O recente levantamento do panorama nacional da habitação atual
efetuado através dos dados fornecidos pelo CENSO 2000 em comparação com o
CENSO 2010, de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa, e
com parâmetros por eles fixados,demonstra claramente que passos em direção à
inclusão social estão sendo dados, guiados pelas novas leis e com apoio nas
políticas públicas encampadas.
O enfoque nestes resultados possibilitará a análise da evolução
urbanística de São Paulo através das políticas públicas, conforme Patricia Roguet e
Roberta Dib Chohfi.
120
GARCIA, Candelária Maria Reyes, IMPARATO, Ellade, SOARES, Natália Romno O desafio das remoções.Revista Magister de Direito Ambiental e Urbanístico.Porto Alegre: Magister, 2005. v.1 (ago/set 2005). Bimestral v. 33 (dez/jan/2011), p. 12-3.
121
ROGUET, Patrícia; CHOHFI, Roberta Dib. Políticas públicas e moradia: rumo à concretização do direito à cidade? In: SMANIO; BERTOLIN. Op. cit., 2013.
122
O comparativo dos resultados dos estudos realizados em 2000 e 2010
demonstra que houve a elevação da cota de “domicílios com energia elétrica” no
parâmetro nacional de 94,50% (noventa e quatro vírgula cinquenta) por cento em
2000 para 98,70% (noventa e oito vírgula setenta) em 2010, sendo variáveis os
percentuais por região no país, contudo, uníssona a majoração no período
123.
De igual forma, houve a majoração do número de “domicílios particulares
permanentes abastecidos por rede geral de água”, com crescimento de 77,80%
(IBGE, 2000) para 82,90% (IBGE, 2010), em relação ao território brasileiro,
mantendo-se o mesmo resultado positivo nas demais regiões nacionais
124.
Tal majoração, por óbvio, demonstra a inclusão social havida no período.
As mesmas autoras identificaram valores positivos quando analisaram o
número de “domicílios particulares ligados de forma permanente à rede de esgoto ou
fossa séptica” os quais alcançaram a diferença de 4,90% (quatro vírgula noventa por
cento) comparados os resultados de 2000 e 2010 ao longo do país
125.
Como exceção ao resultado nacional apresentado, apenas a região norte
demonstrou regressão neste sentido, já que em 2010 localizou 32,8% (trinta e dois
vírgula oito por cento) de “domicílios particulares permanentes ligados à rede de
esgoto ou fossa séptica”, enquanto em 2000 contava com 35,6% (trinta e cinco
vírgula seis por cento) das suas moradias nesta situação, apresentando um
decréscimo de quase 10% (dez por cento)
126.
No mesmo sentido, houve a diminuição dos “domicílios particulares
permanentes sem banheiro”, onde o parâmetro nacional de 5,7% (cinco vírgula sete
por cento) de 2000 baixou para 2,6% (dois vírgula seis por cento) em 2010
representando a queda do índice abaixo da metade em 10 (dez) anos
127.
123 IBGE. Censo 2000 e Censo 2010. 124 Ibidem. 125 Ibidem. 126 Ibidem. 127 Ibidem.
Tal impacto foi ainda maior se analisada de forma isolada a questão do
Nordeste que em 2000 possuía 23,6% (vinte e três vírgula seis por cento) de suas
moradias particulares permanentes sem banheiro, reduzindo drasticamente esta
realidade para 7,8% (sete vírgula oito por cento) em 2010
128.
Apesar desta grande redução e melhoria, identificou-se no censo 2010
que o país possui 32.456 (trinta e duas mil quatrocentas e cinquenta e seis)
moradias sem banheiro no território nacional, sendo que quase metade destas
unidades (15.756 – quinze mil setecentos e cinquenta e seis) concentra-se no
Nordeste
129.
A conclusão das autoras é que, de fato houve melhora nas condições
sociais dos domicílios particulares permanentes nacionais se comparados aos dados
da década anterior, contudo, ainda persistem motivos suficientes para preocupação.
