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Depois do falecimento de um ente, familiares ou o representante legal do falecido ficam à procura do que fazer com os perfis de redes sociais ou contas de e-mail do de cujus. Além do valor patrimonial amontoado, existe o sentimental que, em geral ainda é mais importante para as pessoas do que o primeiro. As fotos e filmes de vários fatos que ocorreram ao longo de uma vida, como nascimentos, formaturas, entre outros, armazenados em dispositivos eletrônicos estão longe de serem mensuradas. Caso ocorra a morte ou a incapacidade do usuário e se este não tiver deixado os dados de acesso, esse patrimônio, em tese, será perdido. Em alguns casos há ainda necessidade de acesso a esses bens digitais para fazer prova em processo ou até mesmo para prosseguimento de uma empresa que tinha funcionamento apenas na web (BARRETO; NERY NETO, 2019).

A inexistência de legislação faz com que as empresas de tecnologia tenham dificuldades em dar seguimento em ações de falecidos ou incapazes, sendo os ativos digitais2

pauta de atribulado tumulto. Lara (2016) afirma que as empresas que atuam no âmbito digital e internet acabam por desenvolver sua própria política e regras de conduta, já que a legislação carece de ordenamento jurídico para essas questões.

Segundo a Lei 12.965 de 2014, as empresas fornecedoras de serviços online têm o dever proteger os dados fornecidos pelos usuários, além de trabalhar políticas de privacidade das contas digitais já que o consumidor na maioria dos casos é obrigado a fornecer todas as informações pessoais exigidas para aderirem ao serviço, como menciona Félix (2017):

Marco Civil da Internet: Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, devem atender à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.

§ 1o O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a disponibilizar os registros mencionados no caput, de forma autônoma ou associados a dados pessoais ou a outras informações que possam contribuir para a identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem judicial, na forma do disposto na Seção IV deste Capítulo, respeitado o disposto no art. 7o.

§ 2o O conteúdo das comunicações privadas somente poderá ser disponibilizado mediante ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do art. 7o.

§ 3o O disposto no caput não impede o acesso aos dados cadastrais que informem qualificação pessoal, filiação e endereço, na forma da lei, pelas autoridades administrativas que detenham competência legal para a sua requisição.

2 Podem ser estabelecidos como quaisquer conteúdos armazenados na web, nuvens ou dispositivos de informática como: redes sociais, e-mail, aplicativos, áudios, fotos, vídeos, senhas entre outros (BARRETO; NERY NETO, 2019).

§ 4o As medidas e os procedimentos de segurança e de sigilo devem ser informados pelo responsável pela provisão de serviços de forma clara e atender a padrões definidos em regulamento, respeitado seu direito de confidencialidade quanto a segredos empresariais (BRASIL, 2014).

Barreto e Nery Neto (2019) salientam que algumas aplicações de Internet permitem que o controle da herança digital daquela conta, restringindo-se, este, apenas à exclusão da conta ou sua transformação num memorial, não possibilitando a permissão de acesso ao conteúdo armazenado no provedor de Internet. Em alguns casos, como o Google, por exemplo, há a possibilidade de que o usuário opte por um “testamento digital”, informando, em caso de morte, quem será o responsável pelo seu perfil:

Ninguém gosta de pensar muito sobre a morte, ainda mais sobre a própria. Mas planejar o que acontecerá depois que você se for é muito importante para as pessoas que ficam para trás. Então, lançamos um novo recurso que facilita informar ao Google a sua vontade quanto aos seus bens digitais, quando você morrer ou não puder mais usar a sua conta.

Trata-se do Gerenciador de Contas Inativas: não é lá um nome fantástico, mas acredite, as outras opções eram ainda piores. O recurso pode ser encontrado na página de configurações da conta do Google. Você pode nos orientar com relação ao que fazer com as suas mensagens do Gmail e dados de vários outros serviços do Google se a sua conta se tornar inativa por qualquer motivo.

Por exemplo, você pode escolher que seus dados sejam excluídos depois de três, seis, nove ou doze meses de inatividade. Ou ainda pode selecionar contatos em quem você confia para receber os dados de alguns ou todos os seguintes serviços: +1s; Blogger; Contatos e Círculos; Drive; Gmail; Perfis do Google+, Páginas e Salas; Álbuns do Picasa; Google Voice e YouTube. Antes que os nossos sistemas façam qualquer coisa, enviaremos uma mensagem de texto para o seu celular e e- mail para o endereço secundário que consta nos seus settings da conta.

Esperamos que este novo recurso ajude no planejamento da sua pós-vida digital e proteja a sua privacidade e segurança, além de facilitar a vida dos seus entes queridos depois da sua morte (GOOGLE BRASIL, 2019).

Por outro lado, algumas empresas têm se posicionado pela negativa de fornecimento de dados sob a alegação de proteção da privacidade do usuário:

A Apple afirma, por exemplo, na política de uso da Itunes Store, a proibição de vender, alugar, emprestar, transferir ou sublicenciar o aplicativo adquirido, ou seja, em caso de morte ou incapacidade, não há permissão dessa transferência de conteúdo. Já a Amazon, no caso de conteúdo do e-reader Kindle, apesar do usuário pagar pela aquisição do produto, a empresa cita que é apenas uma licença de uso e não uma compra.

