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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Gestão do Conhecimento: explicitações e evidências

2.3.2 A Gestão do Conhecimento nas Organizações Públicas

De acordo com Dias (1998) as organizações públicas podem ser compreendidas como ambientes que objetivam a prestação de serviços para a sociedade, ou seja, servir ao público, se caracterizam como ambientes dinâmicos, complexos, interdependentes e ao mesmo tempo inter-relacionados que envolve informações e seus fluxos, estruturas organizacionais, pessoas e tecnologias.

Massaro, Dumay e Garlatti (2015) discorrem que as pesquisas sobre GC no âmbito público aumentaram consideravelmente na última década, porém alguns pontos ainda precisam ser mais estimulados.

Os autores supracitados constataram que ainda são poucos os pesquisadores que investigam a temática, sendo o relacionamento e o trabalho colaborativo entre eles sucinto; as investigações realizadas pouco contribuem no caráter prático no que tange a implementação da GC nas organizações públicas e um outro problema apontado refere-se as revistas especializadas que pouco publicaram na última década sobre a GC na América Latina.

Batista (2016) argumenta que as contribuições da GC para as organizações privadas voltam-se para a competitividade e alcance da liderança estratégica ao passo que para as organizações públicas a GC pauta-se como um método capaz de propiciar a qualidade dos serviços públicos prestados para à sociedade.

Os autores Vital; Floriani; Varvakis (2010) ratificam que as organizações que administram a informação de maneira eficiente possuem um recurso fundamental para a maximização da qualidade nos processos decisórios, sejam elas públicas ou privadas (VITAL; FLORIANI; VARVAKIS, 2010, p.86).

Nas organizações empresariais, a GC volta-se à competitividade, sobrevivência e à tomada de decisão (TERRA, 2005; LUCHESI, 2012; GRAMKOW, CARNEIRO, SANTOS, 2014; BATISTA, 2016).

Mas e nas organizações pública? Nas organizações públicas de ensino? Como a GC é compreendida e qual sua importância? Ainda são poucas as pesquisas sobre a temática, como apontam Jussilaniem (2001), Rodrigues e Maccari (2002), Batista (2014) e Massaro, Dumay e Garlatti (2015), sendo este um nicho à ser explorado, assim, corrobora-se com os referidos autores na medida em que as organizações de ensino também podem ser espaços de investigações e contribuições relacionadas à GC.

Deve-se salientar que a informação é insumo básico para gerar conhecimento, neste sentido resgata-se Le Coadic quando o autor explana que a informação pode ser considerada o sangue da ciência. O autor aponta que, sem a informação, a ciência sequer pode se desenvolver e viver. Sem informação, a pesquisa seria inútil e o conhecimento não existiria (LE COADIC, 1996).

Diante disso, destaca-se a importância do conhecimento documentado e da organização de ensino nesse processo.

Iniciativas de gestão do conhecimento devem necessariamente considerar as características do ambiente no qual são implementadas. Tais características dizem respeito, principalmente, à natureza do conhecimento – bem como as forças que condicionam a sua criação – a cultura que envolve os indivíduos e o seu comportamento em relação à informação e ao conhecimento. Além disso, devem levar em conta, sobretudo, as peculiaridades dos processos de comunicação próprios do ambiente no qual as iniciativas serão implementadas. Desse modo, é imprescindível observar que comunidades de naturezas distintas requerem modelos de gestão do conhecimento que atentem para as suas especificidades. Portanto, a partir das características do contexto no qual se pretende desenvolver a gestão do conhecimento – organizações empresariais, administração pública, ambiente acadêmico ou outros –,

deverão ser delineados modelos de gestão do conhecimento apropriados a cada um deles. (LEITE; COSTA, 2007, p. 92).

Os autores Leite, Costa (2007), Dalkir (2011) e Batista (2014) realçam que propostas de GC relativas às organizações privadas podem até servir de apoio e estrutura para propostas de GC na administração pública, porém, salientam que se deve levar em conta a natureza das organizações e seus elementos essenciais: cultura, processos, recursos humanos e tecnologias para que o melhor modelo seja adotado ou caso seja necessário, seja criado. E a natureza da administração privada e pública é diferente, isto posto, a análise deve ser cautelosa.