O Censo 2010 concluiu pela existência de 57.427.999
130(cinquenta e sete
milhões, quatrocentos e vinte e sete mil e novecentos e noventa e nove) domicílios
particulares ocupados, dentre eles 3.224.529 (três milhões duzentos e vinte e quatro
mil quinhentos e vinte e nove) em aglomerados subnormais
131.
Nesta mesma esteira, encontram-se os números de pessoas
pertencentes à população nacional residentes em “domicílios particulares ocupados”
representando 190.072.093 (cento e noventa milhões, setenta e dois mil e
novecentos e três) pessoas, sendo que deste total 11.425.644 (onze milhões,
128IBGE. Censo 2000 e Censo 2010. 129 Ibidem.
130 Ibidem. 131
Segundo os dados disponibilizados pelo IBGE, considerou-se como aglomerado subnormal um conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificação dos aglomerados subnormais foi feita com base nos seguintes critérios: a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); e b) Possuírem pelo menos uma das seguintes características: • urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos; e • precariedade de serviços públicos essenciais. Os aglomerados subnormais podem se enquadrar, observados os critérios de padrões de urbanização e/ou de precariedade de serviços públicos essenciais, nas seguintes categorias: a) invasão; b) loteamento irregular ou clandestino; e c) áreas invadidas e loteamentos irregulares e clandestinos regularizados em período recente.” IBGE. Censo 2010. Características urbanísticas do entorno dos domicílios, 2011.
quatrocentos e vinte e cinco mil, seiscentos e quarenta e quatro) de pessoas está
nos chamados “aglomerações subnormais”
132.
Mais de onze milhões de pessoas – 6% (seis por cento) da população
nacional – ainda se encontra em “aglomerados subnormais”, espalhados pelo país.
As autoras também apontam a existência de 3.224.529 (três milhões,
duzentos e vinte e quatro mil quinhentos e vinte e nove) “domicílios particulares
ocupados em aglomerados subnormais”, sendo o índice com maior concentração
destes encontrado no Sudeste do país, sendo que São Paulo ocupa o primeiro lugar
e é seguido pelo Rio de Janeiro
133.
É certo que tal situação justifica-se pela migração da população aos
grandes centros em busca de empregos e desenvolvimento, causando o
crescimento desordenado de áreas superlotadas com imóveis supervalorizados.
Assim, a conclusão das autoras com base nos dados fornecidos pelo
IBGE por meio dos censos demográficos analisados é que a preservação de 6% da
população em favelas é inadmissível não apenas pelo Direito Constitucional à
moradia, mas contraria os princípios e pressupostos da função social da propriedade
e o mínimo existencial, causando danos reflexos a toda a sociedade pela baixa
qualidade de vida da população marginalizada, além de danos ambientais ao
perímetro ocupado.
134 132 IBGE. Censo 2010. 133 Ibidem. 1344 AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ASSEGURAR O DIREITO À MORADIA
POR MEIO DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE INTERESSE SOCIAL
Especificamente para o tema objeto da presente dissertação, tem-se a
previsão constitucional para política de desenvolvimento urbano na Constituição de
1988:
Art. 182 – A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º – O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º – A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º – As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º – É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I – parcelamento ou edificação compulsórios;
II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Atentando para os ditames constitucionais supra, foi elaborado o Estatuto
das Cidades sob forma da Lei nº 11.257/2001,
135a qual estabeleceu as diretrizes da
política pública urbana e disciplinou os instrumentos para tanto.
Além disso, houve o recente advento da Lei nº 11.977/2009,
136que
contribuiu não só regulamentando, como também criando novos mecanismos para
viabilizar a necessária inclusão urbana nacional.
135 BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso 15 jan. em 2013.
136
______. Lei nº 11.977, de 7 DE JULHO DE 2009. Conversão da Medida Provisória nº 459, de 2009. Vide Lei nº 12.868, de 2013. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas; altera o Decreto-Lei no