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A floresta na economia nacional

No documento Bases de ordenamento florestal (páginas 44-47)

Parte II – Caracterização sócio-económica

5. Análise sócio-económica

5.1 Caracterização sócio-económica da região

5.1.5 A floresta na economia nacional

Se ao longo da sua história, Portugal foi perdendo a Floresta que outrora teve, pode dizer-se que no século XIX começou a reconstituir a parte que perdera. Segundo Caldas (1998), em 1875 as estimativas apontavam para 370 000 hectares de Montados, 210 000 de Pinhal e 60 000 de matas diversas. Naquela época, a área florestal representava cerca de 7% do território nacional. Ainda segundo a mesma fonte, cerca de 1954, os Montados do Sul apresentavam-se cuidados, ocupando mais de 1 100 000 hectares, e o Pinhal cobria muitas áreas do Norte, do litoral ao interior, dominando cerca de 1 200 000 hectares. A área florestal estimava-se nessa época, em cerca de 30% do território. Sobre a florestação nessa época escreve ainda Caldas: “Sem se poder considerar que esta florestação fosse correcta, pode admitir-se, no entanto, que o País se encontrava honestamente florestado, com os Pinhais a servirem de “mealheiro” dos Camponeses, e os Montados de Sobro e de Azinho a produzirem Cortiça e a prestarem-se ao pastoreio de varas de Porcos que, depois de mantidos com as bolotas, ....”.

5.1.5.1. Enquadramento

Quando comparado com outros países, quer no contexto Europeu, quer mesmo à escala mundial, Portugal surge como um país especializado na actividade silvícola,

visto que estas actividades têm no nosso país e concretamente no PIBpm, um peso

superior aos valores médios europeus e mundiais (CECE, 1996).

Ainda que, desde a década de 60 se tenha feito sentir uma diminuição do peso da agricultura e silvicultura em termos económicos em Portugal, em sintonia com o que também se tem verificado em todos os países desenvolvidos, sem dúvida alguma que o complexo agro-florestal e por maioria de razão o complexo agro-alimentar (Agricultura, Silvicultura e Indústria Agro-Alimentar), detém ainda, como atrás se referiu, um peso considerável na economia em termos económicos e sociais.

Saliente-se que, para além dos produtos transaccionáveis, a floresta dá origem a outros benefícios directos e indirectos – externalidades positivas – difíceis de quantificar, mas que são cada vez mais procuradas, e aos quais começam a ser atribuídos valores monetários.

Se bem que, a actividade florestal e as actividades directa ou indirectamente relacionadas com a floresta, tenham uma relevância muito grande em Portugal, estas apresentam características diferentes para as diversas regiões.

No Alentejo, ainda que o sector terciário apresente uma dinâmica de crescimento idêntica à do país, com maior representatividade na estrutura de distribuição sectorial do VABpm (quadro 21), o facto de essa região ter a maior parte da sua

superfície destinada à agricultura e silvicultura, permite-nos caracterizá-la pela predominância do sector primário sobre os restantes sectores de actividade económica, quando comparada com as outras regiões do Continente. Essa predominância é corroborada pela sua importância no total do VABpm relativo ao

sector primário do país. Em 1993, o VABpm desse sector relativo ao Alentejo,

representava cerca de 15,4% do total do país, sendo de 14,3% do total do VABpm

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Quadro 21 – Estrutura sectorial do VABpm (%)

Primário Secundário Terciário Unidade Geográfica 1993 1996 1993 1996 1993 1996 Portugal Norte Centro LVT Alentejo Algarve 3,8 2,9 6,6 2,1 13,4 7,4 4,1 3,2 6,7 2,5 12,7 7,0 33,3 44,2 35,8 26,5 30,4 13,4 33,9 44,0 37,9 28,1 32,6 14,3 61,9 52,9 57,6 71,4 56,2 79,2 52,9 52,8 55,4 69,4 54,7 78,7 Fonte: Ministério da Agricultura, “Plano de Desenvolvimento Rural 2000-2006”, 1999.

