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1 DOS CONCEITOS A REVISÃO DA LITERATURA

1.4 Redes

1.4.2 Do Pacto Murici à Rede de Gestores de Unidades de Conservação do

Este item foi construído com base em pesquisa documental no acervo da AMANE, contando com 23 relatórios trimestrais (janeiro de 2006 a julho de 2011); três relatórios anuais (2011, 2012 e 2013); 28 projetos aprovados e realizados com apoio de 16 fontes financiadores (Quadro 5), dentre órgãos governamentais, organizações não governamentais e empresas. Os dados foram complementados com as duas publicações da AMANE, Saberes e Fazeres da

Mata Atlântica do Nordeste – Lições para uma gestão participativa, 2010, e Saberes e Fazeres da Mata Atlântica do Nordeste – Tecendo uma rede de gestores, 2012 (AMANE, 2010; AMANE, 2012).

Com o objetivo de buscar novas oportunidades e aperfeiçoar a proteção da biodiversidade do complexo florestal de Murici, foi articulada pela SNE e Birdlife International uma visita técnica a região em julho de 2003, com a participação da SNE, TNC, Conservação Internacional (CI-Brasil), Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Fundação SOS Mata Atlântica (SOS) e BI. Desta reunião, foi definida a formalização de um acordo entre as organizações presentes com o objetivo de realizar um projeto para conservação e uso sustentável do Complexo Florestal de Murici. O Funbio assumiu então o compromisso de desenhar um Programa que viesse atender esta demanda, não apenas no nível regional, mas, para o bioma no Brasil. Todas as entidades estariam envolvidas na captação de recursos para este projeto, sendo formalizadas em um consórcio.

Outras reuniões aconteceram ainda em 2003 para definição do programa e do consórcio proponente. Foram convidados, além das entidades já envolvidas, o WWF Brasil, o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste - CEPAN e o Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - IA RBMA. Em 19 de abril de 2004 o Funbio lançou o Edital PICUS, chamada de âmbito nacional. O objetivo geral do PICUS foi apoiar iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável local, integrando e articulando esforços de conservação e uso sustentável dos recursos naturais, de forma a gerar impactos positivos, em curto prazo, em um determinado território.

A SNE liderou um consórcio formado por oito organizações: SNE, CI, TNC, WWF Brasil, BI, IA RBMA, CEPAN e a Fundação SOS Mata Atlântica apresentando proposta para a realização de um Diagnóstico e um Plano de Trabalho para o território. Com vistas a expandir as ações e articular novos parceiros, o grupo definiu uma área envolvendo 68 municípios, nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Em maio de 2004, no Senado Federal, em Brasília, foi formalizado o Pacto Murici, com a participação das oito organizações consorciadas. O Pacto tem como objetivo catalisar ações e recursos para conjuntamente reverter o quadro de desmatamento e degradação da biodiversidade e criar formas de restaurar o funcionamento da paisagem e o desenvolvimento sustentável da Ecorregião Florestas Costeiras de Pernambuco.

O Pacto Murici foi objeto de programa Globo Ecologia5 (GLOBO ECOLOGIA, 2015), que recebeu Menção honrosa – Premio Biodiversidade da Mata Atlântica – 2006, concedida à jornalista Beatriz Castro, da Rede Globo. Em junho de 2005, o Pacto Murici criou a AMANE, com a missão de proteger e recuperar a Mata Atlântica do Nordeste, por meio da conservação da biodiversidade e do desenvolvimento de benefícios socioambientais. Todas as entidades do Pacto Murici se tornaram sócias fundadoras da AMANE e formaram o seu Conselho Deliberativo, como pessoas jurídicas. Esse é um formato pouco comum utilizado pelas organizações não governamentais, sendo ainda inédita a articulação dessas organizações envolvidas, todas com um forte currículo de realizações e conquistas na área ambiental nacional e internacional.

