• Nenhum resultado encontrado

González Rey (2005) fornece algumas pistas sobre onde encontrar as configurações subjetivas: na comparação de diferentes significados que possam ser atribuídos a distintos elementos de uma mesma construção, no nível diferenciado de elaboração no tratamento de determinado tema e na forma como se utiliza a temporalidade, mesmo quando produzidos através de diferentes instrumentos. Dessa forma, o valor de um indicador está na possibilidade dele ser enriquecido com informações que surgem nos novos momentos empíricos, através da análise das expressões e das emoções dos sujeitos (GONZÁLEZ REY, 2005). Através do uso de instrumentos escritos e não escritos, o presente trabalho buscou identificar os indicadores dos sentidos subjetivos e as representações da participação política no PSDB/ES.

A partir dos questionários com perguntas fechadas e abertas (APÊNDICE I) e das redações (APÊNDICE II) que foram devolvidas, foram lidos na íntegra e analisados. Então, os possíveis indicadores das configurações subjetivas presentes nestes instrumentos foram organizados, em um processo de permanente tensão entre o momento teórico do pesquisador e a complexidade do momento empírico, em categorias para a produção de informação, conforme a Figura 2.

Para González Rey (2005, p. 07), “a categoria tem um caráter especulativo que, em seu momento atual, tem como fundamento somente a construção teórica de quem a defende”. Ele não concorda com qualquer tipo de categoria pré- estabelecida, no entanto, partindo do referencial teórico foi possível encontrar categorias que nortearam outros estudos tais como: indicadores da identificação partidária (BALBACHEVSKY, 1992; CARREIRÃO; KINZO, 2004), indicadores de pertencimento (GATTAI; ALVES, 2008; VALLE, 2008) e indicadores da importância da família (VERBA, 2003; BORDENAVE, 2007; GONÇALVES, 2008), mas tais

indicadores foram modificados no curso da pesquisa adquirindo um caráter mais singular nos sujeitos em estudo, ou em alguns casos foram totalmente descartados.

Figura 2 – modelo teórico fundamentado em González Rey (2005) aplicado a esta pesquisa

As conversações individuais foram gravadas, houve um diário de campo (GONZÁLEZ REY, 2005), onde foram anotadas observações sobre o comportamento, os gestos e outras manifestações não verbais que se converteram em dados quando relacionados a outros dados oriundos dos demais instrumentos. Os dados produzidos através da conversa individual foram incluídos nas categorias que foram criadas para abrigar os dados produzidos pelos dois primeiros instrumentos. Tal procedimento se repetiu após cada um dos três momentos de conversa em grupo. Quando apareciam indicadores que não cabiam nas categorias já existentes, novas categorias eram criadas. Alguns dados também foram rearranjados entre categorias existentes, ao longo da pesquisa, de modo a facilitar a criação das hipóteses do modelo teórico da participação política do dirigente do PSDB/ES. As informações foram produzidas através do uso de instrumentos escritos e não escritos para a expressão do sujeito.

Os instrumentos escritos foram o diário de campo, a redação (APÊNDICE II) e o questionário com perguntas fechadas e abertas (APÊNDICE I). Os dados do diário de campo e resultados das observações feitas adquiriram significado quando foram relacionados a dados obtidos através de outros instrumentos. O objetivo da parte de perguntas abertas do questionário com perguntas abertas e fechadas (APÊNDICE I), além da redação (APÊNDICE II), foi buscar na expressão escrita do sujeito a expressão da sua elaboração pessoal sobre os temas propostos, além de elementos do contexto em que o sujeito produz seus sentidos subjetivos. O questionário com perguntas abertas (APÊNDICE I) foi desenvolvido para obter do sujeito o maior número possível de informações que fossem complementares na expressão da informação sobre o estudado, considerando que suas respostas no questionário com perguntas abertas e na redação estavam mediadas pelas representações e pelas pressões do contexto. Para González Rey (2005), as redações estão relacionadas à categoria de elaboração pessoal, sendo um elemento definidor de um nível de organização da personalidade.

As informações obtidas pela parte do questionário com perguntas fechadas e abertas (APÊNDICE I) que possui perguntas fechadas serviram para subsidiar a pesquisa com dados para a descrição dos sujeitos, além de poderem adquirir outros significados no curso da pesquisa através de sua relação com informações obtidas através de outros instrumentos. Os instrumentos não escritos foram a conversação individual e a conversação grupal. A conversação permitiu ao pesquisador sair das perguntas do tradicional modelo de estimular o sujeito e aguardar a sua resposta, vindo a se integrar em uma dinâmica que criou o que González Rey (2005, p. 45) chama de “tecido de informação” para implicar os participantes. Assim, nas conversações obteve-se a expressão das necessidades e dos interesses dos sujeitos ao participarem politicamente do PSDB/ES.

Com base em tais indicadores, e em suas representações, foram construídas categorias e hipóteses do modelo teórico das configurações subjetivas da participação política do dirigente do PSDB/ES com base nos resultados dos

momentos empíricos, conforme a Figura 2. É preciso ter em conta que, neste tipo de pesquisa, as informações não foram visíveis diretamente através da expressão dos sujeitos, o que exigiu do pesquisador um caráter ativo na construção do modelo teórico. O objeto do pesquisador é a organização subjetiva presente em qualquer modelo de comportamento ou expressão humana.

Os indicadores criados foram comparados e revisados permanentemente, a cada novo momento empírico realizado. As hipóteses foram confrontadas com outros indicadores oriundos do mesmo instrumento ou de outros, que foram se confirmando ou não em um processo construtivo-interpretativo de conhecimento. Essa é a fonte de onde foram geradas as interpretações do pesquisador sobre as configurações subjetivas. Assim, foram construídos modelos teóricos como requisito de aproveitamento da informação empírica e não explícita na aparência do dado isolado e, também, como resultado de uma intenção dirigida à produção da teoria. As configurações subjetivas não foram observadas em respostas pontuais, induzidas por uma lógica, uma sensibilidade ou uma experiência diferente da vivida. Elas foram observadas ao longo da pesquisa e da vivência do pesquisador com o sujeito, já que não aparecem de forma imediata em nenhum instrumento isolado. A sua construção passou por uma permanente tensão com o momento empírico que caracterizou a produção do conhecimento e a busca por configurações subjetivas que apresentem formas mais estáveis de organização.

A linguagem constitui e é constituída pelas configurações subjetivas que participaram na definição de seu sentido em um contexto concreto. Assim, a narrativa é considerada por González Rey (2003) uma via privilegiada para conhecer as configurações e os processos de sentido subjetivo, de forma que tais configurações foram sentidos subjetivos que apresentaram formas estáveis e funcionalmente autônomas de organização individual, tendo sido encontradas em relatos abertos, cheios de emoção e da experiência produzida pelos sujeitos. A inteligibilidade produzida pelo pensamento converte-se assim em possibilidades de estabelecer novas práticas nas relações entre o pesquisador e a realidade estudada, realidade que passamos a descrever a seguir com uma caracterização do PSDB.

4. O Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB como cenário