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1. A PRISÃO COMO PENA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

1.3 A expansão da prisão no contexto contemporâneo

Como se viu a prisão como pena se consolidou somente durante o século XIX, tendo ela pouco mais de 200 anos de história. Mas neste curto período histórico expandiu consideravelmente, em especial nas últimas décadas do século XX e início do século XXI. No Brasil o cárcere cresceu de forma estarrecedora, conforme Eduardo Guimarães (2014, grifo nosso):

Levantamento do Instituto Avante Brasil, baseado em dados do InfoPen, do Ministério da Justiça, revela um dado estarrecedor: houve crescimento de

508,8% na população carcerária brasileira entre 1990 a 2012. O Brasil tem hoje a quarta maior população carcerária do mundo – 548.003 presos em números de 2012, ou 287,31 presos para cada 100 mil habitantes. O crescimento da população carcerária no Brasil foi muito

maior, por exemplo, do que a taxa de crescimento da população, que não passou de 30%. Ou seja: enquanto a população brasileira cresceu 1/3 em duas décadas, a população carcerária mais do que sextuplicou. Detalhe: de lá para cá, esse contingente seguiu aumentando. A grande questão é: por que, em pouco mais de duas décadas, a população carcerária brasileira aumentou tanto? O Estado de São Paulo é o maior responsável por esse

fenômeno. Hoje, o mais rico e desenvolvido Estado da Federação detém, sozinho, 1/3 de toda a população carcerária brasileira. Alguém

poderia imaginar que o Brasil – e mesmo São Paulo, interior e capital – tornou-se mais seguro com essa verdadeira febre de encarceramentos que explodiu no país, mas é o contrário: quanto mais prendem, mais a criminalidade aumenta.

Nesse sentido, o excessivo número de prisões e a superlotação dos espaços prisionais no Brasil foi tema do Relatório do Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária (GTDA) da Organização das Nações Unidas (ONU), que visitou o país em março de 2013, e atestou que o uso excessivo da prisão é uma das principais causas da superpopulação carcerária no país. Segundo o documento, isso ocorre em função da baixa aplicação, pelo Poder Judiciário, de medidas cautelares substitutivas à prisão, previstas na Lei 12.403, em vigor desde julho de 2011. Que apesar da emenda ao Código de Processo Penal em 2011 permitir a aplicação de medidas alternativas à detenção, o Grupo de Trabalho observou que não houve redução substancial no uso da detenção desde a introdução da emenda, diz o relatório do GTDA. Nos casos em que medidas como fianças são aplicáveis, detentos não têm condições de arcar com a quantia necessária. (REVISTA

CONSULTOR JURIDICO, 2014, disponível em http://www.conjur.com.br/2014-jan- 14/numero-presos-brasil-aumentou-29-ultimos-cinco-anos, acesso em 09-06-2015).

O Grupo de Trabalho tomou conhecimento de que a privação de liberdade era imposta mesmo em situações em que o delito era considerado de menor gravidade, como furtos não violentos ou o não pagamento de pensão alimentícia, o que desperta sérias preocupações quanto à aplicação do princípio de proporcionalidade,

critica o documento. (REVISTA CONSULTOR JURÍDICO, 2014,

http://www.conjur.com.br/2014-jan-14/numero-presos-brasil-aumentou-29-ultimos- cinco-anos).

Segundo dados oficiais (CNJ/DPN), o Brasil tinha em 2007, 422.373 presos, número que subiu 6,8% (451.219) em 2008 e 4,9% (473.626) em 2009. Atualmente, o país conta com quase 574.027 mil presos (2013) – seguindo esse ritmo, estima-se que em uma década dobre a população carcerária brasileira. O Brasil é a terceira maior população carcerária do mundo, só fica atrás dos Estados Unidos (2,3 milhões de presos) e da China (1,7 milhões de presos). (INFOPEN, 2014).

A população carcerária brasileira compõe se de 93,4% de homens e 6,6% de mulheres. Em geral, são de jovens com idade entre 18 e 29 anos, afrodescendentes, com baixa escolaridade, sem profissão definida, baixa renda, muitos filhos e mãe solteira (no caso das mulheres). Em geral, praticam mais crimes contra o patrimônio (70%) e tráfico de entorpecentes (22%); A média das penas é de 4 anos. (INFOPEN, 2014).

