• Nenhum resultado encontrado

3 TRIBUTAÇÃO E MEIO AMBIENTE

3.3 AS ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS BRASILEIRAS E A EXTRAFISCALIDADE

3.3.1 Taxas

Esta espécie tributária tem sua matriz constitucional no Artigo 145, inciso II, da Carta Republicana e infraconstitucional no Artigo 78 do Código Tributário Brasileiro130, traduzindo-se, em síntese, na contraprestação realizada pelo particular aos serviços públicos prestados ou colocados pelo Estado à disposição do contribuinte. De outro prisma, também pode ser interpretada como a contraprestação realizada pelo contribuinte em face do poder de polícia estatal.

Denota-se, por conseguinte, estar esta exação vinculada a certo tipo de comportamento direcionado do Estado a um fim específico.

No que se refere a sua correlação com as questões ambientais, a doutrina entende perfeitamente possível a sua intersecção com o ambiente. Nusdeo131 sustenta ser plenamente factível haver a aplicação prática da cobrança de taxa ou tarifas pela usufruição dos bens ambientais em face do princípio poluidor pagador.

Traduzindo de maneira mais simples, se paga ao Estado um quantum a ser definido em lei para o consumo e/ou exploração de bens ambientais, a exploração de áreas verdes ou recursos naturais. De todo modo, vale refletir que ao pagar pela licença e/ou autorização de determinado bem ambiental é como se estivesse legalmente validando a conduta humana em degradar o ambiente. Isto é extremamente preocupante, pois os valores arrecadados por esta forma de tributação, muitas vezes sequer chegam perto do efetivo dano ambiental gerado com aquela atitude.

130

BRASIL. Lei nº 5.172 de 25 de outubro de 1966. - Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (Redação dada pelo Ato Complementar nº 31, de 1966) Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

131

NUSDEO, Fabio. Curso de economia: introdução ao direito económico. São Paulo: RT. 1997 apud TUPIASSU, Lise Vieira da Costa. Tributação Ambiental: A utilização de instrumentos econômicos e fiscais na implementação do direito ao meio ambiente saudável. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 63-64.

Esta forma de modulação da exação é interpretada pela doutrina como taxas de tolerância, onde o seu pagamento, em verdade, autoriza a prática de atividades com algum tipo de incidência negativa sobre o meio.

Por esta razão, teorias surgem acerca da real contribuição que este tipo de exação vem ofertando ao meio ambiente. Qual seria a força incentivadora por ela provocada? Que tipo de mudança no comportamento poluente este tipo de tributo estaria gerando com esta sistemática?

Montero destaca que:

As taxas ambientais recebem críticas no sentido de que têm pouca capacidade incentivadora, pelo fato de serem calculadas com base em valores muito reduzidos se comparados com o dano ambiental, o que as distancia do PPP. Por outro lado, o tributo também é considerado responsável pela venda de autorizações para poluir, uma vez que existe a possibilidade da cobrança de taxas pela autorização de exploração de recursos naturais e pela liberação de atividades potencialmente poluentes132.

É claro que tais apontamentos fazem questionar até que ponto os mecanismos tributários poderiam ser realmente eficientes na disseminação de uma nova ordem ambiental? De toda sorte, não obstante este viés analítico, não se pode deixar inebriar somente por um dos pontos de vista. E neste sentido, também caminha a doutrina.

Por esta razão, apesar das ponderações a respeito do seu grau de efetividade em termos de meio ambiente, ainda sim é possível afirmar que esta espécie tributária pode de ser considerada como um valioso instrumento fomentador de novos comportamentos ambientais.

Nesta pegada, Sebastião133 entende que mesmo estando vinculada a determinado tipo de atividade específica às taxas podem ser adotadas com índole extrafiscal no sentido de concessão de benefícios fiscais para a promoção do ambiente. Um dos exemplos do seu caráter extrafiscal se faz refletido nos serviços de coleta de lixo ou reciclagem. Em circunstâncias como estas, a exação, ora em foco, transmite ao contribuinte poluidor efeitos de ordem psicológica e, portanto, extrafiscal, posto que acabe por induzir aos cidadãos a busca por alternativas não

132

MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Tributação ambiental – reflexões sobre a introdução da

variável ambiental no sistema tributário. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 248-249. 133

poluidoras, a fim de que não mais cruzem no caminho da exação ou, ao menos, reduzam seus custos operacionais com este pesado encargo.

Assim sendo, abstraindo-se parte dos comentários negativos elencados por parte de alguns autores sobre a efetividade da taxa no trato da questão ambiental, o que se verifica, em verdade, é que, sem sombra de dúvida, ela pode auxiliar ao Estado através de uma hipótese de incidência previamente estabelecida na indução de condutas comportamentais proativas na minoração dos danos ambientais, refletindo, portanto, seu caráter extrafiscal em toda a sua plenitude.