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4. O Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB como cenário historicamente constituído da pesquisa

4.3. A estrutura partidária nacional e estadual

Há uma lacuna no que se refere à produção científica sobre as organizações partidárias no Espírito Santo, não tendo sido possível encontrar teses ou dissertações sobre o tema, mas ao discorrer sobre a sua própria história, o website do PSDB-ES evidencia a presença da assinatura de dois capixabas na ata de fundação do partido: Rose de Freitas e José Ignácio Ferreira, ambos já fora do partido. Sobre a estrutura de direção, o artigo 81 do seu estatuto estabelece as seguintes atribuições ao diretório regional:

I - eleger a sua Comissão Executiva, bem como o Conselho Fiscal Estadual; II - deliberar sobre propostas de sanções a serem aplicadas aos filiados que atuem no nível estadual, ouvido o Conselho de Ética e Disciplina respectivo;

III - julgar em grau de recurso decisões de sua Comissão Executiva ou de seus Diretórios Municipais;

IV - intervir nos Diretórios Municipais, decidir sobre sua dissolução ou destituição de suas Comissões Executivas, nas hipóteses previstas neste Estatuto;

V - estabelecer normas e diretrizes para escolha de candidatos e formação de coligações para as eleições municipais;

VI - deliberar, respeitados os princípios programáticos e as deliberações dos órgãos superiores, sobre propostas de alianças político-administrativas ou apoio a candidatos ao governo do Estado;

VII - traçar, consoante as diretrizes dos órgãos superiores, a linha político- parlamentar a ser seguida pelos representantes do Partido na Assembléia Legislativa e os titulares de funções públicas;

VIII - aprovar a realização de eleições prévias para escolha de candidatos a cargos majoritários, estabelecendo as normas para a sua realização;

IX - baixar resolução disciplinando a organização e funcionamento dos Núcleos de Base, do Secretariado Estadual e a contribuição financeira dos filiados. (PSDB)

Em nível nacional existe uma farta produção acadêmica sobre a estrutura do PSDB, e uma das polêmicas sobre sua estrutura diz respeito à maneira como o partido foi constituído. Seu programa partidário argumenta que a grande novidade no Brasil é o cidadão informado e que almeja a participação. O argumento reforça a tese de Bordenave (2007), onde a participação é aperfeiçoada pela prática. No programa do PSDB consta a seguinte passagem:

A grande novidade política do Brasil nestes vinte anos é a entrada em cena de um personagem: o cidadão informado. Este não quer soluções apenas. Quer participação. Por convictos que estejamos da pertinência das nossas propostas, devemos reconhecer que a interlocução do PSDB com a sociedade ficou aquém do que propunham nossos fundadores e do que se mostra necessário. Nossos canais de diálogo com diferentes setores da sociedade e com os cidadãos em geral são injustificadamente estreitos. (PSDB, 2007, p. 22).

Nesta passagem de seu programa, o PSDB reconhece a dificuldade de seus membros em encontrarem inserção nos movimentos sociais. A autocrítica continua:

Temas que afetam intensamente o cotidiano das pessoas e animam movimentos sociais, como as questões de gênero e raça, drogas e violência, os direitos das minorias, repercutem pouco dentro do nosso partido. Ficamos desatentos à riqueza de manifestações culturais do povo brasileiro, com sua imensa capacidade de afirmar valores e identidades e gerar coesão social. Que atenção demos, por exemplo, aos movimentos (sobretudo musicais) dos jovens na periferia das grandes cidades? Muito pouca, até agora. O momento em que nos dedicamos a renovar ideias deve ser também a oportunidade de reconhecer essa deficiência e tratar de corrigi-la em nossa organização e nas nossas práticas partidárias (PSDB, 2007, p. 22-23).

Entretanto, ao estudar a estrutura do PSDB, Roma (2006) encontrou uma estrutura delineada de tal maneira que os filiados não obstaculizam a atuação dos parlamentares e dirigentes em sua estratégia para a conquista do poder. O PSDB, segundo Roma (2006, p. 163) é um partido constituído sob seus líderes, “com falta de participação dos demais membros do partido”.

A estrutura de decisão do PSDB se concentra nos dirigentes, na medida em que as decisões importantes são tomadas exclusivamente pelos dirigentes de cada instância regional do partido. Não existem meios eficazes que permitam a seus militantes influenciar, ou mesmo impedir a adoção de alguma estratégia política. Por outro lado, a estrutura de decisão não é hierárquica, porque as decisões tomadas em cada instância não têm a interferência da instância imediatamente superior (ROMA, 2006, p. 164).

A estrutura partidária em debate, de acordo com dados coletados em websites (Rádio PSDB; PSDB; PORTAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS; PORTAL SENADORES), em outubro de 2011 era de 1,4 milhões de filiados em todo o país. O PSDB governava oito estados e possuía em seus quadros 52 deputados federais e 10 senadores.

O PSDB admite como filiado todo brasileiro eleitor no pleno gozo de seus direitos políticos, e que se comprometa formalmente a cumprir o programa e o estatuto do partido. Possui duas linhas fundamentais de estrutura e ação: a estrutura vertical dos órgãos da hierarquia partidária (zonal, municipal, estadual e nacional); e a estrutura de articulação com a sociedade (juventude, mulheres, sindicalistas, dentre outros). Seus órgãos nacional, estaduais, municipais e zonais dividem-se

em órgãos de deliberação (as convenções); órgãos de direção e ação partidária (os diretórios e suas respectivas comissões políticas); órgãos de ação parlamentar (as respectivas bancadas); órgãos de atuação partidária na sociedade (núcleos de base e secretariados); órgãos de disciplina e fidelidade partidária (os conselhos de ética e disciplina); órgãos de fiscalização financeira (os conselhos fiscais); e órgãos de cooperação (os conselhos políticos e o Instituto Teotônio Vilela – ITV). Mayer (2011) ilustra seu trabalho com o desenho institucional do PSDB constante na figura 1.

Figura 1 – Desenho institucional do PSDB Fonte: Mayer, 2011, p. 46

De acordo com Mayer (2011), a estrutura do PSDB é simples por causa da proximidade entre os seus membros fundadores e a estrutura governamental, uma estrutura construída de cima para baixo justamente por não haverem laços prévios com a sociedade civil organizada. A importância dos dirigentes do PSDB aparece novamente no trabalho de Kerbauy e Assumpção (2009) onde são articulados os padrões relacionais, os resultados eleitorais e a ocupação de

cargos no Diretório Estadual do PSDB de São Paulo para explicar o capital político que circula no interior do partido, e que lhe dá organicidade e capilaridade.

A análise do desempenho eleitoral do PSDB-SP corroborou o argumento de que os mecanismos institucionais e a estrutura relacional são fatores importantes tanto para a explicação do funcionamento organizacional do partido político, como também para revelar aspectos referentes à relação entre organização partidária e o voto (KERBAUY; ASSUMPÇÃO, 2009, p. 239).

O resultado da pesquisa discute o papel do partido político no âmbito eleitoral, concluindo que elementos organizacionais interferem neste processo, já que são os dirigentes partidários que concorrem aos grandes cargos e já que o PSDB no estado possui resultados expressivos apenas nos municípios de pequeno e grande porte (com menos de 10.000 e com mais de 200.000 eleitores). No Espírito Santo, o desempenho do PSDB possui particularidades que passamos a descrever.