• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II. O CONTEXTO AMAZÔNICO COMO BERÇO E A IMPLANTAÇÃO DA

2.1. A UNIVERSIDADE CABOCLA E O ENFRENTAMENTO DOS CONTRASTES

A UEPA já foi denominada de “Universidade Cabocla”, isto porque no seu surgimento a ideia era criar uma instituição que se distinguisse por reafirmar dentro da academia, de modo particular, um compromisso e apego com as coisas da região amazônica e, especialmente, da Amazônia paraense.

Esse apego deveria ser traduzido nas diversas áreas do conhecimento, cujo trabalho científico e tecnológico deveria ser voltado para o pleno desenvolvimento das potencialidades do Pará e, com isso, melhorar as condições de vida da população respeitando suas características “in loco regionais”. Portanto, para perceber a UEPA, enquanto universidade na Amazônia torna-se necessário conhecer também, mesmo que de modo superficial, o contexto onde ela se insere, o Estado do Pará.

O Pará está localizado na Região Norte do Brasil, é o segundo maior do país, tem uma população de 7.581.051 habitantes, segundo o Censo de 2010, com dimensões continentais de 5.026.000 km e grande diversidade de flora e da fauna. Ele é maior que vários países da Europa. Está localizada na Amazônia, região muito conhecida no mundo inteiro e cobiçada por suas reservas naturais e sua imensa biodiversidade.

Apesar de rico, em recursos naturais o Estado do Pará é, economicamente, pobre se compararmos com seu imenso potencial. Belém, sua capital, a cidade das Mangueiras, por causa da grande quantidade dessa espécie frutífera, encontrada em toda a sua extensão, o que lhe confere aspecto bonito e bastante agradável.

Talvez o mais correto seja afirmar que o Estado se encontra em fase de desenvolvimento, pois é possível encontrar várias indústrias que estabelecem vínculos comerciais com a Europa, Estados Unidos, África e parte do Oriente.

No Pará, existe uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, e seus caudalosos rios servem de vias para transportar os produtos “in natura” ou manufaturados por quase todo o Brasil e para o exterior. Belém é banhada pela Baía do Guajará, imensa massa de água doce que a todos encanta, é beijada por vários rios, que totalizam mais de 19.000.000 km² de rios permanentemente navegáveis.

O Estado do Pará é marcado por grandes desigualdades (raciais, étnicas, sociais, econômicas, educacionais e políticas) o que historicamente vem se cristalizando, ocasionando um descompasso no processo de desenvolvimento, a isso se junta à administração governamental que por longos períodos não teve uma política de cunho desenvolvimentista, tendo dessa maneira contribuído para o pouco crescimento e desenvolvimento do Estado durante séculos.

O Estado paraense possui grandes bens minerais metálicos como a cassiterita, principal minério do estanho; metal com numerosos usos industriais, como o revestimento de metais, empregado também em sondagens, pigmentos de tintas etc. Encontra-se esse minério em São Félix do Xingu onde sua exploração cresce de modo significativo. A Bauxita (minério de alumínio), em grandes jazidas, foi descoberta, nos municípios de Oriximiná, Paragominas e Parauapebas.

Outro metal é o ouro, cuja principal ocorrência foi a de Serra Pelada e, embora haja grandes jazidas em outros locais, hoje está com suas atividades reduzidas por conta de sérios problemas como conflitos sociais, má administração dos garimpos, contrabandos, disputa entre associações de garimpeiros e ainda a contaminação do ambiente por conta do emprego do mercúrio usado na purificação do ouro. A ausência de uma política séria e definida para a pesquisa e a lavra, exploração econômica de jazida – do ouro, bem como para sua comercialização, responde pela produção muito inferior do potencial existente no país, especialmente no Pará.

Na Província Mineral do Carajás no sul do Estado (municípios de São Félix do Xingu, Marabá, Curionópolis e Parauapebas), foram feitas as mais importantes descobertas de recursos minerais do país, onde podem ser encontradas jazidas de ferro, manganês, cobre, níquel, cassiterita, bauxita, wolframita, molisdenita, quartzo, tantalita, calumbita e zirconita salgema (cloreto de sódio), sais de potássio, fosfatos, rochas calcárias. A exploração deste minério (rocha calcária) deu origem a primeira fábrica de cimento da região, localizada no município de Capanema.

