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2 SOBRE O FÓRUM: A INSTITUIÇÃO E O ESPAÇO

3. Sobre a Teoria e o Método

3.1.2. A Teoria da Lógica Social do Espaço

3.1.2.1. Sistemas espaciais fechados

A sessão anterior discutiu sobre os fundamentos, os paradigmas e as leis dos espaços estabelecidos pela Sintaxe Espacial (HILLIER; HANSON, 1984). Porém, esta teoria reserva alguns princípios específicos para a representação, análise e interpretação de sistemas espaciais aberto (o espaço urbano) e sistemas espaciais fechados (o espaço arquitetônico).

Segundo Hillier e Hanson (1984), o espaço interno das edificações se diferencia do espaço urbano, principalmente, por apresentarem uma série de eventos separados, e não como um sistema contínuo, como é o caso de assentamentos urbanos. As mesmas barreiras físicas (ou limites) que formam um espaço contínuo nas cidades, cria uma série de espaços descontínuos dentro das edificações (ou dentro dessas mesmas barreiras), nos quais acontece uma série de pequenos eventos explicitamente desconectados uns dos outros e do sistema como um todo. Nesse sentido, os sistemas espaciais abertos são aqueles formados por espaços que estão fora das barreiras físicas. Estas, por sua vez, criam, dentro delas, os sistemas espaciais fechados, formados por espaços descontínuos.

A descontinuidade que caracteriza o sistema espacial fechado se deve à presença dos limites, ou barreiras, entre os espaços que o formam. Assim, são identificados dois tipos de relações: (a) as relações entre os espaços internos aos limites; e, (b) as relações entre os espaços internos e os externos ao limite. A primeira diz respeito às relações entre as categorias dos espaços internos (mais ou menos acessíveis). A segunda diz respeito à forma de controle dos limites entre esses espaços (muito ou pouco conectados).

Uma edificação possui mecanismos de controle que se dão, do ponto de vista configuracional, sob dois aspectos: por acessibilidade e por visibilidade. No primeiro, o número de espaços existentes entre outros dois espaços é o indicativo de controle. No segundo, esse indicativo é verificado através da vigilância visual. Goodsell (1988) discute o controle por acessibilidade, descrevendo o caminho que o visitante tem que fazer desde a entrada da edificação da

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preciso atravessar uma longa seqüência de espaços, já que este se encontra profundo, em relação à entrada do visitante. Já o controle por visibilidade, é verificado no Panopticon46 (FOUCAULT, 1984). O efeito mais importante do Panopticon, conforme explicitado por Foucault (1984), é o de induzir no presidiário um estado consciente e permanente de visibilidade que assegure o funcionamento automático do poder. Assim, a disciplina emana da configuração espacial.

Ao passar do espaço externo47 para o interno, muda-se o palco de probabilidades de encontro para um domínio de conhecimento social, onde o que acontece no interior já é resultado desse conhecimento previamente organizado48. Qualquer edificação carrega um determinado tipo de conhecimento, que é refletido na organização das categorias espaciais e no tipo de controle dos limites. Socialmente, a edificação relaciona esse conhecimento com o universo de habitantes e visitantes. Ou seja, toda edificação identifica, no mínimo, um tipo de habitante, que é a pessoa que possui acesso especial e controle sobre os espaços, além de selecionar, do universo de estranhos, o conjunto de visitantes, que têm permissão para entrar, temporariamente, na edificação, sem que este tenha nenhum tipo de controle sobre os espaços que a formam. Pacientes em um hospital, alunos em uma escola, prisioneiros numa prisão, todos são exemplos dessa segunda categoria de usuários que

...têm uma razão legítima para cruzar os limites dos espaços da edificação, mas menos que os habitantes, pois eles não possuem nenhum tipo de controle sobre a edificação e sua individualidade social não está mapeada na estrutura do espaço.49 (HILLIER; HANSON, 1984, p.146).

A sociedade classifica categorias de usuários e os organiza no espaço, relacionando-as, umas as outras, com um maior ou menor grau de agregação ou segregação, gerando padrões de movimento e encontro que podem ser densos, ou esparsos, entre os diferentes grupos de usuários. Assim, as categorias de espaços, juntamente com seus tipos de controle, possibilitam interfaces entre os habitantes (já mapeados dentro dessas categorias) e os visitantes (cujas relações são controladas pela edificação). Todas as edificações, independente do tipo de padrão espacial, têm essa estrutura abstrata em comum.