A AMANE assumiu a coordenação do consórcio proponente do PICUS e apresentou versão final do projeto em maio de 2006. O Programa estabeleceu um território com uma área total de 1.673.560 hectares, abrangendo 68 municípios, sendo 40 de Alagoas e 28 de Pernambuco. Neste território foram definidos cinco sítios âncoras ou áreas prioritárias para intervenção, conforme Mapa 4, apresentado a seguir: em Pernambuco, os Complexos Florestais de Trapiche e Serra do Urubu, e em Alagoas, os Complexos Florestais de Murici, Usina Serra Grande e Coruripe-Guaxuma, ao sul do Estado. Três dos cinco sítios localizados em propriedades de usinas de açúcar – Trapiche, Usina Serra Grande, Coruripe e Guaxuma –, os outros dois sítios localizados em áreas de pequenos proprietários rurais e assentamentos de reforma agrária – Serra do Urubu e Murici.

Mapa 4 – Território do Projeto PICUS, com as áreas nucleares: 1 - Complexo Trapiche, 2 – Complexo Serra do Urubu, 3 – Complexo Serra Grande, 4 – Complexo Murici e 5 – Complexo Coruripe/Guachuma. Fonte: AMANE, 2006a.

O projeto proposto pelo consórcio para um prazo de 10 anos estabeleceu um orçamento final de R$19.561.198,00, sendo R$15.361.198,00 como aporte do consórcio proponente como Recurso de Execução Direta (RED) e o restante seriam depositados em um Fundo Financeiro Comum (FDC). Esse FDC contaria com as seguintes fontes de recursos: 1/3 advindo das organizações do consórcio; 1/3 aporte do Funbio e 1/3 a ser captado conjuntamente pelo consórcio e o Funbio.

O projeto proposto pelo Consórcio liderado pela AMANE foi aprovado entre outras duas propostas, mas, antes da contratação, o Funbio decidiu pela não continuidade do Programa. O Conselho da AMANE resolveu dar prosseguimento às ações definidas no Plano de Trabalho e parte das atividades foram implementadas com recursos das próprias entidades parceiras e por meio de captação de recursos da AMANE com outros setores. Definiram-se dois focos de atuação: articulação com setor sucroalcooleiro, proprietário de fragmentos significativos de Mata Atlântica no nordeste e o desenvolvimento de ações voltadas para o desenvolvimento sustentável de populações moradoras do entorno dos principais fragmentos florestais dos seus sítios âncoras. Dessa maneira a atuação da AMANE contemplou os componentes:

Conservação da Biodiversidade, Desenvolvimento Sustentável, Políticas Públicas, Capacitação, Comunicação, Planejamento, Monitoramento e Avaliação e Gestão Administrativa e Financeira.

Ao longo de uma década de existência, a AMANE seguiu seu PICUS da Mata Atlântica do nordeste, ajustado, discutido e implementado em estreita parceria com as organizações do seu Conselho Deliberativo / Pacto Murici. Cerca de 30 projetos foram implementados com um orçamento estimado em seis milhões e quinhentos mil reais no período de 2005 a 2015, o que corresponde a 1/3 do RED proposto pelo consórcio no PICUS. Foram 16 as fontes financiadoras que podem ser divididas em cinco grupos: 1. Organizações do Pacto Murici – com a participação de 37,97% dos valores alocados; 2. o Estado de Pernambuco, por meio de editais públicos, com a participação de 9,11%; o governo federal, por meio de editais públicos como o do PDA/MMA, com a participação de 22,5%; 12,81% foi a participação de empresas, como a CELPE/NEOENERGIA, com o projeto Energia Verde, que restaurou 36 ha na RPPN Pedra D´Anta e outras organizações do terceiro setor como o Funbio e a Fundação Carlos Chagas, com a participação de 17,61%. Vale destacar que os recursos de execução indireta não foram registrados, pois, foram àqueles recursos gastos diretamente pelas organizações do Pacto Murici, em visitas, reuniões, equipamentos e apoio técnico. A AMANE contava com forte apoio nas ações de comunicação de várias organizações como a CI, a SOS, a TNC e o IA RBMA; contou ao longo dos dez anos com o apoio jurídico da SOS Mata Atlântica e apoio técnico com repasse de informações por parte de todas as organizações do Pacto.

