Cinegética

A aptidão de um habitat para uma dada espécie é função da adequação do meio para satisfazer as suas diferentes necessidades vitais, designadamente: alimento, abrigo (refúgio, conforto térmico, tranquilidade) e água (Ferreira et al., 2001).

A adesão de caçadores e agricultores ao chamado regime cinegético especial, particularmente nos terrenos com boa aptidão cinegética, é elevada correspondendo a área concessionada ao máximo permitido por lei ou encontrando-se muito próxima desse limite.

De entre as espécies cinegéticas consideram-se, mercê do seu interesse venatório e expressão económica que a sua exploração tem no sector, a perdiz-vermelha, o coelho-bravo, a lebre, o javali, os pombos, a galinhola, os tordos, os patos, as narcejas, a codorniz, a rola e a tarambola-dourada.

Objectivos para o território PROF

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Os montados de azinho sujeitos a uma exploração agro-silvo-pastoril equilibrada constituem, comparativamente com outros sistemas de uso múltiplo, o meio mais favorável para a perdiz-vermelha, podendo aí a espécie ocorrer em densidades que permitem boas produções.

O coelho bravo apresenta um certo eclectismo em ambiente mediterrâneo, podendo ocorrer em boas densidades tanto em formações dominadas por azinho como por sobro. Sendo uma espécie com uma dieta quase exclusivamente vegetal, parece beneficiar de uma exploração silvopastoril equilibrada, propiciadora de pastos abundantes sem que fique comprometido o necessário coberto de refúgio. A lebre, habitando originalmente estepes e paisagens abertas, povoa igualmente bosques e serras. A nossa floresta autóctone transformada pode constituir um meio com razoável aptidão para a lebre, verificando-se densidades acima da média tanto em montados de azinho como de sobro.

O javali exibe uma baixa especificidade ao habitat. Tanto pode ser caçado em elevados quantitativos em florestas autóctones transformadas como em formações florestais dominadas por exóticas. De facto, a existência de coberto de refúgio em abundância e de água livre nas imediações próximas permite, procedendo-se presumivelmente a uma suplementação alimentar continuada, alcançar densidades semelhantes às obtidas em meios florestais sujeitos a um aproveitamento silvopastoril extensivo.

Espécies muito associadas a ambientes florestais, os pombos, com especial destaque para o pombo-torcaz, encontram nos montados coberto de refúgio e biótopos de alimentação. Existindo populações nidificantes, provavelmente residentes, o efectivo sujeito a aproveitamento cinegético é muito aumentado após o fluxo migratório. O montado de sobro, designadamente quando tem boa expressão o estrato arbustivo, constitui o meio com mais forte aptidão para os pombos.

A galinhola, chegando ao Alentejo em quantidades muito variáveis de ano para ano, torna-se comum durante o Inverno em bosques com coberto arbustivo bem desenvolvido. É uma espécie eminentemente florestal, estando bem representada tanto em bosques autóctones transformados como em formações dominadas por exóticas. Contudo, é em montados de sobro, puros ou mistos, que se têm obtido melhores resultados de exploração cinegética.

Os tordos, os patos, as narcejas, a codorniz, a rola e a tarambola-dourada são espécies cinegéticas cuja abundância estará mais condicionada à existência de zonas húmidas e à prática de determinadas culturas do que propriamente aos diferentes sistemas e usos florestais. Deste modo, a sua distribuição e abundância não se relacionam directamente com descritores de habitat relativos à nossa floresta, resultando antes, predominantemente, quer do acidentado do terreno quer da utilização agrícola do meio.

Assim, é de esperar boas densidades de tordos quando nas imediações de cobertos de abrigo, como sejam montados, eucaliptais e pinhais, existam favoráveis biótopos de alimentação, onde se destacam os olivais. A abundância de patos e narcejas estará dependente da presença de convenientes massas de água, quer lênticas quer lóticas, sendo o adensamento destas espécies favorecido por campos de cultivo como sejam os arrozais. Uma elevada capacidade de suporte do meio para a rola estará condicionada à prática de culturas adequadas à espécie, tais como o trigo e/ou o girassol. Uma boa aptidão do meio para a codorniz dependerá igualmente de uma utilização agrícola, nomeadamente campos cerealíferos, de culturas regadas ou de pastagens com comunidades de ervas altas. A caça à tarambola-dourada poderá praticar-se apenas em zonas abertas, com vegetação rasteira e preferencialmente situadas nas proximidades de terrenos sujeitos a encharcamento temporário.

A expansão das espécies de caça maior depende da disponibilidade de alimento, de abrigo, de água e de tranquilidade ao longo do ano, bem como da pressão cinegética a que as populações estão sujeitas.

Objectivos para o território PROF ---

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Tomando como base o javali, tem-se verificado a sua boa adaptabilidade ao binómio culturas regadas intensivas/montado, facto que, associado à resistência a epizootias, tem contribuído para um acréscimo das populações em toda a área do PROF.

Outras espécies, com um espírito gregário mais forte e menor capacidade de dissimulação, como o veado, o gamo e o muflão, só têm tido algum êxito em zonas de acessibilidade mais difícil com dimensão suficiente para manter uma população viável, a não ser que se recorra ao confinamento das manadas/rebanhos.

De entre as acções a desenvolver para promoção do sector, destaca-se a generalização do ordenamento cinegético a todo o território, visando-se assim, nos termos da lei, através da gestão optimizada e do uso racional dos recursos cinegéticos, contribuir para o desenvolvimento regional, para a valorização do mundo rural e para a criação de riqueza nacional. Para que o ordenamento cinegético seja efectivo, será todavia necessário continuar a apoiar investigação de base relativa a bioecologia das espécies cinegéticas.

Para que o crescimento do sector seja orientado pelo e para o mercado, parece imprescindível uma caracterização detalhada da procura e da oferta, envolvendo designadamente a definição de perfis cinegéticos e sócio-económicos dos caçadores portugueses e estrangeiros que frequentam zonas de caça de interesse turístico.