No Pará, também são encontrados bens minerais energéticos como argilas, utilizadas na fabricação de produtos cerâmicos, tanto na produção industrial de azulejos e pisos, como por meio de inúmeras olarias espalhadas pelo interior do Estado (Abaetetuba, Igarapé Miri, São Miguel do Guamá, São Domingos do Capim etc.), onde se produz artigos de cerâmica vermelha (tijolos, telhas, vasos, alguidares etc.). O carvão mineral aparece no município de São Felix do Xingu, cuja jazida está estimada em 4 bilhões de toneladas. Como se pode observar, o Pará é um Estado potencialmente rico.

As atividades agrícolas, nos últimos dez anos, se desenvolvem com vários tipos de cultura, principalmente as de ciclo longo, sobretudo das espécies tropicais, onde a pimenta-do- reino, o cacau, o dendê, a seringueira e os frutos tropicais de grande aceitação no mercado nacional e internacional (cupuaçu, maracujá, bacuri, castanha-do-Pará, pupunha, coco, abacaxi) e o açaí, hoje, é a bebida energética preferida do país. O Pará é o maior produtor dessa fruta cuja polpa pode ser utilizada na fabricação de bebidas, doces, sorvetes, bombons etc. As culturas do Pará têm garantido resultados satisfatórios na produção de alimentos e matérias- primas industriais que elevam, substancialmente, a renda do Estado.

Outra fonte econômica diz respeito às atividades pecuárias cujos rebanhos representam significativa fonte de recursos, embora se veja nessa atividade um aspecto que depõe contra a natureza e o meio ambiente, apesar do Estado ter campos naturais próprios para a criação de gado, esses são pouco e mal utilizados, pois os fazendeiros queimam ricas florestas nativas para plantar capim. Com isso desperdiçam grandes áreas florestais empobrecendo os solos de forma grave. Embora existam órgãos de fiscalização como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recuros Naturais Renováveis (IBAMA), por exemplo, estes acabam não dando conta do controle e proteção ambiental.

As águas constituem outra fonte de recursos naturais, com vasto sistema hidrográfico composto pela calha central do Rio Amazonas e seus afluentes de ambas as margens. É o maior

rio do mundo, com uma bacia de drenagem total na ordem de 7 milhões de quilômetros quadrados, com uma reserva de água doce que representa 20% das reservas do planeta.

No Pará, só há pouco tempo começou a ser explorado o potencial hidrográfico com a construção de hidrelétricas para atender à necessidade de energia elétrica na implantação de grandes projetos voltados para o mercado exterior, cuja produção crescente contribui para a geração de divisas do país.

A pesca industrial que se realiza no Pará é outra importante fonte de recursos, pois aproveita o potencial piscoso nos rios e lagos do Estado. A pesca artesanal abastece as populações e a indústria, o mercado externo, empregando milhares de pessoas. O Pará é o segundo maior produtor de peixe do Brasil só perde para o Estado de Santa Catarina no Sul do país. As inúmeras espécies são muito apreciadas, principalmente o pirarucu, peixe de água doce, conhecido como o “bacalhau paraense”, com o qual se prepara vários e deliciosos pratos. Apesar de todo esse potencial, as águas do solo paraense ainda não mereceram a devida atenção, haja vista, que em muitas situações os recursos hídricos não são aproveitados racionalmente, ou seja, ainda faltam políticas públicas que garantam a utilização dos rios como fontes de progresso por meio da navegação, turismo, pesca etc.

Um dos elementos que também chama atenção no país, e no Pará, especialmente, é a Floresta Amazônica. Na paisagem física regional da Amazônia Legal, a floresta se sobressai como um dos elementos mais marcantes, não só pela grande extensão como pela sua majestosa exuberância. É uma complexa formação vegetal, própria das regiões de clima quente e úmido, com elevada precipitação pluviométrica. No Pará, a floresta é do tipo estacional, cuja origem está relacionada às condições climáticas, onde as estações de chuvas e de secas são bem marcadas. Há também na faixa litorânea do Pará as zonas de floresta de mangue, restingas e campos naturais, revestindo os terrenos de formação recente.

