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A HISTÓRIA CONTADA POR QUEM AJUDOU A FAZÊ-LA

5. O TERRITÓRIO DO PROJETO NOSSA RUA

5.2 A HISTÓRIA CONTADA POR QUEM AJUDOU A FAZÊ-LA

Num primeiro momento, além das questões diretamente ecológicas, foram tratados alguns aspectos teóricos importantes para a compreensão das questões comportamentais que estavam inseridas na questão da produção e descarte do lixo doméstico.

Depois de cinco ou seis reuniões com grupos diferentes de moradores, onde se tinha à aceitação imediata dos pontos observados, ampliou-se o número de pessoas engajadas no projeto.

Segundo SANTOS (2000) "Tentamos ver, juntos, um pouco da mecânica social consumista e os interesses que ela poderia abrigar. Observamos o equívoco grosseiro da confusão entre a industrialização e qualidade de vida e a profusão do lixo derivado dos produtos industriais" (SANTOS, 2000, Depoimento pessoal). Para ele, o resultado foi um alargamento da consciência sobre o problema ambiental, e a ligação entre a indústria e o lixo caseiro.

Após essa etapa, foi necessário conhecer com mais detalhes a realidade social do bairro. Isso foi possível através de um questionário aplicado à população. Com o diagnóstico, definiram-se métodos e estratégias técnicas a serem aplicadas: 1) a melhor linguagem para se fazer entender na comunidade; 2) como introduzir o técnico como agente de mudança sem agredir a população e suas iniciativas; e, 3) como inserir os métodos e estratégias com a participação popular.

O dimensionamento do projeto e seu cronograma contaram com assessoria do Instituto Ágora, de Florianópolis. Foram dois dias de planejamento (FIGURAS 35 e 36). Através de questionários buscou-se a sistematização das intenções, o conhecimento da realidade e da capacidade dos moradores e a determinação do que e de quando seria executado a partir do desenvolvimento da consciência dos próprios moradores sobre as intenções viáveis e inviáveis. Chegou-se à definição do tripé básico do projeto: coleta seletiva do lixo, arborização das ruas e união e integração da comunidade.

FIGURA 35: 1ª Reunião do planejamento participativo do Projeto Nossa RUA. Vila Manaus, julho de 1997. Fonte: acervo do Nupeam – UNESC.

FIGURA 36: 2ª Reunião do planejamento participativo do Projeto Nossa RUA. Vila Manaus, março de 1999. Fonte: acervo Nupeam – UNESC.

"Evitou-se a consciência mecanicista e imposta. Mais importante do que ver resultados era ver o desenvolvimento interior das pessoas envolvidas” (SANTOS, 2000, Depoimento pessoal).

Os próprios moradores envolvidos no projeto desenvolveram uma Cartilha de apresentação do projeto e outra sobre a coleta seletiva em seus aspectos operacionais. O mesmo grupo produziu ainda um vídeo onde a própria comunidade mostrava o que já estava sendo feito, o que funcionou como um fator de atração de novos adeptos (FIGURAS 37 e 38).

"Evitou-se a consciência mecanicista e imposta. Mais importante do que ver resultados era ver o desenvolvimento interior das pessoas envolvidas” (SANTOS, 2000, Depoimento pessoal).

Os próprios moradores envolvidos no projeto desenvolveram uma Cartilha de apresentação do projeto e outra sobre a coleta seletiva em seus aspectos operacionais. O mesmo grupo produziu ainda um vídeo onde a própria comunidade mostrava o que já estava sendo feito, o que funcionou como um fator de atração de novos adeptos (FIGURAS 39 e 40).

FIGURA 37: Capa do folder do Projeto Nossa RUA com informações sobre separação de materiais recicláveis. Ilustrações de Ana Maria Manaus Teixeira, elaborado em setembro de 1997. Fonte: acervo da ONG Projeto Nossa RUA.

FIGURA 38: Parte interna do folder do Projeto Nossa RUA com informações sobre separação de materiais recicláveis. Ilustrações de Ana Maria Manaus Teixeira, elaborado em setembro de 1997. Fonte: acervo da ONG Projeto Nossa RUA.

Foram escolhidas comissões de coordenação das ações, sendo uma delas para difundir o por que da arborização? Plantar, não por plantar, mas que cada morador interessado se responsabilizasse pela manutenção e conhecimento, não só do aspecto estético, mas ambiental da árvore na moradia. Aqui a presença da UNESC foi mais sentida. Além de toda a assessoria técnico-teórica, produziu em seu horto e doou as mudas. As orientações também foram sobre abertura e tamanho das covas, o por que desses fatores, das espécies selecionadas, dos locais mais apropriados para cada espécie entre nativas e ornamentais, técnicas de poda, entre outras (FIGURA 39).

O envolvimento das crianças e seu efeito multiplicador sobre os pais foram articulados através da Rede de Educação Ambiental (Fundação Água Viva). As crianças receberam instruções sobre plantio, no horto da UNESC onde, além de noções de ecologia e meio ambiente conheceram técnicas, cuidados sobre manutenção, podas e outras práticas, que multiplicavam no bairro.

SANTOS (2000) enfatiza que neste trabalho também estava embutido um modelo de auto-gestão, sempre com o objetivo de evitar a dependência do bairro à Universidade.

Nas atividades de união e integração, a UNESC também se fez presente proporcionando as condições técnicas e de infra-estrutura (palcos, aparelhos de som, materiais para práticas artísticas, entre outros) para que tudo fosse possível. As atividades foram desde gincanas, rua do lazer, oficinas de integração, modelagem em argila, pintura, e muitas outras.

Ainda para SANTOS (2000), o crescimento do projeto extrapolou os aspectos técnicos. Conforme afirma, os ideais sociais e ambientais também cresceram “de forma surpreendente, e continuam crescendo”. Ele explica que a necessidade de mudança, “de uma nova visão, veio à tona e fez com que “eles” gerassem uma alternativa. “Mesmo sem estarem diretamente afetados pelo lixão ou aterro sanitário, eles criaram a consciência sobre a importância e a gravidade do problema do lixo”, avalia o mesmo pesquisador. “Garra e vontade, força interna para mudar. Entusiasmo ao ver o projeto viabilizado. Estão aprendendo a se organizar como comunidade em cima de valores positivos. E isto é o mais importante” (SANTOS, 2000, depoimento pessoal).

FIGURA 39: Panfleto do Projeto Nossa RUA sobre plantio de árvores. Distribuídos aos moradores do bairro Vila Manaus em junho de 1998. Fonte: acervo da ONG Projeto Nossa RUA.