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A evolução histórica do mercado de capitais e dos investimentos em ações

1.4. Breve histórico da negociação de ações no Brasil e sua precificação no

1.4.2. A evolução histórica do mercado de capitais e dos investimentos em ações

Até a década de 1960 a população brasileira baseava os seus investimentos, principalmente, em ativos reais (imóveis), evitando o investimento em títulos públicos ou

65 Ibidem, p. 53.

66 LEITE, Marcelo Pires. A BM&FBOVESPA: a construção de um mercado nacional de bolsa de valores,

mercadorias e futuros no Brasil. 2011. 148 f. Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. p. 53.

67 Ibidem, p. 53. 68 Ibidem, p. 53.

privados, afinal com o término dos anos 50, o cenário da economia brasileira era representado por uma crescente inflação e pela Lei da Usura, que limitava em 12% a taxa máxima de juros. A consequência disso, para a economia do país, era a limitação do desenvolvimento e da criação de um mercado de capitais ativo69 .

Os cenários político e econômico clamavam por uma reestruturação do Mercado de Capitais, o que seria fundamental para suprir as deficiências de infraestrutura, recursos humanos e financeiros de um país que, ao mesmo tempo, contava com fortes impulsos no seu crescimento.

“Letras de câmbio iriam lastrear o crédito direto ao consumidor, permitindo que mais brasileiros adquirissem os bens que a indústria de transformação produzia em maior escala. O sistema brasileiro de poupança e empréstimos, com a captação de recursos por meio das cadernetas e das letras imobiliárias, reativaria a construção civil”70.

O cenário vigente até então, só mudaria com as grandes reformas na economia nacional realizadas em 1964 pelo governo da época, dentre as quais estava a reestruturação do mercado financeiro. Essa reestruturação compreendeu, dentre outras medidas71, a elaboração e sancionamentos das Leis n.º 4.537/64, que instituiu a correção monetária, mediante a criação da ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional)72; n.º 4.595/64, chamada de lei da reforma bancária, que reformulou o sistema de intermediação financeira em âmbito nacional e criou o CMN E BCB; e n.º 4.728/65, primeira Lei de Mercado de Capitais, que reforçou as bases para as transações com ações73.

Com essa legislação, o mercado acionário se viu modificado e em novos patamares, afinal foram reformuladas as legislações sobre Bolsa de Valores, os corretores de fundos públicos

69 O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3. ed. Rio de Janeiro: Comissão

de Valores Mobiliários, 2014. P. 56. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#Derivativos>. Acesso em 05/06/2017

70 A história da CVM pelo olhar de seus ex-presidentes / George Vidor. – Rio de Janeiro: ANBIMA e

BM&FBOVESPA, 2016. p. 16. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/CVM _40anos_LIVRO-COMPLETO-051216xtr.pdf>. Acesso em 05/06/2017.

71 Citamos apenas aquelas mais importantes para o mercado de capitais

72 O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3. ed. Rio de Janeiro: Comissão

de Valores Mobiliários, 2014. P. 57. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#Derivativos>. Acesso em 05/06/2017

73 A história da CVM pelo olhar de seus ex-presidentes / George Vidor. – Rio de Janeiro: ANBIMA e

BM&FBOVESPA, 2016. p. 17. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/CVM _40anos_LIVRO-COMPLETO-051216xtr.pdf>.

foram transformados em Sociedades Corretoras, profissionalizando-os, e foram criados os Bancos de Investimento, a quem caberia a responsabilidade de desenvolver a indústria de fundos de investimento. Logo em seguida, foi criada, dentro do Banco Central a Diretoria de Mercado de Capitais, para exercer as funções atualmente exercidas pela CVM74.

Com o intuito de popularizar e familiarizar a população com o mercado de ações, o Governo recorreu a incentivos fiscais para o segmento, sendo o melhor exemplo a criação do Decreto-Lei n.º 157/1967. Esse Decreto permitia que os contribuintes, pessoas físicas, destinassem um percentual do Imposto de Renda devido à aplicações em fundos de investimento criados exclusivamente a esse propósito.

“A ideia original era familiarizar os contribuintes com o mundo das ações, transformando-os progressivamente em investidores, preferencialmente de médio e longo prazos (os resgates nos chamados Fundos 157 só eram permitidos após 15 anos da aplicação). Tentativa similar aconteceria cerca de três décadas depois, com os fundos de privatização da Petrobras e da Companhia Vale do Rio Doce, por meio de aplicações voluntárias de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)

A década de 1960 se encerraria com o mercado de ações vivendo uma euforia”75.

Conforme desejado, as mudanças realizadas pelo Governo Federal no sentido de captar recursos para o mercado acionário surtiram efeitos rapidamente. O crescimento pela demanda de ações foi sentido rapidamente sem que fosse correspondido pelo aumento simultâneo da emissão de novas ações pelas empresas, e a consequência disso foi a ocorrência de um “boom” na Bolsa do Rio de Janeiro, sendo o período de maior especulação entre dezembro de 1970 e julho de 1971, quando as cotações dispararam76.

