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1. A PRISÃO COMO PENA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

1.4 O sistema de execução da pena privativa de liberdade no Brasil segundo a

mulheres presas.

No Brasil, o sistema de execução da pena privativa de liberdade é o progressivo. Segundo tal sistema são adotados diferentes regimes que são aplicados tendo em vista a quantidade e a natureza da pena imposta, bem como a condição de primário ou reincidente do condenado.

Neste sentido faz-se necessário observar o art. 33, paragrafo 1º, do código penal traz de forma taxativa os regimes que serão usados na execução da pena (VADE MECUM, 2013, p.526):

Art. 33 (...)

§ 1º Considera-se:

a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;

b) regime semiaberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;

c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

Além da taxatividade dos regimes já expostos, a Lei de Execuções Penais (VADE MECUM, 2013, p.1.412) prevê em seu artigo 110 que: “O juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade”. Isso faz-se necessário para que com o passar do cumprimento da condenação o apenado possa progredir de regime, conforme as peculiaridades previstas em lei que prevê o art. 112 da LEP (VADE MECUM, 2013, p.1.413)

A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

Neste mesmo sentido faz-se necessário destacar que a progressão de regime se dá a partir do cumprimento de requisitos objetivos e subjetivos. Segundo Norberto Avena (2014, p.223) “o requisito objetivo trata-se do cumprimento de no mínimo de 1/6 da pena no regime anterior”. Ainda, cabe destacar que são observados 2/5 para crimes hediondos e 3/5 para crimes hediondos para apenado reincidente.

Quanto ao requisito subjetivo consiste numa análise sistemática do comportamento do sentenciado durante todo o período em que esteve cumprindo pena no regime prisional atual.

Entende-se que, como regra geral, para a devida observância a tal requisito, basta certidão expedida pelo órgão responsável do presídio em que o sentenciado está cumprindo pena, em que se esclarece todo o comportamento do indivíduo, bem como, a eventual existência de faltas disciplinares. Havendo também, a possibilidade da realização do exame criminológico para atendimento ao requisito subjetivo, sendo sua exigência uma faculdade do magistrado. Diante de tal fato, entendemos que o referido exame deve ser requerido somente em casos excepcionais, em que o indivíduo se demonstrou altamente perigoso e com grande potencial a cometer novos delitos, caso contrário, bastaria a simples certidão de

comprovação de bom comportamento. (Disponível em

http://felipeaugustos.jusbrasil.com.br/artigos/125559079/progressao-de- regime-uma-analise-a-vedacao-a-progressao-por-salto, acesso em 25-04- 2015).

Sendo esse também o entendimento de RENATO MARCÃO, 2012, p.42.

Em razão das mudanças impostas com a Lei n. 10.792-2003, o artigo 112 da LEP exige apenas o cumprimento de um sexto da pena, como requisito objetivo para progressão, e a apresentação de atestado de boa conduta carcerária firmado pelo diretor do estabelecimento prisional, como requisito subjetivo. É o que basta para a progressão.

No mesmo sentido, CAPEZ, 2012, p.79:

compreende o bom comportamento, assim atestado pelo Diretor do estabelecimento carcerário. Bom comportamento significa o preenchimento de uma série de requisitos de ordem pessoal, como autodisciplina, senso de responsabilidade do sentenciado e esforço voluntário e responsável em participar do conjunto das atividades destinadas a sua harmônica integração social, avaliado de acordo com seu comportamento perante o delito praticado, seu modo de vida e sua conduta carcerária.

Embora haja a progressão de regime assegurada pelo legislador como acabamos de analisar não é suficiente para que ocorra a ressocialização dos

apenados, haja vista que o sistema é extremamente deficitário e faltam políticas públicas eficazes.

Diante dos regimes previstos na legislação surgem os estabelecimentos penais previstos na LEP, que de acordo com o regime será o local de execução da pena, apresentados nos artigos 87, 91, 93, da LEP (VADE MECUM, 2013, p.1.411- 1.412, grifo nosso).

Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado.

Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei. Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto.

Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.

Nos artigos 82 e 83 a LEP (VADE MECUM, 2013, pg.1.411) relaciona de forma taxativa que os locais de cumprimento das penas privativas de liberdade devem constar nas respectivas casas prisionais para assegurar o mínimo de dignidade ao apenado, conforme segue.

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso.

§ 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal § 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabelecimentos de destinação diversa desde que devidamente isolados.

Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva.

§ 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes universitários. § 2o Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade.

§ 3o Os estabelecimentos de que trata o § 2o deste artigo deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino na segurança de suas dependências internas.

§ 4o Serão instaladas salas de aulas destinadas a cursos do ensino básico e profissionalizante.

§ 5o Haverá instalação destinada à Defensoria Pública.

Ocorre que na pratica isso não acontece, pois os apenados são “jogados” no sistema prisional sem que sejam observadas as mínimas condições ao ser humano, em nenhum momento o Estado tem se preocupado com as pessoas que estão

nestes locais, havendo uma severa falha no sistema prisional que desse modo não tem nem como exigir com que os apenados saiam do cárcere e tenham uma visão diferente perante a sociedade.

