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3 CONTRIBUIÇÃO E ENTENDIMENTO DE OUTROS SISTEMAS

4.2. A formação do capital social e a captação de recursos de acordo com a legislação

4.2.2. As formas de captação de recursos nas companhias

Nas palavras de Nelson Eizirik, a companhia tem como método para obtenção de recursos as seguintes possibilidades: “(i) autocapitalização; (ii) emissão de ações; (iii) empréstimos junto ao sistema financeiro; e (iv) empréstimos mediante a emissão de títulos de dívida, como são as debêntures”278. No entanto, para os propósitos do presente trabalho, falaremos somente da captação de recursos mediante emissão de ações e emissão de títulos de dívida, além da emissão de valores mobiliários que entendemos serem de utilidade na captação de recursos, como os bônus de subscrição e os commercial papers.

Nas companhias abertas e fechadas, as ações funcionam como instrumento para captação de recursos em eventuais aumentos de capital por subscrição pública ou particular. Quando a companhia decide aumentar seu capital, nos termos do art. 166 e seguintes da Lei de Sociedades Anônimas, o faz pela emissão de novas ações ou pelo aumento do valor nominativo das ações que já compõem o seu capital. Tal aumento deverá respeitar, no entanto, diversas formalidades

277 NEGRÃO, Ricardo. Direito empresarial : estudo unificado – 6. ed. – São Paulo : Saraiva, 2015, p. 69-70. 278 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. Volume I – Arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p.

como veremos mais adiante, e uma delas é o direito de preferência para que os acionistas, ao momento da realização do aumento, exerçam ou não o seu direito de subscrever, na proporção da sua participação no capital, o aumento de capital279. Caso não exerçam esse direito, a companhia deverá proceder conforme mandamento do art. 171, §7º:

“Art. 171. Na proporção do número de ações que possuírem, os acionistas terão preferência para a subscrição do aumento de capital. (Vide Lei nº 12.838, de 2013) (...)

§ 7º Na companhia aberta, o órgão que deliberar sobre a emissão mediante subscrição particular deverá dispor sobre as sobras de valores mobiliários não subscritos, podendo:

a) mandar vendê-las em bolsa, em benefício da companhia; ou

b) rateá-las, na proporção dos valores subscritos, entre os acionistas que tiverem pedido, no boletim ou lista de subscrição, reserva de sobras; nesse caso, a condição constará dos boletins e listas de subscrição e o saldo não rateado será vendido em bolsa, nos termos da alínea anterior.

§ 8° Na companhia fechada, será obrigatório o rateio previsto na alínea b do § 7º, podendo o saldo, se houver, ser subscrito por terceiros, de acordo com os critérios estabelecidos pela assembléia-geral ou pelos órgãos da administração.”

Outra forma de captação de recursos, comum às companhias abertas e às companhias fechadas é representada pela emissão de debêntures. As debêntures são título de dívida da companhia que geram um crédito ao investidor, consistindo a sua finalidade econômica em “possibilitar o financiamento da companhia emissora, mediante empréstimo contraído junto a restrito círculo de pessoas (quando se trata de uma emissão privada) ou mediante apelo à poupança popular (no caso de emissão pública colocada no mercado de capitais)”280. A companhia geralmente emite debêntures para financiar projetos, aumentar capacidade de produção e funcionamento, enquanto os investidores adquirem essas debêntures com a expectativa de receberem uma remuneração (geralmente juros) e periodicamente, ou quando do vencimento do título, o recebimento do valor principal investido. Dessa forma as debêntures se mostram como uma alternativa à contração de empréstimos bancários pelas companhias.281

As emissões públicas ou privadas de debêntures encontram distinção quanto ao órgão de deliberação para tanto, à necessidade de autorização da CVM e à obrigatoriedade de constituição de agente fiduciário.282

279 Conforme preceitua o artigo 171 da Lei das S.A.: Art. 171. Na proporção do número de ações que possuírem,

os acionistas terão preferência para a subscrição do aumento de capital.

280 EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A Comentada. Volume I – Arts. 1º a 120. São Paulo: Quartier Latin, 2011. p.

319.

281 NEGRÃO, Ricardo. Direito empresarial : estudo unificado – 6. ed. – São Paulo : Saraiva, 2015, p. 75. 282 Ibidem, p. 75-76

Nas emissões privadas, conforme previsto no artigo 61, §1º, da Lei das S.A., a deliberação e a aprovação são de competência exclusiva da assembleia geral, bastando mera comunicação à CVM e sendo facultativa a constituição de agente fiduciário. Na emissão pública, a deliberação e a aprovação também competem à assembleia geral, mas esse órgão poderá delegar a deliberação e a aprovação de algumas condições atinentes às debêntures ao conselho de administração. Nesse sentido, o conselho de administração, se constituído, também poderá deliberar sobre a emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações e sem garantia real.283 Para a emissão pública será necessário o prévio registro na CVM284, sendo, também obrigatória, a constituição de agente fiduciário.

Outra forma de captação de recursos pelas sociedades anônimas por meio da emissão de valores mobiliários é a emissão de commercial papers. Esses títulos

“[...]também chamados de notas promissórias de emissão pública são, como denota o nome, promessas de pagamento vencíveis no prazo de trinta a trezentos e sessenta dias, emitidas com exclusividade pelas sociedades por ações. O prazo máximo é reduzido para cento e oitenta dias quando a emitente for companhia fechada.”285 As principais características desse título são: (i) o direito de crédito contra a companhia que conferem a seus titulares; (ii) a circulação por endosso em preto; (iii) a proibição de que o valor nominal unitário seja inferior a R$ 500.00,00; (iv) a necessidade de concessão de registro na CVM e da divulgação de aviso contendo, resumidamente, as principais características de distribuição; e (v) a negociabilidade em bolsa de valores e mercado de balcão.

A última forma de captação de recurso pelas sociedades anônimas, que trataremos no presente trabalho, é a emissão de bônus de subscrição.

Previstos no artigo 75 da Lei das S.A., os bônus de subscrição são títulos negociáveis e autônomos de emissão exclusiva das companhias de capital autorizado, atribuindo a seus titulares o direito de subscrever ações da companhia, nas condições previstas no ato de criação

283 Conforme demonstrado no artigo 59, §1º, da Lei das S.A. 284 Nos termos do artigo 1º, da Lei n. 6385 de 1976.

e mediante o pagamento do respectivo preço286. O direito conferido por esses bônus, no entanto, tem um determinado prazo para serem exercidos, conforme dispõe os artigos 75 e seguintes da Lei das S.A.

Conforme discorre Nelson Eizirik, “os bônus de subscrição podem servir para a captação de recursos junto a terceiros ou para estimular a colocação de outros valores mobiliários de sua emissão”287.

Valendo-nos da conceituação desses meios que podem ser utilizados como instrumentos para captação de recursos nas sociedades anônimas, passaremos ao estudo mais detalhado das operações de aumento de capital, que em muitas oportunidades tangenciam a captação de recursos.

4.3. Os procedimentos e formalidades para emissão de ações no aumento de capital das

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