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3 TRIBUTAÇÃO E MEIO AMBIENTE

3.2 A EXTRAFISCALIDADE TRIBUTÁRIA E O MEIO AMBIENTE

3.2.2 A extrafiscalidade ambiental no direito comparado

Viu-se que o despertar ambiental se deu em virtude de consequências, nefastas, do desenvolvimento econômico desenfreado ocorrido no pós-guerra. Os alarmes ecoaram pela comunidade científica de todo o mundo, especialmente pela comunidade europeia que, em face de sua maior capacitação, já detinha a expertise necessária para denotar claramente os efeitos gerados pela corrida desenvolvimentista.

Nesta senda, a questão ambiental passa a ser uma questão transfronteiriça e de múltiplas facetas. Os dilemas do crescimento econômico sem controle se chocam com esta nova percepção finita dos recursos naturais, rogando assim por uma mudança drástica da visão antropocêntrica de mundo. Logo, a ideia de proteção do meio ambiente urge pelo repensar da construção de novas políticas públicas de crescimento e desenvolvimento econômico.

O meio ambiente em decorrência desta inequívoca visão de finitude passa a ganhar maior importância nas agendas públicas tornando-se, portanto, fator de preocupação por parte da comunidade internacional.

Surgem neste caminho novas formas de compatibilizar o crescimento e desenvolvimento da economia com a preservação do ecossistema. E por ter a maior e mais aguçada percepção dos problemas decorrentes da degradação, por conseguinte, as primeiras formas de readequação das políticas econômicas exsurgem nas comunidades europeia.

Os governos dos países desenvolvidos vislumbraram, na política fiscal, alternativas economicamente eficientes para a minimização dos nefastos efeitos ocasionados pela degradação ambiental. Com efeito, o mote da discussão sobre a tributação ambiental acaba ganhando outros contornos, estabelecendo-se, por decorrência, como uma pauta presente nas agendas de todos os países desenvolvidos.

É claro que esta mudança comportamental de atitude não se implementou imediatamente. A reestruturação da visão político-econômica capitalista, até meados da década de 1980, ainda dava sinais de resistência. Todavia, diante da constatação dos danos gerados pela economia marrom, os poderes públicos se viram obrigados a fomentar novas culturas, especialmente aquelas envolvendo o uso dos instrumentos tributários para a promoção de uma nova visão do orbe.

Destarte, governos como o da Suécia, a partir dos idos de 1991, idealizaram e implementaram uma reforma fiscal verde. A energia e os combustíveis foram os precursores desta política verde. Taxas diferenciais incidentes sobre automóveis, dióxido de carbono e dióxido de enxofre foram os primeiros elementos poluentes do sistema capitalista de produção a sofrerem com a nova forma de incidência tributária109.

Montero110 afirma que a busca por esta reforma fiscal verde, em virtude da forma das peculiaridades, que permeavam cada economia dos países desenvolvidos se apresentou de dois modelos: a primeira sob o enfoque restrito ou parcial e a segunda, sob o enfoque generalizado ou intitulado de reforma integral.

No modelo parcial os tributos ambientais ainda possuíam caráter eminentemente arrecadatório, sendo introduzidos de forma isolada e distanciando- se, por conseguinte, de um objetivo claro de reforma. Os países adeptos a este tipo de modelo são aqueles ligados ao velho continente, isto é, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica e Grã-Bretanha111.

Na outra ponta, sob a perspectiva de uma reforma integral, restaram os países nórdicos que, como já esboçado, foram os pioneiros nesta nova leitura da economia verde. Para os países como a Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda e Finlândia, a mudança fiscal efetivamente culminou com o esverdeamento da tributação, pois a partir deste esverdeamento partiram do pressuposto que a tributação ambiental não deveria ser considerada secundária, mas sim, basilar na formação desta nova consciência verde112.

