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AUTONOMIA DA ESCOLA E GESTÃO DEMOCRÁTICA UMA REFLEXÃO

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O uso de algumas palavras como “autonomia”, “gestão democrática”, “participação” e outras correlatas mostram, em grande parte, a mentalidade pedagógica recente na Educação Brasileira. Quem, no Brasil de hoje, teria a ousadia de colocar-se contra a autonomia da Escola ou de pôr em dúvida a conveniência de sua gestão democrática? Quem teria a temeridade de afirmar que a insistência na participação comunitária na vida da Escola é uma insensatez pedagógica? No entanto, não é difícil mostrar que, muitas vezes, essas palavras “sagradas” transformaram-se em meros slogans e não numa indicação de soluções. (Azanha , in Borges, 1995, 37)

Como já mencionado anteriormente neste trabalho, autonomia e democracia são palavras que caminham juntas, pois quanto mais autonomia, mais espaço para a democracia e vice-versa. O mesmo podemos dizer quanto à descentralização do Sistema Educacional, seja Municipal ou Estadual. Na LDB, quando se fala em gestão democrática e de participação, precisa-se entender que, para acontecer de fato esses pressupostos, há a necessidade, de que, em cada uma das escolas, desenvolva-se o Projeto Político Pedagógico, bem como o seu Regimento Escolar, instrumentos de auto-gestão, que em última instância são os mecanismos de que dispomos na educação para a efetivação da descentralização, por mínima que seja, dos órgãos centrais.

A palavra autonomia, aplicada à situação escolar, segundo Azanha, aparece poucas vezes em documentos importantes na História da Educação brasileira, particularmente em São Paulo. Em 1932, no “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, já mencionado anteriormente neste trabalho, a palavra autonomia aparece duas ou três vezes e apenas para indicar a conveniência de que, além das verbas orçamentárias, fosse constituído um fundo especial destinado exclusivamente a atender empreendimentos educacionais que assim ficariam a salvo de injunções estranhas à questão educacional.

Em tempos mais recentes, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei nº. 5692/71), embora sem usar a palavra “autonomia”, fixou a norma de que cada estabelecimento, público ou particular, deveria organizar-se por meio de regimento próprio. Na lei nº. 4024, essa norma estava expressa no art. 43, revogado pela Lei nº. 5692/71, mas que manteve em seu corpo a norma de regimento próprio. Podemos perceber que, na prática, a autonomia proposta está longe de ser uma autonomia de fato, restringindo-se a uma “meia-autonomia”.

“Sem democracia interna e autonomia, a escola abandona o seu papel básico de produção de conhecimento e criatividade, reproduzindo repetitivamente procedimentos a partir de decisões tomadas de cima para baixo” (Azanha, in Borges, 1995, p.39)

Azanha afirma, ainda, que o discurso da autonomia da escola colide frontalmente com a instituição do regimento comum, ou seja, as escolas podem ter o seu próprio regimento, mas deve estar de acordo com um regimento comum a todas as escolas. Não porque a autonomia escolar tenha no regimento próprio, a sua única expressão legítima, mas porque o regimento comum exonera a Escola de refletir sobre a sua própria organização. E, assim, libertada dessa obrigação fundamental de ter o seu próprio regimento, a Escola pública, seja ela Municipal ou Estadual, busca, no regimento comum, as oportunidades de iniciativas e de inovações que lhe restaram. Na verdade, hoje, o princípio da autonomia escolar transformou-se numa expressão vazia. A adesão verbal de todos - políticos, administradores e professores – ao princípio, retirou-lhe qualquer força operativa. A preocupação é estabelecê-lo, na letra das normas. É claro que a autonomia de cada escola de uma Rede não exime a Administração do Sistema de Ensino da responsabilidade de fixar as diretrizes e as metas de uma política educacional. Mas, quando as escolas não têm sua autonomia e responsabilidades claramente definidas, a tendência da Administração é a de regulamentar em excesso e a das escolas, a de ficarem imobilizadas aguardando as ordens.

...É preciso uma clara consciência, por parte da Administração Estadual, de que a autonomia não é algo a ser implantado, mas sim, a ser assumido pela própria Escola. Não se pode confundir ou permitir que se confunda a autonomia da escola com apenas a criação de condições administrativas e financeiras. A autonomia escolar não será uma situação efetiva se a

própria escola não assumir compromissos com a tarefa educativa... A escola é uma instituição social que possui uma mentalidade própria, historicamente assentada, e que, por isso mesmo desconfia da inovação e resiste à mudança....E a mudança das práticas escolares não é uma simples questão de levar novas tecnologias ao magistério. As práticas da vida escolar estão ligadas a uma mentalidade vigente. “(Azanha, in Borges, 1995, p.44e 45)

A palavra “Autonomia”, que etimologicamente quer dizer o governo de si próprio, em educação pode não ter esse significado na prática. A visão de Gestão Democrática, nas escolas nos dias de hoje, se resume basicamente à existência de órgãos colegiados, como APM (Associação de Pais e Mestres ), Conselho de Escola e no máximo o Grêmio Estudantil, isto na visão da maioria dos profissionais que atuam nas mesmas. Outra questão é a descentralização da verba que chega à escola, com destinação pré-estabelecida, a qual deve ser usada e prestada as contas aos órgãos competentes em prazo também determinado.

Souza, (2006, p. 25) ressalta que a gestão escolar, por muitas vezes, tem sido entendida de forma um pouco equivocada, sendo confundida como a própria razão de ser da educação, ou pelo menos como o processo mais importante que ocorre na escola pública; e a abordagem que vários estudos dão à gestão escolar parece refletir essa mesma compreensão, olhando a gestão como um fim em si mesma e menos como ferramenta a serviço da organização e desenvolvimento do trabalho pedagógico.

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