Muitas das suas espécies florestais são objetos de exploração comercial como, por exemplo, a castanha-do-Pará, que produz ouriço e no seu interior encontram-se amêndoas que constituem alimento muito apreciado não só pelo excelente sabor, como também por suas notáveis propriedades nutritivas, um dos poucos produtos vegetais portadores de proteína completa. A castanha-do-Pará, ainda hoje, é item importante na pauta de exportação da região, e principalmente do estado do Pará.

As espécies vegetais fornecedoras de óleo têm, na Amazônia, enorme área de distribuição, destacando-se numerosas palmeiras, entre elas, o patauá, cujos frutos fornecem

óleo que, por suas características físicas e químicas, muito se assemelha ao óleo de oliva, apresentando a mesma densidade e os mesmos índices analíticos, além da similitude de odor e paladar quando refinado.

Há também a andiroba e a copaíba, sementes produtoras de óleos não comestíveis mais muito empregados no fabrico de sabões, na farmacêutica e na indústria de cosméticos; a copaíba tem largo emprego na medicina como cicatrizante. O guaraná é uma trepadeira, cujas sementes torradas e moídas, têm efeito tônico e estimulante por conterem teor de cafeína superior ao do café, muito empregado no fabrico de refrigerantes, a muirapuama, de efeitos notáveis como tônico neuromuscular, além de muitas outras com vasto campo para pesquisas.

A fauna da floresta amazônica é menos rica em mamíferos do que a África ou a Ásia, não somente em espécies como também em relação ao porte dos animais, em compensação, é mais rica em aves.

A caça aos animais silvestres é a atividade que se desenvolve paralelamente ao extrativismo vegetal, visando a obter alimentos e peles. Para a população interiorana, a caça constitui uma das mais importantes fontes de alimento. A caça comercial visa à colocação nos mercados, sobretudo no mercado externo, de peles e couros de certas espécies que alcançam preços elevados, as mais procuradas são os felinos, jacarés, veados, ariranhas, capivaras, antas e cobras. A legislação atual proíbe a exportação de peles e couros de animais silvestres, mas a comercialização se faz clandestinamente.

Uma das iniciativas do governo é a reprodução em criadouros artificiais de espécies de interesse comercial, como base para exploração econômica, por meio de aproveitamento racional.

A madeira é um dos produtos florestais mais cobiçados. As fontes tradicionais de suprimento mundial de madeiras (países asiáticos e africanos) estão em franco declínio, assumindo a floresta amazônica o caráter de última grande reserva de madeiras tropicais no planeta. A floresta, pela sua grandiosidade e preponderância no meio físico amazônico, exerce influência poderosa sobre os demais fatores ambientais, desempenhando importante função protetora da conservação dos solos, na proteção de mananciais hídricos, no disciplinamento dos ventos, na manutenção das condições climáticas, no regime das chuvas, além de muitos outros efeitos correlatos.

Tanto do ponto de vista econômico, como do ponto de vista ecológico, a presença física da floresta é muito importante para a região, cabendo a todos os brasileiros e paraenses em particular, lutar pela sobrevivência desse importante patrimônio com que a natureza dotou a Amazônia. A dimensão e vastidão territorial da Amazônia, a complexidade de seus ecossistemas e a diversidade dos seus subsistemas, cujas bases geológicas, geomorfológicas, pedológicas, de cobertura vegetal, de disponibilidade de água e das formas e modalidades da sua ocupação humana, diferem de outras regiões do Brasil e do mundo e continuam a se constituir em desafios.

É, nesse contexto, que está situada a UEPA, cuja missão é participar do desenvolvimento do Estado preparando profissionais para a formação de quadros nas áreas da ciência e da tecnologia, objetivando a melhoria de vida da população de um Estado imensamente rico de potencialidades, tendo como destino enraizar e produzir o desenvolvimento, única forma possível de os paraenses se assenhorearem de fato de suas riquezas, do seu presente e do seu futuro.