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1. DESCREVENDO O CASO: A REFORMA, A ESCOLA, AS PESSOAS, OS

1.4. Os desdobramentos do enredo: como a escola recebe e implementa as reformas

Por meio de conversas com a direção, a supervisão, a equipe de professores da escola e alunos, observa-se que as orientações oficiais do Ensino Médio chegam à escola em análise de modo informal. A partir da análise realizada, percebe-se que não houve nenhum curso ou projeto de capacitação realizado na escola por ocasião das publicações do MEC para o Ensino Médio. Essas orientações foram repassadas aos professores em uma série de reuniões periódicas realizadas na época da publicação dos PCNEM. Logo depois disso, constantemente

o tema é recorrente em algumas reuniões realizadas pela equipe de profissionais da instituição em questão. Não obstante, há um consenso entre todos de que os PCNEM são conhecidos e aplicados pelos professores, ainda que de forma parcial.

De acordo com a fala da supervisora da escola, a maior parte dos professores da escola teve conhecimento e acesso aos PCNEM e às DCNEM nos respectivos cursos de licenciatura24. Além disso, nas reuniões bimestrais de conselho de classe, nos atendimentos individuais aos docentes e nas reuniões pedagógicas, o serviço de supervisão procura orientar e discutir com cada professor estratégias e métodos para que os alunos possam se desenvolver de acordo com as expectativas nacionais e estaduais.

A supervisora afirmou também que, atualmente, a escola vem discutindo de forma mais pontual sobre as escalas de proficiência e as matrizes de referência das avaliações externas, sobretudo para os professores de Língua Portuguesa e Matemática. Essa discussão vem sendo realizada pelos docentes das áreas citadas em reuniões especialmente direcionadas para esta finalidade. Os resultados obtidos, as metas propostas e as estratégias para melhorar os indicadores da escola também são discutidos com frequência por todos os professores25.

Conversando sobre o tema com professores da instituição, é possível identificar diferentes cenários. A professora de Língua Portuguesa afirma que acompanha as orientações oficiais do Ensino Médio por meio de publicações, livros didáticos e também do Centro de Referência Virtual (CRV).26 A mesma linha pode ser observada na fala da professora de Matemática. Para ela, os livros didáticos e também as orientações do Estado podem servir como fundamentos para o cumprimento das orientações oficiais. Além disso, ela afirmou também que, particularmente, se preocupa muito com sua formação continuada.

A professora de História relatou que conhece as orientações oficiais por conta do curso de licenciatura e também das reuniões realizadas na escola. A professora de Geografia disse que as reuniões da escola e os documentos que foram publicados, presentes na escola e distribuídos aos professores, são importantes mecanismos para a divulgação das orientações para o Ensino Médio. O professor de Biologia acredita que os livros didáticos, as reuniões de

24 Porém, não é suficiente que os professores tenham acesso aos PCNEM e às DCNEM apenas nos cursos de

licenciatura. Cabe à escola (e primeiramente ao gestor escolar) criar espaços para que o corpo docente trabalhe com frequência esses documentos.

25 Pelo que se pode perceber, a discussão sobre as metas a serem atingidas tem como objetivo primeiro a política

de responsabilização do Estado que inclui bonificações e sanções às respectivas equipes escolares.

26 O Centro de Referência Virtual do Professor (CRV) é um site criado e mantido pela Secretaria de Estado de

Educação do Estado de Minas Gerais e tem como objetivo apresentar as versões atualizadas do CBC e algumas pistas para a sua aplicação, como roteiros de aulas e orientações pedagógicas. Disponível em http://www.crv.educacao.mg.gov.br. Acesso em 31 de outubro de 2011.

conselho de classe e o planejamento anual são os meios através dos quais a escola prepara os docentes para o cumprimento das orientações.

Outra professora de Matemática afirmou que os boletins das avaliações do Sistema Mineiro de Avaliação Escolar (SIMAVE) são importantes para que tanto a escola como cada professor possa discernir os novos caminhos para o ensino e a aprendizagem dos alunos. No entanto, ela reconhece que o trabalho feito com estes boletins pela equipe de gestão escolar poderia ser melhor. Seguindo este raciocínio, ela afirma que, se a escola obtém um desempenho satisfatório nas avaliações externas, é sinal que os professores estão no caminho certo.

A professora de Língua Inglesa acredita que ainda há um déficit muito grande, por parte dos docentes, no que diz respeito ao conhecimento das propostas curriculares do Ensino Médio. Este déficit, segundo ela, tem origens tanto na formação inicial (licenciatura) quanto na formação continuada. A professora afirmou também que as iniciativas do estado para este projeto ainda são tímidas e pouco abrangentes. Diante deste quadro, os professores acabam realizando seu trabalho tomando como base os livros didáticos disponibilizados pelo governo estadual.

Outra professora de História afirmou que procura seguir o conteúdo proposto pelo Estado e presente nos livros didáticos. A professora de Artes afirmou que não se preocupa diariamente com as orientações nacionais. Segundo ela, em seu trabalho como docente procura adequar temas que são importantes em sua disciplina e contextualizá-los para a realidade atual dos alunos. A grande dificuldade, segundo ela, é trabalhar com os alunos questões mais abstratas que demandam grande envolvimento, raciocínio e interesse por parte dos alunos.

A diretora reconhece que a escola não cria espaços específicos para o estudo e a formação dos professores no que diz respeito às orientações oficiais para o Ensino Médio. Segundo ela, isso acontece por vários motivos: primeiro, porque observa que a escola (sobretudo o corpo docente) é consciente de suas atribuições e que, pelos resultados obtidos realiza um bom trabalho. Outro ponto importante é que, nas palavras da diretora, convocar os professores para uma série de reuniões fora do horário de trabalho poderia criar um clima pesado e gerar desânimo e desmotivação na equipe, sobrecarregando a todos. A baixa remuneração, aliada ao acúmulo de cargos e às excessivas tarefas de cada profissional são levadas em conta nesse momento.

Porém, a diretora reconhece que a escola toca nos temas em questão de modo informal. Isso acontece, segundo ela, através do atendimento dos professores, da

disponibilização dos documentos para os docentes (no caso do CBC, todos os professores receberam um exemplar do documento), das reuniões de conselho de classe, do planejamento anual e dos trabalhos coletivos realizados pela escola (desenvolvimento de projetos, atividades comuns etc.). Mais uma vez a diretora elogiou o trabalho da equipe, reforçando a ideia de que a escola conta com alguns professores que realizam um trabalho inovador e diferenciado e que, como diretora, apoia e incentiva a realização destas atividades que, muitas vezes, estimulam o surgimento e o desenvolvimento de outros projetos similares.

No que tange à dualidade entre PCNEM e CBC, a gestora afirmou que a escola prioriza o CBC, haja vista que houve um grande empenho da SEE e da Superintendência Regional para o cumprimento dessa orientação. Outro fator que é recorrente para que isso aconteça é o fato de que as avaliações externas da rede estadual são pautadas nas teses apresentadas no CBC. De acordo com a diretora, seria interessante que houvesse um alinhamento curricular no que diz respeito à política nacional, estadual e local (vestibular e PISM) para o Ensino Médio.

Diante do exposto, é possível inferir que, pelo que foi observado na escola, a grande maioria dos professores conhece e observa, ainda que parcialmente, as orientações curriculares nacionais. Isso porque os conceitos fundamentais destes documentos não são ignorados pelos professores e, além disso, são perseguidos por alguns em suas respectivas disciplinas.

1.5. A relação do Projeto Político-Pedagógico frente às orientações nacionais para o