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1 DOS CONCEITOS A REVISÃO DA LITERATURA

1.2 A floresta atlântica

A floresta atlântica consiste em um enorme bloco de floresta (~1,5milhões de km²) que se estende por mais de 3.300km da costa brasileira e, a oeste, em pequenas ilhas no Paraguai e Argentina, (Mapa 1), abrigando mais que 20.000 espécies de plantas, 261 espécies de mamíferos, 688 espécies de aves, 200 espécies de répteis, 280 espécies de anfíbios e muito mais espécies que ainda requer descrição científica (GOERCK, 1997; MITTERMEYER et al., 1999; SILVA e CASTELETI, 2003; RIBEIRO et al., 2009). A fauna e flora da floresta atlântica deve incluir 1 a 8% do total das espécies do mundo (SILVA e CASTELETI, 2003; RIBEIRO et al., 2009). Essa floresta tem sido reconhecida internacionalmente como um dos 34 hotspots mundiais para a conservação da biodiversidade (MYERS, 1988; MITTERMEIER et al., 2005a; TABARELLI et al., 2010). Apesar da sua reconhecida importância, este bioma

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As espécies exóticas invasoras são consideradas aquelas que ameaçam a diversidade biológica, isto é, animais, plantas, fungos e microorganismos que podem afetar todos os tipos de ecossistemas (CDB, 1992). Considerada a segunda maior causa de perda de diversidade biológica em escala mundial, e a primeira em áreas protegidas e ilhas oceânicas.

vem sendo degradado desde o século XVI, com a chegada dos primeiros europeus ao Brasil (DEAN, 1997; CINCOTTA et al., 2000; TABARELLI et al., 2010). Estima-se que hoje 145 milhões de pessoas (70% da população brasileira) vivam ao longo da costa brasileira, constituindo a base de recursos para uma parcela considerável do Produto Interno Bruto (PIB) do país (SILVA et al., 2016). Considerando a pressão de um modelo de desenvolvimento voltado para a exploração, com práticas frequentes de caça, extração de madeira, coleta de produtos não florestais, expansão da fronteira agrícola, hoje se contabiliza apenas 12,9% (194.524 km²) da cobertura original da floresta atlãntica nos três países (CHEBEZ e HILGERT, 2003; HUANG et al.,2007,2009; RIBEIRO et al.,2009; DE ANGELO, 2009; TABARELLI et al., 2010). O monitoramento da cobertura florestal tem demonstrado ainda hoje um alto nível de devastação na maioria das regiões, com taxas anuais de 0,5% para a floresta atlântica como um todo (TEIXEIRA et al., 2009; TABARELLI et al., 2010); na Argentina não tem sido muito alta, considerando que os assentamentos humanos nas localidades tenham sido tardios, além de uma atuação estrita na proteção florestal (HOLZ e PLACCI, 2003; TABARELLI et al., 2010), no Paraguai (1970 – 2000), os desflorestamentos mais intensos têm sido recentes (HUANG et al., 2009; TABARELLI et al., 2010). No Brasil as taxas de perda tem reduzido nos últimos anos (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2015; TABARELLI et al., 2010; SILVA et al., 2016). Esses resultados indicam que uma larga proporção da biodiversidade da floresta atlântica, incluindo 112 espécies de aves, está ameaçada com a extinção global (MARINI e GARCIA, 2005).

Essas paisagens modificadas pelo homem têm fornecido farto campo experimental para pesquisa e produção científica acerca dos impactos das atividades humanas na floresta tropical e o papel destas paisagens na provisão de serviços ambientais e na conservação da biodiversidade (METZGER, 2009; TABARELLI et al., 2010). Considerando ainda que estes estudos indicam a possibilidade de resultados semelhantes para outras paisagens tropicais fragmentadas, como a Amazônia, por exemplo (SANTOS et al., 2008; TABARELLI et al., 2010). As espécies endemicas registradas na floresta atlântica (40% de flora vascular e 16- 69% de aves, mamíferos, répteis e anfíbios) (MITTERMEIER et al., 2005b; METZGER, 2009) não estão distribuídas de forma homogenea ao longo da latitude e nível de elevação da sua biota, considerando os padrões de distribuição biogeográfica pré-columbiano ou contemporâneo. São cinco os centros de endemismo reconhecidos para a floresta atlântica: Brejos nordestinos, Pernambuco, Bahia, Diamantina e Serra do Mar (SILVA e CASTELETI, 2003), que somam 397,754km², representando 25,6% de toda a floresta atlântica, hospedando

a grande maioria de espécies endêmicas, incluindo plantas, borboletas, anfíbios, aves e mamíferos (TABARELLI et al., 2010).