Na administração pública os autores Jussilaniem (2001) e Batista (2014) discorrem que há a eminente necessidade de compartilhar, ou seja, de transformar o conhecimento tácito em explícito, e assim, transformar o conhecimento individual em conhecimento organizacional, passível de armazenamento.

Devido a características peculiares, tal como a estabilidade, na administração pública, os indivíduos ficam muito tempo desempenhando as mesmas funções e quando exoneram, no caso de aposentadorias, o conhecimento acaba se perdendo e os novos servidores despendem muito tempo para aprender o trabalho:

Public organisations need to tweak their KM initiatives now to start retaining the knowledge currently in the heads of these employees. Unless this is done, services to the public will suffer. Thus capturing tacit knowledge and then training the staff is important so that it can be passed on to new staff (JUSSILANIEM, 2001, p.3).

Batista ainda discorre que a GC na administração pública deve estar intimamente relacionada aos princípios básicos do serviço público: eficiência, qualidade, efetividade social, e aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (BATISTA, 2012, p. 46).

Batista et al. (2005) destacam que algumas instituições do Serviço Público Federal Brasileiro já possuem práticas de GC, embora a maioria das iniciativas sejam isoladas e de caráter individual, além de estarem em níveis estratégicos nas organizações, ou seja, em nível de gerentes e equipes, e ainda não serem institucionalizadas.

Contudo, deve-se salientar que já existe a proposta de um programa de Gestão do Conhecimento para a Administração Pública Federal. A Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC) realiza anualmente o Congresso Nacional de Gestão do Conhecimento na Esfera Pública (CONGEP) para debater experiências e práticas no setor:

repositórios de conhecimento; propostas de acesso e transferência de conhecimento; ambientes para criação de conhecimento; bancos de dados de lições aprendidas; uso de sistemas de avaliação e remuneração para mudar o comportamento; desenvolvimento de redes especializadas, entre outros (SBGC, [s.d.]).

As organizações privadas buscam sobreviver, devido a acirrada competitividade, assim, acabam adotando com maior frequência novos métodos e ferramentas de gestão, como a GC. Por outro lado, as organizações públicas não enfrentam essa ameaça. A mudança no setor público não é motivada por competição e sim pela necessidade de otimização em sua prestação de serviço, fornecimento de informações, compartilhamento e uso do conhecimento como apontam Cong e Pandya (2003).

É importante que um modelo de GC específico para a administração pública congregue a relação entre GC e resultados organizacionais para que seja possível avaliar seu impacto sobre a melhoria de processos, serviços e produtos prestados à sociedade (BATISTA, 2012, p. 19).

Organizações privadas, públicas, formais, informais, grandes, pequenas, qualquer uma delas pode fazer uso da GC de maneira estratégica para melhorar seus serviços prestados, para inovar e manter sua competitividade.

Dentre os desafios na implementação da GC, Sabdhu, Jain e Ahmad (2009) destacam três barreiras: individual, organizacional e tecnológica, à saber:

a) individual - referem-se a barreiras de personalidade, relativas às habilidades de comunicação, estabelecimento de redes sociais, diferenças culturais, falta de motivação, falta de confiança, medo de não ser reconhecido;

b) organizacional – as originadas na própria organização como as de ordem gerencial, práticas ineficazes, infraestrutura inadequada, competição interna, falta de recompensas, falta de apoio da alta administração, falta de capacitação;

c) tecnológica – ausência de interoperabilidade entre sistemas, falta de suporte técnico, relutância das pessoas no uso das tecnologias, falta de capacitação para familiarização dos sistemas de tecnologia da informação.

Assim, destaca-se a importância de se elaborar um modelo de GC peculiar para as necessidades de cada organização, em específico nesta pesquisa para as organizações de EPT.

2.3.3 A Gestão do Conhecimento nas Organizações de Educação Profissional e