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A GESTÃO DEMOCRÁTICA E O GESTOR COMO ELEMENTOS DA FORMAÇÃO

CAPÍTULO III. A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO ESTRATÉGIA

3.4. A GESTÃO DEMOCRÁTICA E O GESTOR COMO ELEMENTOS DA FORMAÇÃO

Muito se tem falado sobre gestão democrática, há vários anos ela aparece constantemente no discurso de professores e dirigentes de todos os níveis de ensino da educação brasileira.

As inúmeras mudanças que vêm ocorrendo na sociedade como consequência dos processos de globalização, tem causado impactos nos mais diversos setores da vida moderna, especialmente, no sistema educacional brasileiro. Tal situação exige que se busque alternativas para responder aos desafios, colocados a todo instante no cenário educacional do país.

A gestão da educação parece ser uma boa alternativa para colocar o sistema educacional frente aos desafios, porque todos que trabalham no campo educacional, em qualquer nível de atuação (nível fundamental, médio ou superior, secretarias de educação; assessorias a projetos nacionais; formação continuada etc.) estão preocupados com o problema da gestão educacional e escolar.

Desse modo, está evidenciada a necessidade de se promover uma transformação profunda na gestão educativa tradicional permitindo a efetiva articulação da educação com as demandas econômicas, sociais, políticas e culturais, rompendo com o isolamento das ações educativas, ou seja, precisa-se de novo modelo de gestão de modo integrado e democrático.

É importante perceber a gestão democrática como nova maneira de conduzir o processo educativo onde a participação, respeito e compromisso político sejam elementos imprescindíveis nas tomadas de decisão, bem como a necessidade de uma formação adequada do gestor para que este possa não só conhecer, mas vivenciar práticas transformadoras na escola e nas demais organizações de ensino.

Partindo-se da ideia de que quem pretende ser gestor precisa conhecer a gestão educacional, tornando-se necessário, esclarecer que para Lück (2012, p. 15) a gestão educacional tem caráter mais amplo e abrangente do sistema de ensino enquanto que a gestão escolar é referente à escola, porém, ambas se constituem em área estrutural de ação na determinação da dinâmica e da qualidade do ensino. É por meio da gestão que se estabelece unidade, direcionamento, ímpeto, consistência e coerência à ação educacional.

É importante pensar a gestão como uma atividade, uma área meio e não um fim em si mesmo. Nesse sentido, o necessário reforço que se dá à gestão visa, em última instância, à melhoria das ações e processos educacionais voltados para a melhoria da aprendizagem dos alunos.

A LDB exige a redefinição de responsabilidade dos vários sistemas de ensino (federal, estaduais e municipais) e novas incumbências da escola (tarefas, funções ou atribuições) para promover o fortalecimento gradativo de sua autonomia. Para isso, é necessário optar pela gestão democrática, possibilitando à escola maior grau de autonomia, garantindo o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

Segundo Santos (2008, p. 34), na efetivação da gestão democrática, os órgãos administrativos e técnicos dos vários sistemas de ensino devem agir dentro dos princípios de coerência e equidade, incentivando a corresponsabilidade da comunidade escolar na organização e na prestação de serviços educacionais. Para isso, a escola, como uma organização, exige dos gestores um planejamento adequado e atitudes dinâmicas e empreendedoras para orientar o seu pessoal administrativo, técnico e docente.

Porém, a gestão escolar na maioria das escolas públicas, ainda se baseia no modelo de administração clássica, estática e burocrática, não condizente com as necessidades de um mundo em constantes e rápidas transformações. Os novos tempos estão a exigir uma nova escola, organizada e gerida em bases totalmente diferentes, com mais dinamismo e criatividade para ser capaz de interpretar as solicitações de cada momento e criar condições mais propícias para um trabalho escolar mais eficaz.

Sobre essa ideia, Alonso (1995, p. 21) afirma que “quando a lógica dos modelos anteriores não responde satisfatoriamente, é preciso deixar um pouco de lado o racional, o lógico, para sentir o momento atual, entendê-lo e, sem reservas, dispor-se a mudar”.

A mudança proposta caracteriza-se por articular condições materiais e humanas necessárias para efetivar o avanço dos processos sócio-político-educacionais da escola. Assim, o significado de gerir a escola vai muito além da mobilização dos sujeitos, pois implica intencionalidade, definição de metas educacionais, bem como posicionamento frente aos objetivos educacionais, sociais e políticos, em uma sociedade complexa.

Marisa Schneckenenberg (2009, p. 19) diz que o princípio democrático na gestão educacional exige certamente o repensar da escola atual, suas ações, suas necessidades e

interesses, bem como o contexto das demandas sociais. Evidencia-se a necessidade de construir caminhos que garantam a autonomia da escola a partir de condições concretas no alcance dos objetivos educacionais articulados às intenções da clientela atendida.

Nessa mesma linha de pensamento, Bastos (2001, p. 22) afirma que a gestão na escola pública deve ser incluída no rol das práticas sociais que podem contribuir para a consciência democrática e a participação popular no interior da escola.

Depreende-se então, que o conceito de gestão já pressupõe em si a ideia de participação, isto é, do trabalho de pessoas analisando situações, decidindo sobre encaminhamentos e agindo, em conjunto. Isso porque o êxito de uma organização depende da ação consultiva de seus componentes, mediante a reciprocidade criada pela vontade coletiva.

A gestão que se busca é aquela que, segundo Lück (2012), caracteriza-se por força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno das questões que lhe afetam.

É dessa maneira que se concebe a gestão democrática pretendendo que se materialize na prática para que os objetivos mais importantes da educação sejam alcançados, porque o que está evidenciado e proposto é uma gestão democrática e participativa que, segundo o pensamento de Cury (2007, p. 494) é:

Voltada para um processo de decisão baseado na participação e na deliberação pública, a gestão democrática expressa um anseio de crescimento dos indivíduos como cidadãos e do crescimento da sociedade enquanto sociedade democrática. Por isso a gestão democrática é a gestão de uma administração concreta. Por que concreta? Porque o concreto (cum crescere, do latim, é crescer com) é o nasce com e que cresce com o outro. Este caráter genitor é o horizonte de uma nova cidadania em nosso país, em nossos sistemas de ensino e em nossas instituições escolares.

Nesse sentido, pode-se afirmar a necessidade da gestão democrática como um princípio a ser seguido por toda e qualquer instituição educacional pública para desenvolver a sua missão, o seu projeto, enfim, o seu destino.