Mapa 1 - distribuição biogeográfica da cobertura da floresta atlântica, apresentado em sua extensão original e remanescentes atuais dividios em oito unidades sub-regionais (adaptados de SILVA e CASTELETI, 2003). Fontes para remanescentes da cobertura florestal: Argentina: Giraudo et al. (2003); Brasil: Ribeiro et al. (2009); e Paraguai: Huang et al (2007). Fonte: TABARELLI et al., 2010.

Apesar dos altos índices de riqueza de biodiversidade e ameaças, a floresta atlântica tem sofrido uma extraordinária perda de habitat desde a chegada dos colonizadores europeus, no século XVI, seguido pelos ciclos de exploração dos recursos naturais, expansão da agricultura colonial, industrialização e urbanização. Hoje este bioma está restrito a 12,5% de sua extensão original no Brasil, geralmente na forma de pequenos fragmentos, menores do que 100ha (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2015); 24,9% no Paraguai (CARTES e YANOSKY, 2003; HUANG et al., 2007, 2009) e 38,7% na Argentina (CHEBEZ e HILGERT, 2003; DE ANGELO, 2009).

Mesmo considerando o grande esforço para a conservação da biota da floresta atlântica em áreas protegidas, que ultrapassa mil unidades de conservação, há consenso entre a comunidade científica que este número não garante a proteção efetiva da sua biodiversidade, em termos de cobertura de habitat, distribuição de espécies e viabilidade de população (CHIARELO e MELO, 2001; TABARELLI et al., 2010). Essa posição se justifica: 1. As áreas protegidas que assegurem a proteção mais efetiva da biodiversidade, conforme as categorias da UICN, cobrem apenas 1.7% do bioma (LAIRANA, 2003; RIBEIRO et al.,

2009; TABARELLI et al., 2010); 2. A maioria das áreas protegidas são pequenas para garantir a persistência das espécies de longo prazo (SILVA e TABARELLI, 2000; MARSDEN et al., 2005); 3. 80% de todos os remanescentes da floresta atlântica se encontram a uma distância de 10km da área protegida mais próxima (RIBEIRO et al., 2009; TABARELLI et al., 2010); 4. 57 de 104 espécies ameaçadas de vertebrados são consideradas espécies lacunas, isto é, precisam ainda ser registradas em alguma área protegida (PAGLIA et al., 2004; TABARELLI et al., 2010).

É verificada na literatura certa confusão no uso do conceito de Floresta Atlântica e Mata Atlântica, não havendo consenso quanto a sua delimitação conceitual e territorial (RAFAEL, 2015). Para Coutinho (2006) a uniformidade na conceituação desses termos permitiriam a identificação e classificação mais seguras, e assim, maior eficácia na conservação dessas áreas. Para Rafael, (2015, p. 31) “de acordo com a legislação que regula a delimitação dessa região natural, o conceito de Mata Atlântica configura-se, na verdade, como um mosaico de biomas, absorvendo áreas do Cerrado e Caatinga e abrangendo áreas em outros biomas”.

Apesar disso, no Brasil, prevaleceu a nomenclatura Mata Atlântica, conforme sua definição legal presente no Decreto nº6.660/2008 (BRASIL, 2008), que regulamenta a Lei nº11.428/2006 (BRASIL, 2006), conceito talhado nas incansáveis discussões durante a formulação da consistente legislação brasileira sobre o bioma. Decisão corroborada por Câmara, 1991, que considera o termo Mata Atlântica, mais abrangente, permitindo considerar suas múltiplas funções.