Entre 1990 e 2001 o VAB da silvicultura decresceu 0,4%, em termos reais, mas aumentou 35% a preços correntes, para o que contribui, principalmente a produção de Madeira e de Cortiça (INE, sd). Apesar desta subida, o seu ritmo de crescimento foi, em média, inferior ao do VAB nacional, levando a uma perda relativa da silvicultura na economia nacional (quadro 22).

Quadro 22 – Valor Acrescentado Bruto, VAB, a preços correntes (base 1995) (%)

Ano 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

VAB total 100 100 100 100 100 100 100 100

VAB da agricultura 3,57 3,55 3,02 2,71 2,94 2,57 2,83 2,80

VAB da silvicultura 0,75 0,65 0,56 0,58 0,67 0,75 0,67 0,57

VAB agricultura+silvicultura 4,32 4,20 3,58 3,29 3,61 3,32 3,50 3,37

Fonte: INE - Contas Nacionais Anuais Preliminares

Entre os produtos silvícolas merece aqui uma referência especial a cortiça por o seu valor ter tido um comportamento diferenciado durante a última década. Assim, após o período de 1990-1997, em que o valor anual de produção de cortiça ficou aquém dos 160 milhões de euros, a partir de 1997 teve um crescimento significativo, com valores sempre acima dos 200 milhões de euros, chegando, mesmo, a atingir 388 milhões de euros em 2001 (INE, sd).

5.1.5.2. Aspectos económicos dos sistemas agro-florestais

Como já se referiu, a floresta tem, em termos económicos e sociais, um papel muito importante na economia Portuguesa. Nos pontos que se seguem, analisar-se-ão os efeitos directos e indirectos da actividade florestal, dando especial atenção ao caso da região Alentejo, quer em termos de produto, quer de emprego e de comércio externo. O complexo agro-florestal em Portugal ocupa uma posição importante na formação do produto primário e secundário, assim como no emprego destes sectores.

Relativamente à análise do emprego na área agrícola e silvícola, existem diversos indicadores que poderão ser utilizados. Um destes indicadores será a comparação entre o número de pessoas que exercem a sua actividade principal nesses sectores, com os empregados no conjunto dos sectores económicos. Contudo, este indicador não nos dá uma ideia correcta do emprego.

Uma abordagem alternativa para avaliar o peso do emprego no sector silvícola, será considerar os tempos de trabalho, e converter o número de pessoas empregadas no equivalente a trabalhadores a tempo inteiro. Consegue-se assim, ter uma ideia mais clara sobre o volume de trabalho que efectivamente é dedicado a essa actividade.

No quadro 23, poderá verificar-se qual o peso do volume de trabalho nos sectores agrícolas e silvícolas no Alentejo e no Continente. No nosso país, o volume de trabalho do CAF é bastante significativo, como se referiu anteriormente, não sendo no entanto a situação uniforme em todas as regiões. De facto, no caso do Alentejo, o peso do volume de trabalho proveniente da silvicultura é significativamente maior do que no Continente.

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Quadro 23 – Estrutura do VABpm e do Volume de Trabalho em 1995 (%)

VABpm Volume de Trabalho

Região

Agricultura Silvicultura Outros

Sectores Agricultura Silvicultura Outros Sectores

Alentejo 8,42 4,67 86,91 21,80 1,06 77,14

Continente 2,89 0,90 96,21 12,07 0,21 87,72

Fonte: Cálculos efectuados com base em INE, “Contas Regionais”, 1995.

Em relação ao Valor Acrescentado Bruto proporcionado pela actividade florestal e pelas indústrias florestais a nível nacional, ele representa cerca de 3,5% do total, sendo que o peso do VABpm da silvicultura no nosso país é de apenas cerca de 1%.

