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A falta de juízes e servidores (infra-estrutura judicial e de organização

orçamentária

A crise da administração da justiça acha-se ligada, em boa medida, à sobrecarga dos tribunais, à falta de infra-estrutura para dar vazão à demanda sempre crescente e à conseqüente morosidade que permeia o trâmite dos processos. As demandas crescem em progressão geométrica, enquanto a estrutura judiciária evolui em progressão aritmética. Para cada processo julgado, três novos são distribuídos. Faltam juízes em todas as instâncias, e essa insuficiência causa a obstrução dos canais de acesso à Justiça, gerando ainda maior distanciamento entre o Judiciário e seus usuários (jurisdicionados).

Um comparativo entre os principais sistemas judiciais do mundo vai revelar que o Brasil conta com um número insuficiente de juízes: 5,3 magistrados por 100.000 habitantes, enquanto, por exemplo, na Alemanha a proporcionalidade é de 23/100.000; na Itália 20/100.000; na França 13/100.000, na Inglaterra 11/100.000, na Argentina 10,9/100.000, e na Costa Rica 15,9/100.000.55

A Emenda Constitucional n° 45/2004 tornou obrigatória a observância da proporcionalidade demandas/população/juízes (art. 93, XIII, CR), preceito que carece de imediata implementação. Na Justiça Federal, em dados de 2003, a média desta relação estava em 0,638/100 mil habitantes, proporção

55 Judiciário Brasileiro em Perspectiva. Análise da Associação dos Magistrados Brasileiros

(AMB) baseada em relatórios do Supremo Tribunal Federal, do Conselho Nacional de Justiça e do Banco Mundial. Disponível em:

<http://www.amb.com.br/portal/docs/pesquisa/Judiciario_brasileiro_em_pespectiva.pdf>. Acesso em: 27 jun. 2008.

insuficiente, como ocorre de uma maneira geral em todo o sistema judicial brasileiro. O número médio de processos por juiz, conforme dados de 2007, na Justiça Federal, é de 9.551 (somente no primeiro grau tramitam aproximadamente 9,3 milhões de ações), na Justiça Estadual é de 2.885 e na Justiça do Trabalho 2.079. Nos TRFs, a média de processos por desembargador é de 7.064, na Justiça Estadual é de 1.221, e na Justiça do Trabalho é de 1.593.56

Existe uma clara e absurda tendência de manutenção do número de juízes dos tribunais, que não acompanha a crescente demanda de trabalho, enquanto milhares de processos aguardam por julgamento. Por que se mantém o número de 11 ministros para o STF e 33 ministros para o STJ? Assim não há fórmula processual que vá resolver a questão. O STJ italiano, que se chama “Corte di Cassazione”, para uma população de 58 milhões de habitantes, conta com 392 Ministros. Aqui, nós somos quase 200 milhões de habitantes e o STJ, com a incumbência, de interpretar o direito federal, tem apenas 33 ministros (0,019 ministros/100 mil habitantes). Se compararmos a composição dos principais Tribunais Constitucionais do Mundo: Alemanha, Itália, Portugal, Áustria e Espanha, todos países com população bem inferior à do Brasil, vamos verificar que conta com mais juízes, proporcionalmente. É evidente que vai haver demora. Ainda que sejam os ministros muito operosos – aliás, nunca se negou que os juízes brasileiros, de uma maneira geral, trabalham demais.

O STJ anunciou recentemente que encerrou o primeiro semestre do ano de 2007 com um aumento de 31,91% no número de processos julgados, que passou de 118.071 em 2006 para 155.744 neste semestre. Apesar do considerável aumento de produtividade, digno de elogio aos membros daquela colenda Corte, o esforço não repercutiu enquanto diminuição do acervo, pois que houve o significativo aumento do número de processos distribuídos e registrados na ordem de 55,27% em relação a esse mesmo período de 2006 (105.337 para 163.621).57

De 1989 até 2006, tivemos um incremento no número de juízes

56 NOTA referente ao PLP 1/2007, que introduz o art. 71-A na Lei de Responsabilidade

Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000) e impede a expansão/crescimento da Justiça Federal até o ano de 2016. Associação dos Juízes Federais do Brasil, Brasília, 14 maio 2007, p. 5. Disponível em: <http://www.ajufe.org.br/sites/700/785/00000896.doc>. Acesso em: 19 ago. 2008.

57 Discurso do Ministro Barros Monteiro, Presidente do STJ. Disponível em:

federais de 177 para 1.485 (839%), enquanto nos TRFs houve um aumento de 74 para 139 (88%). Recentemente foram criadas 183 varas federais, já todas instaladas. Pretende-se criar mais 230. Os Tribunais Regionais Federais, faz algum tempo, vêm denunciando a necessidade de aumento de suas estruturas, propondo, inclusive, a interposição legislativa para aumento do número de Desembargadores Federais. Enquanto inexplicavelmente isto não ocorre, têm encontrado em regimes especiais de mutirão, turmas suplementares e outros expedientes, com a participação de juízes de primeiro grau, a maneira paliativa de enfrentar o problema. O cobertor curto agrava o problema na base, pois que deixa vulnerável o primeiro grau de jurisdição.

Consoante observa Oliveira, a maior morosidade do Judiciário não está na tramitação dos processos, e sim na fase de julgamento.

Está, sim, na incapacidade humana em atender à descomunal proporção do número de processos por juiz, que impede de dar vazão ao grande número de ações que, desde o primeiro grau até o Supremo Tribunal Federal, aguardam julgamento, mesmo estando os magistrados brasileiros entre os mais produtivos do mundo, segundo estudos do Bird (dezembro/2007). Assim, sem uma adequada proporcionalidade entre o número de juízes e a efetiva demanda judicial, em todos os graus de jurisdição, como previsto na Constituição (art. 93, XIII), será difícil conhecer um

mundo real de celeridade na prestação jurisdicional.58

O Poder Judiciário, seja no âmbito das justiças dos Estados, seja no âmbito federal, tem sérias dificuldades financeiras para expandir-se. Os orçamentos apertados não permitem maiores investimentos em infra-estrutura e ampliação dos canais de acesso à justiça estatal. E ainda temos problemas de má gestão orçamentária a impedir solução para as reais necessidades da justiça. Está aí um tema que mereceria melhor atenção do Conselho Nacional de Justiça, atribuição que lhe compete.

O chamado Fundo para reaparelhamento das Justiças Estaduais representa fonte de recursos importante e tem possibilitado aos Tribunais Estaduais a expansão do judiciário estadual. No âmbito da Justiça Federal, não existe o referido fundo, sendo o valor das custas e emolumentos vertido à União. A AJUFE – Associação dos Juízes Federais trabalha na elaboração de um projeto de lei que

58 OLIVEIRA, Alexandre Vidigal de. Processo Virtual e Morosidade Real. Revista da

institui o Fundo Nacional de Reaparelhamento da Justiça Federal – FUNDEFE, cujo objetivo será complementar os recursos financeiros necessários ao custeio e aos investimentos da Justiça Federal de primeiro e segundo graus. O FUNDEFE será constituído, dentre outras fontes de receita, pelo valor das custas e taxas arrecadadas no âmbito da Justiça Federal, nos termos do § 2º do art. 98 da Constituição.