45 Projeto de A. Spencer (1939).

46 Prisão projetada por Bentham, no século XVIII.

47 Onde o comportamento é resultado do conhecimento de regras que nos permite agir na sociedade. É um conhecimento abstrato que nos

permite fazer algo concreto.

48 Regras sociais.

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Como os tipos de interação entre categorias de usuários mudam de acordo com regras socais, mudam, também as relações entre as categorias de espaços. São justamente essas variações que identificam uma edificação como sendo de um determinado tipo, com uma certa individualidade (HILLIER; HANSON, 1984).

3.1.3 A Teoria e suas aplicações

Apesar dos procedimentos analíticos de descrição dos espaços sugeridos pela Sintaxe Espacial serem simples e objetivos, o processo de interpretação dessas descrições é bastante complexo e, muitas vezes, gera controvérsias (OSMAN; SULIMAN, 1994). Por essa razão, alguns autores (PEARSON; RICHARDS, 1994; TEKLENBURJ; TIMMERMANS; WAGENBERG, 1992) criticam o método, colocando em dúvida a sua eficácia em representar o problema social.

Edmund Leach (1978, citado em OSMAN; SULIMAN, 1994), por exemplo, afirma que ...o argumento da sintaxe espacial é muito significativo e interessante, mas não

acredito que se possa tirar conclusões imediatas simplesmente olhando o padrão do layout dos ambientes, e mesmo que se possa ter certeza do quanto generativa as regras sintáticas possam ser, ninguém pode inferir nada sobre a sociedade que faz uso desse ambiente resultante50. (LEACH, 1978, citado em OSMAN; SULIMAN, 1994, p. 192).

Porém, mesmo sendo alvo de críticas, a Teoria da Sintaxe Espacial tem sido adotada em uma vasta variedade de problemas arquitetônicos e urbanos, vindos de diferentes contextos culturais, mostrando o quanto essa teoria é poderosa na representação, descrição e compreensão do fenômeno espacial. Por essa razão, a Teoria da Sintaxe Espacial tem sido adotada largamente por pesquisadores para explorar o padrão cultural e de uso, bem como o comportamento de usuários, de vários tipos de edificações, como: residências (AMORIM, 1997; HANSON, 1998), museus (PEPONIS; HEDIN, 1981), fábricas (PEPONIS, 1985), escolas (LOUREIRO, 2000).

Amorim (1997) adotou os conceitos da Teoria da Sintaxe Espacial para estudar 140 casas modernas em Recife, construídas entre as décadas de 50 e 70. Neste estudo, procura entender como as idéias do modernismo, que ressaltavam a função como princípio fundamental na arquitetura, estão inseridas nestas residências. Os resultados desse estudo encontraram

geográficos, concluindo que as casas modernas em Recife classificam e agrupam suas atividades domésticas de forma precisa em campos bem definidos, revelando como os princípios projetivos (do campo do conhecimento profissional) são utilizados para incorporar requisitos sociais e culturais nas decisões de projeto.

Peponis, Craig e Yonn (1990), ao tratar da maneira como as pessoas exploram, apreendem e encontram seus caminhos (destinos) dentro do ambiente arquitetônico da edificação, sugerem que o uso do espaço está relacionado tanto à configuração espacial, quanto a regras e práticas organizacionais. Segundo eles, o layout da edificação atua como fator primário para criar possibilidades de uso e de encontro, por meio das características configuracionais, a não ser que regras organizacionais intervenham. Assim, pode-se falar em regras de uso que são configuracionais e outras, não configuracionais. Com isso, a questão central é identificar em que medida a configuração espacial de uma edificação é um suporte para padrões de uso, movimento e encontro.

Assim, através de vários estudos dessa natureza, percebe-se que, em qualquer edificação, os atributos sociais (necessários para exercer uma determinada função) se transformam em atributos espaciais através da forma. Além disso, existe uma lógica espacial, onde é possível reconhecer os hábitos dos usuários que se utilizam do espaço. Nesse sentido, é interessante entender como essa lógica acontece no caso das edificações que abrigam as funções judiciárias estaduais brasileiras.

3.2. O Método