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1. DESCREVENDO O CASO: A REFORMA, A ESCOLA, AS PESSOAS, OS

1.6. A figura do gestor como protagonista da trama

Dentro do processo de elaboração do Projeto Político-Pedagógico de uma escola a figura do gestor surge com destaque. Isso porque ele é o responsável por fomentar a discussão no interior na escola, criando espaços para que todos os membros da comunidade escolar sejam ouvidos (garantindo uma dimensão democrática ao processo), para que eles participem e, sobretudo, zelando para que as orientações deste documento estejam em sintonia com as diretrizes nacionais.

Para que isso aconteça, o gestor deverá se preocupar com alguns fatores. Em primeiro lugar, ele precisa formar e capacitar a escola para construir este documento. Este dado faz com que seja realizada, necessariamente, uma conscientização de todos os membros da comunidade escolar sobre a importância da participação coletiva na construção do PPP.

É do gestor a responsabilidade de criar espaços que possibilitem o diálogo entre os diferentes segmentos da escola. Isso porque é através de diálogo produtivo e eficaz que este documento será produzido. O gestor deverá, também, em primeiro lugar, conhecer para, a partir disso, fazer com que todos os membros da escola conheçam as orientações oficiais que o MEC estabelece para a educação brasileira.

Caberá também ao gestor identificar os problemas e dificuldades que existem dentro de sua escola, de sua equipe e buscar meios para solucioná-los, levando em conta as condições específicas de cada escola e de cada profissional. Logo em seguida, ele deverá observar a realidade que está sob sua responsabilidade, a fim de que possa compará-la com as orientações oficiais e trilhar caminhos para implantar, em sua escola, as diretrizes propostas.

Nesse sentido, dentro do tema proposto, o gestor escolar tem a responsabilidade de conduzir todo processo relacionado ao Projeto Político-Pedagógico da escola, desde os debates iniciais, passando pela sua construção/redação, até sua efetiva implantação e posterior avaliação. Reafirma-se novamente que é dele (do gestor) a responsabilidade primeira em conduzir o PPP da escola a fim de que este possa estar em sintonia com as orientações oficiais.

E, como já foi dito, o trabalho não se encerra aí. Depois de pronto, o gestor deverá zelar para que o PPP (que foi elaborado coletivamente) possa ser assumido e cumprido por todos os profissionais ligados à escola. Aqui se sinaliza para o processo de implantação do projeto pedagógico da escola. Cabe ao gestor apresentá-lo a toda comunidade, ressaltando o

esforço de todos os envolvidos no processo, para que o texto possa trazer importantes contribuições e avanços na escola. Vale lembrar que, a partir do momento que a dimensão coletiva do Projeto é ressaltada, maiores serão as chances de que ele seja bem recebido por pais, alunos, professores e funcionários.

Para que a implantação aconteça de forma satisfatória, este documento deverá estar sempre ao alcance de todos e ser usado nos momentos fundamentais da vida escolar. Aqui vale ressaltar a importância do supervisor escolar que, juntamente com o diretor, precisa criar condições para que o que foi proposto no texto do PPP seja cumprido por todos na escola. Neste sentido, é preciso dizer que o gestor não precisa (e não deve) fazer tudo sozinho. Delegar funções e compartilhar responsabilidades sempre contribui para o crescimento da comunidade escolar como um todo, fazendo com que a gestão escolar não seja centralizada, mas, pelo contrário, participativa e democrática.

No caso específico da escola analisada, outro ponto que já foi dito, mas que merece ser destacado novamente, é a confiança que toda a comunidade escolar (professores, supervisores, funcionários, alunos e pais) tem na atual diretora. Fruto de um longo trabalho, atualmente a diretora se mostra como uma pessoa capaz de coordenar e gerir todo o trabalho na escola, tanto a parte administrativa quanto a parte pedagógica. Possui também um fácil acesso a todos os grupos que atualmente se encontram na escola. Preocupada com as relações criadas e geradas no ambiente escolar, a gestora sabe equilibrar o discurso oficial de autoridade, aliado ao seu cargo de chefia, com uma fala flexível e acolhedora de companheira de trabalho.

Contudo, acredita-se que a gestão escolar poderia propiciar ainda mais espaços para o diálogo e o estudo das orientações oficiais. É claro que convocar um número excessivo de reuniões num período extra ao já cumprido pelos docentes poderia ser prejudicial e desmotivador. Porém, acredita-se que outros meios podem surgir para que a escola consiga resultados ainda melhores e possa aplicar, de modo pleno, as orientações nacionais. Isso realça ainda mais a dimensão desafiante e inovadora que um gestor escolar precisa ter ao ocupar esta função.

