Conforme desenvolvido neste trabalho, os movimentos sociais foram os
grandes responsáveis por pressionar as entidades políticas a garantir e desenvolver
programas sociais. No caso do projeto Paraisópolis identificam-se diversos agentes
comunitários sociais envolvidos. Pela simples consulta a própria secretária da
Habitação de São Paulo aponta para diversas entidades do terceiro setor que
desenvolvem programas sociais, principalmente nas áreas de saúde e educação,
bem como às entidades representativas de grande força: União de Moradores e do
Comércio de Paraisópolis, União de Moradores da Comunidade Porto Seguro e
União de Moradores do Jardim Colombo.
Contudo, utilizando como base o levantamento oficial realizado pela
Hagaplan/Sondotécnica em 2005, quanto à participação associativa daquela época
é apontado grau baixíssimo.
Tabela 9 – Distribuição dos grupos familiares
Participação Paraisópolis Porto Seguro Jardim Colombo Total
Nº
Casas % CasasNº % CasasNº % CasasNº %
Participa 2.085 15,60% 136 34,00% 732 29,22% 2.953 18,10%
Não Participa 11.266 84,30% 264 66,00% 1.767 70,54% 13.297 81,80% Sem
Informação 14 0,10% 0 0,00% 6 0,24% 20 0,10%
Total 13.365 100,00% 400 100,00% 2.505 100,00% 16.270 100,00% Fonte: SÃO PAULO/HAGAPLAN/SONDOTÉCNICA (2005)210
210
SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Organização social. Perfil socioeconômico. Secretaria Municipal de Habitação. Disponível em
Tabela 10 – Distribuição dos motivos da não participação em entidades e associações dos grupos familiares
Motivo da Não Participação
Paraisópolis Porto Seguro Jardim Colombo Total
Qtde. % Qtde. % Qtde. % Qtde. %
Não Tem Tempo /
Trabalha 5.734 50,90% 86 32,58% 926 52,41% 6.746 50,70% Não Conhece Nenhuma 3.698 32,82% 124 46,97% 517 29,26% 4.339 32,60% Não Acha Importante 988 8,77% 17 6,44% 179 10,13% 1.184 8,90% Não Confio 268 2,38% 8 3,03% 37 2,09% 313 2,40% Outro 543 4,82% 29 10,98% 96 5,43% 668 5,00% Sem Informação 35 0,31% 0 0,00% 12 0,68% 47 0,40% Total 11.266 100,00% 264 100,00% 1.767 100,00% 13.297 100,00% Fonte:SÃO PAULO/HAGAPLAN/SONDOTÉCNICA (2005)211
Ou seja, observa-se do levantamento efetuado em 2005 que grande parte
dos moradores sequer conhece alguma associação.
Contudo, deve-se observar que tal levantamento é datado de 2005, anos
após os trabalhos comunitários e sociais do terceiro setor na favela, porém, prévio à
intervenção municipal.
Maria Gloria Gohn identifica uma nova forma de associativismo voltado
exclusivamente para o plano urbano:
O destaque que registramos é que há um novo associativismo, localizado prioritariamente no urbano, e ele é novo na forma de se organizar, nas demandas e nas práticas desenvolvidas. Ele é ativo e propositivo, não se limita às camadas populares, atua em rede e se articula com uma nova esfera pública, criando espaço de interlocução, debates, pro- posições. Esse associativismo é herdeiro da trajetória de inúmeros sujeitos sociopolíticos na sociedade civil brasileira, representados por movimentos sociais, ONGs, associações de moradores, CEBS e outras entidades. A herança da militância em movi- mentos sociais nos anos 1970/80 deixou <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/paraisopolis/estatisticas/index.php?p=4 412>. Acesso em 12 out. 2013.