Cabe salientar ainda, que dentre os problemas gerais do sistema prisional, há as questões pertinentes as mulheres que sofrem absurdamente com o sistema prisional deficitário que temos atualmente, haja vista que as mulheres, em muitos casos mães, devem ter algumas particularidades asseguradas na pratica, já que a lei especialmente a LEP e a Constituição Federal asseguram.

Neste sentido observamos o que a LEP apresenta em seu artigo 89 a seguinte redação, (VADE MECUM, 2013, p.1.411).

Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa.

Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste artigo:

I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável.

Cabe ressaltar que desde o principio do século XVIII as prisões são veemente criticadas, denunciando que a prisão foi “o grande fracasso da justiça penal”, por uma série de defeitos, entre eles, segundo Foucault (2007. p. 221-223):

a) as prisões não diminuem a taxa de criminalidade; b) provocam a reincidência; c) não podem deixar de fabricar delinquentes, mesmo porque lhe são inerentes o arbítrio, a corrupção, o medo, a incapacidade dos vigilantes e a exploração (dentro dela nascem e se desenvolvem as carreiras criminais); d) favorecem a organização de um meio de delinquentes, solidários entre si, hierarquizados, prontos para todas as cumplicidades futuras; e) as condições dadas aos detentos libertados condenam-os fatalmente à reincidência; f) a prisão fabrica indiretamente delinquentes, ao fazer cair na miséria à família do detento.

Para fazer efetiva a função de reintegração social do apenado a LEP traz um conjunto de direitos e deveres que estão expressos e que fazem com que no mínimo no plano fático seja respeitada, isso não quer dizer que na pratica isso acontece.

Neste contexto podemos relacionar os deveres e direitos dos apenados expressos nos artigos 38 a 43 da LEP (VADE MECUM, 2013, p.1.406, grifo nosso), os quais estão estabelecidos em ordem que podem ser vistos abaixo.

São definidos como deveres do preso:

Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às normas de execução da pena.

Art. 39. Constituem deveres do condenado:

I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;

II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;

III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;

V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar imposta;

VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;

VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho;

IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservação dos objetos de uso pessoal.

Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.

Por outro lado, a LEP traz como direitos aos presos o respeito a sua integridade física e moral, entre tantos outros, abaixo relacionados:

Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário;

II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social;

IV - constituição de pecúlio;

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;

VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

XI - chamamento nominal;

XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;

XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.

Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

Após a observação dos deveres e direitos dos apenados de forma geral percebe-ae que há mais direitos do que deveres, mas que na prática esses direitos não são assegurados de forma plena, ou seja, não são alcançados a todos, bem como na maioria das vezes são desrespeitados, especialmente como podemos citar o Presídio Central, localizado em Porto Alegre, RS, capital de nosso estado e próximo de nossa realidade que quando visitado pelos membros da AJURIS, verificaram as seguintes situações. (JORNAL DA AJURIS, ano XVI, nº 276, fevereiro à julho de 2012).

Presidio Central: terra de ninguém. Maior prisão brasileira acumula problemas como superlotação e condições subumanas. Sendo que as questões caóticas reveladas nesta visita: Superlotação com capacidade para cerca de dois mil presos, o Presídio Central é ocupado por 4,6 mil detentos; Riscos de incêndio e cortes no fornecimento de energia em função da rede elétrica precária. Além disso, a falta de luz encoraja os presos à desordem e aos motins, o que, além de comprometer a segurança, ocasiona ainda mais destruição ao prédio; Cortes constantes no fornecimento de água deteriorada; Rede de esgotos cloacal e pluvial com canos rompidos. Os dejetos são lançados pelas paredes e pátios, expondo apenados, servidores e visitantes aos detritos; Dentro das galerias, o controle é feito pelos presos. O Estado controla apenas a entrada nos corredores. A disciplina interna é determinada por facções, muito atuantes e cujo poder é mantido pelo dinheiro e poderio do tráfico de drogas; Há apenas um médico e somente um ambulatório para atender a população carcerária. Além disso, apenados doentes vivem em confinamento com os sadios, e outros sofrem com doenças como sífilis, AIDS, tuberculose, hepatite, dermatites e dermatoses; Na cozinha, proliferam ratos e baratas. Nas celas superlotadas e imundas, há infiltração e gotejamentos de banheiros e vasos sanitários sobre os colchões. Fonte: juiz Sidinei Brzuska- Cremers-Crea-RS.

Ainda, neste sentido podemos observar que o Presídio localizado no Município de Três Passos-RS (local onde está situado nosso Campus da Unijui), há uma extrema desproporcionalidade no que diz respeito a capacidade do presídio que abrange atualmente 221 presos, enquanto sua capacidade é de apenas 137 presos. (JORNAL ATOS E FATOS, edição 2015, 30 de abril de 2015, p. 22).

Ora, dessa forma, jamais haverá uma segurança de que os direitos dos apenados serão assegurados, pois já há violação dos direitos desde o princípio, ou seja, quando encarcerados os apenados são expostos a graves riscos sejam de saúde, segurança e desrespeito pela dignidade da pessoa humana.

