois um espaço cuja menor dimensão for menor que essa medida, não permite o desenvolvimento de atividades relevantes, que caracterizam um determinado tipo de edificação. O espaço externo da edificação, que Hillier e Hanson (1984) chamam de carrier

space ou espaço de condução/condutor, quando está incluído na análise, é representado por

um único espaço, independente da sua forma, côncava ou convexa.

O mapa convexo permite quantificar e representar muitas características espaciais do sistema. O Quadro 3.1 sintetiza alguns índices utilizados na representação do sistema espacial das edificações dos fóruns.

Quadro 3.1: Índices formados através da relação entre os espaços convexos

Índice Elementos inter-relacionados Significado

de compartimentação

nº esp. convexos

total nº de ambientes

Indica o grau em que o layout forma ambientes mais abertos ou mais

compartimentados

de funcionalidade nº esp. convexos

funcionais

nº esp. convexos total

Indica o padrão de uso dos espaços da edificação de conflito nº esp. convexos onde circulam somente as cat. de usuários previstas nº esp. convexos onde circulam somente as cat. de usuários, além das

previstas

Indica o grau da inadequação dos espaços de circulação do projeto

O Índice de Compartimentação (ICp) 54, que diz respeito à composição dos espaços, é expresso pela equação,

ICp = .a . [3.1] E

onde ‘a’ é o número de ambientes e ‘E’ o número de espaços convexos do sistema espacial. Considera-se ‘ambientes’ o conjunto de espaços delimitados por claras barreiras físicas, ou paredes. Esse índice varia de 0,00 a 1,00. Quanto mais próximo de um, mais compartimento é o layout da edificação, ou seja, mais o plano é formado por uma matriz de células interligadas. Quanto mais próximo de zero, menos compartimentado é o layout, formado por planos abertos, com poucos espaços isolados por barreiras físicas.

expresso pela equação,

IF = . f . [3.2] E

onde ‘f’ é o número de espaços convexos funcionais (onde atividades são desenvolvidas) e ‘E’ é o número de espaços convexos total do sistema. Valores baixos indicam que o plano é formado por mais espaços de transição (ou de circulação), enquanto valores altos indicam que o plano é formado por mais espaços funcionais.

O Índice de Conflito (ICf), que relaciona o uso do espaço e as categorias de usuários que nele circula, é expresso pela equação,

ICf = . nc . [3.3] E

onde ‘nc’ é o número de convexos por onde circulam outras categorias de usuários, além das previstas pela instituição e ‘E’ é o número de espaços convexos total do sistema. Essa medida, que varia de zero a um, indica o grau de inadequação dos espaços de circulação da edificação. Quanto mais próximo a zero, menor conflito entre o que a instituição requer e o que a organização do espaço oferece. Quanto mais próximo a um, maior o conflito entre o que a instituição requer e o que a organização do espaço oferece.