Segundo Cezar R. Bitencourt (2001, p. 156-157) as deficiências apresentadas nas prisões são muitas:

a) maus tratos verbais ou de fato (castigos sádicos, crueldade injustificadas, etc.); b) superlotação carcerária (a população excessiva reduz a privacidade do recluso, facilita os abusos sexuais e de condutas erradas); c) falta de higiene (grande quantidade de insetos e parasitas, sujeiras nas celas, corredores); d) condições deficientes de trabalho (que pode significar uma inaceitável exploração do recluso); e) deficiência dos serviços médicos ou completa inexistência; f) assistência psiquiátrica deficiente ou abusiva (dependendo do delinquente consegue comprar esse tipo de serviço para utilizar em favor da sua pena); g) regime falimentar deficiente; g) elevado índice de consumo de drogas (muitas vezes originado pela venalidade e corrupção de alguns funcionários penitenciários ou policiais, que permitem o trafico ilegal de drogas); i) abusos sexuais (agravando o problema do homossexualismo e onanismo, traumatizando os jovens reclusos recém

ingressos); j) ambiente propicio a violência (que impera a lei do mais forte ou com mais poder, constrangendo os demais reclusos).

Segundo dados do InfoPen (2014), um único médico é responsável por 646 presos; cada advogado público é responsável por 1.118 detentos; cada dentista, por 1.368 presos; e cada enfermeiro, por 1.292 presos. Todavia, a Resolução do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária determina que para cada grupo de 500 presos exista um médico, um enfermeiro, um dentista e um advogado. O descumprimento da lei não está apenas na assistência dos presos. Segundo a legislação cada detento deveria ter cela individual e área mínima de 6 metros quadrados. Mas a realidade é outra, pois nos cárceres há um verdadeiro amontoamento de presos, depósitos humanos, onde ficam apenas contidos, segredados.(http://atualidadesdodireito.com.br/neemiasprudente/2013/03/06/sistema -prisional brasileiro-desafios-e-soluções/, acesso em 21 de outubro de 2014).

Referindo-se a realidade prisional brasileira, segundo dados do INFOPEN (2014).

No Brasil, a (alta) taxa de reincidência criminal, se situa em torno de 70% (ante 16% na Europa). Como não há reeducação (aprimoramento humano e profissional), quando voltam ao convívio social, geralmente se enveredam novamente para o crime. Se torna um ciclo, pois quanto mais gente se prende, mais potenciais presos se está formando, mas com o diferencial de que a cadeia o “aprimorou” para o crime (escolas do crime). Assim, quando o preso sai da cadeia, vamos nos deparar com alguém mais perigoso, embrutecido e, obviamente, sem nenhuma condição de acesso ao mercado de trabalho. O estigma de cometer um delito acompanha o ex-detento por toda a vida e geralmente chega ao ouvido dos futuros patrões, inviabilizando a possibilidade de trabalho. A falta de oportunidades reserva basicamente uma única opção ao ex-presidiário: voltar a infringir a lei quando retorna ao convívio social. É como se a sociedade o empurrasse novamente para o mundo do crime. Há um preconceito de toda a sociedade. Isso tudo, sem dúvida, torna muito pouco provável a reabilitação. Triste realidade. Todavia, é preciso oferecer perspectiva de futuro ao preso, caso contrário, as penitenciárias vão seguir inchadas de reincidentes. (http://atualidadesdodireito.com.br/neemiasprudente/2013/03/06/sistema- prisional brasileiro-desafios-e-solucoes/, acesso em 21 de outubro de 2014).

Dessa forma, diante de todas as análises relatadas é possível verificar que as prisões na contemporaneidade aumentaram de forma significativa, sem perspectivas de melhoria. A expansão, hoje vista de modo muito negativo, não se deu de forma

abrupta, mas vem desenvolvendo de forma lenta e gradativa, o que vem produzindo efeitos extremamente negativos para os apenados e também para a sociedade.

1.4 O sistema de execução da pena privativa de liberdade no Brasil segundo a

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