Impende repisar que esta nova onda de esverdeamento da economia se deu, a priori, pelo viés da tributação ambiental ativa, isto é, com a utilização de mecanismos focados na arrecadação de receita aos cofres públicos, de modo a angariar fundos específicos para atendimentos das necessidades ambientais. Com efeito, como a perspectiva da fiscalidade é mais forte por ser inerente ao manejo das ferramentas de ordem tributária, por suposto que sua aplicação no campo ambiental se introduziria, primeiramente, por este viés.

109

TUPIASSU, Lise Vieira da Costa. Tributação Ambiental: A utilização de instrumentos econômicos e fiscais na implementação do direito ao meio ambiente saudável. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 167.

110

MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Tributação ambiental – reflexões sobre a introdução da variável ambiental no sistema tributário. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 257.

111

Idem.

112

Contudo, com o fortalecimento e solidificação da matriz tributária ambiental, os países desenvolvidos começaram a avançar no aperfeiçoamento de suas políticas públicas ambientais, trazendo a outra face da tributação para este contexto. Desta sorte, não só os países nórdicos passaram a se utilizar da ferramenta extrafiscal para o combate a degradação ambiental, como também os do velho continente. Impostos e outros tributos foram empregados pelo viés extrafiscal no escopo de fomentar a redução de poluentes atmosféricos, ou quiçá, a redução da degradação dos recursos naturais.

Nesta linha, os Estados Unidos passaram a estimular a tributação sobre as matrizes energéticas, tributando, portanto, a gasolina e outros combustíveis, bem como a eletricidade, o gás natural e os serviços de telefonia. Por volta de 1990, o governo americano criou o imposto sobre os CFCs113, obrigando ao pagamento de uma série de impostos sobre a emissão de poluentes114.

Por sua vez a Bélgica não ficou para trás. Desde meados de 1993 esta nação já possuía, em sua legislação, a Lei de Ecoimpostos, que incorporava a carga tributária nacional a existência de seis novos impostos de cunho ambiental. A carga tributária ambiental desenvolvida almejava atingir a produção de papel, fabricação de pilhas, embalagens, enfim, produtos de ordem descartável. Obviamente, buscando sempre o fomento dos sistemas de reciclagem115.

Na mesma marcha, a Alemanha, a partir de 1998, estabeleceu a criação de tributos que impactassem de modo negativo o ambiente natural, especificamente sobre a utilização de recursos naturais e sobre as emissões. Nesta levada, implementou a Reforma Ecológica Alemã visando, justamente, o uso racional da energia, bem como amenizar os efeitos provocados pelas mudanças climáticas. Nesta reforma, os incentivos fiscais foram nítidos, especialmente para os setores agrícola e industrial, posto que tais segmentos utilizavam das fontes energéticas que deveriam e poderiam ser preservadas para a redução do impacto ambiental.

Para a Grã-Bretanha, a partir de 2001, com a entrada em vigor da Climate Change Levy – CCL provocou mudanças em sua legislação tributária no intuito de promover isenções aos produtores e fornecedores de energias renováveis, como

113

Clorofluorcarboneto

114

MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Tributação ambiental – reflexões sobre a introdução da

variável ambiental no sistema tributário. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 257. 115

também, àqueles que de algum modo tinham assumido Standards de eficiência energética116.

Como se dessume, a disseminação da tributação ambiental nos países desenvolvidos alavancou esta nova forma de pensar a relação dos bens de consumo. Neste sentido, a adoção da faceta extrafiscal do tributo, para a busca por uma economia mais verde, trouxera novos exemplos que, por sua vez, acabaram por ser reproduzidos pelos países ainda em desenvolvimento, como o caso do Brasil, Argentina e Uruguai.

Estes países latino-americanos diante desta eclosão global, o uso de ferramentas tributárias para a promoção do bem ambiental, introduziram em suas legislações leis indutoras de comportamentos preservacionistas, especialmente pelo prisma extrafiscal da tributação, com a promoção de incentivos fiscais para uma produção mais consciente em relação aos bens de consumo e a sua forma de fabricação.