Alcançando-se o pico dos movimentos de especulação em julho de 1971, teve início um processo de venda de títulos pelos investidores que tinham mais consciência e noção do cenário do mercado de ações, visando a realização de lucros. Tal movimento agravou ainda mais o

74 O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3. ed. Rio de Janeiro: Comissão

de Valores Mobiliários, 2014. P. 57. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#Derivativos>. Acesso em 05/06/2017

75 A história da CVM pelo olhar de seus ex-presidentes / George Vidor. – Rio de Janeiro: ANBIMA e

BM&FBOVESPA, 2016. p. 18. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/CVM _40anos_LIVRO-COMPLETO-051216xtr.pdf>.

76 O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3. ed. Rio de Janeiro: Comissão

de Valores Mobiliários, 2014. P. 57. Disponível em

quadro que já estava exposto, afinal novas emissões foram realizadas para suprir a demanda que era faltosa num momento que muitos investidores, impressionados com a velocidade e a expressividade do movimento de baixa, tentavam vender seus títulos77.

“O movimento especulativo conhecido como “boom de 1971”, teve curta duração, mas suas consequências foram vários anos de mercado deprimido, pois algumas ofertas de ações de companhias extremamente frágeis e sem qualquer compromisso com seus acionistas, ocorridas no período, geraram grandes prejuízos e mancharam, de forma surpreendentemente duradoura, a reputação do mercado acionário. Apesar disso, notou-se uma recuperação das cotações a partir de 1975, devido a novos aportes de recursos (as reservas técnicas das seguradoras, os recursos do Fundo PIS/PASEP, adicionais do Fundo 157 e a criação das Sociedades de Investimento “Decreto-Lei nº 1401” para captar recursos externos e aplicar no mercado de ações), além do crescente volume de investimentos por parte dos Fundos de Pensão”78.

Diante do quadro de estagnação e na tentativa de recuperar o desenvolvimento do mercado acionário, vários outros incentivos foram adotados, como: a isenção fiscal dos ganhos obtidos em bolsa de valores, afim de diminuir o custo para transacionar na bolsa de valores; a possibilidade de abatimento, na declaração de imposto de renda, de determinada quantia correspondente aos valores aplicados em subscrição pública de ações decorrentes de aumento de capital; determinados programas de financiamento, realizados pelo BNDES, para os subscritores de ações distribuídas publicamente; e mais tarde a criação da nova Lei de Sociedades por Ações em 1976 e a segunda Lei do Mercado de Capitais, que criou a CVM79.

O mercado, no entanto, não respondeu aos estímulos realizados na época, tendo um crescimento abaixo do esperado. Ainda foi tentada uma internacionalização do mercado acionário, ao final da década de 70, mas a retomada do crescimento e a internacionalização do mercado de capitais brasileiro só foram acontecer a partir de meados da década de 199080, com

a abertura da economia brasileira.

A partir de então, o mercado acionário brasileiro, bem com as companhias que o compõe, passaram a ter contatos com investimentos externos e muitas vezes, mais sofisticados, o que de

77 O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3. ed. Rio de Janeiro: Comissão

de Valores Mobiliários, 2014. P. 57. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#Derivativos>. Acesso em 05/06/2017.

78 O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários. 3. ed. Rio de Janeiro: Comissão

de Valores Mobiliários, 2014. p. 58. Disponível em

<http://www.portaldoinvestidor.gov.br/publicacao/LivrosCVM.html#Derivativos>. Acesso em 05/06/2017.

79 Ibidem, p. 58. 80 Ibidem, p. 58-59.

certa impulsionou o próprio investimento nacional, que começou a ser realizado de forma mais intensiva e consciente, atentando-se a direitos que antes não eram notados81.

Dessa maneira, o despreparo do mercado acionário brasileiro, somado ao despreparo enraizado na gestão das companhias que o compunham, foi aos poucos sendo escancarado.

“Com o passar do tempo, o mercado de capitais brasileiro passou a perder espaço para outros mercados devido à falta de proteção ao acionista minoritário e a incertezas em relação às aplicações financeiras. A falta de transparência na gestão e a ausência de instrumentos adequados de supervisão das companhias influenciavam a percepção de risco e, consequentemente, aumentavam o custo de capital das empresas.

Algumas iniciativas institucionais e governamentais foram implementadas nos últimos anos com o objetivo de assegurar melhorias nas práticas de governança corporativa das empresas brasileiras, das quais destacamos: a aprovação da Lei nº 10.303/01 e a criação do Novo Mercado e dos Níveis 1 e 2 de governança corporativa pela BM&FBOVESPA”82.

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