Quadro 5 - Lista dos principais projetos realizados pela AMANE - Período de 2005 a 2015

TÍTULO FONTE INÍCIO TÉRMINO

1 APOIO INSTITUCIONAL

SOS/CI/SAVE/TNC/

WWF BRASIL 2005 2011 2 APOIO À PARTICIPAÇÃO NO VIVAMATA SOS 2005 2013 3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PACAS WWF BRASIL 2005 2007 4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PACAS SAVE 2005 2007 5 APOIO A RPPN PEDRA D´ANTA SAVE 2005 2011

6

CAPACITAÇÃO EM GESTÃO PARTICIPATIVA DE

UCs PDA/MMA 2007 2010

7

REPARTIÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA

BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA DO

NORDESTE SEBRAE 2007 2009

8 1% FOR THE PLANET VOLCON 2008 2009

9

APOIO AO PROGRAMA DE ESPÉCIES EXÓTICAS

INVASORAS TNC 2009 2009

10

REPARTIÇÃO DOS BENEFÍCIOS DA

BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA DO

NORDESTE Funbio 2009 2009

11 PRODUZIR E CONSERVAR CI 2009 2012

12 REDE DE GESTORES DO CEP PDA/MMA 2009 2011

13

MOSAICOS DE RESERVAS PRIVADAS NA APA

DE MURICI ALIANÇA / SOS 2009 2010

14 CORREDOR DE BIODIVERSIDADE - CEP CI 2010

15 ENERGIA VERDE CELPE 2010 2013

16 INVASÕES BIOLÓGICAS: EDUCAÇÃO E MANEJO FEMA 2010 2013

17

CORREDORDA MATA ATLÂNTICA DO

NORDESTE* SAVE/PDA/MMA 2010 2012

18 PRODUZINDO ÁGUA NA SERRA DO URUBU** APAC 2012 2014

19 PROJETO LIVROSPARATODOS

Fundação Carlos

Chagas 2012 2013

20

CAPACITANDO LIDERANÇAS PARA A CONSERVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DO

NORDESTE Funbio 2012 2015

21

REDE DE GESTORES DO CORREDORDA MATA

ATLÂNTICA DO NORDESTE Funbio 2013 2015 22 PLANO DE MANEJO DA ESEC MURICI ALIANÇA / SOS 2013

23

FLORESTA E ÁGUA: RECUPERANDO

NASCENTES NA BACIA DO RIO UMA ** APAC 2013 2013 24 PLANO DE MANEJO DA RPPN Pedra D´Anta ALIANÇA / SOS 2013 2013

25

GARANTINDO A CONSERVAÇÃO DA

BIODIVERSIDADE: RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA E MANEJO DE ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS

NA RPPN PEDRA D´ANTA, PE ALIANÇA / SOS 2013 2013

26

SABERES POPULARES E EXPERIENCIAS AGROECOLÓGICA NO AMBITO DA REDE DE GSTORES DO CORREDORDA MATA ATLÂNTICA

DO NORDESTE PDA/MMA 2013 2013

27 PROGRAMA APPROXIMAR ** BIOSEV 2013 2013

28

PLANO MUNICIPAL DE PROTEÇAO E RECUPERAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DE

LAGOA DOS GATOS FEMA 2014 2015

Fonte: AMANE 2005 a 2013.

Observações suplementares: *Projeto coordenado pela SAVE BRASIL em parceria com a AMANE.

** Projetos encerrados antes do término por motivos de dificuldades na gestão administrativa financeira da fonte financiadora.

Os principais resultados obtidos foram: a criação de quatro Unidades de conservação6 (ações

apoiadas pela AMANE); a elaboração de três Planos de Manejo7; dezenas de oficinas e cursos

de capacitação em temas diversos para gestores de Unidades de conservação e moradores do entorno das Unidades, contemplando cerca de mil participantes; a criação e gestão de dois centros de educação para conservação da Mata Atlântica localizados em Murici, AL, e Lagoa dos Gatos, em PE, durante cinco anos; duas bibliotecas temáticas, sendo uma em cada centro; a restauração de 36 ha de Mata Atlântica com alta diversidade no entorno imediato da RPPN Pedra d´Anta, a delimitação do CBMANE e o apoio a formação da REMA NE. A temática de capacitação foi fortalecida com o projeto de capacitação em gestão participativa de unidades de conservação na Mata Atlântica do nordeste, primeiro projeto aprovado da AMANE em edital público do PDA/MMA, colaborando com a ampliação das capacidades dos gestores de unidades de conservação e influenciando políticas públicas para a conservação e uso sustentável do bioma Mata Atlântica no nordeste. Participaram da capacitação 145 gestores

