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2. GEOGRAFIA e TURISMO: reflexões teóricas e revisão de literatura

2.6 A geografia sergipana e os estudos costeiros

Em Sergipe, as pesquisas geográficas relacionadas à zona costeira têm como marco inicial o trabalho Áreas agrícolas subcosteiras do Nordeste Meridional do professor José Alexandre Felizola Diniz. A obra, desenvolvida pela UFS em convênio com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), insere-se no contexto da Regionalização Agrária do Nordeste. A preocupação inicial de Diniz (1981) é com a litoraneidade e ocupação do espaço. De acordo com Diniz (1981), os principais elementos que compõem a litoraneidade são: o povoamento antigo, o clima quente úmido, solos pobres e relevo suave. Sendo assim, o autor explica:

O fato de estar junto ao mar lhe dá a fisionomia própria e explica uma série de fatos ligados à ocupação do espaço. Não que o importante seja o mar propriamente dito, ou melhor, apenas ele em si, mas um conjunto de características associadas a essa posição, quer de relevo e de solo, quer de clima, de povoamento ou atividade econômica. Não podemos esquecer que a posição marítima foi extremamente importante na fase de povoamento, e que aí se implantaram os primeiros núcleos de colonização. Devem-se considerar também os solos pobres, lixiviados pela intensa pluviosidade que aí ocorre. (DINIZ, 1981, p.43).

Dentre as conclusões mais relevantes, a pesquisa de Diniz (1981) argumenta a necessidade de reordenamento do uso do solo urbano, através de legislação rigorosa com o intuito de regular e compatibilizar os diversos padrões de uso de ocupação do espaço, evitando assim, a especulação imobiliária. Diniz (1981) ressalta também em suas conclusões elementos que vão além da litoraneidade, como por exemplo, as condições socioeconômicas do litoral do Nordeste Meridional:

Além da litoraneidade há outras características que dão certo grau de homogeneidade à área estudada: a pobreza, os acentuados contrastes sociais, a violência na luta pela sobrevivência. E nesse aspecto fica reproduzida a situação geral da problemática nordestina (e também de grande parte do Brasil), com todas as dificuldades no encontro de soluções para uma crise que se eterniza. (DINIZ, 1981, p.47).

A temática referente ocupação do espaço, bem como suas transformações é também abordada no estudo de França (1988). A referida pesquisadora analisa as transformações espaciais da ocupação do espaço litorâneo de Sergipe em relação à cocoicultura e tem como suporte metodológico a teoria de Von Thunen. França (1988) destaca também as vias de acesso e a valorização dos terrenos litorâneos como fortes elementos indutores de mudança no espaço rural do litoral sergipano:

Recentemente, a produção do coco-da-baia vem sendo ameaçada diante da valorização de áreas litorâneas e da abertura de estradas, que, num primeiro momento, são implantadas como finalidade de escoar a produção. Na realidade, essas estradas contribuem decisivamente para a redução dos coqueiros, já que as facilidades de acesso à orla marítima conduzem a uma utilização da área para o turismo e o lazer. (FRANÇA, 1988, p.11).

No âmbito das discussões das políticas territoriais na zona costeira sergipana, Souto (1997) realiza um apanhado geral dos programas de desenvolvimento implantados na região Nordeste a partir da década de 70, enfatizando a construção do Terminal Portuário Marítimo e o Platô de Neópolis, em Sergipe.

No tocante a pesquisas com ênfase nos estudos ambientais e desenvolvimento sustentável destaca-se a Tese de Wanderley (1998), cujo trabalho apresenta uma proposta de proteção ambiental e de desenvolvimento sustentável para o Litoral Sul de Sergipe. Wanderley (1998) faz uma breve revisão dos estudos de meio ambiente costeiro em Sergipe

inserindo a APA Litoral Sul nas políticas nacionais e estaduais de meio ambiente e de desenvolvimento turístico. Com relação às transformações do espaço no Litoral Sul de Sergipe, Wanderley (1998) conclui:

Em termos gerais, a área vem apresentando nos últimos dez anos uma tendência de reversão das atividades tradicionais baseadas na agricultura e pesca, buscando alternativas para a ocupação da mão-de-obra e obtenção de renda da terra através de negócios imobiliários. (WANDERLEY, 1998, p.376).

A temática do turismo sustentável é evidenciada pelos professores Vieira e Jorge (2001) com a pesquisa intitulada Turismo Sustentável no Litoral Sul de Sergipe: zoneamento

dos aspectos ambientais e impactos associados. Vieira e Jorge (2001) apresentam

informações relevantes para a modalidade do turismo sustentável no relatório apresentado à Fundação de Amparo a Pesquisa de Sergipe (FAP/SE). O relatório elabora um diagnóstico dos aspectos ambientais e do turismo no Litoral Sul de Sergipe (Itaporanga e Estância), analisando como esses elementos podem contribuir para a sustentabilidade da atividade, conseqüentemente para a elaboração de um Plano de Monitoramento. Uma das contribuições mais relevantes apresentada nas pesquisas de Vieira e Jorge (2001) é a análise macro- ambiental do turismo sustentável no Litoral Sul de Sergipe, destacando as oportunidades e ameaças.

