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A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

No documento Download/Open (páginas 30-35)

A Gestão Democrática é um tema muito presente em discussões na educação, desde a escola básica até os programas de pós-graduação, margeando, especialmente, os campos da política e da legislação educacional.

Tal notoriedade deve-se ao fato dessa fazer parte de nossa Constituição Federal, bem como da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96). O artigo 206 da Constituição Federal apresenta os princípios sobre os quais se edificará o desenvolvimento do ensino no país e em seu item VI atesta: ”gestão democrática do ensino público, na forma da lei”. Como os sistemas de ensino são descentralizados no país, compete a cada Estado e/ ou Município o estabelecimento dessas “regras” para o ”método” democrático. Como a LDB, mostra através do artigo 3, VIII: “gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino e complementa ainda em seu artigo 14: “Os sistemas de ensino definirão normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades(...)” (Souza,2006, p.17).

Tratando-se de gestão democrática, cabe ainda ressaltar, no mesmo artigo 14 da LDB, o que esta lei define minimamente acerca dos princípios sobre os quais se edificará a gestão democrática: I- participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II- participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes, o que vem a ser complementado, no artigo 15, ao se afirmar que os sistemas de ensino assegurarão progressivos graus de autonomia às escolas.

Como parecem fenômenos que só podem se expressar adequadamente coexistindo, democracia e autonomia dão o nível de desenvolvimento um do outro, isto é, quanto mais autonomia, há mais espaço para a democracia e vice-versa. (Souza, 2006, p.17)

Na bibliografia existente sobre essa questão, encontra-se uma interessante discussão teórico-conceitual entre o significado e o uso dos termos direção e gestão no campo da administração educacional. Autores, como Dourado, Paro, Felix, entre outros, que examinam a evolução das teorias de administração educacional, apontam que a distinção entre direção e gestão é dada pela predominância do sentido político da primeira, “selecionando valores e orientações” e pela predominância do sentido técnico da segunda, exigindo, sobretudo, capacidade de organização e de implementação; apontam também o sentido ético da ação administrativa como ato e como fim, que envolve toda a organização e seus atores, ou em outras palavras, a necessidade de articulação entre a filosofia da decisão política de um lado e a ciência da gestão de outro. (Silva, 2002, p.200).

A administração escolar configura-se, antes do mais, em ato político, na medida que, requer sempre uma tomada de posição...Entendemos que a administração escolar, por não se resumir à dimensão técnica, mas por configurar-se como ato político, tem a sua trajetória reduzida, no bojo desta modalidade, à rotinização das atividades administrativas e burocráticas, secundarizando, desse modo, a compreensão mais abrangente do processo político-pedagógico. (Dourado, in Souza, 2006.p.19).

Vitor Paro (1995), por sua vez, também apresenta argumentos semelhantes ao de Dourado, especialmente no que tange às distâncias entre a teoria e prática da gestão democrática pelos diretores escolares, vendo nestes, muito mais a função de “gerentes” da escola do que a função de dirigentes da organização do trabalho educativo....Outra questão abordada pelo autor diz respeito a uma possível dualidade / contraditoriedade de funções do diretor escolar, na medida em que as pessoas que ocupam esta função percebem-se divididas entre as tarefas de natureza mais pedagógica e as de natureza mais administrativa na escola, e noutra dimensão, também vêem-se no meio das disputas de poder entre o Estado e a corporação de professores e os interesses da comunidade na qual a escola está inserida. (Paro, in Souza, 2006, p. 19).

Observamos que o uso das palavras administração da educação ou gestão da educação vem sendo aplicada por muitos como sinônimos ou quando muito, parece-nos que a gestão da educação vem carregada de uma conotação de avanço sobre a administração, uma evolução da administração escolar, dando a esta um novo enfoque, mais abrangente e de caráter potencialmente transformador. Neste trabalho, usaremos a palavra gestão como sendo a ação própria do diretor e de sua equipe auxiliar: vice-diretor e coordenador pedagógico.

A Gestão da Educação acontece dentro da escola e, nesse estudo, vemos esta organização como um centro de decisão fundamental na gestão do serviço público de educação. Nesse contexto, a escola pode ficar sujeita às mesmas tensões que levaram o Estado a descentralizar a gestão da educação nacional, ou seja, uma das razões para a descentralização da educação, constituindo-se como unidade base do trabalho de reconstrução do laço social em educação. (Derquet, in Estevão, 2002, p.83)

Para Estevão a escola como local de trabalho é atravessada por plurirracionalidades decorrentes de ordens institucionais diferentes, por novas visões sociais, culturais e éticas que a transformam num sistema micropolítico imensamente variável, de contestação e desencontros. Logo, é fácil concluir que a gestão de qualquer escola pública enfrenta desafios nem sempre previsíveis, que entre outros aspectos atenuam ou reforçam a profissionalidade de seus atores.

