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Conforme já explanado em tópico anterior, a maior extensão do Complexo

Paraisópolis é composta por imóveis de proprietários particulares, os quais, pelo

processo de ocupação e favelização ocorrido, deixaram o local e omitiram-se nos

pagamentos de taxas e tributos sobre eles incidentes.

Assim, com o fulcro de possibilitar a regularização dos imóveis, a

Prefeitura passou a incentivar a doação dessas terras para o programa, com a

remissão das dívidas tributárias.

Foi sancionada em 13 de outubro de 2005 a Lei 14.062 – regulamentada pelo Decreto 47.144, de 30 de março de 2006 – que autoriza o Executivo a receber em doação imóveis destinados ao Programa Paraisópolis e a conceder remissão de créditos tributários e anistia de multas incidentes sobre tais imóveis. Nesta hipótese, o proprietário será beneficiado pelo perdão de sua dívida. São medidas que visam incentivar o proprietário a doar o imóvel subutilizado, evitando que a Prefeitura arque com despesas de desapropriação ou que seja enfrentada a complexidade e morosidade de ações de usucapião.158

Ainda, aqueles que não possuem dívidas e desejam doar suas terras

deverão utilizar-se do instrumento de transferência do direito de construir previsto no

artigo 217 do Plano Diretor Estratégico (Lei 13.430) e artigo 26 da Lei nº 13.885/04.

158 PONTUAL, Ricardo Duarte. Proposta para o estabelecimento do plano de regularização urbanística e fundiária de núcleos habitacionais da cidade de São Paulo. Dezembro de 2006, p. 39. Disponível em

<http://www.habisp.inf.br/theke/documentos/estudosepesquisas/proposta_plano_regularizacao_urbani stica_fundiaria.pdf>. Acesso em 23 set. 2013.

O trabalho desenvolvido por Ricardo Duarte Pontual

159

, no ano de 2006,

apontava problemas decorrentes da falta de publicidade da possibilidade de doação

dos imóveis constatada pelo nível baixíssimo de adesão, além da falta de cadastro

dos compradores originais, assim como grande dificuldade para levantamento e

identificação dos proprietários de cada um dos lotes: “Convém considerar que ainda

não está definido o enquadramento legal que será utilizado para amparar a futura

transferência de áreas do município para os atuais ocupantes que se habilitarem a

ser titulados”.

Assim, a peculiaridade que envolve o projeto Paraisópolis – onde a

maioria dos imóveis não é público – traz novos desafios a serem enfrentados para

alcançar a regularização.

Ainda, em material disponibilizado pela Rádio Paraisópolis

160

, em maio de

2008, consagrou-se a promoção da regularização urbanística das áreas públicas

municipais ocupadas por população de baixa renda, através da outorga de termos

de Concessão de Uso para Fins de Moradia, nas seguintes formas:

(...) segurança da posse:

posse legalizada, através da outorga de termos de concessão ou autorização de uso;

registro das áreas e dos termos de concessão ou autorização nos CRIs. integração formal das áreas na cidade:

endereço oficial; IPTU;

facilitação do acesso oficial a serviços públicos (água, esgoto, etc.).

Na matéria é tratada a regularização fundiária como forma de intervenção

nas áreas particulares – peculiaridade do Projeto Paraisópolis – com construção de

unidades habitacionais para reassentamento de famílias, através de dois institutos

jurídicos principais, o primeiro que possibilita e estimula as doações, e, o segundo

por meio da desapropriação de 190 mil m².

159 Ibidem.

160 Disponível em SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Programa Paraisópolis. Regularização Fundiária. Política Habitacional da Cidade de São Paulo. Disponível em <http://paraisopolis.org/wp- content/uploads/2008/05/Regulariza%C3%A7%C3%A3o-Fundiaria-Conselho-Gestor.pdf>. Acesso em 18 out. 2013.

Tem direito à concessão de uso especial para fins de moradia aquele que,

nos termos da Medida Provisória 2.200/01 em seu artigo 1º:

Aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.

Já a concessão de direito real de uso é faculdade do Poder Público

mediante a existência de utilidade pública ou interesse social, através de autorização

legislativa, podendo ser concedida a título gratuito ou oneroso, e, pelo prazo

indeterminado ou determinado.

Na concessão do direito real de uso há discricionariedade em relação à

restrição temporal desta, uma vez que há faculdade do Poder Público em fixar se é

onerosa e por prazo determinado, com duas possibilidades de finalidade: a utilidade

pública ou a moradia. Enquanto a concessão de uso especial para fins de moradia é

direito subjetivo, sempre implica prazo indeterminado, sendo gratuita e

obrigatoriamente tem a finalidade exclusiva de moradia.

Além destes instrumentos, serão utilizadas as diversas modalidades de

usucapião, sendo elas exaustivamente explanadas no item 3.3, o usucapião especial

de imóvel urbano (posse por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até

duzentos e cinquenta metros quadrados situado em área urbana, utilizando-o para

sua moradia ou de sua família, desde que não seja proprietário de outro imóvel

urbano ou rural), plúrima (vários autores contra um mesmo com a área de cada um

descrita em croqui com individualização) e coletivo (diversos autores que com o

sucesso tornar-se-ão condôminos na propriedade do imóvel sem margem de

delimitação).

161

161 SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Op. cit. Disponível em <http://paraisopolis.org/wp- content/uploads/2008/05/Regulariza%C3%A7%C3%A3o-Fundiaria-Conselho-Gestor.pdf>. Acesso em 18.10.2013.

Além destes mecanismos, o Poder Público conta com todas as inovações

da Lei Minha Casa Minha Vida que determina a adoção de dois mecanismos na

implantação da regularização:

Demarcação urbanística: procedimento administrativo pelo qual o Poder Público, no âmbito da regularização fundiária de interesse social, demarca imóvel de domínio privado, definindo seus limites, área, localização e confrontantes, com a finalidade de identificar seus ocupantes e qualificar a natureza e o tempo das respectivas posses;

Legitimação de posse: ato do Poder Público destinado a conferir título de reconhecimento de posse de imóvel objeto de demarcação urbanística, com a identificação do ocupante e do tempo e natureza da posse.

O Poder Público responsável pela regularização fundiária de interesse social poderá lavrar auto de demarcação urbanística, com base no levantamento da situação da área a ser regularizada e na caracterização da ocupação162.

Dessa forma, muito embora o projeto Paraisópolis tenha sido iniciado em

2006 e a lei citada seja de 2009, ou seja, três anos posterior, é plenamente possível

que, diante do número de providências adotadas de 2009 até agora, pelo

desenvolvido em etapas do projeto, tal mecanismo também seja utilizado.