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Através da discussão construída no tópico anterior sobre os referenciais teóricos e a relevância para a presente pesquisa, em que foram utilizados os descritores ("formação de professores" AND "educação de jovens e adultos" AND "Goiás"), é possível afirmar com Machado (2002) que “a formação de professores é um dos componentes da realidade complexa de efetivação de uma política de Educação de Jovens e Adultos” (p. 1). A autora continua dizendo que “entender a Educação de Jovens e Adultos como um campo pedagógico próprio e analisá-la na perspectiva da formação de seus professores constitui o exercício de identificar as categorias que o demarcam” (p. 1). Portanto, para este tópico, embasado nos documentos que serão citados abaixo (que contam resumidamente sobre a formação dos professores na década de 1990), a presente pesquisa buscará entender, sempre que possível, como os futuros pedagogos se veem como professores de alunos da EJA.

Segundo Scheibe (2008), “a partir dos anos 1980, houve progressiva remodelação do curso de graduação em Pedagogia, visando adequá-lo à formação do professor para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, no interior de uma crescente mobilização pela formação superior de todos os profissionais da educação” (p. 45). Destaca-se o que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB 9.394/1996), determinou no seu artigo 62:

[...] A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996).

Ainda de acordo com Scheibe (2008), o artigo 63 da (LDB 9.394/1996) “regulamentou os institutos de educação como local de formação de profissionais para a educação básica” (p. 45). Segundo a lei, inclui:

- o Curso Normal Superior, para formar docentes: para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental (inciso I);

- programas de formação pedagógica para formar diplomados no ensino superior que queiram se dedicar à educação básica (inciso II);

- e programas de educação continuada para os profissionais da educação, de modo geral (inciso III). (BRASIL, 1996).

A única referência que esta lei faz sobre o curso de Pedagogia está em seu artigo 64:

A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita em cursos de graduação em Pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 1996).

Ressalta-se, de acordo com Scheibe (2008), que, “para o curso de Pedagogia, a lei estabeleceu, portanto, uma condição de bacharelado, desconsiderando que o mesmo já vinha formando professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental” (p. 46). Estabeleceu-se assim, segundo Scheibe (2008), um modelo de formação com forte apelo à qualificação técnica destes profissionais, desvinculada da produção do conhecimento. Isso revela que foi necessária

[...] ampla mobilização dos educadores no sentido de reverter aquilo que a lei designou para o curso de Pedagogia. O modelo de formação em implantação pela reforma em curso colocava-se contrário aos princípios que vinham sendo articulados num movimento que amadurecia as concepções de formação com a intenção de superar tradicionais dicotomias, integrando teoria e prática, ensino e pesquisa, conteúdo específico e conteúdo pedagógico. Constituía-se neste percurso uma base comum nacional para a formação dos profissionais da educação no País sob a coordenação da Anfope (SCHEIBE, 2008, p.46). Foi assim que os Pareceres CNE/CP 05/2005, CNE/CP 03/2006 e a Resolução CNE/CP 01/2006 marcaram o fim de uma etapa importante de discussão da formação de professores. A partir desses pareceres, foram definidas as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, nas quais diz que:

[...] na sua atual formulação legal, este curso é uma licenciatura destinada à formação de professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Complementarmente, cabe-lhe formar professores para o ensino nos cursos de nível médio, na modalidade normal; professores para o ensino na educação profissional, área de serviços e apoio escolar; profissionais para as atividades de organização e gestão educacionais; e formação de profissionais para as atividades de produção e difusão do conhecimento científico tecnológico do campo educacional (SCHEIBE, 2008, p. 47). Scheibe (2008) ainda nos diz que as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia (2006) “foram exaustivamente negociadas entre os diversos atores na discussão das políticas de formação dos profissionais da educação” (p. 47), uma vez que,

para esta pesquisa, o exercício é buscar elementos que alicercem o objeto, que é a formação inicial, considerando-se a modalidade EJA. É por isso que, na sequência, o intuito será explorar os documentos normativos acerca da formação de professores.