211 SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Op. cit. Disponível em
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/paraisopolis/estatisticas/index.php?p=4 412>. Acesso em 12 out. 2013.
marcas diferenciadas. A influência das práticas da ala progressista da Igreja junto à organização popular fez do tema da autonomia um recurso estratégico, utilizado de diferentes formas pelos movimentos. Abrem- se, com isso, possibilidades para uma participação com controle social mais efetivo, menos cooptada e menos caudatária das redes de clientelismo.212
Aplicando tais conceitos ao caso em exame discorre a autora:
Na região do novo Morumbi, também em 2005, concentravam-se 30 das 89 Associações de Moradores da região do Butantã, sendo que 12 pertenciam a núcleos de favelas (várias delas têm o nome favela no próprio nome da entidade). As entidades que se destacam e predominam nos jornais de bairros são as localizadas nas áreas nobres. As associações de favelas localizadas em Paraisópolis, Real Par- que, Jardim Panorama são as entidades comunitárias populares das favelas mais famosas da região. Há associações de moradores de favelas na região do novo Morumbi que são mais recentes, como a AMACOL (Associação de Moradores e Amigos do Jardim Colombo), e outras mais antigas, como a União dos Moradores do Jardim Colombo e a Comunidade Jardim Colombo. As principais reivindicações dessas entidades são: canalização de córregos, bocas de lobo, asfalto, obras para conter enchentes etc. Mas há também uma demanda fora do rol infraestrutura: a construção de uma biblioteca pública, algo notável se considerarmos o perfil dos moradores associados da AMACOL.213
Assim, apesar dessas associações visarem melhorias urbanísticas à
população, as mesmas ocupam um lugar de destaque para a inclusão social da
comunidade, promovendo e apoiando programas sociais importantes.
Com o passar do tempo, outra vertente destas associações foi
reconhecida, a de viés político já que, em 2005, um ex-presidente da União de
Moradores e do Comércio de Paraisópolis elegeu-se a vereador de São Paulo.
Assim, ser líder da associação passou a causar efeitos não só dentro
mas fora do complexo político da favela. Foi adotado o regime de eleição bienal para
ocupação da presidência da associação, a qual sofre assédio de diversos grupos
político-partidários.
Toda essa situação cria um forte impacto no papel antes local da
associação:
212 GOHN. Op. cit., 2010, p. 267. 213 Idem, p. 270-1.
Durante a campanha eleitoral de 2008, por exemplo, a União de Moradores sistematizou suas demandas em três reivindicações: urbanização com garantia de moradia para todos, educação (da alfabetização à universidade) e qualificação para um emprego com carteira assinada214.
Criada em 1983 pela necessidade da defesa da comunidade contra a
ideia de remoção das famílias e construção de um complexo viário, desde 2003 a
União trouxe melhorias significativas na questão da educação da comunidade,
considerada como uma das mais delicadas.
A questão educacional é crítica na favela de Paraisópolis, pois, em 2008, havia ainda 5000 crianças fora da escola. Em 2008, foi inaugurado um CEU (Centro Educacional Unificado),com capacidade para atender a 2,8 mil alunos; mas dados de 2009 indicam que 54% da população da área possuíam apenas o ensino fundamental, e só 7% ingressaram no ensino do terceiro grau. (Datafolha, 2007). Em 2005, por meio de um projeto de urbanização da prefeitura municipal e contando com o apoio de dados da SEHAB, “descobriu-se” que a favela tinha 15 mil analfabetos, cerca de 19% da sua população215.
Com o apoio de diversas entidades privadas e o pontapé inicial do Rotary
Clube do Campo Limpo, a União implantou, em 2007, o projeto de alfabetização
Escola do Povo, que desencadeou muitas outras medidas educacionais em nível de
segundo grau, cursos técnicos e até superiores.
Nesta esteira merece destaque o convênio do Instituto Mackenzie para
vagas no Prouni e manutenção de um cursinho pré-vestibular na comunidade.
No decorrer do tempo, muitas foram as conquistas obtidas em
Paraisópolis e apenas um capítulo não seria suficiente para listá-las, sendo elas não
apenas que visam à melhoria do setor da educação, mas também pertencentes ao
núcleo de saúde, propagação da cultura, desenvolvimento de esportes, além da
conquista de uma rádio e um jornal locais.