De acordo com Vieira e Jorge (2001), as principais oportunidades para o Litoral Sul de Sergipe são: a capacidade de atração das zonas litorâneas, a existência de patrimônio turístico, o reconhecimento da importância do turismo pelas comunidades e a valorização do produto turístico nordestino. E as principais ameaças referem-se aos seguintes elementos: uso e ocupação irregular do solo litorâneo, aumento da exploração indevida dos recursos naturais (dunas e mangues), crescimento da carcinicultura, sobreposição de costumes e culturas, e deficiência do planejamento integrado turístico.

A obra de Carvalho (2004), defendida como Dissertação de Mestrado no NPGEO da UFS, caracteriza a carcinicultura na zona costeira do estado de Sergipe, identificando a distribuição geográfica dos estabelecimentos produtivos, os sistemas de cultivo e as práticas de manejo mais utilizadas. Em seu estudo, Carvalho (2004) faz uma caracterização física e biológica da zona costeira de Sergipe e identifica cerca de sessenta empreendimentos de carcinicultura em produção no Estado. Além disso, Carvalho (2004) conclui que o cultivo de camarão na zona costeira sergipana deve respeitar sua vocação natural e ambiental, sendo necessário o seu ordenamento territorial, embasado em três conjuntos de atividades:

1) A caracterização do meio biótico, abiótico e antrópico e o correspondente diagnóstico do cenário ambiental a partir das avaliações inter-relacionadas dessas

áreas temáticas; 2) o planejamento, que o orienta, regulamenta, sugere e define normas, regras e procedimentos para proteger, preservar, usar adequadamente e racionalmente o território e seus recursos; e 3) a gestão, que aplica, implementa, administra o que foi estabelecido no planejamento. (CARVALHO, 2004, p. 145).

Outra contribuição relevante especificamente para os estudos de geografia turística é a obra Turismo como alternativa de desenvolvimento regional de Genicelma Saturnino dos Santos. Santos (2005) analisa a importância do turismo como alternativa de desenvolvimento regional, considerando as potencialidades e limitações do Litoral Sul de Sergipe. Em sua pesquisa de campo, a autora resgata e organiza importantes fontes de dados, apresentados em quadros sintéticos, tais como: problemas da comunidade, procedência dos turistas, potencialidades turísticas e como o turismo é visto pelos moradores e veranistas.

No tocante ao ordenamento territorial destaca-se o trabalho de Carvalho e Fontes (2006). As referidas professoras realizam um estudo ambiental da zona costeira sergipana fornecendo subsídios ao ordenamento territorial deste recorte espacial. Para tal, os estudos foram conduzidos para a caracterização física e biológica da área. Nesta pesquisa Carvalho e Fontes (2006) constatam a importância dos recursos ambientais e socioeconômicos da zona costeira sergipana, sendo necessário a aplicação de um gerenciamento integrado buscando compatibilização do desenvolvimento econômico e a capacidade de suporte da área.

O tema valoração das praias sergipanas foi tratado pela geógrafa Vargas (2006). A pesquisa teve como objetivo principal avaliar a percepção dos usuários do litoral sergipano sobre os sistemas ambientais, bem como realizar um diagnóstico sócio-econômico e de valoração ambiental das praias de todo o litoral sergipano. Na variável de percepção e valoração ambiental das praias foram verificados e analisados os seguintes elementos: qualidade da praia, segurança, atrativos, problemas e conceito das praias, praia como objeto de consumo e praia como direito do cidadão.

Outro importante trabalho sobre a carcinicultura é a Tese de Doutorado de Marluce Rocha Melo de Souza (2007). A obra está preocupada com as transformações do espaço e os impactos decorrentes das atividades de carcinicultura no complexo estuarino-lagunar do Rio São Francisco de Sergipe. Marluce de Souza (2007) estuda a carcinicultura no contexto das temáticas geográficas, bem como a dinâmica socioeconômica e ambiental do complexo estuarino-lagunar do São Francisco. A pesquisa traz significativas contribuições para o estudo do Litoral Norte de Sergipe, pois além de discutir os impactos sócio-econômicos, ecológicos e ambientais na zona costeira sergipana mapeia através de georeferenciamento todos os viveiros instalados no referido complexo.

Por sua vez, Juliana Souto Santos (2007) tem como foco de análise a relação campo- cidade no Litoral Sul Sergipano. Santos (2007) analisa a dinâmica regional no Litoral Sul Sergipano caracterizando alguns aspectos do terceiro setor. A autora argumenta que a partir do PRODETUR-NE os mananciais naturais das cidades do Litoral Sul estão sendo aos poucos revelados, e aos olhos dos idealizadores há grande potencial para o turismo, devendo uma infra-estrutura ser planejada para gerar desenvolvimento local e sustentável.