O documento do Parecer CNE/CP 05/2005, de origem à Resolução 1, de 15/5/2006, modificado pela Resolução 3/2006, como conclusão do histórico do curso de Pedagogia no Brasil, salienta que o objetivo da maioria dos Cursos Superiores de Pedagogia é a formação profissional para que estes sejam capazes de exercer a docência na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental “nas disciplinas pedagógicas para a formação de professores, assim como para a participação no planejamento, gestão e avaliação de estabelecimentos de ensino, de sistemas educativos escolares, bem como organização e desenvolvimento de programas não escolares” (p. 5). Uma vez que, em sua base organizacional, o curso deverá dar atenção e cuidado aos princípios previstos na Constituição e nas Leis que ancoram a Educação e os cursos responsáveis por formar profissionais para atuar na área e nas diversas modalidades de ensino. Para tanto, o cuidado na aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia (2006) deverá adotar como referência:

O respeito a diferentes concepções teóricas e metodológicas próprias da Pedagogia e àquelas oriundas de áreas de conhecimento afins, subsidiárias da formação dos educadores, que se qualificam com base na docência da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental (BRASIL, 2005, p. 6).

Como princípio, as Diretrizes para o Curso de Pedagogia (2006) explicitam ser essencial para a formação do pedagogo, que este compreenda a função social e formativa, promovendo a educação para a cidadania. Compreende-se, assim, que a formação do pedagogo está pautada por estudos teórico-metodológicos e práticos em lugares escolares e não escolares. A educação como prática concreta realizada na sociedade, que atua na configuração da existência humana individual e grupal. Assim, o objeto de estudo da Pedagogia é constituído pelos processos formativos.

O curso de Pedagogia destinado à formação de professores possui objetivos relatados no Parecer CNE/CP nº 3/2006, em seu artigo 14, que trata do reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2005, que, por sua vez, trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (2006), apresenta as atividades docentes do curso relacionadas à participação e organização na gestão das instituições de ensino, abarcando:

- planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação;

- planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não escolares;

- produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não escolares (BRASIL, 2006, p. 2). Em relação à organização do curso, os licenciados, como professores formados pelo curso de Pedagogia, estarão aptos a atuar na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em disciplinas pedagógicas do nível médio, na Educação Profissional, na modalidade Normal, em unidades de ensino e ambientes não escolares. Será necessário que a organização curricular do curso compreenda também práticas de trabalho pedagógico, monitoria, estágio curricular, pesquisa e extensão, participação em atividades acadêmicas e eventos que consolidem a formação do professor. O Quadro nº 5 apresenta a estrutura do curso de Pedagogia de acordo com a descrição do Parecer que respalda as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (2006).

Quadro nº 5 - Estrutura do Curso de Pedagogia

Núcleo de estudos básicos Núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos

Núcleo de estudos integradores Sem perder de vista a

diversidade e a multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades educacionais, de reflexão e ações críticas.

Voltado às áreas de atuação profissional priorizadas pelos projetos pedagógicos das instituições e atendendo a diferentes demandas sociais.

Proporcionará enriquecimento curricular.

Fonte: Parecer que respalda as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (2006). Os objetivos dos núcleos de estudos incluem a preocupação em proporcionar aos alunos a formação teórica e metodológica, assim como a inserção na realidade social do trabalho do professor. Ainda sobre a organização curricular, um documento importante para a estrutura organizacional do curso de Pedagogia é seu Projeto Político Pedagógico, o qual deverá contemplar:

A compreensão dos processos de formação humana e das lutas históricas, nas quais se incluem as dos professores, por meio de movimentos sociais; a produção teórica, da organização do trabalho pedagógico; a produção e

divulgação de conhecimentos na área da educação que instigue o Licenciado em Pedagogia a assumir compromisso social (BRASIL, 2006, p. 12).

Considera-se importante que o profissional formado pelo curso de Pedagogia compreenda as políticas públicas que embasam as modalidades de ensino que compõem o sistema de educação brasileiro, bem como se reitera a necessidade de um trabalho guiado pela ética e acolhedor de alunos, independentemente de quais sejam suas aptidões e/ou limitações, adverte o parecer que respalda as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (2006).

A importância da formação do pedagogo supõe pensar que é preciso que as instituições de ensino superior sejam compromissadas com a produção do conhecimento científico em favor de qualificar o sistema educacional brasileiro. Dessa forma, destaca- se o Curso de Pedagogia ofertado pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás – FE/UFG como estratégia que ajuda a pensar o objeto de estudo desta presente pesquisa, uma vez que permite olhar para a formação inicial do pedagogo a partir do estágio curricular supervisionado com o recorte para a modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Acredita-se que o estágio curricular supervisionado seja um momento da formação inicial que permite pensar os desafios da docência na modalidade EJA.