Para o autor, estudos sobre a eficácia das escolas levaram a assentar as bases de reconceitualização das mesmas no discurso da gestão. Este novo discurso faz crer que os diferentes atores educativos, nomeadamente os professores serão ainda mais profissionais, uma vez que, uma nova gestão induz uma maior razoabilidade, no sentido de consolidá-los como entes racionais, capazes de uma ação mais eficaz.

Assim, a gestão e eficácia constituir-se-iam como uma configuração que mutuamente se reforçariam na referencialidade específica de cada uma delas. Em

outras palavras, teríamos organizações eficientes. Gestão, portanto, emerge fundamentalmente como uma especialidade da administração, que permite resolver questões anômalas verificadas no funcionamento da organização, das estruturas que se institucionalizaram na sociedade como condutoras à qualidade ou à excelência. (Estevão, 2002, p.200). Assim, a gestão educacional é uma expressão que ganhou corpo na literatura e no contexto educacional; sendo que, em geral, está associada ao fortalecimento da idéia de democratização do processo pedagógico, entendida como participação de todos nas decisões e na sua efetivação.

Na gestão, encontramos a ação distributiva de recursos, oportunidades, expectativas e especificamente na gestão escolar, alocamos bens, recursos, informações e conhecimentos nem sempre, de modo igualitário, instituindo-se assim, como um mecanismo organizacional de inclusão/exclusão ou de distribuição de subordinações. (Estevão, 2002, p.201).

Gadotti (1996) reforça a idéia democrática de um processo que rege o funcionamento da escola, compreendendo a tomada de decisões conjuntas, baseada nos direitos e deveres de todos os envolvidos. Assim, uma preocupação forte para que a escola seja realmente um centro de conhecimento e de aprendizagem passa a nortear as políticas e os estudos de vários pesquisadores.

No enfoque da gestão participativa, a gestão da educação, que tem como eixo central do processo educacional toda a comunidade escolar como sujeitos dessa ação, possibilita a promoção da democracia, da qualidade de ensino e do desenvolvimento humano, pois o papel social da escola é ser o centro de excelência do processo educacional.

Paro (1985), em sua tese de doutorado denominada “Administração Escolar: uma introdução crítica”, defendida na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), identifica a administração como fenômeno exclusivo do homem que pode estar voltada tanto à mudança das condições sociais como à sua manutenção. Vê na escola, como toda instituição social, um poder de transformação social,

promovendo aos trabalhadores a apropriação do saber historicamente acumulado e o desenvolvimento de uma consciência crítica da realidade. Paro vê a administração escolar como um fenômeno marcado pelo conservadorismo, na teoria e na prática, e avalia isto por identificar que faltaria uma vinculação orgânica entre a utilização dos recursos da escola e um compromisso político que a articulasse com os interesses das camadas mais populares. (Paro in, Souza, 2006, p.25)

A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas públicas requer a participação coletiva das comunidades escolar e local na administração de recursos educacionais, financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na implementação de projetos educacionais; implica compartilhar o poder, descentralizando-o. É possível, se incentivar a participação e respeito às pessoas e suas opiniões, desenvolver um clima de confiança entre vários segmentos da escola, ajudando a desenvolver competências básicas necessárias à participação, como por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas idéias.

A participação proporciona mudanças significativas na vida das pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se sentir responsáveis por tudo o que representa interesse comum. Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas formas de relações coletivas faz parte do processo de participação e traz possibilidades de mudanças que atendam a interesses coletivos.

Acreditamos que essa discussão seja necessária para entender que a implantação da gestão democrática, nas escolas públicas, requer um novo desempenho do profissional que está à frente dessa organização, uma pessoa capaz de compartilhar as suas decisões com os órgãos colegiados, chamá-los à participação e dar-lhes vez e voz, não mais na maneira individualizada de tomar decisões. Sabemos que essa nova postura de gestor deve ser construída através de atitudes, que muitas vezes se chocam até com o que é esperado pela maioria, uma vez que é comum em toda a comunidade escolar ver a escola como um retrato de seu diretor e neste profissional a autoridade máxima da escola.

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