A seguir, contemplar-se-á mais detalhadamente, algumas características das empresas Facebook, Instagram e Twitter, as quais e já possuem política de desativação de contas, de pessoas que já faleceram.

4.2.1 Facebook

A maior empresa e plataforma social é o Facebook, excedendo um bilhão de pessoas cadastradas, devida popularidade faz com que seja também a maior investidora em atividades de privacidade das páginas, com o intuito de diminuir ações judiciais e atrair ainda mais usuários.

Recuero (2009) estabelece que a criação do Facebook, em 2004, teve o intuito de criar uma rede de relacionamento, sendo o público alvo egressos de universidades. Instituindo perfis e comunidades, há a possibilidade de adicionar jogos, ferramentas e outros aplicativos. A comunidade, e o sistema, são muitas vezes considerados mais privativos que outras plataformas de relacionamento e rede social, já que somente usuários de uma comunidade em comum podem ver o perfil uns dos outros.

O Facebook também possui como característica transformar um perfil em uma Timeline, no Brasil conhecido como Linha do Tempo, onde outros usuários interajam acerca das publicações de todos os perfis envolvidos em seu Facebook, é possível curtir e compartilhar as informações pelas quais os usuários se interessem. (FACEBOOK BRASIL, 2019).

O Facebook tem uma política de desativação que o familiar ou conhecido, podem informar o falecimento do usuário, e após a comprovação, eles transformam a conta em um memorial:

Podemos transformar a conta de uma pessoa falecida em memorial. Quando transformamos uma conta em um memorial, mantemos a linha do tempo no Facebook, mas limitamos o acesso a alguns recursos. Você pode reportar a linha do tempo de uma pessoa falecida em:

https://www.facebook.cxom/help/contact.php?show_form=deceased

Também podemos encerrar uma conta se recebermos uma solicitação formal que satisfaça certos critérios (FACEBOOK BRASIL, 2019).

As contas transformadas em memorial são um local em que amigos e familiares podem se reunir para compartilhar lembranças após o falecimento de uma pessoa. A transformação de uma conta em memorial também ajuda a protegê-la, impedindo que as pessoas entrem nela. De acordo com a política da empresa, uma conta é transformada em memorial quando algum familiar ou amigo próximo da pessoa falecida nos avisa do ocorrido. Sobre a nova política de privacidade relação às contas de usuários falecidos do Facebook, Lara (2016, p. 48-49) diz que:

há basicamente três opções que podem ser adotadas quanto ao destino dessas contas, nunca é demais repetirmos essas informações: 1ª Opção: Memorização da conta, ou seja, transformar a conta da pessoa que faleceu em um memorial em sua homenagem. Caso a pessoa tenha um amigo ou parente que já esteja previamente designado para cuidar de seus e-mails, fotos, filmes, páginas de redes sociais, enfim de todo o seu acervo digital, a realização dessa transformação torna -se mais célere e eficaz, é o que modernamente está sendo chamado de executor digital. Porém, caso o usuário não possua esse executo digital, terá que configurar previamente na página do Facebook a transformação em memorial de sua página após a morte ou algum parente deverá realizar essa solicitação, o que, evidentemente, é um pouco mais burocrático. 2ª Opção: A exclusão total de sua conta no Facebook, que deverá ser realizado por um parente e ou executor digital devidamente autorizado e que demonstre cabalmente o falecimento do usuário, ou seja, envie cópia da certidão de óbito e prova de que é parente ou representante legal do morto. 3ª Opção: Esta última opção não é realizada diretamente no Facebook e sim através de um aplicativo chamado “If I Die” (Se Eu Morrer), onde se pode deixar um vídeo explicando as diferentes coisas que podem ser realizadas com o perfil do usuário após a sua morte, pode-se ainda deixar mensagens para serem enviadas depois da passagem.

Por conta de ações judiciais, Facebook precisou alterar, em fevereiro de 2014, sua política de privacidade acerca da página de usuários já falecidos, permitindo a manutenção da configuração de privacidade escolhidas pela pessoa em vida, no caso de falecimento, deixando clara a impossibilidade de que uma pessoa diversa tenha acesso a conta de alguém, já que viola completamente as políticas do Facebook.

4.2.2 Twiter

A empresa Odeo, em 2006, teve a ideia de fundar a rede social conhecida como Twitter. Essa plataforma possui uma característica de grande importância, pois permite que a API seja usufruída na edição de ferramentas do usuário (RECUERO, 2009).

