• Nenhum resultado encontrado

Uma democracia que se assenta nas virtudes dos cidadãos para ter legitimidade ou mesmo um bom desempenho teve as suas dificuldades listadas por Habermas (1995). O autor faz coro aos críticos dos modelos participativos que partem do princípio de que as pessoas estão ávidas para participar. Os modelos participativos que se referem à participação política nos partidos políticos levam em conta dois importantes elementos para o debate: o engajamento e a identificação partidária.

O engajamento possui três distintas origens, para Perrot (1998), que podem ser combinadas: a origem feudal, a origem militar e a origem religiosa. O engajamento, segundo Perrot (1998, p. 5, tradução nossa), “é o ato voluntário de um indivíduo que se liga, e muitas vezes de forma solene e pública. O desengajamento, então, é visto como um perjuro, uma deserção e traição”. Para ela, o sujeito engajado tem que ser engajado politicamente nas lutas pela garantia das liberdades democráticas, pelos direitos dos cidadãos, contra as ditaduras, pela reunião ou separação dos territórios de uma nação, em defesa da classe operária, ou em defesa dos oprimidos, dentre outras.

Esse sentimento de uma responsabilidade pela infelicidade do mundo torna urgente “fazer alguma coisa”, supõe uma representação da sociedade como uma soma de relações interdependentes sobre a qual é possível agir (PERROT, 1998, p.6, tradução nossa).

Para Prost (1998), o engajamento político só foi possível no século XX por conta das barreiras ao direito de associação e de expressão que só então declinam. Define ainda o engajamento através de quatro características: é voluntário, possui consequências duradouras, envolve uma promessa ou alguma coisa e é um compromisso público.

A literatura brasileira enriquece o debate sobre os fatores explicativos da participação nos partidos políticos com o trabalho de Balbachevsky (1992) e o de Carreirão e Kinzo (2004), que relacionam a preferência partidária com a decisão eleitoral no Brasil. Para Balbachevsky (1992, p. 137), “a identificação partidária representa um compromisso estável do eleitor com o sistema político-partidário” e a existência de uma base eleitoral para o partido depende da sua capacidade de vincular à sua imagem um pacote significativo de demandas que sejam próximas ao cidadão e que polarizem de alguma forma o eleitorado.

Diante do exposto, conclui-se que o engajamento e a identificação partidária estão contidos na participação política, e que a participação política está contida na participação, já que o engajamento e a identificação partidária não são capazes de explicar a participação política em todas as situações em que ela se manifesta e a participação política não compreende todas as manifestações da participação. Conclui-se ainda que as pessoas engajadas ou que se identificam com algum partido contribuem mais para o estabelecimento de novas relações entre a sociedade civil e a esfera pública.

Estas novas relações possibilitam uma conduta ativa dos cidadãos nas ações e nas decisões na comunidade, bem como nos assuntos de interesse coletivo. Para Medeiros e Borges (2007), a participação é fundamental para o exercício da cidadania, já que é a redistribuição de poder que permite aos cidadãos excluídos a oportunidade de deliberar sobre o futuro da sociedade. A participação política promove outros benefícios tais como a socialização e a geração de conhecimento e a relação entre prática e teoria (MEDEIROS; BORGES, 2007), a alteração da qualidade da negociação entre governantes e governados, a construção de um compromisso entre governo e cidadãos (FADUL; MAC-ALLISTER, 2006), a

criação de redes sociais (COSTA; FERREIRA, 2010), a criação de uma consciência de pertencimento e empoderamento nas pessoas e grupos (GATTAI; ALVES, 2008; VALLE, 2008), a melhoria da qualidade da democracia (IASULAITIS; SILVA, 2006), traz para a política os interessados em reorganizar os espaços e superar as desigualdades (PAIVA, 2010). Dallari (1985) destaca duas consequências da participação política.

O fato de existir a necessidade de viver em sociedade tem consequências muito sérias. Uma delas é que os problemas de cada pessoa devem ser resolvidos sem esquecer os interesses dos demais integrantes da mesma sociedade. […] Outra consequência da participação política é o aparecimento de problemas e de interesses fundamentais que não são apenas de um indivíduo, mas que são de um grupo de indivíduos ou até mesmo de toda a sociedade (DALLARI, 1985, p. 18-19).

Os autores não são uníssonos em destacar os efeitos benéficos do processo de participação política. Segall (2005), por exemplo, questiona o cultivo da cooperação e da solidariedade como consequências dos modelos participativos. Ele chama a atenção para o fato de que não há uma relação entre capacidades, oportunidades e disposição para a cooperação, e que as habilidades cívicas que os cidadãos passam a possuir não são, na maioria das vezes, usadas para conquistar o ideal coletivo. Para eles, há uma diferença entre a aquisição de repertório e de estratégias e a aquisição de sentimentos solidários.

Braga e Pimentel Jr. (2011, p. 290) também argumentam, em relação à sua pesquisa, que “os dados apresentados nos modelos de regressão logística denotam que os partidos não são tão irrelevantes para a democracia quanto grande parte da literatura sobre o tema defende”. Elster (1998) admite que a participação proporciona a educação dos cidadãos, mas essa educação proporcionada pela participação não é mais do que uma consequência, isto é, um subproduto das relações mantidas entre as instituições de governo e a esfera civil na democracia. Em outras palavras, para Elster (1998), além da educação que é importante, mas é apenas um pressuposto para o real confronto de ideias que se dá no âmbito das arenas políticas, existem outras questões a serem mediadas e resolvidas pelos diversos processos que a democracia envolve. Ou seja, a educação é importante, mas não pode ser tão enfatizada a ponto de se tornar o objetivo de um regime democrático.

Entre as questões a serem mediadas pelos processos que a democracia envolve, neste trabalho, estão as emoções e as subjetividades dos sujeitos, que passaremos a discutir a seguir.