Como exemplo dos desafios que ainda devem ser superados, é possível citar a implantação de uma cultura da interdisciplinaridade no Ensino Médio, melhorar a organização curricular dentro das áreas temáticas propostas pelos PCNEM, facilitar contextualização dos conteúdos e a gradativa superação da visão exageradamente acadêmica da escola. Outro ponto que merece ser pensado é na avaliação que os alunos fazem do ambiente escolar. Como já mencionado, muitos professores se queixaram da falta de interesse e motivação dos

estudantes. Por outro lado, vários estudantes também se queixaram da falta de aplicabilidade dos conteúdos estudados. Frente a isso, seria interessante que a gestão escolar pudesse, no momento da construção do novo PPP, levar em conta todas estas visões a fim de construir um documento mais direcionado à superação desta crítica comum entre docentes e discentes.

Tal problema poderia ser menor caso a comunidade escolar (pais e estudantes) tivesse participado da elaboração do Projeto Político-Pedagógico. É claro que existem muitas dificuldades para que isso ocorra, porém, é de responsabilidade do gestor garantir que o processo ocorra de forma democrática e transparente. Um documento produzido coletivamente tende a ser mais bem assimilado e aplicado pela coletividade que o produziu.

A realização de projetos pelos professores (algo que já acontece na instituição estudada) pode ser ainda mais estimulada pela direção. Até porque, pelo que se observa, os alunos apresentam maior interesse pela participação nestes, o que resulta num maior aproveitamento e desenvolvimento escolar.

Vale dizer, também, que novos métodos e alternativas inovadoras podem surgir dentro da escola no sentido de despertar toda a comunidade escolar para vivenciar e aplicar as diretrizes expressas em seu Projeto Pedagógico. É importante lembrar que existe uma previsão para que em 2012 o PPP seja revisado e reconstruído. Para isso, faz-se mister uma avaliação de todo o caminho percorrido nos últimos quatro anos, a fim de que os próximos anos sejam trilhados com um aproveitamento ainda maior, no intuito de conquistar resultados ainda mais eficazes.

Pensando sob a ótica da gestão educacional, é possível perceber que melhorar o desempenho de uma escola no ENEM ainda é um grande desafio. Isso porque, a partir do momento em que as orientações nacionais são cumpridas nas escolas, espera-se que elas resultem em um desempenho melhor neste exame. Isso porque, como já exposto anteriormente, esta prova busca avaliar se as metas previstas pelas DCNEM e os PCNEM foram alcançadas pelas escolas, através do desenvolvimento de habilidades e competências específicas nos estudantes ao final da escolaridade básica.

De acordo com a reportagem de Goulart (2011a), das 100 escolas com melhor desempenho no ENEM 2010, 87 pertencem à rede privada. Além disso, das escolas públicas com melhor desempenho, nenhuma pertence à rede estadual mineira. A grande maioria são colégios de aplicação (ligados à universidade federais), escolas técnicas ou colégios militares. Para reforçar ainda o problema, as 100 escolas com pior desempenho no mesmo exame pertencem à rede pública de ensino.

em média, 70,4% dos estudantes de escolas privadas compareceram ao exame. Entre as unidades públicas, a taxa foi de 38,07%. A primeira supera a segunda em 85%. Os dados mostram que das 6.689 escolas privadas representadas por candidatos no Enem de 2010, 52% registraram alta participação de estudantes – o que significa que ao menos 75% de seus alunos compareceram à avaliação. Na rede pública, a situação foi oposta: apenas 6% das 17.211 escolas atingiram tal índice. Na outra extremidade, a das instituições que registraram baixa participação de alunos, apenas 6% das escolas privadas tiveram 25% ou menos de seus estudantes na prova; entre as públicas, a taxa foi cinco vezes superior, chegando a 30%. Olhando de outra forma: na rede privada, 68% dos estudantes são oriundos de unidades de ensino que registraram alta participação. Na rede pública, a cifra é cinco vezes inferior: só 12% dos alunos estavam em instituições que levaram ao menos 75% de seus estudantes ao Enem 2010.

Diante disso, o que aparece para os gestores das escolas públicas de ensino médio é um desafio muito grande: aumentar o aproveitamento de seus estudantes no ENEM e estimular uma maior taxa de participação deles no exame (que, para alunos da rede pública é gratuito!). A própria reportagem citada afirma claramente que este problema da educação pública está relacionado ao gestor (ibidem, p.2):

O que difere as duas redes, a pública e a privada, é a gestão do ensino. Existe uma presença maior dos diretores e professores na vida do aluno no setor particular: são eles que incentivam o estudante e o acompanham desde a inscrição até a realização de provas.