Outro movimento reconhecido no complexo é o da Associação de
Mulheres de Paraisópolis, a qual é acolhida pela União.
214 GOHN. Op. cit., 2010, p. 274. 215 Ibidem.
Em 2013, a União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis
completou 30 anos e a celebração foi integrada à 5ª semana cultural e esportiva do
bairro, que contou com a presença do secretário de Direitos Humanos e Cidadania,
Rogério Sottili, e o coordenador de Políticas para Juventude da SMDHC, Gabriel
Medina.
Nas palavras do secretário Rogério Sottili:
Papel da entidade na comunidade é um exemplo para o Brasil.
Queria prestar uma homenagem às organizações e aos movimentos sociais em nome da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, porque o que a União fez por Paraisópolis e por São Paulo é um exemplo para todo o Brasil.
[...]
Costumo dizer que, se todas as organizações da sociedade civil parassem por um mês, o nosso país não seria mais o mesmo. Muitas coisas entrariam em colapso. Um exemplo disso é o que a União dos Moradores e do Comércio já realizou na comunidade, como as panificadoras, a estação de rádio e as escolas de música.216
Tem-se que na visão deduzida pelos representantes dos órgãos públicos
o papel das Associações não só é benéfico como é essencial, responsável por
muitos avanços na urbanização e no desenvolvimento do bairro da zona sul.
Contudo, o resultado da pesquisa de Tiaraju D’Andrea indicou que a
interlocução através dessas Associações com apenas uma voz para a
representação de toda uma comunidade como uma dificuldade reclamada pela
comunidade no contato entre população e governo.
No que tange à participação da população, muitos moradores apontam que a urbanização de Paraisópolis ocorre sem reuniões regulares do Conselho Gestor, e que, mesmo quando essas ocorrem, é muito difícil a população fazer prevalecer seus interesses nesse fórum217.
216
SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Op. cit. Disponível em
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/paraisopolis/estatisticas/index.php?p=4 394>. Acesso em 12 out. 2013.
217
Ainda, a impressão populacional é que mesmo onde há reuniões, as
reivindicações populacionais não são atendidas.
Nesse raciocínio, Tiaraju apontado como fundamental para o
enfraquecimento da comunidade ser a sua a representação feita pelas associações
que nem sempre, segundo o autor, permitem a participação efetiva da opinião da
população nas decisões.
Já Maria da Glória Gohn prestigia em seu discurso o papel social e
político das associações.
Respeita-se a opinião de ambos os autores sobre o papel das
Associações nas favelas e mais uma vez a falta de dados não permite uma
atualização à pesquisa realizada em 2005 para que seja realmente observado o
número de pessoas que se vincularam às associações e se sua voz é por elas
ouvida e reproduzida de forma fiel.
Tem-se, ainda, que dentre as nove obras em andamento, uma delas tem
o intuito de integrar ainda mais à comunidade pela construção de um Pavilhão
Social.
De acordo com levantamento da União de Moradores de Paraisópolis, cerca de 30% dos moradores, ou seja, aproximadamente 30 mil habitantes da comunidade, tem lazer, estudam e trabalham exclusivamente em Paraisópolis, haja vista que existem 8 mil comércios na comunidade.
Para integrar essa parcela de moradores – que tem intensa participação – e a comunidade de modo geral, será implantado o Pavilhão Social. Um espaço destinado às reuniões, eventos e atividades que vão integrar também oito ONGs (Organizações Não-Governamentais) da região.218
Na visão do líder comunitário Gilson Rodrigues, a medida contribuirá para
que Paraisópolis mostre-se mais forte e unida, avançando para o reconhecimento
como Bairro Nova Paraisópolis.
218 SÃO PAULO. Prefeitura Municipal. Conjunto de nove intervenções em Paraisópolis vai beneficiar 20 mil famílias. Investimento é de cerca de R$ 90 milhões em infraestrutura, urbanização e unidades habitacionais. Secretaria Municipal de Habitação. Disponível em <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/noticias/?p=156093>. Acesso em 20 nov. 2013.