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2. A POLÍTICA EDUCACIONAL INCLUSIVA E A EDUCAÇÃO ESPECIAL:

2.3. A Política Educacional Inclusiva e a Educação Especial no contexto da

2.3.2. A gestão escolar e sua atuação sobre a infraestrutura física,

alunos com deficiência

Retomando Gusmão (2013) ao defender a ideia de que o acesso e a permanência dos alunos na escola estão vinculados não só à aprendizagem, mas também às condições, tais como infraestrutura, tempos e espaços, iniciamos esta seção tratando das condições da rede física da unidade pesquisada.

Para a gestora, a acessibilidade do prédio da escola não é satisfatória. Tomando como exemplo um aluno cadeirante, disse que não há banheiro apropriado e que não tem rampa. Em outro exemplo, no caso dos alunos com Síndrome de Down, disse que há pouca visibilidade espacial para acompanhar o deslocamento deles, já que a escola é muito grande, revelando assim uma preocupação com a segurança deles dentro do próprio estabelecimento.

A vice- diretora 1 levantou a questão da escola ter um segundo andar e não ter rampas para acessá-lo. “Nesse caso se for usar o salão que fica nele, aí não tem jeito. Os professores têm que passar o vídeo, por exemplo, na sala de aula mesmo”. Relata que existe rampa para deslocamento até a biblioteca e que o banheiro está próximo da sala de aula.

O vice- diretor 3 também não considera satisfatória as condições da rede física da escola. Segundo ele, há muitas dificuldades, porque o prédio é muito antigo, não tem infraestrutura necessária, principalmente para a deficiência física. Neste caso, é preciso transportar a pessoa de um lugar para o outro. Para ele, isso limita a independência das pessoas com deficiência dentro da escola e não há profissionais capacitados para apoiá-las, por exemplo, no uso do banheiro.

Para a supervisora pedagógica 2, pensando em outros casos de deficiência, as condições de acessibilidade do prédio são satisfatórias, mas pensando no cadeirante, é preciso fazer alguma coisa para melhorar a acessibilidade. Relata que “pro menino sair da sala e ir pro pátio, alguém tem que pegar a cadeira e levantar, porque não tem rampa”. Disse que o banheiro precisa de adaptações.

Para os professores, “os banheiros deixam muito a desejar”.

Observa-se que em relação ao tema da acessibilidade, há necessidade de providências em relação à organização dos espaços da escola de forma que todos tenham acesso a eles e possam participar de todas as atividades propostas.

Deixando um pouco de lado a rede física, veremos agora como os alunos com deficiência são atendidos na escola no que tange ao uso de equipamentos e mobiliários.

Quadro 5. Identificação de equipamentos e mobiliários destinados ao atendimento de alunos com deficiência

Tipos de deficiência Itens identificados pelos entrevistados Gestora Vice- diretora 1 Vice- diretora 2 Vice- diretor 3 Supervisora Pedagógica 2 Intelectual _ _ _ _ _ Síndrome de Down _ _ _ _ _

Auditiva _ _ _ Tem uma

aluna que usa aparelho. _ Visual _ _ _ _ _ Física mesa em sala de aula utiliza a mesa do professor. Falta mesa adaptada no laboratório de informática. Na biblioteca tem mesa que dá para usar. _ mesa adaptada em sala de aula _

Fonte: dados obtidos a partir das entrevistas realizadas.

Ao nos referirmos aos mobiliários e equipamentos é possível abstrair do Quadro 5, que a escola possui condições restritas de atendimento aos alunos com deficiência, principalmente a física. Verificamos nos arquivos da escola e constatamos que a deficiência física do aluno citado pela equipe da escola é do tipo diparesia, com acometimento dos membros inferiores, sem déficit cognitivo. A deficiência deste aluno foi adquirida através de um acidente automobilístico. Considerando o tipo de deficiência física do aluno, os

equipamentos e mobiliários necessários são cadeira de rodas, carteira adaptada ou mesas nas quais sua cadeira de rodas possa ser acoplada. A cadeira de rodas usada pelo aluno é própria. Quanto às mesas, percebe-se uma improvisação para que o aluno possa ser atendido, já que ele usa a mesa do professor.

