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3 TRIBUTAÇÃO E MEIO AMBIENTE

3.2 A EXTRAFISCALIDADE TRIBUTÁRIA E O MEIO AMBIENTE

3.2.3 As perspectivas da extrafiscalidade ambiental

A dificuldade encontrada, pelo Estado, no gerenciamento equitativo do crescimento e desenvolvimento econômico para com o meio ambiente é uma realidade. Logo, se faz necessário que o emprego de ferramentas, como a extrafiscalidade, sejam, cada vez mais, difundido como políticas públicas capazes de aplacar os danos ambientais gerados pela clássica visão antropocentrista117 de mundo que se faz instaurada em nossa sociedade.

Como se pode inferir dos estudos até então alcançados a busca pela sustentabilidade do desenvolvimento econômico de parte do Estado passa, obrigatoriamente, pela utilização dos mecanismos extrafiscais.

Neste diapasão, Derci118 assevera que o Estado pode apresentar tais instrumentos de duas maneiras: ou pelo viés da indução positiva ou pelo viés da indução negativa.

116

MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Tributação ambiental – reflexões sobre a introdução da

variável ambiental no sistema tributário. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 257. 117

ALMEIDA JUNIOR, Antônio Borja de e Francisco Seráphico da Nobrega Coutinho. A matriz teoria

do direito ambiental: uma reflexão sobre o fundamento da necessidade da preservação do meio

ambiente. In: file:///C:/Users/marcos/Downloads/267-1043-2-PB.pdf. Acesso em: 04 jul. 2015.

118

DERCI, Misabel Abreu Machado. In: BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário brasileiro. 11. ed. Atual, Forense, 2000. p. 43.

Se o ente federado optar pelo caminho da indução positiva, em verdade terá que praticar, em sua política tributária, atitudes administrativo-legais que provoquem a desoneração da carga tributária, isto é, deverá o Estado promover a redução de alíquotas ou a diminuição da base de cálculo ou, ainda, promover alguma espécie de isenção tributária aos setores de produção da sociedade que gerem, com sua atividade, algum tipo de dano ao ambiente.

De outro norte, no caminho da indução negativa, o Estado, por intermédio de sua política fiscal, trabalhará de forma a aumentar a carga tributária ou com a incidência de novos tributos ou com o aumento da matriz tributária dos tributos já existentes, a fim de que os contribuintes retraiam seu ímpeto consumista e degradador.

Ocorre, porém, que ao se cogitar este tipo de política pública a ser praticada pelo Estado, na busca pela proteção ambiental, se depara, consequentemente, com alguns dilemas de ordem principiológica, especialmente os atinentes a isonomia, capacidade contributiva e vedação ao confisco.

Na seara do direito tributário, tais princípios são o norte para a implementação de políticas fiscais equânimes aos contribuintes. Mas, afinal, de que maneira estes princípios poderiam ser violados, quando da aplicação de uma política pública extrafiscal, visando à preservação do meio ambiente?

Começando pelo viés positivo da extrafiscalidade.

Com a desoneração da carga tributária, por certo, em algum percurso desta jornada, pode o Estado, ainda que de forma involuntária, exercer algum tipo de tratamento diferenciado para determinada parcela de contribuintes que se encontrem em situação de igualdade o que, como é sabido, fere a Lei Maior. Desta feita, é preciso que a elaboração dos instrumentos normativos, que proporcionarão esta forma de indução desonerativa, seja construída sempre respaldada pela Lei e observando, acima de tudo, a vedação de tratamento desigual aos iguais.

Acontece que pensar, por exemplo, na sistemática de concessão de algum tipo de isenção fiscal, obrigatoriamente, levará a atender aos interesses de certa categoria. Todavia, o que importa lembrar são o sentido e objetivo propostos. Se estiver a falar de meio ambiente, por conseguinte, não obstante o benefício fiscal reste atrelado à determinada parcela da população, ainda sim, os efeitos gerados pela redução tributária poderão ser sentidos de forma mais ampla pela sociedade.

A violação da isonomia não se fará presente desde que, para a concessão deste benefício, existam motivos relevantes que, por suposto, ultrapassem a esfera de interesses apenas daqueles beneficiados diretamente pela medida.

Neste mesmo sentido, Yamashita119 observa que o principio da igualdade tributária seria violado apenas na hipótese de não haver algum motivo razoável para a diferenciação legal ou um tratamento igual aos desiguais.