Cabe salientar conforme expõe Schmidt (2002, p.263) que na pretensão executória do Estado (execução penal) o preso passa ser visto como objeto de execução e portador de deveres e reflexamente direitos, ou seja, para o Estado o preso lhe deve deveres bem mais do que possui direitos, isso que muitos autores referem e que são apontados.

Deve-se observar que os presos também possuem direitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal de 1988, conforme expressa o art. 5º, caput (VADE MECUM, 2013, p., grifo nosso), salvo a liberdade e o direito de votar e ser votado.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.

Ainda, SCHMIDT, 2002, p. 265, expõe:

(...) o apenado não é objeto de execução, mas sim sujeito da execução, portando direitos idênticos (salvo os já expostos) aos demais cidadãos. Assim, possui ele, por um lado, o direito de respeito à vida, à igualdade, à segurança e à propriedade, e, por outro lado o direito de exigir educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção a maternidade e a infância e assistência (...).

Neste sentido, faz-se jus destacar que os direitos individuais consagrados especialmente no art. 41 da LEP não são apenas aqueles lá elencados que são inerentes aos presos, mas todos os direitos individuais e sociais previstos na Constituição Federal, desde que compatíveis com a situação do apenado.

Cabe destacar que o art. 5º, incisos XLVIII e L, da CF-88 asseguram as mulheres presas estabelecimentos distintos, bem como seu direito de mãe em situação de encarceramento com seus filhos. (VADE MECUM, 2013, p.10).

Art. 5º...

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;

Além destes direitos que são assegurados a todos os detentos, a LEP também traz um conjunto de direitos especiais para as mulheres, bem como a Constituição Federal como apontado acima, no art. 5º, inciso L, CF-88.

Neste sentido faz-se destacar os artigos 82, 83, 89 e 117 da LEP que consagram estas garantias legais para as mulheres enquanto presidiárias como podemos observar abaixo. (VADE MECUM, 2013, p.1.411 e 1.413).

Art.82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso. § 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal.

§ 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabelecimentos de destinação diversa desde que devidamente isolados.

Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva.

§ 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes universitários § 2o Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade.

§ 3o Os estabelecimentos de que trata o § 2o deste artigo deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino na segurança de suas dependências internas.

Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa.

Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:

III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - condenada gestante.

Há de se observar que a peculiaridade garantida para as mulheres na LEP e na CF faz com que seja preservada de modo estritamente racional a família e garantido aos filhos das mulheres presas o mínimo de preservação ou até mesmo respeito, haja vista que atualmente há um alto índice de mulheres presas e que em muitos casos são mães e acabam prejudicando a vida familiar, especialmente dos filhos.

Ocorre que as garantias previstas na LEP são violadas diariamente, como podemos observar o disposto na Síntese do Relatório da Subcomissão da Situação Carcerária do RS (2011, p. 55-57).

No Rio Grande do Sul existem apenas 03 penitenciárias femininas (Guaíba, Porto Alegre e Torres), sendo que em nossa Região Celeiro não há nenhum estabelecimento especifico para as mulheres encarceradas, sendo alocadas em penitenciarias que abrigam homens, sendo divididas apenas por galerias, são atendidas por profissionais homens, não possuem locais para permanecerem com os filhos, sofrem violações pelos funcionários e detentos, além de não encontrarem estrutura adequada, não atendendo as necessidades femininas. Ainda o mais doloroso para as apenadas é a distância dos filhos, que sofrem muito com a reclusão da mãe, uma verdadeira situação de abandono, permanecendo estes com familiares ou até mesmo recolhidas em instituições do Estado.

Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura que os filhos tem direito de conviver com os pais, o que foi reforçado com a recente alteração do ECA que modificou os arts. 19, §4º, art. 23, §2º, assegurando as crianças e adolescentes o direito de conviverem com pais privados de liberdade, por meio de visitas periódicas, independentemente de autorização judicial, conforme segue.

Lei Nº 12.962, de 8 de abril de 2014.

Altera a Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 – ECA.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 19

§ 4º Será garantida a convivência da criança e do adolescente com a

mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entidade responsável, independentemente de autorização judicial."

"Art. 23. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.

§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, contra o próprio filho ou filha."

"Art. 158

§ 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios para sua realização.

§ 2º O requerido privado de liberdade deverá ser citado pessoalmente." "Art. 159

Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor."

§ 5º Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva."

Dessa forma, há mais uma legislação que fará com que de forma mais eficaz seja garantido o direito da mãe conviver com os filhos mesmo que a mãe esteja encarcerada, é claro desde que exigida pela apenada e cumprida pelo Estado.

Com todas as análises apontadas percebe-se que a dignidade da pessoa humana não é, em muitos casos, preservada em relação aos apenados que estão no cárcere, haja vista que há grandes violações dos direitos, pois o Estado acaba fazendo das penitenciárias grandes depósitos humanos.

Neste contexto, deve-se lembrar de que a consagração, como princípio fundamental do Estado Democrático de Direito brasileiro, da dignidade da pessoa humana que garante, com caráter obrigatório, o absoluto e irrestrito respeito à

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