advindos de oito estados8 do Nordeste, inseridos no domínio da Mata Atlântica, nos seguintes

temas: Conservação da Biodiversidade, Geotecnologias Aplicadas à Conservação, Invasões Biológicas, Direito Ambiental, Planejamento Ambiental e Gestão Participativa, Sustentabilidade Socioambiental, Turismo Sustentável de Base Local, Ética e Resolução de Conflitos, Comunicação e Florestas Urbanas. O caráter participativo e integrador mostrou-se o fio condutor dos cursos, com um público bastante diversificado em relação à origem, escolaridade e formação. O projeto publicou um livro com a experiência, Saberes e Fazeres da Mata Atlântica do Nordeste – Lições para uma gestão participativa (AMANE, 2010).

Buscando proporcionar melhoria de trabalho e renda para populações moradoras do entorno das florestas, em Murici, e dessa forma reduzir o impacto das atividades antrópicas sobre os remanescentes florestais, foi realizado um Programa de Desenvolvimento Sustentável voltado para comunidades moradoras de assentamentos e acampamentos de reforma agrária. Com o apoio do SEBRAE AL e do Funbio, foi realizado projeto voltado à repartição dos benefícios

da biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste, que ministrou capacitações temáticas9 para

essa população, com a participação de mais de mil participantes em dezenas de cursos e oficinas. A formação de uma feira semanal em Murici e de três cooperativas de agricultura familiar no município foram os principais êxitos dessa iniciativa. Ações semelhantes foram

6 RPPN Pedra d´Anta; RPPN Vila d´Água (AL); RPPN Santa Maria (AL) e APA Aldeia Beberibe (PE). 7

ESEC Murici (AL), RPPN Pedra d´Anta e RPPN Vila d´Água (AL).

8 Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

9 Agroecologia, biojóias, artesanato com sementes, arte educação, gestão de cooperativas, associativismo e

replicadas no Complexo Florestal da Serra do Urubu, onde houve mobilização dos moradores do entorno da RPPN Pedra d´Anta, em parte concentrados no Assentamento Igrejinha.

Junto ao setor sucroalcooleiro, a AMANE atuou em parceria com o CEPAN e a CI, buscando a adequação ambiental das indústrias que detinham os maiores fragmentos florestais do território tratado, visando a redução de passivos ambientais. Foram realizadas capacitações em adequação de propriedades rurais e restauração florestal, disseminação do Guia Prático para Reflorestamento – Implementando Reflorestamentos com Alta Diversidade na Zona da Mata Nordestina (ALVES COSTA et al, 2008) e busca de parcerias para elaboração de projetos de carbono.

Buscando encontrar alternativas para reduzir a perda de biodiversidade, foi proposto ao PDA/MMA, em 2009, pela AMANE, um projeto para formação de uma rede de gestores de unidades de conservação, envolvendo os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Essa iniciativa teve a duração de dois anos e realizou encontros e oficinas nos diversos estados, implementando quatro redes virtuais, sendo uma para cada estado (AMANE, 2012). Em 2010, a AMANE, em parceria com a SAVE Brasil, desenvolve também com o apoio do PDA/MMA o projeto Corredor da Biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste, tendo como objetivo a formulação de políticas públicas para a proteção da Mata Atlântica. Realizando com esta iniciativa, por dois anos, diversos encontros de gestores em rede e formulando um mapa do Corredor, envolvendo os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Esse projeto teve continuidade com outra iniciativa proposta em resposta a novo edital do Funbio com o projeto Rede de Gestores do Corredor de Biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste. A rede virtual de gestores foi então ampliada e esteve em funcionamento até 2015, com o envolvimento de mais de 600 gestores, realizou diversos encontros presenciais em cada estado do corredor com vistas a capacitar, articular iniciativas e ações conjuntas de vários atores estratégicos. Outros resultados já foram contabilizados nesse projeto como uma base de dados, um vídeo e a publicação Saberes e Fazeres da Mata Atlântica do Nordeste – tecendo uma rede de gestores, 2012 (AMANE, 2012).