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3.3 A HERANÇA DIGITAL

3.3.1 A Herança Digital no Âmbito Internacional

Haja visto tudo o que aqui já foi anteriormente demonstrado, é necessária uma breve análise do que consta na lei seca, com o que trata a Herança Digital com o intuito de observar a probabilidade de aplicação da mesma, mesmo que não esteja ainda elencada a possibilidade na lei.

É relevante utilizar o Direito Comparado em si, o qual consiste em um modo de interpretar de forma comparada leis ou situações cotidianas.

Direito comparado é expressão que resulta, claramente, da junção de dois termos: direito, que, no caso, se refere a sistema jurídico, e comparado, que tem a ver com a comparação, na busca por semelhanças e diferenças entre objetos comuns pesquisados, sejam eles um sistema jurídico sejam eles um instituto jurídico (SIQUEIRA, 2013).

Deste modo, será abordado brevemente o que já está elencado na lei, como a possibilidade de haver herança de uma conta de rede social on line e será também comparado o que existe na legislação de alguns estados americanos para demonstrar o atraso e a necessidade de que sejam adicionadas essas possibilidades ao ordenamento pátrio.

A legislação ainda não conseguiu alcançar a sucessão do patrimônio digital, assim, o Código Civil brasileiro, levando em conta o ano em que foi criado, não menciona sobre quaisquer formas diferenciadas de herança digital. Ademais, há apenas a probabilidade daquilo que sempre existiu (bens físicos e que envolvem dinheiro), fazendo com que as possibilidades de herança digital existam apenas em casos de testamento (BRASIL, 2002).

Alguns estados norte-americanos conseguiram evoluir, regulamentando esse tipo de sucessão. É o caso, por exemplo, de Connecticut (2005) iii e Nevada (2012) iv. Entretanto, a regulamentação mais completa é a do Estado de Delawarev. Nela há previsão de acesso ao conteúdo digital do falecido, além de conceitos como: titular da conta, conta digital, ativos, dispositivos digitais e licença de uso.

Mesmo que o direito à herança digital não seja visto de tal modo no ordenamento jurídico nacional, é revelado por um estudo realizado pelo Centro de Tecnologia Criativa e Social da Universidade de Londres, que a inclusão de senhas da internet nos testamentos está se tornando um hábito entre os britânicos. No total, segundo Luís Leonardo (2011), cerca de 11% dos 2 mil britânicos entrevistados para este estudo revela ter incluído ou planeja incluir as palavras-passe nos seus testamentos. As pessoas que participaram do estudo revelaram que possuem o desejo de guardar fotos, vídeos, músicas e filmes que lhes foram importantes durante a vida.

Já uma pesquisa realizada em 2011 no Centro para Tecnologias Criativas do Goldsmiths College (Universidade de Londres), demonstra que 30% dos britânicos consideram suas posses online sua herança digital, assim como 5% deles já definiram legalmente qual o destino de tais bens. Foi também revelado pelo estudo que suas posses digitais dos britânicos acabavam por somar 6,2 bilhões de reais, sendo em média R$ 540 em média para cada um deles. Tal estudo foi realizado em 2011, e sendo levado em conta a difusão do uso da internet, tais valores tendem a aumentar exponencialmente (LUÍS LEONARDO, 2011).

Outro exemplo ao qual é importante observar é o americano, já que em 24 de junho de 2005, foi sancionada a lei n° 05-136 (CARROL, 2019, tradução nossa) em Connecticut, que versa sobre a concessão do acesso das contas de e-mail do falecido a um executor testamentário ou administrador. Na íntegra:

(1) “provedor de serviços de correio eletrônico” significa qualquer pessoa que (A) seja intermediária no envio ou recebimento de correio eletrônico e (B) forneça aos usuários finais dos serviços de correio eletrônico a capacidade de enviar ou receber correio eletrônico; e

(2) "Conta de correio eletrônico" significa: (A) Todo correio eletrônico enviado ou recebido por um usuário final de serviços de correio eletrônico fornecido por um provedor de serviço de correio eletrônico que é armazenado ou gravado por esse provedor de serviço de correio eletrônico no curso regular de prestar esses serviços; e (B) qualquer outra informação eletrônica armazenada ou registrada por esse provedor de serviços de correio eletrônico que esteja diretamente relacionada aos serviços de correio eletrônico fornecidos a esse usuário final por esse provedor de serviços de correio eletrônico, incluindo, entre outros, informações de cobrança e pagamento.

(b) Um prestador de serviços de correio eletrônico deve fornecer, ao executor ou administrador do patrimônio de uma pessoa falecida que estava domiciliada nesse estado no momento de sua morte, acesso ou cópias do conteúdo da conta de correio

eletrônico dessa pessoa falecida, após o recebimento pelo fornecedor do serviço de correio eletrônico de: (1) Uma solicitação por escrito para esse acesso ou cópias feitas por esse executor ou administrador, acompanhada de uma cópia da certidão de óbito e uma cópia autenticada da certidão de nomeação como executor ou administrador; ou (2) uma ordem do tribunal de sucessões que, por lei, tenha jurisdição sobre o patrimônio dessa pessoa falecida.

(c) Nada nesta seção deve ser interpretado como exigindo que um provedor de serviços de correio eletrônico divulgue qualquer informação que viole qualquer lei federal aplicável (CARROL, 2019, tradução nossa).

Por mais que a legislação norte americana não seja uniforme entre os estados confederados, já é demonstrado na referida lei uma possibilidade real de que haja a herança de tal rede social.

O estado de Idaho por sua vez vai um pouco além, pois ele permite que além de que se acesse a conta, ele permite também que continue a se usar a mesma conta que antes pertencia ao falecido:

(z) Assuma o controle, conduza, continue ou encerre qualquer conta do falecido em qualquer site de rede social, site de microblog ou serviço de mensagens curtas ou site de serviço de e-mail (IDAHO, 2019, tradução nossa).

Dessa forma resta demonstrado que por mais que o ordenamento pátrio não possua o amparo para a herança digital, no âmbito internacional, se trata uma matéria já amplamente discutida e até mesmo sob a qual já foi legislado.

4 A IMPORTÂNCIA DA TUTELA LEGISLATIVA DO DIREITO À HERANÇA DIGITAL

Neste capítulo, pretende-se estabelecer uma ponderação sobre a relevância da tutela legislativa do direito à herança digital para o ordenamento jurídico, evidenciando os projetos de lei que tratam sobre a herança digital no Direito brasileiro.

O fato de não haver legislação que trate absolutamente do ponto e à recusa das distintas empresas prestadoras de serviços na internet em prover acesso aos ativos digitais de uma pessoa que morreu, faz com que sejam questionados como serão herdados os bens digitais, se deverá seguir a legislação dos demais bens ou se haverá uma lei específica para os bens digitais (LARA, 2016).

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