Reforçando os estudos de Juliana Santos (2007) e aprofundando a compreensão dos significados dos objetos geográficos impactantes, como é o caso das obras de engenharia, capazes de gerar fluidez e modificar a paisagem e a configuração territorial, Max Santos (2008) estuda as transformações paisagísticas, territoriais e sócio-geográficas ocorridas no município de Barra dos Coqueiros a partir da construção da ponte Construtor João Alves sobre o Rio Sergipe. Dentre as conclusões de Max Santos (2008) cabe ressaltar que:

A operação da ponte tem reflexos positivos no que diz respeito à facilitação do transporte, à mobilidade das pessoas, ao acesso para um comércio mais diversificado na capital, ao aumento do fluxo turístico e a valorização imobiliária. Entretanto se, esses reflexos podem ser positivos para um determinado segmento da população, para outros e também para o meio ambiente, podem ser encarados como negativos. As conseqüências associadas a essa operação já estão sendo assistidas e muito provavelmente serão intensificadas com a evolução do tempo (MAX SANTOS, 2008, p. 131).

Considerando a gestão deficitária da Apa Litoral Sul, bem como sua degradação nos últimos anos, Oliveira et al. (2008) selecionaram 21 indicadores de sustentabilidade para subsidiar a gestão do turismo nessa unidade de conservação. A pesquisa concluiu que os indicadores de sustentabilidade se configuram como instrumentos que podem auxiliar na reelaboração do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Litoral Sul e garantir a sustentabilidade do turismo na região.

A temática referente ao ordenamento territorial do litoral sergipano continua em evidência com a ampla pesquisa bibliográfica de Vilar (2008). Em seu trabalho, Vilar (2008) analisa o litoral de Sergipe a partir da revisão dos estudos elaborados pela comunidade geográfica sergipana ou referenciados pela literatura geográfica estadual, sendo assim, o referido geógrafo conclui:

Um dos temas da geografia do litoral sergipano que mais tem despertado o interesse dos geógrafos e de vários especialistas em planejamento ambiental é o das mudanças paisagísticas e da configuração espacial pelos mais diferentes agentes, cuja materialização geográfica mais evidente e referenciado na grande maioria dos trabalhos, é a ocupação desordenada do espaço humano. (VILAR, 2008, p. 22).

Mais recentemente, Alves (2009) realiza uma análise geoambiental e socioeconômica do litoral Norte de Sergipe. Alves (2009) desenvolveu a pesquisa apoiada na abordagem sistêmica das unidades de paisagem com o objetivo de elaborar um diagnóstico para subsidiar o ordenamento e a gestão do território. As análises geoambientais e a avaliação da vulnerabilidade ambiental das paisagens do litoral Norte sergipano possibilitaram a elaboração de uma proposta preliminar de Zoneamento Ambiental para a área.

Santos (2009) analisa os investimentos públicos do Pólo Costa dos Coqueirais e o papel do Estado e do mercado na implementação de políticas territoriais do turismo para a redução da pobreza em Sergipe. A pesquisadora defende a construção de um território compartilhado do turismo e adapta uma matriz de turismo comunitário espanhol para a escala local visando à superação da pobreza e a exclusão social.

O uso turístico das praias aracajuanas é a preocupação de Martins (2009). A pesquisadora analisar as praias de Aracaju e o uso turístico do território, bem como sua infra- estrutura. A pesquisa discute ainda, os níveis dos usos e ocupação das praias brasileiras fundamentados em aportes teóricos como o Projeto Orla e a Lei n° 7. 661/1988 que se refere aos ambientes costeiros. Martins (2009) realiza uma análise do perfil e opiniões dos turistas que aportam na capital sergipana e dos moradores locais que freqüentam as praias de Aracaju. Vale ressaltar que, de acordo com a pesquisa de Martins (2009), a motivação de 66% dos turistas que visitam Aracaju é o turismo de sol e praia

Empenhado em aprofundar o conhecimento sobre as territorialidades do Litoral Norte de Sergipe, Vieira (2010) estuda os conflitos ambientais e as intervenções públicas e privadas que (re) configuram o território atual. O referido pesquisador também caracteriza o processo de uso e ocupação e produção do espaço, destacando os indicadores sócio-econômicos e as políticas públicas que refletem no ordenamento territorial do Litoral Norte de Sergipe.

Para Vieira (2010), os principais desafios para a gestão integrada e para o ordenamento territorial do litoral sergipano são os seguintes: a implementação de empreendimentos turísticos sem as devidas preocupações com as questões sociais e ecológicas, regularização fundiária, ordenamento de barracas de praia, condições de garantia de acessibilidade à praia, conservação da biodiversidade e dos ecossistemas, além das culturas tradicionais, processos de erosão e sedimentação, e compatibilização entre o desenvolvimento econômico e a gestão sustentável do território.

3. TERRITÓRIO, MEIO AMBIENTE E TURISMO NO LITORAL DE