Já pela perspectiva da indução negativa, se depara com o outro lado da moeda, onde o Estado, ao invés de abrandar seu controle, revela-se ainda mais severo quando da implementação da oneração da carga tributária. Aqui se enfrentaria dilemas da ordem contributiva e não confiscatória. Como aumentar a carga tributária sem ofender a capacidade financeiro-orçamentária de cada contribuinte, que varia de acordo suas condições frente à sociedade?

O exercício não é fácil. De toda sorte, haja vista o bem maior que está em jogo (meio ambiente), a flexibilização destes princípios também se faz inerente.

Torres, ao tratar do assunto, asseverou:

A expressão “sempre que possível” permite que a capacidade contributiva e seus subprincípios se ajustem às varias espécies de impostos, mas não admite que deixem de ser aplicados quando isso for possível. [...] De outra parte, a ressalva constitucional visa a compatibilizar a capacidade contributiva com a extrafiscalidade. Sempre que possível o legislador observará o princípio da capacidade econômica; mas, em certos casos, a seu prudente critério, poderá utilizar o imposto para atingir objetivos extrafiscais relacionados [...] com a proteção do meio ambiente120.

Enfim, seja pelo viés positivo ou negativo, entraves irão surgir ao longo do caminho. No entanto, devem ser sopesados de forma razoável a fim de que não sejam descartados em face da dificuldade operacional que possam vir a ocasionar.

Destarte, num primeiro prisma perfeitamente admissível, parece a aplicabilidade desta ferramenta extrafiscal pelo caminho da indução positiva e indução negativa.

Claro que melhor seria poder pensar que somente pela perspectiva positiva (isenções fiscais) se pudesse ter a promoção de novas políticas tributário- ambientais, posto que a população já se encontre escangalhada com a enfadonha

119

TIPKE. Klaus, YAMASHITA, Douglas. Justiça fiscal e principio da capacidade contributiva. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 23.

120

TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e tributário. 19. ed. São Paulo: Renovar, 2013. p. 83.

carga tributária hodierna. Todavia, se sabe que em certas ocasiões o emprego de ferramentas coibidoras como o caso da elevação do imposto de importação sobre o tabaco, se faz prementes.

Mas, de todo modo, estas questões atinentes aos limites enfrentados pela extrafiscalidade tributária, com certeza, vão ser melhores estudadas no terceiro capítulo deste trabalho, para que se possam vislumbrar quais os entraves sofridos pelos entes municipais para a implementação destas políticas públicas tributárias de proteção ambiental.

O fato é que os dois lados da moeda extrafiscalidade são de grande valia na atual conjuntura de Estado. Se, a duras penas, consegue perceber os reflexos irreversíveis dos danos provocados por nossas atitudes não eco-conscientes e se, em vista disto, busca migrar para um Estado de maior consciência ambiental, por certo, se deve aprimorar os instrumentos de batalha.

Neste sentir a extrafiscalidade identificada como sendo este instrumento capacitor, desta nova roupagem da tributação, sem sombra de dúvida se reflete como essência do tributo ambiental, tanto em seus fins quanto em seus efeitos. Todavia, sempre deverá agir sobre a batuta da Lei Maior para que deste modo seja realmente feita a justiça fiscal121.

Consequentemente, aceitar que o Estado, através da extrafiscalidade tributária positiva ou negativa, pode melhorar a forma de vislumbrar a importância do meio ambiente é dar um passo a frente na percepção mais evoluída do lugar do indivíduo neste ecossistema intitulado Terra.

Enquadrando-se o Brasil no rol dos países emergentes, que se encontra em pleno processo de expansão e desenvolvimento econômico, naturalmente as lições colhidas pelo cenário internacional replicaram na política econômico-fiscal do país. Dessa forma, o Estado brasileiro buscou implantar, em suas legislações vigentes, alternativas legais para a reformulação de consciência da população em geral.

Apresenta-se, portanto, de que forma as lições dos países desenvolvidos em termos de extrafiscalidade tributária ambiental chegaram a eclodir nas políticas fiscais brasileiras.

121

TUPIASSU, Lise Vieira da Costa. Tributação Ambiental: A utilização de instrumentos econômicos e fiscais na implementação do direito ao meio ambiente saudável. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 132.

3.3 AS ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS BRASILEIRAS E A EXTRAFISCALIDADE