A rede social tem sua composição por seguidores e as pessoas que o usuário está seguindo, cada pessoa pode escolher quem deseja seguir. Há também a possibilidade de enviar mensagens de modo privado para outras contas, chamada de mensagem direta. A plataforma é bastante criticada acerca da quantidade de informação ser limitada, só se pode ter cento e quarenta caracteres por tweet, como é chamada cada publicação no twitter. A parte boa de ser usuário do twitter é aprender a lidar com o serviço limitado, tirando o maior proveito de cada publicação com mensagens curtos e persuasivas. Com isso, apresenta um formato descomplicado e ao mesmo tempo tem enorme influência (TWITTER, 2019).

O Twitter, além de não dar acesso à conta do falecido, também não permite ser incluído nenhum novo tipo de conteúdo na conta, sendo que todas as informações do usuário permanecem em sigilo.

Caso um usuário do Twitter faleça, podemos trabalhar com uma pessoa autorizada a agir em nome do Estado ou com um familiar direto verificado do falecido para efetuar a desativação da conta.

Solicite a remoção da conta de um usuário falecido. Depois de enviar sua solicitação, enviaremos a você um e-mail com instruções para fornecer mais detalhes, incluindo informações sobre a pessoa falecida, uma cópia de sua identidade e uma cópia da certidão de óbito da pessoa. Esta é uma etapa necessária para evitar denúncias falsas e/ou não autorizadas. Garantimos que essas informações permanecerão confidenciais e serão excluídas assim que as tivermos examinado. Observação: não podemos fornecer informações de acesso à conta a ninguém, independente do seu grau de relacionamento com o falecido (TWITTER, 2019).

O twitter possibilita, no caso de falecimento de um usuário, e comprovado o parentesco, que os familiares baixem todas as informações públicas do falecido e a exclusão da conta. O pedido deve ser feito e junto anexado uma cópia da certidão de óbito e documentação que identifique o solicitante. Do mesmo modo que outras aplicações de Internet, o microblogger não consente que o parente tenha acesso à conta da pessoa que morreu. Em algumas situações, é admissível solicitar a retirada de imagens de pessoas falecidas. A remoção será debelada à análise pela aplicação de Internet e induzirá em conta o interesse público e a popularidade do conteúdo.

4.2.3 Instagram

O Instagram, foi lançado em outubro de 2010, e em curto prazo se transformou no maior site de compartilhamento com a marca de 150 milhões de usuários ativos mensais. As empresas utilizam intensamente essa imperativa ferramenta para agenciar a si mesmas e conseguir sucesso com um baixo custo. Por conta de as fotos chamarem mais atenção do que as postagens textuais e ter um espantoso potencial para outros tipos de negócios. Pode se tornar ainda mais vantajoso se integrá-lo com outras redes sociais, como o Facebook e o Twitter, e assim os posts vão começar a aparecer em outros sites, aumentando a visibilidade e acessibilidade (INSTAGRAM, 2019).

O Instagram consente também a remoção de uma conta ou a transformação em memorial no caso de falecimento de um usuário. Para a retirada, deve-se demonstrar a representação legal com a juntada das certidões de nascimento e óbito da pessoa que morreu, e também preencher um formulário online. Para as situações em que serão transformados em

memorial, é necessário comprovar o obituário e preencher uma solicitação online (INSTAGRAM, 2019).

4.2.4 Google

Quanto ao Google, o usuário define as credenciais de quem pode ter acesso para ver ou editar os arquivos armazenados. Entretanto, o usuário antes pode optar pela definição pública, sendo assim, todo público da internet poderá acessar e, até mesmo editar os arquivos armazenados na nuvem. Outra alternativa é a que determina a conta para uso pessoal, somente o titular da conta pode acessar ou alterar esses arquivos. Há, também, a modalidade de nuvem híbrida, na qual o usuário pode mesclar as categorias anteriormente descritas. (MANSUR, 2010 apud PRINZLER, 2015).

O Google por sua vez, acaba tanto prevendo aquilo a morte do usuário, como lhe dá a possibilidade de compartilhar aquilo que ele possui em sua conta com quem desejar.

Apesar de não fornecer senhas de usuário falecido ao seu representante legal, a Google permite, em alguns casos, o acesso ao conteúdo de determinada conta. É possível solicitar online o fechamento destaix, a solicitação de fundos, o recebimento de dados da conta e a sua invasão por terceiro. A opção de gerenciamento de conta está disponível ao usuário, a fim de que ele, previamente, decida o que fazer com fotos, e-mails e arquivos armazenados, quando parar de acessá-la (BARRETO; NERY NETO, 2019).

Tal possibilidade está localizada em um gerenciador de contas inativas, que é caracterizado como “uma forma de os usuários compartilharem partes dos dados das contas deles ou notificarem alguém caso as contas fiquem inativas por um determinado período de tempo” (GOOGLE BRASIL, 2019).

É importante que haja esta possibilidade principalmente na conta do google, pois ao contrário das anteriores, ele engloba muito mais que apenas a rede social, possuindo vários outros aplicativos e programas, unificados todos em uma só conta.

A opção encontrada neste caso, não se trata de algo como testamento, mas apenas que em casos de inatividade os dados que lá estejam salvos sejam compartilhados com alguém de confiança, e como é possível nele salvar fotos, vídeos, arquivos, senhas bancárias.

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