De acordo com o vice- diretor 3, a escola recebeu, recentemente, recursos financeiros37 para adquirir cadeira de rodas e mesas adaptadas, que estão em processo de execução.

Quanto às deficiências intelectual, auditiva e visual, não houve manifestação por parte dos entrevistados. Esta ausência de manifestação nos leva a pensar em uma possível falta de conhecimento sobre os recursos de acessibilidade existentes para os alunos com essas deficiências por parte tanto dos atores da equipe gestora quanto da supervisora pedagógica 2, o que nos parece bastante grave.

Da rede física e dos mobiliários e equipamentos, passamos a analisar como os alunos com deficiência são atendidos na escola no que se refere aos materiais didático-pedagógicos.

Como parte dos insumos necessários à qualidade do ensino e da educação, os materiais didático – pedagógicos da escola, na concepção da gestora, não são adequados. Ela argumenta que para baixa visão, por exemplo, não tem livro adaptado.

Para a vice-diretora 1, sobre isso, tem que ver com os professores. “Eles vão ter que ir à biblioteca e pesquisar. A biblioteca da escola tem um acervo muito bom”. Ela acha que vai depender de cada professor, e que se pesquisar encontrará sim. Para a aluna com baixa visão que está no ensino médio, relatou que a diretora já foi à sala dos professores e repassou a necessidade de ampliar as provas para a aluna. Para outro aluno com baixa visão, que

37 Os recursos financeiros mencionados se referem ao Programa Escola Acessível implementado pelo Ministério da Educação em parceria com os sistemas de ensino. “O programa constitui uma medida estruturante para a consolidação de um sistema educacional inclusivo e, objetiva, prioritariamente, promover acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, aquisição de mobiliários acessíveis, bebedouros acessíveis, cadeiras de rodas e recursos de alta tecnologia assistiva” (grifo meu). Ofício Circular SB/SA n. 192/2014 de 01/10/2014, assinado pela Subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica e pelo Subsecretário de Administração do Sistema Educacional da SEE/MG, à época.

acabou de chegar à escola, e que só agora o pai trouxe o laudo, não sabe informar se foi repassado para os professores.

A vice-diretora 2, disse que, “esse assunto fica por conta das supervisoras, que elas têm de dar um apoio para os professores”.

O vice-diretor 3 afirmou que os materiais utilizados são os mesmos usados por todos os alunos. Segundo ele, não existe um material específico para os alunos com deficiência. Para os alunos com baixa visão, “as provas são ampliadas pelos professores, que também produzem textos com letras mais fáceis para entendimento e, na hora de escrever no quadro, sempre procuram estar atentos para usar letras maiores”.

A supervisora pedagógica 2 ratifica a informação dada pelos vice- diretores 1 e 3 sobre os procedimentos adotados pela escola para atendimento aos alunos com baixa visão.

Os professores disseram que, “Tudo é ampliado, as atividades, os exercícios, as provas” (se referindo a alunos com baixa visão); “Não tem material específico não, só a Intérprete de Libras mesmo” (referindo-se a

alunos com deficiência auditiva).

Ressaltamos que nenhum dos atores da equipe gestora, nenhum dos professores e nem a supervisora pedagógica 2 fez referência aos materiais didático - pedagógicos para atendimento dos casos de alunos com deficiência intelectual. Essa ausência de manifestação nos leva a pensar, mais uma vez, em uma possível falta de conhecimento de todos sobre os recursos de acessibilidade existentes para os alunos com essa deficiência.

Certamente, isso implicará em dificuldade na implementação dos procedimentos a serem utilizados pelos professores, bem como o uso de estratégias e materiais para a operacionalização de suas aulas, em conformidade com o currículo a ser ensinado.