Mais uma vez, no caso do Alentejo este peso é substancialmente maior, quer em termos de VABpm (4,67%) quer em termos de volume de trabalho (1,06%). A

importância destas actividades para a economia da região, é realçada pelo facto do Alentejo apenas contribuir com cerca de 4,5% quer para o VAB quer para o volume de trabalho nacionais, mas em relação à actividade da silvicultura esta contribuição ser já mais de 23% (quadro 24). Dadas as características da região, grande parte do Valor Acrescentado é proveniente da produção de cortiça, ao contrário do que acontece no resto do país, onde o maior peso se refere a produção de madeiras e lenhas.

Quadro 24 – Contribuição do Alentejo para o VABpm e para o Volume de Trabalho do Continente em 1995 (%)

Actividade VABpm Volume de Trabalho

Agricultura 13,3 8,0 Silvicultura 23,5 23,3

Total 4,6 4,4

Fonte: Cálculos efectuados com base em INE, “Contas Regionais”, 1995.

Em resumo, em termos económicos, as actividades florestais contribuem em média, com 25% para o produto agrícola da região do Alentejo e ocupam 32% do território.

Relativamente à importância do sector florestal, em termos de comércio externo e tomando como referência o ano de 2004, a fileira contribuiu com cerca de 8,8% do total das exportações (cerca de 2500 milhões de euros).

O saldo comercial do sector florestal (quadro 25) é claramente superavitário (cerca de 1000 milhões de euros), sendo a cortiça e seus derivados os produtos que mais contribuem para este valor (745,2 milhões de euros).

Quadro 25 – Comércio Externo do sector florestal em Portugal (milhões €)

Exportações 2002 2003 2004 % 2004

Cortiça e derivados 903,3 895,9 874,1 34,3

Madeira, mobiliário e derivados 408,1 421,6 466,4 18,3

Pasta de papel 422,0 398,6 371,1 14,6 Papel e derivados 853,4 943,2 811,0 31,9 Pinhão 7,3 11,9 15,4 0,6 Castanha 16,6 16,0 7,8 0,3 TOTAL 2610,7 2687,2 2545,8 - Importações 2002 2003 2004 % 2004 Cortiça e derivados 139,1 169,8 128,9 8,5

Madeira, mobiliário e derivados 505,5 424,0 464,8 30,6

Pasta de papel 64,1 55,1 49,9 3,3 Papel e derivados 907,3 903,1 872,3 57,4 Pinhão 0,6 0,7 0,9 0,1 Castanha 1,5 2,0 1,2 0,1 TOTAL 1618,2 1.554,0 1518,0 - Fonte: Eurostat.

A exportação de cortiça e seus derivados em 2004 foi de 874,1 milhões de euros, correspondendo a 34,3% do total dos produtos florestais e derivados (quadro 25). A pasta de papel, o papel e derivados, corresponderam a 46,5% das exportações do sector florestal em 2004, tendo a pasta de papel contribuído com 371,1 milhões

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de euros e o papel e seus derivados com 811 milhões de euros. No entanto, a importação nacional de papel e derivados foi em 2004 de cerca de 872,3 milhões de euros, tendo este subsector contribuído negativamente, nesse ano, para a balança comercial nacional (quadro 25).

A exportação de madeira, produtos da madeira, mobiliário e seus derivados foi de 466,4 milhões de euros em 2004 (18,3% das exportações do sector florestal), apresentando uma tendência crescente da proporção deste subsector, apresentando um acréscimo da exportação, a preços correntes, de 10,6% de 2003 para 2004 (quadro 25).

A importação de produtos da madeira e derivados foi de 464,8 milhões de euros, apresentando uma ligeira redução, o que originou em 2004 um balanço comercial positivo de 1,6 milhões de euros (quadro 25).

A exportação de pinhão tem vindo a aumentar significativamente, tendo em 2004 sido de 15,4 milhões de euros (quadro 25).

A exportação de castanha é bastante variável, representando em 2002 e 2003 cerca de 16 milhões de euros anualmente (quadro 25).

No documento Bases de ordenamento florestal (páginas 44-47)